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Reabertura das escolas
As reais condições das escolas em São Paulo para o retorno de Doria e Rossieli
Marcella Campos

Nos primeiros dias de agosto as aulas presenciais retornarão no estado de São Paulo, com um número mais elevado de estudantes, podendo chegar a 100%, e sendo obrigatório aos professores, mesmo aqueles que são do grupo de risco e que estavam fazendo o trabalho remoto até então, isso em meio a uma verdadeira devastação na educação e sem condições reais nas escolas.

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Foto: reprodução

Já faz algumas semanas que João Doria, governador de SP, e Rossieli Soares, secretário de educação estadual, anunciaram que após as férias escolares de julho, as aulas presenciais retornarão em agosto podendo chegar a até 100% de estudantes de forma presencial, diferente do primeiro semestre que colocava um limite de 35%. A questão que se coloca é se algo mudou na estrutura das escolas desde 2020, que dê as condições necessárias para que essa decisão seja tomada pela alta cúpula do governo, que está longe de ter o costume de pisar em escola pública (salvo dar aquela passada rápida para fotos em campanhas eleitorais).

Se é verdade que os números de contágio e mortes na pandemia mostrados pela grande mídia e governos diminuíram, também é verdade que são menores em relação aos números chocantes e escandalosos que o Brasil conseguiu atingir pelo negacionismo de Bolsonaro e seus militares, bem como a demagogia de governadores e parlamentares. Todos são culpados pelas 560 mil mortes no país, tendo entre essas perdas muitos professores e trabalhadores da educação, contaminados no retorno inseguro presencial nas escolas.

A esmagadora maioria dos professores se enojam quando ouvem da boca de Rossieli Soares que a preocupação do governador e do secretário de educação é com a saúde mental e com a fome dos alunos. Não precisamos ir a outro tema para mostrar o quão absurdo é esse discurso, já que em mais de um ano de pandemia o governo de São Paulo sequer ofereceu uma bolsa digna para os estudantes e o cartão alimentação dado aos alunos em valor muito insuficiente (R$55,00) chegou com atraso enorme, enquanto os estudantes e seus pais passavam fome pelo desemprego e pandemia. O ensino também não estava nas hierarquias, já que o plano do ensino remoto foi um estrondoso fracasso, com alunos sem acesso à internet e sem aparelhos de comunicação. Quantos alunos de mães terceirizadas sofreram ainda mais com a demissão de centenas de trabalhadoras da limpeza e cozinha no início da pandemia a mando de Doria e Rossieli?

Já em fevereiro desse ano os professores foram obrigados, sem vacina e sem segurança sanitária, a voltarem ao trabalho cotidiano presencial nas escolas, bem como os alunos retornaram de forma optativa para as aulas. Apesar da insistência do governo em mostrar um estado pronto para a volta às aulas presenciais, apesar de seguir sendo o topo na lista das mortes, não houve um plano ou projeto de obras públicas nas escolas para dar condições estruturais seguras para a comunidade escolar. No país, o número de escolas sem banheiro ou torneiras, sem coleta de esgoto, com goteiras e outros problemas graves aumentou de 2019 para 2020, segundo o Censo Escola do MEC. Isso significa que agora retornaremos integralmente, com as escolas pouco ou nada preparadas para dar segurança sanitária. Além disso, o déficit no quadro de funcionários de limpeza e cozinha é ainda maior pelas demissões, apoiadas nas PECs do governo Bolsonaro, e postos de 4 horas por dia de remuneração extremamente baixa, facilitadas pela reforma trabalhista. Para aumentar a precarização, o governo lançou um projeto de convidar familiares de alunos para assumirem essas funções dentro das escolas por uma ajuda de custo de R$500 por mês.

Mas os problemas não param nas questões sanitárias. Diferente do que diz Rossieli e Doria, para jogar os familiares de alunos contra os professores, os verdadeiros preocupados com nossas crianças e jovens são os educadores. Sabemos da urgente necessidade de que os alunos retornem para as escolas pelos problemas educacionais e pelos problemas sociais, e negamos taxativamente o determinismo da elite de que nossos estudantes foram prejudicados nesta pandemia de forma irreversível na sua educação. Os estudantes das escolas públicas não estão fadados à miséria do possível oferecida pelos capitalistas e é por essa perspectiva que atuam os educadores. Queremos as escolas abertas e cumprindo seu papel social, mas não a qualquer preço e de qualquer jeito.

Por isso, é escandalosa a forma que o governo quer passar por cima das comunidades escolares para a reabertura total das escolas, sem que aqueles que conhecem de fato os problemas e condições de cada escola possam opinar quando e de que forma esse retorno presencial deve se dar. Não aceitamos a forma autoritária de Doria e Rossieli Soares de lidar com a educação. São os professores e funcionários das escolas, junto aos familiares e estudantes que sabem o que é melhor para aquela escola ou região.

O retorno presencial deve se dar a partir da decisão de comissões de higiene e segurança de cada comunidade escolar, com poderes decisórios e após amplo debate, sem aceitar o que o Estado quer empurrar goela abaixo. Somos nós que devemos decidir os rumos da escola e o que cada uma precisa, e não aqueles que criaram o caos na saúde e educação na pandemia.

Enfrentamos inúmeros ataques à educação em SP. O trator das escolas de tempo integral, a esmagadora aplicação da reforma do ensino médio e o aumento gigantesco da carga de trabalho e pressão nos professores são temas que se relacionam com o retorno presencial obrigatório. Não é uma grande revelação dizer que os governos aproveitaram da pandemia para implementar uma reestruturação de precarização na educação do país. Querem nos obrigar a retornar com insegurança sanitária, mas também com uma imensa carga sobre os ombros.

E é por isso que também dizemos que a Apeoesp tem responsabilidade por parte desses ataques estarem passando, já que não organiza o descontentamento e rechaço crescente dos professores, inclusive de outras redes e outras categorias da educação, para chamar reuniões e assembleias regionais para debater e organizar um plano de luta da educação contra os planos criminosos de Doria e Rossieli, que apesar da retórica se diferencia muito pouco de Bolsonaro e seus militares quando o assunto é ataque aos trabalhadores e à educação.

É indispensável organizar a luta das professoras e professores, e não pode ser que a Apeoesp siga sequestrada pelos interesses partidários e pessoais de Maria Izabel Noronha, presidente do sindicato e deputada estadual do PT. Precisamos batalhar para recuperar nossa ferramenta de luta que é o sindicato, e com a nossa unidade fazer frente aos absurdos do governo e defender não só as nossas necessidades, mas de nossos alunos e comunidade escolar. Governos e empresários estão organizados contra nós, por isso precisamos nos organizar contra eles e para barrar as reformas na educação e impor as comissões de higiene e segurança nas escolas, para que assim a gente tome os rumos nas nossas mãos.

Veja também: Maíra Machado: "Queremos ser centenas de professores na Comunidade do Esquerda Diário"

 
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