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Juventude precarizada
A precarização do trabalho no telemarketing e a luta da juventude pelo futuro
Dani Alves
Matheus Félix

A juventude precarizada no Brasil pós Golpe de 2016 e de Bolsonaro e Mourão é sua maioria negra, LGBT e feminina, que ocupam postos de trabalho como o telemarketing e sofrem cotidianamente os ataques dos grandes capitalistas e da burguesia

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No Brasil de Bolsonaro, a juventude, em especial a juventude negra e periférica, se encontra cada vez mais encurralada pelo projeto de extermínio de Bolsonaro, Mourão e toda direita, seja através das políticas de precarização do ensino e trabalho, seja através das balas da polícia nas chacinas.

Esse cenário vem se agravando ano após ano de crise no regime do golpe institucional, com as reformas de Temer e os ataques de Bolsonaro e Mourão. A ampliação dos postos de trabalho precarizados, com salários reduzidos e jornadas prolongadas, têm cada vez mais feito parte da realidade dos trabalhadores. Apesar de serem cargos em maioria invisibilizados, quem os ocupa, tem um perfil bem definido: é a juventude, em maioria negra, lgbt e feminina, que na corda bamba do desemprego, se desdobra para sustentar a casa, família e estudos.

É o caso do telemarketing, responsável por grande parcela dos postos de trabalhos terceirizados e precários no país, concentrando grande parte da juventude negra, lgbt e periférica, onde centenas de milhares de jovens acabam deixando toda sua saúde mental e tempo, muitas vezes com salários menores que o mínimo.

Mesmo nesse período da pandemia em que o atendimento remoto cumpriu atividade essencial para a população evitando deslocamentos, a crise seguiu sendo descarregada sob os trabalhadores, com jornadas ainda mais extensas e demissões em massa, como praticadas pela Atento, uma das maiores terceirizadas no ramo do país. Isso enquanto grande parte da população já enfrentava a fila do osso e do lixo, na amargura do desemprego. De acordo com o IBGE, o Brasil tem 14,8 milhões de desempregados, sendo esse índice muito mais elevado entre os jovens, onde na faixa etária de 14 a 17 anos, 46% estão em busca de trabalho, e de 18 a 24 anos, o desemprego afeta 31%. As pessoas negras e mulheres são os que mais sofrem esse impacto.

Esse cenário de desemprego poderia ser amenizado e até mesmo evitado se por exemplo, as empresas reduzissem as extensas jornadas, contratando mais pessoas sem diminuir os salários, mas pelo contrário, a ameaça real de passar fome com o desemprego em alta fez com que cada vez mais os patrões precarizassem os postos de trabalho, reduzindo salários e aumentando jornadas, em postos de serviço exaustivos, que sugam toda energia da juventude, para seguir lucrando em cima de nossas vidas.

Com salários baixos, rotinas exaustivas, pausas programadas, metas e pressões absurdas, repetições robóticas de procedimentos (mas com sorriso na voz) o telemarketing escancara toda uma face da juventude trabalhadora precarizada e adoecida, mentalmente e fisicamente. Com a baixa adaptabilidade dos postos de atendimento, conhecidos como P.A, o alto ruído, a iluminação inadequada, a falta de ventilação natural e outros motivos podem desencadear a insônia, irritabilidade, cansaço, dentre outras doenças físicas e mentais.

Um dos pontos principais do adoecimento é que a juventude, com toda a sua energia e criatividade, se depara com um trabalho com baixa autonomia para solucionar os problemas que aparecem, além da completa vigilância, de seus passos dentro da empresa e dentro dos sistemas do trabalho, que retiram a autonomia, e os quer como seres inanimados, executando os mesmos procedimentos inúmeras vezes.

O ambiente de trabalho dentro do telemarketing pode ser reduzido a uma palavra: pressão. Seja na intensidade e quantidade de trabalho, com 80, 100, 300 ou mais ligações por dia, seja nas enormes metas colocadas pelos gestores, onde se acumula uma cobrança exagerada. A execução do trabalho de maneira repetitiva, executado quase em sua totalidade por movimentos repetitivos, acumula-se com todas as pressões ditas anteriormente e provocam uma carga psicológica que retira o poder sobre o seu trabalho, fazendo o sentir assim desqualificado e vivendo em processo de monotonia e repetitividade.

