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Racismo
A sanha escravocrata da direita brasileira: uma resposta a Leandro Narloch
Flávia Telles

Que Narloch é um reacionário de carteirinha, não é surpresa para ninguém. Mas Narloch não se contenta e revela aquilo que todos que buscam a real história do país sabe: a direita brasileira é embebida dos pés a cabeça no mais profundo racismo.

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Imagem: divulgação

Que Narloch é um reacionário de carteirinha, não é surpresa para ninguém. O jornalista que chama Paulo Freire de “picareta”, certamente é no mínimo um mentecapto. Mas Narloch não se contenta e revela aquilo que todos que buscam a real história do país sabe, a direita brasileira é embebida dos pés a cabeça no mais profundo racismo escravocrata. O autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, fez jus ao nome e revelou isso falsificando a história.

Recentemente, escreveu um artigo na Folha de São Paulo, disfarçado de resenha de livro e intitulado “Luxo e riqueza das ’sinhás pretas’ precisam inspirar o movimento negro”, em que ele decide relativizar o significado da escravidão. Sim, isso mesmo, Narloch decide esconder, mentir e suavizar a escravidão negra africana no Brasil, essa que durou mais de três séculos e que tornou escravos quase 5 milhões de homens e mulheres negros africanos, milhares mortos nos navios negreiros.

Me deixe tomar um pedaço da sua coluna, cuidado para não vomitar:

“Antonio Risério acaba de publicar um livro sobre um personagem fascinante da história do Brasil: a “sinhá preta”, como se dizia no século 19, a escrava que conquistou a liberdade, superou preconceitos, enriqueceu pelo comércio de rua e deixou em seu testamento joias, vestidos, casas e escravos.
[...]

A sinhá preta é um personagem poderoso porque complica narrativas de ativistas. As negras prósperas no ápice da escravidão são uma pedra no sapato de quem acredita que “o capitalismo é essencialmente racista e machista” e que o preconceito é uma força determinante, capaz de impedir que indivíduos discriminados enriqueçam.”

Diante do bolsonarismo que significou um choque à direita nas relações raciais no Brasil, a direita brasileira se sente livre para relativizar a escravidão. Por isso, a Folha de São Paulo abre espaço para esse tipo de conteúdo, já que disfarçada de democrática contra a extrema direita e de quem defende a "liberdade de opinião", também coaduna e é parte da perpetuação do racismo, o que faz o direitoso Demétrio Magnoli também se sentir a vontade de sair em defesa de Narloch no mesmo jornal. E é o que também vimos recentemente no livro ‘Abecê da Liberdade’ de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, que foi recolhido das prateleiras por romantizar a escravidão, mostrando até mesmo crianças negras brincando felizes nos navios negreiros.

Sim, a ânsia vem forte. Mas é preciso repudiar, negar, combater, enfrentar decididamente qualquer relativização histórica da escravidão. Porque esconder o horror, a brutal exploração e opressão do trabalho negro escravo, significa negar que é sob as vidas negras que o capitalismo se edificou, fazendo da escravidão a acumulação de capital para seu desenvolvimento e do racismo a justificativa ideológica para manter essa exploração.

Além de falsificar a história é também uma operação para falsificar o nosso presente, o fato de que hoje são os negros os que mais morrem pela covid, as vitimas da violência policial, da fome, do desemprego, das moradias e dos trabalhos precários.

São as mulheres negras, essas milhares que não viraram “sinhás”, que encontram seus filhos no chão quando passeiam com o cachorro da empregada. Que trabalham no cuidado com a limpeza e a saúde, como são as trabalhadoras da faxina, as empregadas domésticas e as trabalhadoras da saúde que levam a pandemia nas costas. Essas são as mulheres negras, e não as “sinhás pretas” de Narloch.

Não há nada de “complicado” como promete o colunista, porque se tem algo que é velho da da ideologia burguesa racista é utilizar um exemplo individual para criar uma lógica coletiva do sacrifício e do mérito, que na prática significa aceitar a realidade assim como ela é. Mas nós não aceitamos, os que foram às ruas recentemente dizendo “Black Lives Matter”, “No Justice, no Peace”, por George Floyd, não aceitam e jogam essa relativização no lixo.

Além disso o colunista ainda tem a pachorra de dizer que está falando sobre o “protagonismo” negro, e que o movimento negro é que tem “o costume de tratar negros somente na voz passiva”, mais uma vez esconde a história, porque de fato os negros escravizados nunca foram passivos, mas não porque conseguiram se alforriar e comprar outros escravos como sugere Narloch, mas porque sempre se rebelaram e protagonizaram levantes impressionantes contra os senhores de escravos.

O Quilombo dos Palmares, como exemplo de inúmeros quilombos que foram organizados pelo país, a Revolta dos Males, Balaiada, Revolta das Carrancas, Revolta dos Búzios são apenas alguns exemplos de histórias ricas e inspiradoras do papel ativo dos negros na história, não como “escravizados” apenas, mas como escravizados insurretos, que se organizaram para lutar decisivamente pela sua liberdade. Isso tudo inspirados na Revolução Haitiana, lugar onde os negros se alforriaram com levantes e enfrentando militarmente seus senhores.

É como disse o historiador marxista e militante da Quarta Internacional, CLR James, foram apenas nos livros dos historiadores capitalistas, e aqui poderíamos incluir “nas páginas de jornais burgueses”, como é a Folha de S. Paulo, que os negros não se rebelaram. De resto, buscamos escovar a história a contrapelo, como propõe Benjamin, e assim encontramos a história de Tereza de Benguela, Dandara, Aqualtune, que representam outras tantas milhares que as “sinhás” de Narloch não são capazes de representar.

Por último, o colunista ainda coloca sua cereja no bolo e diz que é preciso olhar a história com mais maturidade e conciliação. Um devaneio completo. A direita escravocrata acredita que é possível que nos reconciliemos com a escravidão? É só uma amostra do que nos propõe a direita que se diz “democrática” contra Bolsonaro e seu autoritarismo.

Mais um exemplo de que no capitalismo não há conciliação possível com o que nasceu antagônico. E que os únicos capazes de enfrentar a extrema direita de Bolsonaro, Mourão e dos militares, são os que estão do outro lado da história, e lá encontramos a classe trabalhadora, negra, feminina, indígena, migrante, e com as mulheres negras à frente vamos cobrar a conta dos mais de 300 anos de escravidão.

 
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