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11 anos da Primavera Árabe – entrevista com Simone Ishibashi

“É muito importante que os jovens que agora despertam para a política conheçam o que foi o primeiro processo revolucionário do nosso século”.

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imagem: Macaco do Sul

Há exatos 10 anos, no dia 16 de dezembro de 2011 na Tunísia, Mohamed Bouazizi, um jovem vendedor de frutas lançava fogo em seu próprio corpo, motivado pelo desespero ao ter sua mercadoria confiscada por um guarda. Esse evento desencadeou um levante no país, que se espalhou rapidamente por todo o Oriente Médio e Norte da África. Em questão de dias praticamente todo o mundo árabe se transformou no palco de luta de classes, com manifestações massivas que derrubaram ditaduras sangrentas instituídas há décadas.

O Ideias de Esquerda entrevistou Simone Ishibashi, militante do MRT e doutora em Economia Política Internacional pela UFRJ, autora da tese “Geopolítica da crise: uma análise da política estadunidense para a Primavera Árabe”.

O que aconteceu na Primavera Árabe, o que distingue esse evento de outros fenômenos da luta de classes internacional?

A Primavera Árabe se constituiu basicamente como um levante ocorrido simultaneamente em vários países do Oriente Médio e Norte da África, que constituíram-se como os primeiros processos revolucionários do século XXI. Mesmo tendo sido derrotados ou desviados, tiveram uma importância enorme, e marcaram o “retorno” da luta de classes em escala ampliada ao cenário internacional. Após mais de 30 anos desde a última revolução, a iraniana de 1979, poderia parecer para os entusiastas da pretensa "vitória" do capitalismo e os mais carentes de visão crítica que a perspectiva da revolução, não apenas a operária e socialista, mas qualquer revolução, havia sido banida da realidade. Mas os levantes contra as ditaduras e monarquias vigentes no Oriente Médio e Norte da África em 2010 se encarregaram de demonstrar que não, e recolocou a questão da revolução no imaginário popular e nos debates políticos e acadêmicos. Os levantes inspiraram movimentos dos mais variados tipos, como o “movimento dos indignados” que ocupou as praças das principais capitais da Espanha em meio à crise econômica internacional, ou o Occupy Wall Street nos Estados Unidos.

Mas o contágio rápido que estendeu os levantes da Tunísia para a Líbia, Egito, Argélia, Bahrein, Síria, Marrocos e Iêmen foi um indicador de que um tipo distinto de fenômeno social e político, ocorria nesses países do Oriente Médio e Norte da África. Os levantes da Primavera Árabe tiveram um caráter complexo e marcado por múltiplas determinações. Foram primeiramente um subproduto das condições econômicas, políticas e sociais marcadas por um desenvolvimento desigual e combinado exacerbado cujas consequências em meio à eclosão da crise econômica internacional de 2008, se agravam. Ao mesmo tempo, expressaram o desgaste dos regimes ditatoriais e monarquias locais. O próprio termo “Primavera Árabe” deriva de uma analogia com a “Primavera dos Povos”, ocorrida em diversos países na Europa no ano de 1848, devido à similitude com o rápido contágio existente entre os diversos países do mundo árabe, que, tal como em 2011 com a ocupação da Praça Tahrir no coração do Egito, teve no século XIX a capital francesa de Paris como epicentro. Na interpretação de Perry Anderson essa dinâmica atende a uma “classe rara de acontecimento histórico”, tendo sido precedida apenas pelas guerras de libertação das colônias hispano-americanas de 1810, pelas revoluções europeias de 1848 e pela queda dos regimes no bloco soviético em 1989.

Esse caráter distintivo da Primavera Árabe se deveu, dentre outros fatores, à duração e intensidade da dominação ocidental sobre a região do Oriente Médio e do norte da África. O estabelecimento das fronteiras fixadas nos acordos de Sykes-Picot de 1916, que dividiu a região em áreas de influência da França e Grã-Bretanha após o desmembramento do antigo Império Otomano, é uma concretização disso. Posteriormente, a própria criação do Estado de Israel, em 1946, e sua crescente conformação como aliado estratégico dos Estados Unidos também é outro elemento constitutivo dessa contínua intervenção política, econômica e social realizada pelas potências ocidentais, e uma das maiores fontes de tensões na região.

