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LUTA DE CLASSES
França se prepara para manifestações contra Macron, a extrema-direita e o racismo do Estado
Caio Reis

Em um cenário nacional marcado por uma ofensiva repressiva autoritária e pelo racismo islamofóbico tanto do macronismo quanto da extrema-direita de Le Pen, sindicatos, partidos de esquerda e movimentos sociais convocam uma jornada de luta para o 12 de junho na França. A lição é clara: não existe saída institucional, é preciso tomar as ruas.

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Foto: Stephane De Sakutin / AFP

Essa semana, os franceses se preparam para enfrentar novamente a agenda racista, neoliberal e autoritária de Macron, que se encontra em uma corrida pré-eleitoral com a extrema-direita, e onde a disputa parece ser por quem consegue ser mais reacionário. Uma mobilização que evidencia que não existe mal-menor em um governo ajustador, repressivo e promotor de leis policialescas e islamofóbicas (aprovadas com o aval do Partido Socialista e do Partido Comunista, a “esquerda institucional” no parlamento francês).

Sindicatos, partidos de esquerda, estudantes e movimentos sociais irão às ruas no sábado (12) contra Macron, a extrema-direita e o racismo enraizado no Estado francês. Na contramão dos apelos do governo para “lutar” contra a extrema-direita nas urnas, lá em 2022, e também dos compromissos da esquerda institucional - preservadora de um regime que não tem nada a oferecer exceto exploração, repressão e racismo - essa nova jornada de mobilização mostra que, para lutar pelos direitos democráticos e as demandas dos trabalhadores e da juventude, o único caminho real é a unidade na luta de classes.

Trata-se de uma imensa lição para o Brasil após o 29 de maio das maiores manifestações desde o início da pandemia, onde milhares tomaram as ruas contra o governo reacionário de Bolsonaro, Mourão e dos militares, mas ainda em um cenário as centrais sindicais e a esquerda seguem apostando no imediato em um impeachment (que colocaria o general Mourão na presidência) impulsionado pelo desgaste de Bolsonaro com os atos de rua e a CPI da direita golpista, e mantendo no primeiro plano de suas discussões estratégicas as eleições de 2022. A esquerda precisa romper com essa política de preservação do regime e os sindicatos brasileiros precisam se unir à juventude e chamar uma paralisação nacional para potencializar as ações de rua, como o próximo 19J aqui.

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A França, terceiro imperialismo mais importante da Europa, se encontra em um contexto de crise econômica e social marcado por explosões de luta de classes ininterruptas desde 2016. Da luta contra a reforma trabalhista, naquele ano, passando pelos Coletes Amarelos em 2018 e as greves contra a reforma da previdência de 2019. Hollande, Macron e os capitalistas franceses reprimiram furiosamente a juventude e os trabalhadores que encheram as ruas, empregando métodos de repressão que já eram usados contra os moradores dos bairros operários e populares.

Em 4 de maio, foi publicado um chamado onde militantes políticos, sociais e sindicais exigiam a convocação de uma manifestação “para dizer não à extrema-direita, às ideias disseminadas pelo governo e em defesa das liberdades individuais e coletivas”. Esse texto acusava diretamente o governo, apontando as políticas e pronunciamentos reacionários dos ministros de Macron, como a Lei Separatismo e a Lei de Segurança Global.

Essas duas leis marcaram um avanço brutal da islamofobia e do autoritarismo repressivo do regime francês contra todos os setores operários, estudantis e populares em luta. Enquanto a lei dos separatismos se utiliza conspirativamente dos atentados do radicalismo islâmico para criminalizar a própria fé e os rituais islâmicos, bem como organizações antirracistas e ONGs, a lei de segurança se tratou de um pacote para criminalizar a divulgação dos abusos e da violência policial, buscando garantir impunidade às forças repressivas que ficaram famosas pelo absurdo número de danos oculares que causaram aos manifestantes nos últimos anos.

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O governo Macron, que instrumentalizou o assassinato do professor Samuel Paty para acusar todos os muçulmanos e militantes antirracistas (“islamo-esquerdistas”) de planejarem destruir a república francesa e promoverem um suposto “separatismo”, com sua perseguição vem ele mesmo moralizando e fortalecendo o radicalismo dos racistas que hoje se organizam no Reagrupamento Nacional, partido da extrema-direita liderada por sua concorrente eleitoral, Marie Le Pen.

