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Caso Miguel
A justiça serve à burguesia, a nossa conquistamos na luta
Cristina Santos
Recife | @crisantosss

Neste mês de julho, se comemora o dia internacional da mulher negra, latinoamericana e caribenha. O dia exato foi ontem, 25 de julho. Mais uma vez, os calendários nos servem para remarcar que a única saída é a luta diária contra um sistema explorador, racista e misógino.

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Acordamos ontem, dia 27, com a notícia de que a defesa de Mirtes Renata - mãe do menino Miguel - teve o pedido de prisão preventiva de Sarí Corte Real negado pela justiça. Se você acompanha o Esquerda Diário, conhece a Mirtes Renata e sua luta por justiça por seu filho, morto após Sarí Corte Real, sua patroa, colocá-lo em um elevador e apertar o botão que o levou ao andar de onde caiu.

A defesa de Mirtes, descobriu que a acusada já não reside no endereço que supostamente deveria residir e pediu a prisão preventiva ou apreensão do passaporte, já que ela foi condenada a 8 anos e seis meses de prisão por abandono de incapaz com consequência de morte, e mesmo respondendo em liberdade, não poderia deixar a residência sem prévio informe às autoridades. Vale ressaltar que essa condenação só foi possível pela incansável luta de Mirtes Renata que conseguiu mobilizar a população pernambucana nas ruas, nas redes, junto à opinião pública. Mas as movimentações recentes da justiça mostram que mesmo assim tentam defender os seus, já que o mesmo juiz que proferiu a sentença abriu uma investigação contra Mirtes e sua família e agora recentemente, lhe negaram o pedido de prisão preventiva.

Mas quem é a acusada que parece conseguir usufruir de tantas manobras jurídicas? Sarí Corte Real é membra da elite política de Pernambuco. No momento do crime, era primeira dama da cidade de Tamandaré, um dos paraísos turísticos do estado. Seu marido, Sérgio Hacker, era prefeito da cidade pelo PSB, partido que representa a oligarquia Campos e que tem em suas fileiras o atual vice de Lula, Geraldo Alckmin, além de estarem no governo do Estado e na capital Recife com o governador Paulo Câmara e o prefeito João Campos. São os fiéis representantes da burguesia local.

Mirtes Renata hoje é ativista e estudante de direito, quando perdeu seu filho, era empregada doméstica. Uma dessas mulheres que representam a maior categoria de trabalhadores do nosso país, com 6 milhões de pessoas, em sua maioria mulheres, em sua maioria negras… mulheres negras, latinoamericanas e caribenhas.

Assim como Mirtes, tantas outras mulheres do nosso continente sabem que o único caminho possível é a luta. As mães de manguinhos sabem, as que perderam seus filhos pelas chacinas orquestradas pelo estado e executadas pela polícia, também sabem. Sabem as trabalhadoras terceirizadas da Unicamp em São Paulo, que agora estão sendo ameaçadas de demissão pelos patrões e pela reitoria. Mulheres que convivem com o medo de seus filhos não voltarem para casa. E elas não fizeram nada para ter que conviver com essa angústia: apenas são mulheres, negras, trabalhadoras, que vivem num sistema explorador, opressor, patriarcal que é o capitalismo.

No lado oposto da trincheira, mulheres como Sarí Corte Real convivem com a tranquilidade da impunidade, pois fazem parte do setor de mulheres que exploram, que oprimem, que por mais que possam ser oprimidas pelo patriarcado, utiliza desta mesma opressão contra outras mulheres. A classe definitivamente nos separa.

Que aqui não caibam dúvidas - não temos nenhum pingo de confiança na justiça burguesa e seu sistema penal - ela tem classe, tem cor. O caso Miguel explicita o caráter de classe da justiça, mas ele se expressa a todo momento: na impunidade dos torturadores da ditadura civil militar brasileira, da polícia sanguinária que massacrou ao menos 111 presos no Carandiru em 1992 em São Paulo, dos policiais rodoviários federais que assassinaram Genivaldo em uma câmera de gás no Sergipe, do vice presidente Mourão que abre a boca para chamar as vítimas da chacina de Jacarezinho de “tudo bandido”, da juíza que tenta obrigar uma criança vítima de estupro a parir e é ovacionada pela direita bolsonarista… são inúmeros os exemplos.

De nossa parte, precisamos impor a justiça, a partir da nossa luta, nas ruas. Lutar para que cada sindicato, cada centro de estudante, organizações dos movimentos sociais levantem as bandeiras da classe trabalhadora junto com a de todo povo oprimido, contra o racismo, o machismo, a misoginia, a xenofobia e contra o capitalismo que se alimenta das opressões para aumentar seus lucros.

Por Miguel e por todas as vítimas do racismo, da misoginia e do machismo, seguiremos lutando por um mundo sem exploradores nem explorados e que essa angústia no peito de tantas mulheres seja parte do combustível para essa luta.

 
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