Algumas interpretações tomaram esses eventos como processos revolucionários motivados por demandas de ampliação dos direitos democráticos formais, constituindo-se esta como a narrativa predominante no momento em que ocorriam. Outras mais recentes, se apoiam na derrota da Primavera Árabe, para defender que esta teria sido produto de conspirações e instrumentalização dos setores revoltosos por parte do imperialismo. Nesse estranho arco unem-se tanto as leituras de inspiração stalinista, como os defensores das teorias de “guerras híbridas”. De acordo com estas leituras as motivações seriam promover o desgaste a regimes supostamente contrários aos interesses estadunidenses, como seria o de Bashar Al Assad na Síria ou Muammar Kadafi na Líbia.

E há aqueles cuja leitura me parece ser a mais acertada, que definem a Primavera Árabe como consequência combinada dos efeitos da dominação histórica imperialista sobre a região e da crise capitalista de 2008, que promoveu um empobrecimento enorme das grandes massas produto do espólio imperialista e da sustentação de monarquias e ditaduras violentas e servis por décadas. Para essa perspectiva, a Primavera Árabe foi no seu início e em distintos países onde ocorreu, um processo revolucionário que não pôde se desenvolver pela ausência de organizações revolucionárias dos trabalhadores e setores oprimidos que lhes pudesse dotar de uma estratégia. Dessa forma, a Primavera Árabe foi desviada em alguns lugares, como na Tunísia, derrotada pela ação imperialista que ajudou a instaurar uma dinâmica de guerra civil labiríntica e reacionária, como na Síria, ou ainda mediante a instauração de regimes ditatoriais “repaginados”, como no Egito.

Você citou que a Primavera Árabe foi motivada também pelos efeitos da crise capitalista de 2008. Antes disso havia sinais de que um processo tão agudo da luta de classes poderia ocorrer?

Com certeza. A Primavera Árabe não surgiu do nada. Mesmo antes de 2008 a carestia de vida eleva-se enormemente na região, tendo em vista a crise com a especulação dos alimentos. Para se ter uma ideia, de agosto de 2005 até novembro de 2007, o preço do arroz aumenta sem cessar alcançando a marca de 50%. No início do ano de 2008 a elevação de outras commodities instaurou um clima de insegurança, antecipando em certa medida os efeitos da crise econômica, sendo responsável pela elevação de 140% do preço do arroz, mesmo com uma produção recorde em 2007 e sem aumento significativo da demanda. Enquanto o preço dos alimentos ia às alturas, acordos comerciais altamente neoliberais obrigavam os países da região, como o Egito, a exportarem suas produções de alimentos a preços reduzidos, enquanto tornavam-se cada vez mais dependentes da exportação. O resultado foi a explosão de “Revoltas da fome”, como ficaram conhecidos os protestos em vários países naquele momento, já anunciavam o que estava por vir.

E na luta de classes também dava-se sinais de que algo estava por vir. O exemplo quiçá mais importante foi o das greves têxteis. A indústria têxtil no Egito sempre ocupou um lugar de destaque na economia, sendo inclusive estatal. Mas, desde os anos 1980, vinha sofrendo com perdas de produtividade, que alcança seu nível mais baixo em 1999, inclusive em comparação com os vizinhos Tunísia e Turquia. Essa debilidade do parque industrial egípcio se revertia em baixas salariais e piora das condições de trabalho, como produto da ausência de investimentos. Essa situação se agravava ainda com as condições geopolíticas, e os acordos com o FMI e Banco Mundial, que cobravam como contrapartida uma aceleração das privatizações.