Por outro lado, avançando contra os trabalhadores, os funcionários públicos, os universitários, imigrantes, muçulmanos e a juventude estigmatizada dos bairros populares - os setores mais precários e explorados, mas também protagonistas de processos como o enorme movimento antirracista francês - elevou o ódio contra si e o conjunto do sistema imperialista que preside.

Manifestações contra a Lei de Segurança Global (2020)

Após o primeiro chamado, diversas organizações políticas, sindicais e associações convocaram uma manifestação para o 12 de junho, para enfrentar os “ataques contra as liberdades e os direitos sociais [que] se acentuam gravemente” e para “construir uma resposta forte e unitária que traçe a aliança entre liberdade, trabalho e um futuro sustentável”. Entre essas organizações, as centrais sindicais CGT, FSU e Solidaires, o Novo Partido Anticapitalista (NPA) e o France Insoumise.

Esse chamado se dá três semanas depois que uma enorme parte da esquerda institucional - o Partido Comunista Francês (PCF), o Partido Socialista (PS) e os Verdes (EELV) - seguiram os passos do macronismo e da extrema-direita, participando de uma manifestação dos sindicatos policiais. Não só isso, como paira também um clima reacionário no país, onde a extrema-direita não hesita em ameaçar de morte a esquerda e suas figuras.

Nesse contexto, o próximo sábado será uma primeira resposta de grande importância, na sequência do enorme movimento contra as leis repressivas e em um cenário tenso, promovido pelo racismo do governo e da extrema-direita nos últimos meses.

O papel cumprido na aprovação das leis reacionárias e a participação do EELV, do PCF e do PS nas manifestações pró-policiais do 19 de maio, ao lado do Ministro do Interior de Macron, Gérald Darmanin (racista ideólogo da tese do “separatismo islâmico”), e do próprio Reagrupamento Nacional, são uma mostra direta de que a esquerda institucionalizada não é isenta de compromissos com o regime e com suas instituições racistas como a polícia. Uma lição que, não nos enganemos, com certeza vai para além da realidade francesa.

Aqui, em nosso país, estamos acompanhando o silêncio de um Lula reabilitado pelo STF sobre as manifestações do 29M, enquanto perdoa e traça alianças com os golpistas rumo a 2022, prometendo manter intacta a obra econômica do golpe. Na prática, vemos nos governos do PT no nordeste e também na prefeitura de Belém, governada pelo PSOL, que sem enfrentar as regras do jogo, qualquer governo, mesmo um que se diga de esquerda, vai terminar se submetendo aos ajustes e políticas exigidas pelos capitalistas.

Face au gouvernement et à l’extrême-droite, à l’offensive liberticides, racistes et anti-sociales, c’est sur le terrain de la lutte des classes qu’il s’agit de faire entendre notre voix!

Frente ao governo e à extrema-direita, à ofensiva liberticida, racista e anti-social, é sobre o terreno da luta de classes que é preciso fazer nossa voz ser ouvida!

Na França, como no Brasil, a luta contra a extrema-direita não pode vir separada da construção de um projeto alternativo que dê voz às aspirações sociais e democráticas dos trabalhadores, da juventude e dos setores populares oprimidos. Um projeto assim deve estar em clara ruptura com as ilusões eleitoralistas vendidas por uma esquerda institucional conservadora do regime e que, no caso francês, aposta em um “diálogo social” ilusório com o governo, sustentando estratégias derrotistas como as tomadas pelas direções sindicais francesas nos últimos grandes momentos da luta de classes lá, onde barraram a unidade que poderia levar à vitória.

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E do outro lado do Atlântico, as centrais sindicais brasileiras (dirigidas pelo PT e PCdoB) que ficaram meses em uma paralisia mascarada de bom-senso sanitário, enquanto a pandemia avançava e ataques aos trabalhadores foram aprovados, agora convocam as manifestações com um claro objetivo eleitoral, apenas para desgastar o governo e eleger um bombeiro de luta de classes como Lula em 2022, e não para levar até o final a nossa luta, enquanto seguem as mortes pela Covid, os ataques aos povos indígenas e as mortes da juventude negra pelas balas da polícia. É preciso se inspirar em processos como o em desenvolvimento na França, e ter claro que a extrema-direita brasileira, os militares e os ataques capitalistas não serão derrotados nas urnas e nem pelas mãos do regime.

Através de nossos camaradas da Corrente Comunista Revolucionária (CCR), que impulsionam o diário Révolution Permanente na França e que confluíram com o melhor da vanguarda operária, da juventude e dos movimentos antirracistas dos últimos anos naquele país, nós do MRT acompanharemos as mobilizações nas ruas francesas no próximo sábado.

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