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UNIVERSIDADE E ZIKA
UFF e UNIRIO: retratos do descaso de Dilma e das reitorias no combate ao Zika vírus
Jean Barroso
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Como admitiu Dilma recentemente em rede nacional, “estamos perdendo a luta contra o mosquito”. E agora com a nova decisão do governo Federal de convocar o exército para o combate ao mosquito, o povo e os trabalhadores do país mais afetado pelo surto de Zika vírus continuam perdendo este combate.

Principalmente porque o governo não é um aliado neste combate, mas um inimigo, já que em quase 15 anos conviveu pacificamente com o seu transmissor, o Aedes Aegypti, e cortou mais de 10 bilhões da saúde pública em 2015 e anunciou mais cortes este ano, condenando ao abandono os atingidos pelo vírus que é causador de microcefalia pelo contagio com gestantes, transmitindo aos fetos em fase de gestação. Junto à ela, o governo do Estado do Rio, seu aliado Pezão, também corta da saúde, deixando os trabalhadores e a população usuária do SUS sofrendo na fila de espera em uma situação crítica de contágio do Zika vírus.

O Rio de Janeiro conhece o Aedes Aegypti de outros carnavais, assim como o descaso dos subseqüentes governos no seu combate. No estado já foi identificado pela Fiocruz o vírus Zika ativo em amostras de urina e saliva, e aqui também houve casos graves da síndrome de Gillain-Barré relacionados ao contágio do Zika, identificados pelo médico e professor Osvaldo Nascimento que recentemente deu entrevista ao Globo. A síndrome de Guillain-Barré causa paralisia corporal por degeneração de terminações nervosas do cérebro. O Zika é transmitido pelo Aedes Aegypti, mosquito conhecido da população carioca só que pela transmissão da dengue.

A necessidade de determinar relação entre o Zika vírus e a microcefalia, assim como a relação entre este vírus e a síndrome de Guillain-Barré, e a necessidade de pesquisar uma vacina para o vírus e tratamentos para os seus efeitos coloca um duplo questionamento ao papel que o governo Federal tem frente a esta crise da saúde nacional. Além dos cortes na saúde, também as universidades que neste momento deveriam estar trabalhando “a mil por hora” para fazer estas pesquisas, em interesse dos afetados, na realidade enfrentam dificuldades pelos cortes também do governo federal, de 11 bilhões na educação.

Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF, poderia estar combatendo os efeitos do Zika

O Hospital, especializado na pesquisa e tratamento da síndrome de Gillain-Barré, luta desde o ano passado para se manter aberto apesar dos cortes do governo Dilma. Foi para lá que foram pacientes com um caso agudo desta síndrome, relacionado ao contágio de Zika, pego pelos pacientes no estado do Rio. A relação entre o Zika e a síndrome poderia estar sendo estudada e determinada, mas o hospital sequer funciona segundo sua capacidade original. Dos 18 leitos da UTI, apenas 8 estão funcionando.

Se não há dinheiro sequer para internar os pacientes com a doença, menos ainda há investimento na área de pesquisa. A Faperj abriu recentemente editais para os estudos relacionados à dengue, zika e chicungunha. É uma medida que é mínima frente à emergência do Zika, e cosmética se pensarmos que as universidades públicas tiveram talvez mais de trinta anos para determinar e resolver o problema das doenças tropicais e, no entanto, em todos estes anos estavam voltadas majoritariamente a pesquisar para a iniciativa privada. Laboratórios de doenças tropicais foram substituídos por laboratórios da Natura e outras marcas de cosméticos, por exemplo. O fato de o conhecimento ser produzido em torno do que é mais lucrativo, também é um determinante, portanto, para o sofrimento de toda a população com este surto.

Além disso, também está comprometido tratamento com o atendimento nos hospitais públicos, aonde os Hospitais Universitários cumprem o papel de ser referência em casos especiais. Neste e em todos os hospitais universitários do país, que já passam pela precarização por falta de investimento do governo federal, a Reitoria tenta forçar a adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).

Os trabalhadores da UFF tem se mobilizado e sendo bem sucedidos até então, contra as inúmeras tentativas da Reitoria para aderir à EBSERH, porque isto significa transferir a gestão do HUAP para uma empresa pública de direito privado. Como vemos com relação à pesquisa universitária, que a gestão privada de recursos públicos coloca os interesses de um punhado de empresários na frente do povo e dos trabalhadores, também com a gestão do HUAP não deverá ser diferente no que concerne à divisão dos leitos.

Os efeitos danosos causados pela EBSERH em outros hospitais universitários deverão ser desenvolvidos em outros artigos, aqui basta dizer que tanto do ponto de vista da prevenção, quanto atendimento, as Universidades Federais poderiam cumprir uma papel central nesta crise, porém tanto pelos cortes do governo Dilma quanto por submissão aos interesses de empresas privadas, não cumprem este papel.

Já na UNIRIO, Reitoria incompetente faz demagogia com o combate à Zika

Foto: Lucas Gomes

Na Unirio, um caso mais escandaloso expõe todas as contradições da burocracia universitária. A reitoria desta universidade, que também é aliada do governo federal para a aplicação da EBSERH no Hospital Universitário Gaffrée Guinle, recentemente demoliu um local de convivência dos estudantes. Os destroços da “casa da bruxa”, como era chamada pelos estudantes, continuam no local, e por completa incompetência da Reitoria, virou um foco de mosquitos da Universidade.
A reitoria da universidade faz demagogia em sua página, noticiando neste dia 04/02 que o vice-reitor Ricardo Cardoso estava presente no encontro organizado pelo MEC que serviria supostamente para combater o Aedes Aegypti. No entanto, sequer o seu quintal esta reitoria limpou. A nota da reitoria pode ser lida aqui.

Obviamente, para a burocracia universitária que teve seus privilégios políticos e altos salários garantidos enquanto a universidade está à serviço de interesses privados, a emergência do combate à Zika não está em primeiro plano. Isto porque todos funcionários de alto escalão do governo (isto inclui os reitores) tem altos salários, planos de saúde, não vivem como os trabalhadores que sofrem com as doenças tropicais e com a precarização da saúde pública. Sequer vive como os trabalhadores da própria UNIRIO que estão correndo risco de contágio por causa dos destroços abandonados no campus. Mas contra esta burocracia acadêmica com certeza o governo federal não enviará tropas do exército para “remediar” este surto.

Basta de universidade submissa aos interesses dos empresários, enquanto os trabalhadores sofrem com as doenças tropicais transmitidas pelo Aedes Aegypti! As iniciativas como o subsídio de pesquisas pela Faperj ou pela Fiocruz não correspondem ao nível de necessidade imposta pelo surto dessas doenças. O mosquito Aedes Aegypti já havia sido varrido da existência das cidades na primeira metade do séc XX e só voltou a proliferar na década de 70, portanto existe ciência e tecnologia hoje para acabar com o sofrimento da população, só que ela não está a serviço das nossas necessidades nem é de interesse dos governos colocá-la em prática. Hoje a ciência só serve ao lucro de um punhado de empresários. É preciso colocar a universidade a serviço dos trabalhadores para que a produção de conhecimento atenda de fato aos interesses da maioria da população, e que os interesses privados não fiquem na frente dos interesses da maioria da população.

 
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