A greve de Mahalla assumiu a forma de um primeiro grande teste imposto ao até então inconteste regime de Hosni Mubarak. Defendendo reivindicações ligadas à melhoria das condições de trabalho, a greve tomou completamente a cidade de Mahalla transformando-se em uma greve geral, com a adesão de novos setores a partir da ampliação das reivindicações para englobar também a reversão das privatizações de diversos setores durante os anos de 2005 e 2007. No movimento do complexo Misr Spinning and Weaving em Mahalla participaram cerca de 24 mil trabalhadores, e conquistaram um reajuste salarial que seria o primeiro desde 1984. Para valorar corretamente a importância desse movimento deve-se notar que ele ocorreu em meio ao regime ditatorial de Hosni Mubarak, nos quais as greves e a organização sindical eram formalmente legais, mas na prática violentamente coibidas, bem como qualquer manifestação política de oposição ao governo. Após as greves de 2006, um novo movimento eclodiu em 2008. Durante três dias consecutivos no mês de abril de 2008 as ruas da cidade permaneceram tomadas, até que o governo se viu obrigado a retroceder e tentou um acordo com os grevistas, prometendo o atendimento a parte de suas reivindicações Assim, apesar de não ter chegado com a mesma intensidade ao Cairo, a greve iniciada nas plantas têxteis exerceu um poder de atração que logrou paralisar os médicos, na primeira greve nacional desde 1951, e os professores universitários também sem realizar qualquer movimentação semelhante desde 1977. Os funcionários públicos responsáveis pela coleta de impostos pararam de forma inédita desde 1919, mantendo sua greve durante três meses, realizando um encontro nacional com delegações que totalizaram 5 mil pessoas. Mas o conflito que se desenvolveu no Egito, e terminou obrigando o governo de Hosni Mubarak a realizar concessões, não era meramente redistributivo. Também foi contra a candidatura do filho de seu filho, Gamal Mubarak, às eleições presidenciais e como membro mais alto do então partido governante Partido Nacional Democrático, tal como está detalhado no capítulo 3 do presente trabalho. Dessa maneira, esse processo constituiu-se como uma antecipação da Primavera Árabe, expressando por um lado que o receio ao regime começava a dar lugar a um sentimento de insatisfação popular, e que as demandas econômicas relacionadas com o aumento das desigualdades sociais, piora das condições de trabalho, se combinam às reivindicações de cunho político.

Na Tunísia as manifestações de 2007 aconteceram na região mineira de Gafsa, Redeyef, Umm Al Arais, Mdhila e Métalaoui, que ao todo são pouco populosas, com cerca de 100 mil habitantes em sua totalidade. A Companhia de Fosfatos de Gafsa (CPG), que chegou a ser a quinta maior do mundo, é uma empresa estatal que estava adiante da exploração dos minérios, sendo o principal empregador da região, e na última década levou adiante um plano de reestruturação que reduziu a força de trabalho em 75%. Isso elevou o desemprego e a pobreza na região, que desencadearam as manifestações cujos principais protagonistas foram os jovens desempregados.. Nas movimentações pré-Primavera Árabe na Tunísia, o traço distintivo foi a pluralidade das formas organizativas que o movimento assumiu. Em Redeyef, os representantes da central sindical UGTT apoiaram o movimento. Mas os mineiros da CPG negaram-se a se unir aos protestos. As autoridades regionais, numa tentativa de apaziguar a mobilização, prometeu atender à reivindicação por criação de postos de trabalho, o que efetivamente não se deu. Assim, pouco depois se deu a prisão de alguns integrantes das manifestações, o que elevou a indignação popular, até que em junho com a morte pela repressão policial acirrando ainda mais os ânimos, o presidente Ben Ali, numa tentativa de recuperar a imagem do governo, denunciou a gestão da CPG por corrupção e destituiu seu diretor e o governador de Gafsa. Esses são apenas alguns dos muitos exemplos de como a classe trabalhadora vinha se movimentando na região.

E durante a Primavera Árabe quais seriam os aspectos mais importantes que você destacaria em relação à sua dinâmica, e qual o papel dos Estados Unidos e demais imperialismos e como estes influíram nos resultados?

Do ponto de vista da dinâmica da Primavera Árabe o movimento egípcio foi o que mais proximamente pode ser considerado como um ensaio revolucionário, mesmo que derrotado. A primeira fase da Primavera Árabe, que caracterizo como aquela marcada pela dinâmica revolucionária de manifestações populares contra os regimes vigentes, tem seu ápice no Egito que expressa uma transformação de qualidade, com a ocupação da Praça Tahrir até a queda de Hosni Mubarak.

