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POLÍTICA
Doria: entre demagogias eleitorais e ataques aos trabalhadores
Adriano Favarin
Membro do Conselho Diretor de Base do Sintusp
Larissa Ribeiro
Metroviária de SP e e militante do Mov. Nossa Classe e Pão e Rosas

Apesar de Doria querer aparecer como uma alternativa de centro, frente a polarização Lula x Bolsonaro, ele faz parte mesmo é da direita neoliberal que dá as mãos para Bolsonaro, Mourão, militares, STF e congresso quando o assunto é atacar os trabalhadores e a juventude. É preciso de uma saída independente dos trabalhadores para enfrentar todo esse regime do golpe.

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A um ano das eleições, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), segue firme em seu objetivo de ser o candidato do PSDB à presidência em 2022. E para isso todo o tipo de demagogia é válida, passando pelo discurso de “defensor da ciência”, até medidas assistencialistas insuficientes para inglês ver, na tentativa de se alçar como a terceira via de centro contra a polarização Lula x Bolsonaro. O que se esconde por trás disso tudo, são os ataques aos trabalhadores, aí em bastante consonância com Bolsonaro, como a reforma da previdência no estado, reforma administrativa, o retorno inseguro às aulas presenciais, privatizações e medidas de arrocho salarial que levaram a processos de luta como no Hospital Universitário da USP, a greve sanitária dos professores do estado e as greves recentes nos transportes de metroviários e ferroviários.

Enfim, a hipocrisia de Doria e o vale tudo da corrida eleitoral

Doria vem tentando se alçar como o governador que defende a ciência e a vida, colocando a corrida da vacinação como carro chefe de sua campanha eleitoral para 2022. Um discurso forte para supostamente se opor ao negacionismo de Bolsonaro e Mourão, que já produziu mais de 550 mil mortes por Covid no país.

Apesar de todo esse discurso, o estado de SP não esteve isolado do caos da saúde, pelo contrário. Segundo dados oficiais, sem contar a subnotificação, o estado acumula 25% das mortes por Covid de todo o país e um índice de mortalidade acima da média nacional. O apreço de Doria pelas vidas da população ficam somente em palavras. Com hospitais de campanha precários e erguidos às pressas e centenas de pessoas que morreram esperando por um leito de UTI, além das diversas tentativas de corte de verbas destinadas à instituições de pesquisas científicas, como a Fapesp.

Assim como a própria situação dos profissionais da saúde, que é agora mais alarmante. Com falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados e jornadas extenuantes, o estado conta com milhares de afastamentos e mais de 1500 mortes por Covid.

Mesmo em relação à vacinação, esse discurso cai por terra, onde um mapa divulgado em maio através de um estudo da USP, escancarou os critérios classistas e racistas do plano de vacinação do governo. O estudo aponta que na periferia de São Paulo, onde está a maior parte de internações e mortes por Covid-19, foi onde ocorreram as menores taxas de vacinação em comparação com bairros ricos como Jardim Paulista e Moema.

São esses mesmos moradores das periferias de SP que são obrigados a diariamente se aglomerarem no transporte caro e lotado para irem trabalhar, e que durante toda a pandemia não tiveram direito a uma quarentena segura e remunerada.

Como parte de suas medidas demagógicas, a um ano das eleições, Doria anuncia o Vale Gás de míseros 100 reais, enquanto o desemprego segue em índices alarmantes, com a força de trabalho no estado de SP reduzida em 1,4 milhão de pessoas no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado.

Recentemente, Doria também anunciou um programa de empregos a familiares de alunos da rede estadual, oferecendo trabalho precário de 500 reais por mês, enquanto durante toda a pandemia não garantiu condições mínimas aos estudantes para que pudessem continuar as aulas remotas com qualidade, ameaçou por diversas vezes a volta insegura às aulas presenciais e implementou em fevereiro sem qualquer debate com a comunidade escolar, já no primeiro semestre de 2020 demitiu as merendeiras e terceirizadas das escolas em meio à pandemia e deixou milhares de professores contratados sem seus salários.

