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Forças Armadas
Exercícios militares da China ensaiam captura e controle de ilhas, em ameaça a Taiwan
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy
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O lugar mais perigoso do mundo, geopoliticamente, está localizado em Taiwan, segundo a revista britânica The Economist. Não à toa. É ao redor das águas que orbitam a antiga Ilha de Formosa que ocorrem dezenas de exercícios militares mensais das maiores potências militares do mundo, e é um ponto de choque entre os interesses de Washington e Pequim na disputa pela primazia nos assuntos asiáticos. Nenhuma "estabilidade" está inscrita nas rusgas entre as potências capitalistas nessa região, e Estados Unidos e China (com a participação da França, da Inglaterra, da Austrália e do Japão) colaboram para facilitar incidentes que podem sair ao controle.

Os militares chineses realizaram mais um exercício com aterrissagem de assalto e exercícios de controle de ilhas, segundo a mídia estatal chinesa Xinhua, continuando treinamento para aumentar a prontidão dos soldados em “caso de insurgência no Estreito de Taiwan”. A razão real é a admitida política de Xi Jinping em incorporar Taiwan ao território continental da China, parte da sua estratégia de lograr hegemonia chinesa na região da Ásia-Pacífico.

Além disso, o Exército de Libertação Popular organizou exercícios no Mar do Sul da China, reivindicado por Pequim desde a década de 1940, através da chamada “linha de nove traços” (nine-dash line) que incorpora 90% da área marinha que abrange os arquipélagos Spratly e Paracel. Os exercícios foram realizados como represália à navegação do porta-aviões britânico HMS Queen Elizabeth, o maior navio já construído para a Marinha Real e capaz de transportar até 40 aeronaves, que entrou no Mar do Sul da China pela primeira vez, liderando uma flotilha.

Uma brigada anfíbia sob o 73º Grupo Militar, com sede em Xiamen, também conduziu recentemente uma simulação na costa sudeste da China, um exercício para desenvolver a capacidade dos militares chineses de conduzir operações de apreensão em ilhas marítimas.

Taiwan é a jóia da coroa do sudeste asiático, e é considerada pela China uma parte integrante do seu território, não uma nação autônoma, desde o final da Guerra Civil de 1946-49 em que a derrota de Chiang Kai-shek levou o Kuomintang a migrar para a ilha. A captura de Taiwan, dirigida pela independentista Tsai Ing-wen (do burguês Partido Democrático Popular), é parte do plano de rejuvescimento da nação chinesa, segundo Xi Jinping, por duas razões centrais: sua capacidade de fornecer acesso às águas profundas do Oceano Pacífico (que a China não tem), e a existência de infra-estrutura tecnológica avançada, sendo Taiwan a casa produtora dos semicondutores de última geração mais valiosos do mundo - a empresa Taiwan Semiconductor Manufacturing Company.

Para o imperialismo norte-americano, Taiwan segue sendo um protetorado com o qual todas as administrações Republicanas e Democratas, desde a década de 1950, possuíram acordos militares (a começar pela Guerra da Coreia, entre 1950-53, movido pelos Estados Unidos para impedir a reunificação da China com Taiwan depois da fundação da República Popular). As Forças Armadas da China tiveram uma impressionante modernização nas últimas quatro décadas, com armamento e treinamento avançado que permitem que o autocrata chinês, em 2019, tenha afirmado que Taiwan será mais uma vez parte do território continental mesmo que para isso seja necessário recorrer à força armada. Entretanto, especialistas consideram que a invasão militar de Taiwan, com uma população de 25 milhões de pessoas concentradas na costa oeste, é ainda uma tarefa hercúlea que poderia colocar em risco, em caso de fracasso, a figura internacional de Xi Jinping.

De acordo com dados compilados pelo South China Morning Post, a China realizou 20 exercícios navais envolvendo elementos de captura de ilhas apenas no primeiro semestre de 2021, excedendo os 13 exercícios realizados durante todo o ano de 2020. No exercício mais recente, os militares chineses incorporaram dois tipos de drones não tripulados, veículos anfíbios de assalto, howitzers autopropulsionados, sistemas de foguete de lançamento múltiplo entre seus armamentos, de acordo com imagens de vídeo da emissora estatal chinesa CCTV.

Em maio, o governo chinês realizou outro exercício anfíbio simulando a captura de ilhas, em resposta ao exercício conjunto entre França, Austrália e Japão (cognominado Jeanne D’Arc) nas águas do Mar do Sul da China. O governo divulgou as imagens oficiais, que tinham relação direta com a questão de Taiwan.

Song Zhongping, um antigo instrutor do Exército de Libertação Popular, disse que este exercício - embora apenas uma pequena parte de uma operação real para assumir Taiwan - aumentou ainda mais a capacidade de combate do exército e refletiu a crescente confiança da China na implementação de uma missão militar holística (ou seja, de desembarque, invasão e conservação do controle insular). "A dissuasão não pode resolver problemas, somente ações concretas podem funcionar para defender a soberania e a integridade territorial de Pequim", disse Song. Trata-se de uma tonalidade mais agressiva, que marcou a retórica de Xi Jinping na declaração de 2019 (“Não prometemos renunciar ao uso da força, e nos reservamos a opção de todas as medidas necessárias”) assim como na celebração do centésimo aniversário do Partido Comunista Chinês, em que o presidente da China que a unificação com Taiwan permanece “uma missão histórica e um compromisso inabalável” do Partido.

A China também está atualizando seus exercícios militares sobre o Mar do Sul da China. A autoridade marítima chinesa divulgou dois avisos dizendo que a China realizaria dois exercícios militares separados na região, respectivamente em áreas ao largo da costa de Guangdong, Jiangmen e da cidade de Maoming. Geopoliticamente, o controle do Mar do Sul da China significa a posse da “ponte aquática” que separa a China de Taiwan, sobre cuja zona de identificação aérea o ELP fez sobrevoar 28 caças chineses em um só dia, depois das cúpulas do G7 e da OTAN (em que Biden ensaiava uma frente imperialista contra Pequim), um recorde mesmo diante do crescente volume de escaramuças aéreas realizadas desde 2020.

As ações militares chinesas no Estreito de Taiwan, assim como as hipocritamente chamadas “patrulhas para a liberdade de navegação” de potências imperialistas como os Estados Unidos e a Inglaterra, vão enchendo de faíscas uma região do mundo que já está cheia de pólvora, fruto da pobreza gerada pela crise econômica mundial e agravada pela crise sanitária na pandemia, e não menos importante, em que vemos processos agudos da luta de classes, de Hong Kong a Mianmar.

 
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