Assim, todos esses fatores em conjunto com a crise capitalista, colocam essa juventude precarizada sem uma perspectiva de melhora de sua vida, seja no trabalho, nos estudos ou no seu lazer. Como por exemplo, a empresa Atento, que negou aos seus funcionários o direito de ir realizar o ENEM, em um ano marcado pela baixa histórica de participantes no Exame, com os menores números de inscritos desde 2005. Mostrando cada vez mais como os capitalistas querem que a juventude trabalhe até morrer, sem nenhuma perspectiva de melhora de vida e sem pensamento crítico.

Com a inflação atingindo níveis alarmantes, com o custo de vida alto e baixos salários, como os pagos nas empresas de teleatendimento, a situação financeira da juventude tem sido difícil e arrojada, sem dinheiro para compras básicas como alimentação e gastos do cotidiano, como água, luz e aluguel. Nesse sentido, o lazer e acesso cultural se torna cada vez mais escasso, restringindo a juventude do direito de viver suas vidas de forma plena.

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Com as altas exigências de qualificação do trabalho, e com o filtro social e racista do vestibular, a juventude se vê encurralada a se endividar para tentar um futuro melhor nas universidades privadas, setor esse, onde os tubarões da educação assaltam os salários da juventude. Em outros casos, a juventude se endivida eternamente com programas como o FIES que vendem uma ilusão de acesso à universidade e de um ascenso social.

É nesse marco que nós, militantes e independentes da Juventude Faísca- Anticapitalista e Revolucionária, estamos discutindo a refundação da nossa juventude, batalhando em cada local de trabalho e estudo por uma juventude que luta de dentro e de fora das universidades pelo direito à educação e pela permanência estudantil. Mas que não para por aí, buscamos nos unificar com as lutas de todos os trabalhadores, em uma forte aliança com esses setores que se colocam em luta na busca por uma alternativa às mazelas sociais. Acreditamos que as lições históricas dos processos internacionais e nacionais são essenciais para levantar um programa que busque se enfrentar verdadeiramente com esse sistema. Nesse sentido, a independência de classe é um ponto que não podemos abrir mão, visto todas as experiências falhas dos projetos reformistas em todo o mundo e no Brasil também, com os anos de conciliação do governo do PT e em menor nível também alguns setores do PSOL, que acabam por conter as lutas que se levantam da juventude e dos trabalhadores.

Não podemos naturalizar a precarização, a terceirização e a "uberização" do trabalho. Precisamos unir nossa classe, empregados e desempregados, em defesa deste direito mínimo que é o emprego com plenos direitos para todos.

Também temos como tarefa realizar o resgate histórico de processos e ideias que vão nesse sentido de construir um novo mundo. É assim com a batalha levada adiante por Trotski na defesa do legado revolucionário de Marx, Engels, Lênin, Rosa e dos bolcheviques contra a degeneração estalinista, que ganhou forma programática no documento fundacional da IV Internacional. O Programa de Transição busca apresentar um método para construção de uma resposta que compreenda as particularidades de cada país, partindo do princípio de que a luta pela revolução social precisa se expandir para uma luta internacional, e de que é preciso forjar uma ponte de transição entre as demandas mais sentidas pelos trabalhadores e as tarefas da revolução socialista.

Leia mais: Por que uma juventude trotskista no Brasil de Bolsonaro, da fome e precarização?

No sentido de discutir essas ideias, convidamos à todes a participarem do Encontro Nacional de Juventude : “Ideias Trotskistas para revolucionar o mundo” que será no Rio de Janeiro, nos dias 10,11 e 12 de dezembro de forma híbrida, e a seguirem discutindo essas ideias, colocando o Esquerda Diário a serviço de dar vazão às demandas e sensibilidades de toda a juventude.

 
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