Por trás da demagogia, os ataques aos trabalhadores

Doria precisa se mostrar como uma boa alternativa de centro, a chamada terceira via, e para isso precisa também mostrar que sabe fazer ataques ao gosto da burguesia, ao mesmo tempo que dá cada vez mais lucros aos empresários. Segue forte com sua agenda privatista. No Metrô de SP e na CPTM, dá bilhões de reais aos empresários do transporte para que dias depois arrematassem de uma vez duas linhas da CPTM e segue vendendo as demais a preço de banana. Ao mesmo tempo, ataca os direitos e a sede do sindicato dos metroviários e aplica medidas de arrocho salarial aos ferroviários. Aeroportos e rodovias também estão em sua agenda, gerando mais lucros aos empresários através dos pedágios caríssimos.

A terceirização, que precariza o trabalho de milhares de mulheres negras, é outro foco de ataques. No Metrô de SP, por exemplo, essas trabalhadoras não tiveram o mesmo direito prioritário à vacinação que os trabalhadores efetivos e foram demitidas às centenas em em meio à pandemia. Assim como foram também na Universidade de São Paulo e sem direito ao home office que tiveram os efetivos.

Doria também se inspirou na reforma administrativa de Bolsonaro para lançar a sua própria no estado, aprovando o PL 529, atacando a saúde dos servidores públicos estaduais que dependem do IAMSPE, e extinguindo uma série de entidades estaduais como CDHU e a Fundação para Remédio Popular. Além de ter aprovado a sua versão da Reforma da Previdência no estado, sob grande repressão da polícia aos servidores estaduais que se manifestavam contra esse ataque durante a votação.

Tudo isso mostra que apesar de Doria querer aparecer como uma alternativa de centro, frente a polarização Lula x Bolsonaro, ele faz parte mesmo é da direita neoliberal que dá as mãos para Bolsonaro, Mourão, militares, STF e congresso quando o assunto é atacar os trabalhadores e a juventude. E isso é sentido pela população de São Paulo, que rechaça com força sua gestão.

As disputas internas no PSDB

Enquanto isso, no ninho tucano, o gestor Doria segue fazendo suas movimentações políticas. Depois de nas eleições de 2018 trair uma vez seu padrinho Geraldo Alckmin - que alçou sua figura para Prefeito de São Paulo em 2016 -, Doria volta a puxar o tapete das pretensões do antigo fundador do PSDB.

Visando garantir o palanque em São Paulo pra sua pretensa candidatura presidencial, Doria trouxe para o PSDB seu vice-governador, Rodrigo Garcia, ex-DEM, minando as pretensões de Alckmin de ser candidato a Governador pelo PSDB e obrigando que o velho cacique tucano, caso queira ser candidato pelo PSDB ao cargo, tenha que se submeter à prévias com o novato Rodrigo Garcia e enfrentar a máquina partidária que está nas mãos dos seus adversários, ou aceitar a proposta de Dória de ficar com a vaga pro Senado, duas coisas que Alckmin já negou.

Tais movimentos pragmáticos de Doria, porém, vão debilitando sua própria condição de se alçar como candidato pelo PSDB à presidência, que por si só já vem de um cenário difícil, não passando dos 5% das intenções de voto no primeiro turno. Diante desse desaforo, Alckmin já vem ensaiando a ida para o PSD, o que, de acordo com os líderes pssedistas “faltaria só acertar a data”, para concorrer a Governador de São Paulo em uma possível aliança com o PSB de Márcio França. O que faria com que o movimento de Doria de tentar fortalecer um palanque em São Paulo se tornasse o seu inverso ao ter o PSDB do seu próprio Estado rachado antes mesmo das prévias tucanas. Ao mesmo tempo, ter tirado Rodrigo Garcia do DEM não gerou boa reação de ACM Neto (BA), que já manifestou publicamente não estar disposto a construir uma terceira via em torno do nome de Doria.

