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Peru
Pedro Castillo e a conciliação de classes
Miguel Gonçalves

O reformista Pedro Castillo iniciou seu governo como presidente do Peru buscando a “unidade nacional” com forças políticas da direita, consolidando seu caminho rumo à conciliação de classes.

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Depois de eleições conturbadas com ameaças golpistas por parte da extrema-direita, Pedro Castillo assumiu como presidente em Julho, mais de 1 mês depois de ter sido eleito. A pressão da extrema-direita liderada pela candidata Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, levou Castillo a adaptar ainda mais seu discurso que já tinha aspectos conservadores, principalmente a respeito de questões ligadas à opressão de gênero e ao preconceito aos LGBTQI, pautas em que Castillo mantém opiniões que mais se assemelham a da direita brasileira..

Parte da Esquerda que apoiou acriticamente Pedro Castillo, agora fecha os olhos para as medidas do atual presidente. Se no início do período eleitoral, Castillo questionava o Tribunal Constitucional e a constituição de 1993 promulgada pelo até então ditador Alberto Fujimori, ainda durante o período eleitoral, junto com Keiko Fujimori, ele assinou a “Proclamação dos cidadãos” onde jurava respeitar a Constituição de 1993 e o Estado de Direito.

Uma de suas propostas era a elaboração de uma nova constituição que substituísse a atual. A constituição de 1993 acelerou as reformas neoliberais no Peru e é responsável pela piora da qualidade de vida nas cidades e nos campos, onde vive grande parte das populações originárias do país. Ainda que em sua posse Castillo tenha mencionado uma possível nova constituição, ela vem sendo deixada em último plano desde o segundo turno das eleições para obter a confiança de setores conservadores da política. Em recente votação no congresso, na qual o conselho ministerial de Castillo foi aprovado, uma possível nova constituição sequer foi mencionada.

Ainda que seu governo eventualmente venha a fazer algumas reformas, Castillo demonstra que o fará sob a batuta da burguesia peruana. Desde as eleições, ele deixa claro a sua disposição para o diálogo com setores empresariais, o respeito pela propriedade privada e pela autonomia do Banco Central, além de manter o pagamento da dívida externa contraída por governos anteriores. O plano de nacionalização, um dos fatores mais reivindicados pela Esquerda Brasileira para justificar o apoio a Castillo, desde o segundo turno caiu por terra. A retórica de Castillo e de seu partido, Perú Libre, vem apontando para uma abstrata “unidade nacional” que serve para justificar os acordos com a direita, provando o caráter reformista do novo governo.

Em base a argumentos favoráveis a patronal, o ministro da economia de ideias keynesianas, Pedro Francke, anunciou que o salário minimo não aumentará, uma demanda justa da classe trabalhadora peruana. Apoiado em argumentos favoráveis à patronal, o ministro disse que “em um momento onde temos os efeitos da pandemia, queda de produtividade [...] achamos que não é o momento para colocar em pauta o aumento do salário mínimo”.

Na política externa, dois duros golpes foram sofridos pelo povo peruano nas últimas semanas. A primeira é a aprovação de Pedro Castillo e de seu primeiro-ministro Guido Bellido ao ingresso de forças militares dos Estados Unidos em território peruano. Essa medida, que foi aprovada pela maioria do congresso da República, incluindo setores da Esquerda, contou com o aval do presidente. Unidades navais e militares estrangeiros com armas de guerra poderão adentrar legalmente no Peru.

A segunda é a nomeação de Oscar Maúrtua como ministro das relações exteriores. Maúrtua assumiu depois da renúncia do sociólogo Héctor Bejar que foi forçado por Guido Belido a renunciar pelas declarações onde relacionava as forças armadas do Peru com atentados terroristas na década de 70. Oscar Maúrtua já havia sido ministro das relações exteriores do direitista Alejandro Toledo, tendo em 2019 apoiado a ofensiva golpista de Guaidó na Venezuela. Não só a ofensiva golpista na Venezuela, Maúrtua constantemente se posiciona a favor da política imperialista dos Estados Unidos na América Latina. Além da nomeação de Maúrtua, o ultraliberal Julio Velarde foi nomeado para a direção do Banco Central do Peru.

O reformismo de Castillo que vem desde as eleições até as primeiras medidas do seu governo está de acordo com a visão estratégica do Perú Libre de que é preciso construir um governo de unidade nacional com as forças políticas da direita, com a “burguesia progressista” e com os capitalistas estrangeiros que “respeitam” a soberania nacional. O governo de Castillo já deixou claro que não dará conta das demandas da classe trabalhadora, justamente por subordinar todas as suas medidas à forças políticas ligadas à patronal e à burguesia. Frente a isso, os camaradas da Corriente Socialista de las y los Trabajadores, partido irmão do MRT no Peru, vem levando a política de lutar por uma assembleia constituinte livre e soberana que tenha autonomia para se chocar com o regime fujimorista herdado pela constituição de 1993, que nada tem a ver com a política levada por Castillo. Além disso, vêm lutando por um plano de lutas que incorpore demandas da classe trabalhadora como o aumento do salário mínimo e a anulação das medidas que promovem o trabalho precário.

 
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