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29 DE MAIO
Fora Bolsonaro, mas o general Mourão fica?
Tatiane Lopes

Dia 29 de maio será um importante dia de luta contra o governo e seus ataques, mas a política de Fora Bolsorano, que na prática significa colocar Mourão no poder, é um erro que pretende no máximo, transformar manifestações de rua em instrumentos de pressão para que a CPI “dê resultados”, alentando a ilusão no impeachment e num desgaste eleitoral rumo a 2022, não podemos aceitar: nossa luta precisa ser por Fora Bolsonaro, Mourão e os militares!

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FOTO: Evaristo Sá/AFP

As manifestações convocadas para o dia 29 de maio, que começaram impulsionadas pelo rechaço aos ataques ao orçamento das Universidade e Institutos Federais, tomaram um sentido político geral pelo Fora Bolsonaro por iniciativa das direções da Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, o problema é que na prática, essa, que é a política de impeachment, significa tirar Bolsonaro e aceitar nada menos que Mourão em seu lugar. É preciso impulsionar os novos ares de mobilização que chegam ao país com a política correta para não desperdiçar nossas forças.

É natural e coerente do ponto de vista político, que a luta contra os ataques à educação, aos trabalhadores do serviço público e às privatizações, se vincule ao rechaço à figura odiosa de Bolsonaro. Entender a luta nas ruas por direitos como parte de uma batalha política, não separando as demandas concretas da necessidade de apontar uma saída que responda de fundo ao conjunto dos problemas é o único caminho que pode levar à conquista dessas demandas, porque coloca em evidência o inimigo, única forma de derrotá-lo. A questão é, Bolsonaro é nosso único inimigo?

Leia nosso editorial: Novos ares de mobilização e a adaptação à agenda da CPI: confiar nas forças da nossa classe e da juventude

A consigna “Fora Bolsonaro!”, que tomou o centro da convocatória do dia 29, por atuação consciente das direções, aponta um sentido político para a luta, porém equivocado. Hoje, na prática, “Fora Bolsonaro!” significa impeachment, política levada a cabo pela maioria da esquerda institucional desde a primeira crise do governo Bolsonaro. Essa política já começa falida, em primeiro lugar, porque depois de quase três anos de governo, só não está claro para quem não quiser ver que, as forças internas desse regime golpista não estão dispostas a tirar Bolsonaro com um impeachment, porque no fundamental dos objetivos pelos quais deram um golpe em 2016, Bolsonaro segue aplicando toda a agenda econômica. “O que falta para um impeachment?”, se perguntam angustiados muitos trabalhadores honestamente enojados com os rumos do governo. Não faltaria nada, se fosse da vontade dos atores desse regime, do Congresso, do STF, da grande mídia, que por muito menos deram um golpe com mil manobras institucionais em Dilma. Mas essa vontade política não existe, porque esse governo segue funcional aos objetivos do golpe institucional, especialmente no terreno dos ataques econômicos contra nós trabalhadores.

Já que não existe essa vontade política por parte dos atores desse regime podre, esses mesmos trabalhadores honestos, que não suportam mais a condução genocida da crise sanitária, os absurdos negacionistas, o ódio racista, machista que esse governo representa, se perguntam então se o caminho não seria exigir nas ruas, com a força da nossa luta, a derrubada desse governo. Um questionamento alentador, depois de anos de passividade. Esse questionamento, que começa a colocar em cheque o “fica em casa”, que nunca foi uma política racional de combate à pandemia, mas um mecanismo pacificador, muito mais de contenção social, é poderoso se vier acompanhado de uma política correta que não desperdice a preciosa disposição de luta que começa a se expressar.

No sentido oposto ao alento desses novos ares de mobilização que começaram a se expressar com lutas parciais de categorias, com a juventude voltando a se levantar pela educação, com a disposição que se expressa na própria convocação do dia 29, as direções petistas, ou do PCdoB e até mesmo do PSOL, atuam para separar os dias de luta por um lado e canalizar politicamente toda essa energia numa política que serviria para tirar Bolsonaro e deixar Mourão no poder, nada menos que o general saudoso da ditadura militar, que faz questão de comemorar o golpe de 64 a cada ano e está tão disposto quanto Bolsonaro a levar até o final todos os ataques econômicos com o mesmo ódio violento à luta dos trabalhadores.

Entenda: A UNE precisa unificar a luta com os trabalhadores no dia 29

Não podemos desperdiçar nossa energia, nossa disposição de luta numa política que nos deixaria nas mãos de Mourão! Tirar Bolsonaro e deixar Mourão no poder, confiando em alguma mudança nesse sentido, é muito menos do que ir até a metade do problema, é manter intacto esse mesmo regime podre do golpe institucional, cujo peso dos militares é um fator determinante. Não é possível avançar nas demandas mais sensíveis da nossa classe e dos setores mais oprimidos sem enfrentar o conjunto desse regime.

Por isso precisamos disputar a bandeira desse movimento, para que não seja só pelo Fora Bolsonaro, para abrir espaço a um general da ditadura militar, mas que seja por Fora Bolsonaro, Mourão e os militares, deixando claro nosso rechaço ao STF, Congresso Nacional e governadores, que são parte do golpismo que nos trouxe até o reacionário governo Bolsonaro. Enfrentar, neste movimento, as tentativas de canalização da nossa luta para a via institucional, seja CPI da Covid, seja o próprio impeachment. Que este movimento avance para levantar as demandas mais sentidas da população, exigindo o fim dos cortes nas universidades e de todos os ataques aos trabalhadores que estão anunciados, vacinação para todos com a quebra de patentes e sem indenização para as empresas, a proibição das demissões, contra a precarização do trabalho e a fome, e por um auxílio emergencial de pelo menos um salário mínimo. Lutando para que as centrais sindicais saiam da sua quarentena e se coloquem de corpo nessa luta para unir a nossa classe por essas demandas e, para isso, criem mecanismos de coordenação e unificação deste processo. O dia 29 não pode ser apenas mais um dia pontual de luta, mas o início de uma mobilização real, coordenada contra todos os ataques que nossa classe está sofrendo.

 
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