Diante disso, os velhos caciques do PSDB se movimentam. As declarações de Aécio Neves (MG), de Fernando Henrique Cardoso e outros apontam a prioridade coletiva da burguesia liberal em contraposição ao prestígio individual encarnado na intenção de Doria, que é, na verdade, ter um candidato que seja capaz de construir pontes para fortalecer uma terceira via “ainda que não seja tucana”. Nesse sentido, além de Doria, o nome do Senador Tasso Jereissati (CE) aparece como possibilidade na disputa pelas prévias tucanas, junto com Arthur Virgílio e também Eduardo Leite (RS), que já conta com o apoio dos alckmistas em São Paulo, a simpatia dos caciques tucanos, e cuja posição política de tornar pública sua homossexualidade vem como parte de alçar sua figura para o posto de terceira via da burguesia liberal.

A esquerda precisa ter uma política independente e articular as lutas

Ao mesmo tempo em que a burguesia ensaia todas essas possibilidades, vai se utilizando da CPI da Covid para desgastar Bolsonaro enquanto embaralha suas opções de candidatura que possam superar o atual presidente e ser um via de disputa com Lula no segundo turno. Enquanto isso, os partidos de conciliação de classes, como o PT e o PCdoB seguem na política de acenos para compor com setores da burguesia uma frente ampla, em torno de Lula nacionalmente, e em São Paulo, acompanhados do PSOL, em torno das possibilidade de candidatura de Boulos (PSOL) ou de Haddad (PT).

Enquanto isso nossa classe segue tendo que se enfrentar hoje com os ataques e privatizações do PSDB em São Paulo, como os metroviários fizeram uma forte greve para garantir seus direitos, tiveram a sua sede leiloada e agora ameaçada de reintegração de posse. Ou os ferroviários que paralisaram parte das linhas esse mês contra o arrocho salarial e para garantir o pagamento da Participação nos Resultados (PR). Os professores estaduais e municipais e os trabalhadores da Universidade de São Paulo fizeram greves sanitárias contra as tentativas irresponsáveis de retorno presencial durante a pandemia. No Hospital Universitário, os trabalhadores fizeram uma forte paralisação que conquistou vacinação para todos os efetivos e terceirizados.

As grandes centrais sindicais como CUT e CTB, tem atuado para dividir as lutas como a dos transportes, dos eletricitários e dos correios, permitindo assim que os ataques avancem. E agora convocam o dia 18, sem nenhuma assembleia democrática nos locais de trabalho, como um dia de paralisação nacional dos servidores públicos contra a PEC 32 da Reforma Administrativa de Bolsonaro.

É fundamental que o PSOL pela via dos seus parlamentares e da Intersindical, assim como o PSTU, pela via da Conlutas, coloque todo o peso de suas figuras e sindicatos a serviço de articular essas lutas dos trabalhadores contra os ataques de Doria e Bolsonaro. Organizando assembleias nos locais de trabalho onde dirigem para exigir das grandes centrais que construam um plano de lutas que culmine em uma greve geral no país para derrubar Bolsonaro e Mourão e derrotar todos os ataques.

Veja também: Fila do osso é símbolo da barbárie capitalista: por um plano de luta já

É necessário que derrubemos Doria, Bolsonaro, Mourão e todo o regime do golpe com a força independente dos trabalhadores e da juventude, e não defendendo a presença da direita do PSDB de Doria nos nossos atos. Não esquecemos o Bolsodoria e todos os seus ataques a nossa classe! É nessa perspectiva que nós do MRT atuamos em cada local de trabalho e estudo e é a serviço disso também que colocamos nossa mídia digital, o Esquerda Diário, nas mãos de cada trabalhador e trabalhadora, para podermos organizar nossa luta e avançar contra nossos inimigos de classe.

 
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