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NPA FRANCÊS
Anasse Kazib e centenas de militantes operários e jovens ameaçados de expulsão do NPA
Comitê de Redação - Révolution Permanente

Novo capítulo dentro da profunda crise que sofre o Novo Partido Anticapitalista (NPA): a antiga maioria expõe sua intenção de expulsar aos militantes do Révolution Permanente. Uma maneira de evitar a questão da pré-candidatura de Anasse Kazib, gerando além do mais uma maioria fictícia que haviam perdido na base da organização, para dirigi-la a uma política de aproximação à La France Insoumise (LFI), algo que já vem ocorrendo frente às próximas eleições regionais.

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Como é infelizmente habitual no seio do NPA, onde os debates estratégicos e sobre o projeto de partido nunca são o foco dos debates e balanços sérios, os desacordos terminaram por cristalizar-se em torno da questão eleitoral. Já ocorreu em 2012, onde mais da metade da direção proveniente da LCR abandonou o NPA para ir para a Frente de Esquerda de Mélenchón, e ocorre outra vez atualmente, em torno da sequência eleições regionais-presidenciais. É o caso do quinto congresso do NPA, que deveria ter tido lugar em fevereiro de 2020, e que foi adiado indefinidamente e poderia seguir até o fim de 2022.

Dois projetos se confrontam

O NPA se encontra gravemente dividido entre dois projetos, que desembocam em duas opções enfrentadas por superar estrategicamente a situação após o fracasso do projeto lançado em 2009.

O primeiro projeto se encarna na política da maioria (uma ajustada , minoria no último congresso de 2018 agora é mais visivelmente minoritária) com suas listas comuns com a LFI em Occitane e em Nouvelle-Aquitaine, incluindo a possibilidade de acordos de segundo turno com o Partido Socialista (PS) e/ou com Europa Ecologia – Os Verdes (EELV). Uma política que implica nos fatos sobre a liquidação do NPA como organização baseada na independência de classe e portanto independente no que diz respeito à esquerda institucional. De maneira coerente com isso, se expressa, em que uma parte relevante da antiga maioria (cujo porta-voz é Christine Poupin) se opõe a que o NPA tenha candidatura própria, seja qual for, em 2022 e defende voto em Mélenchon.

O outro projeto busca uma saída para a crise do NPA com a fusão com a nova geração de militantes surgida das grandes mobilizações que o país tem vivido desde 2016, bem como uma superação da ambigüidade estratégica que tem marcado a organização desde sua fundação. Isso implica uma refundação do NPA, em direção a um partido revolucionário que se preocupa em se inserir entre os trabalhadores e que tem seu centro de gravidade na luta de classes, longe de acordos entre aparatos políticos e/ou sindicais. Este segundo projeto é o defendido pelos militantes da Révolution Permanente, e que se materializa na pré-candidatura de Anasse Kazib.

A democracia interna no NPA é praticamente inexistente hoje. As listas do LFI-NPA para as eleições regionais em Nouvelle-Aquitaine e Occitanie foram realizadas pelas costas dos órgãos de governo e de muitos militantes (em pelo menos um caso, a maioria deles) das regiões afetadas. No entanto, desde que a pré-candidatura de Anasse Kazib foi lançada publicamente, foi atacada pela velha maioria como ilegítima, depois trapaceiramente como se fosse uma operação contra o NPA. A realidade é que a principal ameaça que paira sobre o NPA é a disposição de se dividir defendida por uma parte de sua liderança por mais de um ano, com o objetivo de devolver o “poder” à antiga maioria a fim de levar o NPA à liquidação política.

A campanha contra a pré-candidatura de Anasse e pela expulsão do Révolution Permanente

Embora nada nos estatutos do NPA proíba um militante de anunciar publicamente que pretende ser candidato a uma eleição, e que Anasse sempre tentou especificar que se tratava de uma proposta para debate e decisão dos militantes, uma campanha interna foi lançada em curso e culmina com uma série de moções exigindo a expulsão de todos os militantes da Révolution Permanente. Numa organização que sempre foi hostil a este tipo de procedimento, ainda mais às vésperas de um congresso, única instância legítima para tomar este tipo de decisão, é inegavelmente uma “novidade”.

Há vários dias, esta ofensiva deu um passo adiante, com o envio aos membros do comitê executivo do NPA um texto propondo a expulsão de Révolution Permanente da conferência nacional dedicada ao debate da política e o eventual candidato do NPA frente às eleições presidenciais: “(A corrente Révolution Permanente) comporta-se como um partido profundamente diferente do NPA, não pode pretender debater e pronunciar-se sobre as decisões de outro partido, embora alguns dos seus membros tenham pertencido a este por muito tempo de forma ativa”, pode ser lida no final desta contribuição assinada por todos os membros da antiga maioria dentro do comitê executivo.

O problema de fundo não seria o método utilizado para anunciar a pré-candidatura da Anasse, mas sim uma questão mais estrutural em relação à corrente e ao projeto que representa. Uma corrente que se responsabiliza por defender a ideia de um "partido de vanguarda trotskista" em oposição à dos "partidos amplos", bem como por criticar as políticas da atual direção. O texto enfoca particularmente a intervenção de fechamento de Anasse em um ato internacionalista online em 1º de maio: “em que a política defendida para as eleições regionais na Nouvelle-Aquitaine e Occitaine é descrita como um “giro a direita da ex-maioria”, de “Capitulação”, ou de listas “que preparam o terreno para a campanha presidencial de JLM”… enfim que uma “linha vermelha foi ultrapassada”.

