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INDÚSTRIA
Crise política e crise na indústria, para onde o seu sindicato quer te levar?
Evandro Nogueira
São José dos Campos

Não é de hoje que o país vive uma crise política, mas desde a última sexta, 4, a situação se agravou bastante e divide muitas opiniões. Apesar das principais centrais sindicais do país, CUT e Força Sindical, que dirigem os mais expressivos sindicatos metalúrgicos, se dividirem sobre participar dos atos em defesa de Lula e Dilma ou das manifestações pelo impeachment, quando o assunto é passar ataques aos trabalhadores elas estão mais do que unidas.

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O setor automobilístico no centro do furacão

Segundo a Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotivos) esse começo de ano já é o pior desde 2003 para o setor automobilístico no Brasil, decrescendo 31,6% em relação ao ano passado. Desde 2013, quando o setor iniciou ajustes na mão de obra, cerca de 30 mil postos de trabalho foram simplesmente eliminados. Além disso, atualmente quase 40 mil operários estão com suas atividades alteradas ou pelo regime de lay-off ou pelo Plano de Proteção ao Emprego (PPE), sendo a mesma entidade.

Esse cenário tem expressão em todas as partes do país, como a Ford em Camaçari (BA), que colocou 1100 operários em lay-off na última semana; a Honda, que demitiu cerca de 300 no início do ano em Manaus (AM), ou a GM, que demitiu 517 em São José dos Campos (SP) (leia aqui). Contudo, a extensão nacional do processo não diminui a enorme concentração que representa o ABC paulista, polo das grandes montadoras. Para se ter uma ideia, segundo o Ministério do Trabalho, cerca de 43,49% dos trabalhadores incluídos no PPE estão no grande ABC. Nessa mesma região, outros duros ataques estão anunciados para os próximos meses, com a possível demissão de 1200 que estão em lay-off até o meio do ano na Volks de São Bernardo, ou os 2300 da GM de São Caetano, que seria demitidos nesse começo de março, mas tiveram o lay-off adiado por mais um mês.

CUT e Força Sindical estão em lados opostos?

Enquanto avança esse quadro dramático para os metalúrgicos, se aprofunda a crise política com o governo do PT, mesmo esse sendo o responsável direto por aplicar duros ataques aos trabalhadores, como cortes no seguro desemprego e o próprio PPE, proposto pela CUT e aplicado também pela Força, que permite a patronal reduzir salários e ainda receber dinheiro público para manter seus lucros. Embora se dividam sobre defender Lula ou o impeachment, essas centrais sindicais não se dividem sobre a necessidade de impor aos trabalhadores que paguem pela crise.

O economista Celso Ming, em texto publicado essa semana, após apontar dois possíveis cenários para a crise política, impeachment ou renúncia, nos fornece uma visão simples e direta dos planos dos patrões para os trabalhadores, dizendo “Não dá para descartar um terceiro cenário, o de que esse governo se arraste (...) até outubro de 2018. Se for por aí, um tempo precioso estará sendo perdido sem que se produza o ajuste das contas públicas e sem que se encaminhem as reformas capazes de tirar a economia da encalacrada [destaque nosso].” O que Paulinho da Força defende ao convocar a manifestação do próximo dia 13 é exatamente isso, que não se perca tempo e seja trocado o governo para impor ajustes ainda mais duros aos trabalhadores.

A CSP-Conlutas aponta uma alternativa?

O que poderia ser um exemplo diferente para trabalhadores de todo o país, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, dirigido pelo PSTU, que não convoca nenhuma das manifestações citadas, tem uma posição que acaba por favorecer a oposição dos patrões. Nas palavras do presidente do sindicato, Antônio Ferreira, o Macapá, “Os trabalhadores deverão ir às ruas sim, mas pela organização de novas eleições gerais, para presidente, senadores e deputados”. Mas afinal, quem teria alguma chance de se eleger nas eleições gerais que defendem?

Na sequência, Macapá diz, “A solução para os trabalhadores é criar um governo que atenda seus próprios interesses e não de banqueiros e patrões. Um governo socialista, que seja baseado e governe a partir de Conselhos Populares, onde os trabalhadores e a maioria do povo decidam os rumos do país.” Como convencer os trabalhadores da necessidade de criarem um governo para defender seus interesses se quem está dizendo isso não organizou ao menos uma luta séria contra demissão em massa em uma das principais fábricas da base do seu sindicato? Não menos problemática é a declaração da CSP-Conlutas, central sindical na qual o PSTU é majoritário, tratando da investigação sobre Lula, na qual defende “punição a todos”, como se a justiça e a polícia federal fossem dignos de confiança dos trabalhadores e fossem os responsáveis por punir os bandos corruptos que dominam a política (leia a declaração).

A saída para a crise política começa com greves contra as demissões e os ajustes do governo

Toda semana cerca de meia dúzia de metalúrgicas desenvolvem algum tipo de mobilização na grande São Paulo, seja assembleias organizando lutas ou mesmo greves, em geral contra demissões, fechamentos com calote de direitos ou atrasos salariais, citando só as últimas temos as metalúrgicas Kap, Monpar, Cardal e a fábrica de máquinas têxteis Avanço. Na Mabe, em Campinas e Hortolândia, os trabalhadores seguem em luta com a ocupação das fábricas e em defesa de seus empregos.

Para que de fato os trabalhadores possam ter uma participação ativa e uma resposta própria para a crise política que assola o país, o primeiro passo seria uma forte política de coordenação dessas lutas metalúrgicas em curso, chamada a partir da CSP-Conlutas e do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SJC), que promovesse ações unificadas em apoio às lutas, campanhas de solidariedade e preparasse fortemente a resistência contra demissões em massa anunciadas, como na GM de São Caetano. Contudo, como nem mesmo na GM de SJC fizeram um exemplo de como resistir às demissões, fica cada vez mais questionado seu verdadeiro potencial de cumprir esse papel.

Nós do MRT temos atuado em todas as lutas que podemos e através do Esquerda Diário buscando contribuir para que a partir das lutas contra as demissões e os ajustes possamos avançar na construção de uma alternativa aos dois polos políticos, PT e oposição, ambos a serviço dos patrões. Leia aqui nossa declaração.

 
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