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Peru
Comunidade peruana denuncia: empresa brasileira fornece bombas de gás para repressão no Peru
Adriano Favarin
Membro do Conselho Diretor de Base do Sintusp

Conforme denúncia do Jornal La República, do Peru, avião da Força Aérea Peruana (FAP) teria vindo ao Brasil, à empresa Condor Indústria Química, para buscar 28.000 bombas de gás lacrimogêneo para reprimir as manifestações populares, que se colocam contra o golpe efetivado contra o presidente eleito Pedro Castillo e enfrentando a presidente golpista Dina Boluarte, legitimada por Lula no final do ano passado. A comunidade peruana no Brasil enviou uma carta ao presidente questionando essa medida.

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As 28.960 bombas foram compradas pela Polícia Nacional de Peru no dia 20 de dezembro de 2022, ao custo de US$ 495.356 (aproximadamente R$2,7 milhões de reais) da empresa brasileira Condór Industria Química, na figura de Luis Montero. Além dessa aquisição, a Polícia Nacional Peruana também adquiriu 2.270 cartuchos de gás lacrimogêneo, 2.355 balas de borracha e 2.270 granadas de fumaça da Fábrica de Munições e Armamentos do Exército Peruano (FAME), totalizando um total de US$196.242 (mais de R$1 milhão de reais) gastos. Essas medidas reforçam a linha e a intenção do governo golpista de Diana Baluarte em seguir e aumentar a repressão contra as manifestações, que já somam cerca de 50 mortos e centenas de feridos.

Em trecho de carta aberta, a comunidade peruana diz: “acabamos de nos informar que uma empresa Brasileira está fornecendo as Bombas com Gás Lacrimogêneo, que atingem na cabeça e nos olhos das pessoas que estão se manifestando, ocasionando feridas graves incluso mortais, pois os Militares atiram pra MATAR no Peru, sei que vocês sabem muito bem disso pois o Brasil conhece os processos próprios e da América Latina, disso não tenho a menor dúvida. É por isso que pedimos ao Companheiro e amigo do Povo, Luís Inácio Lula da Silva, possa interferir e não permita que este conluio entre forças armadas seja realizado, pois os que estão sofrendo com esta ofensiva são justamente esse povo periférico, camponês, indígena e esquecido”.

A situação no Peru tem se escalado com o massacre de quase 20 manifestantes pela Polícia Nacional na ultima semana em Juliaca, distrito de Puno. Como resposta, várias comunidades andinas se manifestaram, e inclusive na capital do Peru, Lima, ocorreram manifestações contra a repressão e pela renúncia de Dina Boluarte. Durante o final de semana, se organizaram caravanas do sul do país com destino a Lima. Na manhã de hoje, segunda-feira, as comunidades de Andahuaylas chegaram a Lima, onde se pretende realizar uma grande manifestação.

As demandas populares exigem o fim da repressão, a renúncia de Dina Boluarte e do Parlamento golpistas e uma Assembleia Constituinte. As comunidades do sul do Peru, estão há anos resistindo contra a exploração das grandes mineradoras internacionais que destroem o meio ambiente, contaminam as águas dos rios causando inúmeros problemas de saúde na população e seguem retirando as riquezas e os lucros exorbitantes para fora do Peru.

Há um enorme questionamento ao Parlamento e aos políticos de conjunto, em um país marcado por 4 ex presidentes presos por corrupção e um que cometeu suicídio para não viver o mesmo destino, este questionamento produziu manifestações massivas da juventude no final de 2021, quando Vizcarra sofreu impeachment e seguiram Merino, Sagasti, em uma semana na qual o Peru teve três presidentes. Este questionamento também se estende parcialmente ao Poder Judiciário que cumpre um papel central na submissão ao imperialismo estadounidense se utilizando de manobras vinculadas a descobertas e revelações da Operação Lava-Jato, que neste país também afetou profundamente a política.

Lula havia saudado o governo Boluarte no final do ano passando, afirmando que "É sempre lamentável que um presidente eleito democraticamente tenha este destino, mas entendo que tudo foi submetido dentro da estrutura constitucional [...] O que o Peru e a América do Sul precisam neste momento é de diálogo, tolerância e convivência democrática. [...] Espero que a Presidenta Dina Boluarte tenha êxito em sua tarefa de reconciliar o país e conduzi-lo no caminho do desenvolvimento e da paz social". Não há diálogo nem tolerância democrática, e sim a repressão das Forças Armadas e da polícia aos manifestantes que se opõem ao golpe baseado na repudiada constituição de 1993 arquitetada por Alberto Fujimori, que lançou as bases para uma política neoliberal. Boluarte serve à burguesia peruana e ao imperialismo norte-americano, que para ver prosperar o golpe recorre ao assassinato e à repressão. A posição de Lula, naquele momento, não se distinguiu da do próprio Bolsonaro, que também legitimou Dina Boluarte.

Com a nova medida em questão, o Brasil avança em sua colaboração com o governo golpista peruano, demonstrando ser um sustentáculo da subserviência ao imperialismo na América do Sul, ao permitir a entrada da Força Aérea Peruana para o envio de instrumentos para a repressão.

É necessário cercar de toda a solidariedade internacional o povo peruano, apoiando suas demandas imediatas e buscando avançar para apontar um programa que ataque de fundo os lucros das grandes mineradoras que estão por trás dessa crise, que financiam os parlamentares e querem colocar no poder um governo que seja capacho da manutenção da exploração mineradora predatória que destrói o meio ambiente e as comunidades camponesas e indígenas da região, de joelhos ao imperialismo. É necessário aprofundar a organização e a mobilização do povo até que o governo golpista de Dina Boluarte seja derrubado, contando com o apoio internacional aos protestos das massas peruanas contra o regime golpista, as Forças Armadas e o Estado capitalista do Peru.

Para deter a repressão, é preciso através da mobilização impor aos sindicatos e às organizações sociais um verdadeiro plano de luta pela base. Um plano de luta que deve ser discutido democraticamente nas organizações a nível das regiões, cidades e vilarejos. Este seria um primeiro passo importante para lutar por uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, em que o povo trabalhador, os camponeses e os povos originários possam colocar todas as questões - como saúde, educação, os recursos naturais do país - em discussão, e atacar a propriedade privada dos capitalistas, a posse dos recursos naturais e a precarização do trabalho. Esta experiência, por sua vez, permitiria a compreensão de que, para estes interesses e necessidades, é necessário avançar também na auto defesa que garanta a efetivação destas demandas e avançar para lutar por um governo dos trabalhadores e do povo pobre.

Além disso, no Brasil, essa solidariedade internacional passa pelo repúdio às posições de Lula e à conivência do país com a repressão ao povo peruano. É preciso impor com luta o fim do envio dos instrumentos de repressão ao Peru. Nós do Esquerda Diário, no final do ano passado, chamamos a esquerda brasileira e fomos parte de impulsionar, em várias cidades, manifestações de solidariedade à luta dos trabalhadores e do povo pobre do Peru contra a extrema direita e os golpistas, junto à comunidade peruana no Brasil. Novamente, neste domingo, estivemos em ato contra o governo golpista e toda repressão. A luta da classe trabalhadora, em aliança com o campo e toda população oprimida, é o único caminho para o povo peruano, e exige no Brasil uma esquerda independente do governo para enfrentar a extrema direita e o regime dentro e fora do país.

 
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