Além disso, somos culpados de, e é tanto a base do problema quanto o argumento mais ridículo, ter êxito! E sim, o texto acusa: “O inegável sucesso desta corrente, de dirigir o site em propriedade exclusiva do Révolution Permanente”. E isso mostra os verdadeiros motivos da obstinação: enquanto o NPA perdeu mais de 7.000 membros desde a sua fundação e desempenhou um papel marginal na onda de luta de classes que atravessou o país entre 2016 e 2020, os "sectários" do Révolution Permanente mostraram que podemos nos afirmar como revolucionários e influenciar amplamente a classe trabalhadora e as camadas populares, que podemos construir um partido na luta de classes, recrutando novos militantes operários, que modificaram a correlação de forças interna. Isso é o que incomoda a velha maioria que queria levar o NPA na direção contrária.

Rumo a uma farsa de conferência nacional e a expulsão de numerosos militantes e operários provenientes de bairros populares

Porém, para atingir seus objetivos, a direção não pode permitir que a voz democrática do grupo de militantes se expresse, razão pela qual busca bloquear de antemão a conferência nacional, evitando o debate contraditório sob o pretexto de que os defensores da antiga maioria escreveram nas suas moções que já não desejam reunir-se com os militantes da Révolution Permanente, e de outros que partilham mais ou menos, tentando assim questionar a participação daqueles que constituem a principal oposição à atual liderança.

Uma caricatura de conferência nacional que não levará a nada legítimo e que, diante da obrigação de obter a assinatura de 500 prefeitos, provavelmente não permitiria a apresentação de um candidato.

Ao propor a expulsão de Anasse e do Révolution Permanente, a direção do NPA faz mais do que impedir a tentativa de apresentar uma candidatura revolucionária que possa dialogar com as camadas mais exploradas e oprimidas de nossa classe, expressando uma convergência entre as idéias marxistas e uma nova geração de trabalhadores combativos. Procura livrar-se de numerosos militantes operários que encabeçam lutas importantes, por vezes exemplares, de camaradas de bairros populares e imigrantes que aderiram ao NPA, apesar de seus erros, para lutar pela transformação revolucionária da sociedade.

Nos encontramos numa situação sem precedentes: uma organização de extrema esquerda, com composição maioritária de professores e quadros do funcionalismo público, onde o seu efetivo diminui aos poucos a cada congresso ou conferência, decide expulsar de suas fileiras centenas de militantes da classe operária e jovens. Entre eles Adrien Cornet, líder da greve na refinaria Grandpuits, Gaëtan Gracia, chefe da coordenação das empresas da indústria aeronáutica na região de Toulouse no início da pandemia, e Christian Porta, sindicalista do setor agrícola -alimentos e referência dos Coletes Amarelos em Mosela, a Rozenn Kevel, uma jovem trabalhadora precária que lutava contra a gestão da Chronodrive, que a despediu depois de denunciar assédio sexual dentro da empresa, e a um grande número de militantes que assinaram esta declaração pública recentemente em RP.

Qual é o sentido político de tudo isso?

Não parece que uma organização que busca se separar desse tipo de militante a todo vapor esteja se preparando para intervir da maneira mais efetiva possível nos processos de luta nos próximos anos; ao contrário, sua preocupação parece encontrar atalhos, como os tomados pelos amigos da antiga maioria do NPA no Estado espanhol, que concordaram em dissolver sua organização (Izquierda Anticapitalista) no Podemos, o que os levou a apoiar a política cada vez mais institucional de Pablo Iglesias, antes de sua derrocada em um governo comum com o Partido Socialista, e depois uma queda vertiginosa que o levou ao seu afastamento da política.

O novo regime “centralista-burocrático”, sem direito real a tendências e frações, que a velha maioria do NPA tenta impor e do qual a expulsão da CCR é o primeiro passo, é uma forma de avançar neste sentido. [1]

Infelizmente, as correntes de esquerda do NPA, ao mesmo tempo que criticam a orientação posta em marcha nas regionais, mantêm uma defesa utópica do status quo do atual NPA, acabando por se adaptar de fato à política da velha maioria. Embora o projeto do NPA tenha claramente falhado, que a organização e sua liderança tenham mostrado sua inutilidade do ponto de vista da luta de classes, e que um processo de liquidação dessa ferramenta imperfeita esteja em andamento em um projeto ainda mais ambíguo e aberto a esquerda institucional, esses camaradas decidem descartar tanto a candidatura de Anasse quanto a política levada a cabo nas regionais pela antiga maioria. Eles propõem uma candidatura consensual, que pode vir das fileiras da antiga maioria, desde que tenham alguns porta-vozes em campanha. Posicionamento ainda mais problemático se levarmos em conta que as tendências de esquerda são numericamente majoritárias e poderiam impor um candidato de ruptura com a orientação atual e a direção que a defende.

NOTAS:

[1] Esquerda Anticapitalista no Estado Espanhol também expulsou a sua ala esquerda quando se uniu ao Podemos.

 
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