Grosso modo, podemos caracterizar a Primavera Árabe em três fases distintas. A primeira marcada pelos levantamentos populares e expansão do movimento para diversos países do Oriente Médio e Norte da África que se inicia no final de 2010 e estende-se até agosto de 2011. A segunda que vai de agosto de 2011 ao início de 2012, marcada pela intervenção da OTAN na Líbia e pela adoção da política estadunidense de se postular como apoiador das transições democráticas no Egito e na Tunísia. A terceira fase aberta durante o decorrer do ano de 2012 em que se dá a transição egípcia entre o governo da Irmandade Muçulmana e a crise aberta que culminará no golpe cívico-militar de 2013, pela situação síria que passa a ocupar o primeiro plano de importância, se transformando crescentemente em uma guerra civil em que se entrecruzam vários interesses e frentes de combate, envolvendo Rússia e Estados Unidos, e posteriormente o combate ao Estado Islâmico.

O imperialismo estadunidense e seus aliados atuaram em cada momento da Primavera Árabe para derrotá-la, ainda que nem sempre desprovida de crises internas. Os resultados da intervenção da OTAN sobre o desfecho da Primavera Árabe na Líbia são o aumento da pobreza, da divisão do país, da disputa e das tensões entre os clãs e tribos. De um potencial processo revolucionário com participação popular, o que se sucedeu foi a imersão da Líbia em uma situação marcada por uma guerra civil em que clãs, organizações islâmicas reacionárias e as potências imperialistas são os principais atores.

As grandes linhas de resposta dos Estados Unidos correspondentes a cada um desses momentos da Primavera Árabe, também se somarão diferenciações sobre como aquele tratou cada um dos processos em particular. Dialeticamente essas respostas influíram sobre a dinâmica global da Primavera Árabe, possibilitando ofensivas militares e imperialistas diretas, como no caso da OTAN na Líbia, ou intervenções mais assemelhadas à justaposição de guerras, como no caso da Síria, e expressavam também as transformações na política externa norte-americana e de seu pensamento estratégico.

Em 2012, com a intervenção da OTAN na Líbia, a ingerência estadunidense se amplifica com o intento de protagonizar uma política de apoio às transições de regime. Assim, a política de priorizar as ações de cunho econômico ou diplomático que os Estados Unidos e seus aliados haviam adotado no início dos levantes, encerra-se e fecha igualmente a primeira etapa da Primavera Árabe. Desde então dá-se a guerra civil síria e a instrumentalização da transição egípcia, que marca toda a segunda etapa, já com a degeneração da situação síria, e a expansão do Estado Islâmico, que igualmente cumpria um papel contrarrevolucionário. E podemos considerar para efeitos de delimitação que há a terceira fase, que marca o fim da Primavera Árabe, se inicia em julho de 2013, com a ascensão da ditadura cívico-militar no Egito, passando pela intervenção russa na Síria em 2015. É naquele ano que a dinâmica se demarca pela degeneração dos levantes sírios na atual guerra civil, e a desintegração estatal da Líbia, que vê-se dividida entre diversos clãs e tribos, o que desmantelou seu sistema de governo.

O símbolo do processo revolucionário da Primavera Árabe foi a ocupação da Praça Tahrir no Egito. Por que?

Por dois fatores. Primeiro pela importância regional do Egito, e depois por ter sido onde os levantes assumiram contornos de luta de classes mais “clássica”. O Egito, ao contrário de outras nações que ainda tinham uma composição algo tribal como a Líbia, constitui-se como uma economia mais moderna, com conglomerados industriais energéticos e têxteis. Além disso, controla o Canal de Suez, cuja importância econômica e geopolítica para o país é fundamental. Contando com um território de um milhão de km2, localizado em uma área estratégica, e com uma população de mais de 80 milhões de pessoas, composta preponderantemente por jovens, é o país árabe mais populoso do mundo, e tinha em 2010 um PIB estimado em 160 bilhões de dólares e uma das menores rendas per capita da região, com US$ 2.080, compondo uma economia com enormes desigualdades, mas considerada mais diversificada e urbana.

