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Striketober
Os trabalhadores norte-americanos estão em greve contra o sistema salarial de dois níveis
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A onda de greves nos EUA em outubro, conhecida como Striketober, continua a crescer. Os trabalhadores estão começando a lutar contra o sistema salarial de dois níveis que as lideranças sindicais assinaram na última década, afetando conquistas históricas e dividindo a classe trabalhadora em trabalhadores de primeira e segunda classe. Esta é uma grande demonstração de solidariedade e deixa lições chave para as lutas que se avizinham.

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Nas linhas de piquete dos trabalhadores grevistas da Kellogg’s, os cartazes repetem a mesma consigna: "salário igual para trabalho igual". É uma exigência que vários trabalhadores mencionaram quando lhes perguntamos pelo que estão lutando. Eles disseram que sua luta é contra um sistema de dois níveis salariais que dividiu os trabalhadores desde que seu último contrato foi implementado há seis anos.

Eles apontaram como é injusto que trabalhadores contratados mais recentemente, que realizam o mesmo trabalho ao lado de trabalhadores mais velhos na linha de produção, ganhem significativamente menos, tanto em salários como em benefícios. Enquanto os trabalhadores de Nível 1 (aqueles contratados antes do último acordo) podem escolher se querem ou não fazer horas extras, os trabalhadores de Nível 2 (contratados nos últimos anos) são forçados a fazer horas extras. Isto significa trabalhar até 16 horas por dia, sete dias por semana.

Agora, diante de novas negociações contratuais, os trabalhadores da Kellogg’s estão declarando enfaticamente sua solidariedade com seus colegas de trabalho mais jovens e seu direito de ganhar salário igual por trabalho igual. É uma luta que todos eles vêem como própria.

Mas este não é apenas um problema visto na Kellogg’s. No início desta semana, os trabalhadores da área de saúde nas instalações da empresa Kaiser Permanente (um consórcio de administração de hospitais e de saúde) na Califórnia e no Oregon votaram esmagadoramente a favor da autorização de greve após meses de negociações para um novo contrato. Os trabalhadores, organizados na Aliança dos Sindicatos da Saúde, votaram pela greve diante das tentativas da Kaiser de impor um sistema salarial de dois níveis no novo acordo. Segundo este acordo, os trabalhadores contratados após 2023 ganharão entre 26% e 39% menos do que os trabalhadores atuais.

A Kaiser Permanente empurrou este sistema de dois níveis com a desculpa habitual de rentabilidade decrescente e desempenho comercial ruim. Mas estas alegações são evidentemente falsas. O gigante da saúde, mesmo em meio à pandemia, registrou bilhões de dólares em lucros.

O fato de que os trabalhadores hoje estejam lutando para esmagar o sistema de dois níveis é um desenvolvimento notável. Durante anos, as empresas têm usado o sistema de dois níveis para enfraquecer os sindicatos. Os trabalhadores mais novos, que ficam sem as mesmas proteções que os trabalhadores mais antigos recebem, tornam-se essencialmente uma "segunda classe" dentro das fábricas e dos locais de trabalho. Embora esta luta esteja sendo travada como parte das novas negociações contratuais, a luta contra o sistema de dois níveis é uma grande demonstração de solidariedade por parte dos trabalhadores mais antigos com melhores condições de trabalho. É uma luta contra as divisões nas fileiras da classe trabalhadora e à qual se deve prestar muita atenção.

O que é o sistema de dois níveis?

Nas últimas décadas, os trabalhadores têm enfrentado uma onda de ataques aos seus direitos e benefícios conquistados cada vez que se sentam para negociar um novo contrato de trabalho. Isto foi especialmente duro nos contratos negociados após a Grande Recessão, em que os trabalhadores foram forçados a pagar pela crise capitalista. Após a crise de 2008, a administração Obama gastou mais de US$ 1 trilhão para salvar grandes bancos e empresas, enquanto milhões perderam suas casas. Nos locais de trabalho, os capitalistas pressionaram para acordos coletivos rebaixados, tirando benefícios e ganhos anteriores, com a ameaça de demissões e fechamento de fábricas. As empresas conseguiram preservar sua rentabilidade às custas dos próprios trabalhadores que os mantiveram em atividade e em cujas costas obtiveram esses lucros. Um dos principais aspectos destes novos contratos foi o sistema de dois níveis, que teve implicações estruturais para a classe trabalhadora, gerando trabalhadores de primeira e segunda classe, mesmo quando eles são filiados ao mesmo sindicato e trabalham no mesmo local, com as mesmas tarefas.

