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#SEMANAMIGUEL
Transformar a dor em luta: impor justiça por todas as vítimas da violência racista!
Janaina Freire, de Serra Talhada em Pernambuco

Neste 02 de junho, há 1 ano da morte do menino Miguel, no Dossiê #JustiçaporMiguel trazemos essa discussão sobre aquelas que decidem transformar o luto em luta contra a violência racista, que mata pela bala da polícia, mata de fome, mata de covid-19 ou no abandono como o caso de Miguel.

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Ilustração: Victor Cubaiá

Uma bala perdida, uma abordagem policial que vitimou... Um mal-entendido que faz a polícia levar, pra não mais voltar... Estar “na hora errada” e ser baleado como suspeito... Inúmeros são os relatos! Não há como, historicamente, falar do Estado brasileiro sem sua relação com a violência. Estão, desde a formação, intrinsecamente arraigados. E, dado à condição estrutural do racismo, que, no campo das relações sociais naturaliza as ações brutais do Estado, principalmente contra o povo negro, é imprescindível pensar a situação real das pessoas, suas histórias, sua dores frente a essa relação. Fazê-lo é condição para que se tome a própria história nas mãos e, ao mesmo tempo, para que seja possível olhar também fora de si e seguir na luta.

Este é o país mais violento do mundo, tendo 31,1 óbitos ocasionados por causas violentas a cada 100 mil pessoas, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, vistos mais de perto os números da violência têm cor e classe, uma vez que escancaram a violência contra jovens e negros nas periferias. Entre 2006 e 2016, de acordo com o Atlas da Violência 2018, existiu um aumento de 23,3% no número de morte de jovens no Brasil. Nesse mesmo período, a taxa de homicídios de negros experimentou uma aumento de 23,1%. Descortina-se, assim, que o risco de um jovem negro ser vítima de homicídio no Brasil é 2,7 vezes maior que o de um jovem branco, segundo o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência.

Mas, frente à chamada “política de segurança pública”, que, na verdade, prima por ações do Estado, a partir de sua polícia, pautadas na militarização, com controle ostensivo, vigilância cada vez mais acentuada, com uma maior probabilidade de violência policial e o tratamento de indivíduos como potenciais criminosos, os números (quando dados puros), ainda que alarmantes, podem contribuir à naturalização e à banalização de uma série de atos desumanizantes; sobretudo quando é a própria burguesia, através de seus noticiários e mídias, que naturaliza a guerra às drogas, estimula a ideia de que a solução para a violência social está na eficiência ou militarização da polícia. Mas, também não se pode fechar os olhos para o fato de que essa naturalização também é engrossada quando os sindicatos, por exemplo, não paralisam suas atividades em forma de protesto quando algum jovem negro é assassinado. A ideologia burguesa e as burocracias no movimento operário são entraves para questionar mais de conjunto o sistema capitalista e a relação entre a violência de Estado e o racismo.

Assim, o racismo se materializa na morte sistemática da juventude negra. E que, sobre quem mais sabe disso, são as mães, mulheres negras que, diante das circunstâncias mais adversas, precisam seguir criando seus filhos e lutando por justiça. A violência institucional brasileira, que solve na rotina de mortes a cor, a classe, a condição dos que se perdem, irrompe em casos que não podem ser esquecidos. Porque sabe o que é dor a mãe que não pode nem ao menos permitir que seus filhos saiam para brincar; nem mesmo estudar em segurança é garantido às nossas crianças, como vimos Marcus Vinícius que foi assassinado com o uniforme da escola e suas últimas palavras à Bruna, sua mãe, foram "mãe, eu sei quem atirou em mim, eu vi quem atirou em mim. Foi o blindado, mãe. Ele não me viu com a roupa de escola?". Palavras que ecoam na luta por justiça travada por Bruna. O que aconteceu com Fernando Henrique de 11 anos, Lucas Mateus de 8 anos e Alexandre de 10 anos, desaparecidos no dia 27 de dezembro de 2021, em Belford Roxo, baixada do Rio de Janeiro, não pode ser tratado como mais um caso. É imperdoável que o desaparecimento de três crianças negras, há 5 meses sem respostas, não tenha uma forte repercussão no país. Como entender a atuação da polícia diante desse caso, senão denunciando que o seu papel é repressão e morte contra os negros e pobres? Esta falta de respostas só é o reforço do descaso total diante de um caso, sobre o qual pairam as falhas mais absurdas de investigação desde o inicio.

Não é que falta planejamento à polícia. O fato é que no cerne da sua constituição e de suas ações estão as mortes e a criminalização da juventude negra e periférica como diretriz. A chacina de Jacarezinho, que, em plena pandemia, fez a polícia protagonizar a invasão de uma comunidade e vitimar brutalmente 27 pessoas, com execráveis indícios de desprezo pela condição humana, expõe às claras as contradições de um Estado (expressão do regime do golpe institucional de 2016) que tenta com seus discursos convencer sobre o funcionamento “normal” das “instituições de direito”. No real, no dia a dia, o que este Estado tem para oferecer à sociedade, por meio de sua polícia é só um aprofundar da violência e da repressão. Não é um paradoxo que as informações sobre os nome de todos os policiais envolvidos na operação realizada no último dia 6 de maio tenham sido colocadas em sigilo por 5 anos. Há uma reconhecida ocorrência de silenciamentos, de apagamentos de ações de violência estatal na História do Brasil. Confiança? Não há que se depositar nenhuma confiança no judiciário racista e golpista, nesse Estado que segue respaldando operações policiais e o triunfo da impunidade. Contra isso é preciso exigir uma investigação independente, a partir dos movimentos de direitos humanos, negros, familiares e sindicatos para que os culpados sejam julgados por um júri popular. É preciso lutar pelo fim dos autos de resistência que não passam de uma justificativa para o massacre da população negra!

Mas, é preciso que a dor diante de tanta violência se converta em agente potencializador de luta. Diante de tantos lutos, de tantas lágrimas, que a dor mobilize. Como a dor da mãe de Miguel, Mirtes Renata, que obrigada a comparecer ao trabalho, em plena pandemia, teve seu filho vitimado pela ação de abandono de Sari Corte Real. A queda do menino Miguel do nono andar de um prédio de luxo, abriu o luto no peito de sua mãe, mas também uma luta imparável por justiça por seu filho.

O luto que expõe a dor de tantas violências e injustiças marca indelevelmente. Não há como medir o sofrimento de uma mãe com a morte de um filho... Mas, que a memória seja o nosso impulso por justiça!

A luta é contra um passado que não passou: Um Estado e sua polícia que é cimentado no racismo e na violência. Mas que venha das favelas, das comunidades, das palafitas, das periferias de todo o país o grito de toda a classe trabalhadora contra este estado de coisas.

Tomemos, nesse dia 2 de junho, há um ano da morte de Miguel, as redes com as hastags #Justiçapor Miguel e #SemanaMiguel. Que tomemos as ruas do Recife com Mirtes. Que possamos engrossar o grito de justiça!

 
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