Do ponto de vista da luta de classes, contrariamente à noção propagada durante a campanha de Guerra ao Terror no governo George W.Bush nos anos 2000 segundo a qual os países árabes teriam como denominador comum uma espécie de vocação ao fanatismo religioso, o Egito mantinha uma longa de tradição do movimento de trabalhadores. A explosão de um potente movimento de massas no Egito após as manifestações terem tomado as ruas das capitais da Tunísia, Líbia e Síria não era uma surpresa. O descontentamento contra a ditadura de Mubarak levou à ocupação da Praça Tahir de 25 de janeiro a 11 de fevereiro de 2011. Foram dias de intensa luta de classes, com batalhas de rua ocorrendo pelas principais cidades do país, reuniões nas praças onde antes apenas a polícia podia ocupar. O mundo assistia as cenas da Praça Tahrir como uma novidade imensa, há décadas não se via algo assim. Diversos setores compunham os movimentos, não apenas a Irmandade Muçulmana que seria eleita no primeiro pleito após a queda da ditadura de Mubarak, como grupos provenientes do novo ativismo digital, como os “Todos somos Khaled Said”, articulado a partir do Facebook e que adotara o nome de um garoto assassinado pela polícia, além do Movimento Jovem 6 de Abril, constituído em apoio às greves ocorridas no ano de 2008, sobretudo a partir de algumas cidades industriais da região do Delta. Ligados àquele, outro grupo atuante nas manifestações de 25 de janeiro de 2011 foram os membros de novas organizações de esquerda. O movimento se expande culminando na queda da odiada ditadura, que o mundo inteiro assistiu emocionado.

Mas, que no entanto, não conseguiu avançar mais…

Exatamente. Por muitos e complexos motivos também. As Forças Armadas, que são profundamente entranhadas com a burguesia egípcia, sendo acionistas de diversas empresas e haviam atuado como a base da ditadura nas décadas anteriores, não reprime os trabalhadores e a juventude. Fingem que os apoiam. Os Estados Unidos fazem o mesmo, e adotam uma verborragia demagógica de “apoio aos levantes pela democracia”. Com isso ambos ficam resguardados. A Irmandade Muçulmana, única oposição com força durante os anos de Mubarak, venceu as primeiras eleições após a queda da ditadura. Mas não respondem às demandas que levaram à Primavera Árabe, como garantir uma perspectiva à juventude, liberdades políticas, e ao contrário tenta instaurar uma Constituinte religiosa que lhe daria poderes quase absolutos. Novas manifestações ocorrem em 2013, e como consequência o governo da Irmandade Muçulmana é derrubado. No entanto, quem sobe ao poder é um dos mais importantes generais das Forças Armadas, Fatah Abdel Al-Sissi, que instaurou uma ditadura tão ou mais violenta que a anterior, responsável por executar toda e qualquer oposição. Do pontos de vista econômico trata-se de um regime igualmente servil ao imperialismo, e extremamente neoliberal.

São muitos os fatores que levaram a essa situação, mas o mais importante é que ainda que o movimento dos trabalhadores tenha sido muito ativo nos anos que precederam a queda de Mubarak, e durante o processo tenham feito diversas greves e criado comitês locais, não houve possibilidade de que fossem o sujeito social à frente do processo, o que poderia ter aberto uma dinâmica revolucionária mais profunda, e forjaria outras possibilidades de desfecho, quiçá distinta da eleição da Irmandade Muçulmana, e do subsequente retorno a uma ditadura cívico-militar em 2013.

E o que fica de lição então?

São muitas. Mas eu diria essencialmente que a lição número um é que pode parecer que as revoluções não vão acontecer nunca mais, e que esperá-las é ilusão, mas de repente ela explode, e em questão de dias, ou a depender até horas, as consciências se transformam, a realidade se transmuta a tal ponto que tudo o que parecia eterno, como a ditadura de Mubarak, se desmancha no ar. Acho que é muito importante que os jovens que agora despertam para a política conheçam esse, que foi o primeiro processo revolucionário do nosso século, e que nos faz pensar em muitas necessidades que em ocasiões deste tipo são imperiosas, como a construção de organizações políticas revolucionárias dos trabalhadores. E a outra lição é que mesmo as derrotas ensinam, e ensinam muito, se soubermos efetivamente aprender com elas.

 
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