Estas concessões aos empregadores foram garantidas com a ajuda da burocracia sindical. Em vez de lutar com toda a força da classe trabalhadora contra demissões, subcontratações e fechamentos, a burocracia sindical capitula à pressão dos patrões e age como seus agentes entre os trabalhadores para render ganhos históricos. Os principais sindicatos adotaram o discurso de que era necessário que os trabalhadores assinassem contratos desfavoráveis a fim de aumentar a rentabilidade dos capitalistas, e assim "salvar" os empregos.

Um dos exemplos mais significativos deste tipo de orientação burocrática sindical foi a última luta contratual na empresa de correio e entrega UPS, em 2018. A direção sindical, liderada por Jim Hoffa Jr., não apenas anulou uma votação de greve, mas também anulou uma votação feita pelos filiados contra um contrato que procurava impor um sistema salarial de dois níveis. Para ratificar o contrato, eles usaram brechas burocráticas para contornar a falta de apoio dos funcionários.

Isto também foi experimentado por operários automotrizes. Em 2019, 50.000 trabalhadores da General Motors entraram em greve por causa de um novo contrato. No centro de suas exigências estava a luta contra o sistema salarial de dois níveis que os dividia. Os trabalhadores se juntaram aos piquetes com anos de raiva reprimida: em 2009, a administração Obama salvou empresas automotrizes como a GM que, no entanto, forçou os trabalhadores a fazer cortes drásticos. Após anos de trabalho por salários mais baixos, os trabalhadores estavam prontos para a greve para recuperar seus direitos. Eles permaneceram nos piquetes por um mês. No entanto, o contrato final em que votaram estava cheio de concessões aos patrões. As lideranças sindicais não apenas capitularam à ameaça da GM de fechar duas fábricas, mas assinaram um contrato que manteve a estrutura de camadas e permitiu que a GM contratasse mais trabalhadores temporários, criando outra camada de trabalhadores precários. Para vender seu acordo provisório, a burocracia sindical "trabalhou horas extras" para pintar as concessões aos patrões como uma vitória. Eles usaram uma combinação de desinformação e tática do medo para aprovar o contrato. Em uma fábrica no Tennessee, os líderes sindicais chegaram a chamar a polícia para confrontar os trabalhadores que estavam se organizando para votar contra.

Sob pretexto de proteger os empregos sindicais, a burocracia levou esta verdadeira cruzada a enfraquecer o movimento trabalhista, mantendo sua aliança com os capitalistas e o Estado e garantindo que os trabalhadores ganhem apenas uma pequena fração do que podem ganhar.

O caminho à frente

Como verdadeiros criadores de valor, os trabalhadores não merecem apenas uma fatia do bolo, eles merecem o bolo inteiro.

O último ano e meio trouxe uma mudança dramática na subjetividade dos trabalhadores, que agora vêem que eles são os que garantiram e produziram tudo. Durante a pandemia, enquanto os trabalhadores eram obrigados a se apresentar para trabalhar todos os dias, trabalhando horas extras em condições inseguras, os capitalistas podiam ficar em casa e garantir a si mesmos milhões em bônus por não fazerem nada. Os trabalhadores vêem que são eles que são essenciais, não os patrões.

A luta por um novo contrato na Kellogg’s é exemplar. Ao mesmo tempo em que lutam por melhores salários, os trabalhadores também lutam contra o fechamento de fábricas e a recolocação de empregos. A luta contra o sistema de dois níveis combinada com a luta contra o fechamento de fábricas é um exemplo inspirador que mostra que os trabalhadores não têm que escolher entre uma demanda ou outra. Como nos disseram os trabalhadores dos piquetes, empresas como a Kellogg’s continuarão a obter milhões em lucros, mesmo se eles admitirem todas as exigências pelas quais os trabalhadores estão lutando.

Contra o lucro capitalista e para exigir o que eles merecem, dezenas de milhares de trabalhadores estão atualmente em greve nos Estados Unidos e muitos mais provavelmente se juntarão a eles nas próximas semanas. Para os trabalhadores, lutar não apenas por seus ganhos, mas também para os trabalhadores mais jovens e as gerações futuras, é uma imensa demonstração de solidariedade e aponta para uma lição chave para as lutas futuras: quando os trabalhadores lutam juntos, eles podem vencer.

 
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