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IV CONGRESSO DO MRT
IV Congresso do MRT fortalece orientação na luta pela construção de um partido revolucionário
MRT - Movimento Revolucionário de Trabalhadores

O Congresso foi realizado com dezenas de delegados, sendo 63% mulheres. Eram trabalhadores, jovens, estudantes, operários e operárias, trabalhadoras da saúde, dos transportes, educadores e educadoras, domésticas, negros, mulheres e LGBTs, representando militantes de diversas cidades de estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Espírito Santo, Paraíba, Goiás, além do Distrito Federal. O Congresso ocorreu de forma virtual de 23 a 25 de abril, com os delegados em uma sala de Zoom para os debates e todos os militantes assistindo, junto a companheirxs que estão em processo entrada no MRT.

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Um debate internacional centrado nas lições estratégicas da luta de classes

O Congresso contou com a presença de convidados do PTS da Argentina, da CCR da França, do PTR do Chile e do Left Voice dos EUA, que são 4 países entre os 14 onde temos sessões da corrente internacional do MRT, a Fração Trotskista – Quarta Internacional (FT-QI), em que os processos de luta de classes estão mais avançados (França, EUA e Chile) ou onde nossa organização tem mais peso político como partido, que é o caso da Argentina com o PTS. Lá começam a surgir processos de luta de classes mais importantes recentemente e nosso partido é o principal da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, uma alternativa de independência de classe no país em comum com outras correntes da esquerda trotskista. Aqui se pode ver o conteúdo dos debates, que foram fundamentalmente ao redor das lições estratégicas destes processos de luta, que buscamos sintetizar no recém lançado Manifesto da FT-QI, que propõe um movimento por uma internacional da revolução socialista. Nele estão contidos os debates que consideramos fundamentais para esse objetivo.

O Congresso apresentou um debate profundo a partir dos informes, que se concentraram na questão da auto-organização, da política de hegemonia operária e da política de construção de partidos revolucionários de trabalhadores, entrando nas particularidades de cada país. Outro elemento fundamental foi o papel dessa discussão no sentido de aprofundar o internacionalismo que é característico da nossa corrente, o que é especialmente importante no marco da situação objetiva brasileira ser um dos polos mais reacionários internacionalmente.

Um elemento debatido foi como a falta de uma perspectiva internacionalista é um fator que torna a esquerda brasileira ainda mais débil para se localizar corretamente no Brasil, pois restringem seu pensamento apenas ao contexto nacional e se pressionam ainda mais para adaptar-se às direções reformistas. Mesmo organizações que se apresentam à esquerda do PT expressam ceticismo em relação à possibilidade de que a classe trabalhadora, junto ao povo pobre, dê uma resposta à crise. Essas correntes terminam encarando o Brasil como se fosse uma “ilha” separada do mundo, mas assim como o Brasil foi impactado pela vitória de Trump, que abriu espaço para Bolsonaro, também vai sendo pelo Black Lives Matter e pelos processos de levantamentos populares na América Latina e pelo mundo.

Foto de ato do Black Lives Matter, nos EUA: Marc Klockow / Left Voice

Diversos delegados manifestaram entusiasmo de ver como os revolucionários conseguem se construir aos saltos quando têm oportunidades na luta de classes, mesmo sendo organizações políticas que ainda não tem peso nacionalmente. Isso ficou claro particularmente na França, que é um dos polos mais avançados da luta de classes no mundo e onde nossa corrente está se consolidando como alternativa na esquerda francesa em base à intervenção na luta de classes, defendendo a necessidade da construção de um partido revolucionário de trabalhadores junto a operários revolucionários de diversas categorias e batalhando para que Anasse Kazib, ferroviário imigrante da CCR, seja candidato a presidente pelo Novo Partido Anticapitalista (NPA).

Foto do bloco da Coordenação RATP-SNFC, com Anasse Kazib no megafone / Révolution Permanente

Também foi especialmente importante o debate sobre como o PTS está intervindo na Argentina, num país onde a luta de classes vinha tendo baixa intensidade e apesar disso o partido conseguiu articular dezenas de pequenos processos de luta e, mais recentemente, ter um papel destacado na luta mais avançada no país que se dá no estado de Neuquén. Lá as trabalhadoras da saúde são linha de frente dos combates e os trabalhadores da fábrica ocupada sob controle operário Zanon, existente desde 2001, onde o PTS cumpriu um papel decisivo, vem sendo um fator importante da aliança operária e popular em defesa das trabalhadoras da saúde e sua auto-organização.

Também foi um importante debate como a Rede Internacional de jornais diários digitais está cumprindo um papel fundamental no desenvolvimento da FT-QI, com 15 jornais em 7 idiomas, que em 2020 tiveram um recorde de 75 milhões de visitas, com correspondentes em 280 cidades da América e 40 da Europa. Acabamos também de lançar um novo site e impulsionamos um 1 de maio de toda a FT-QI (que pode ser visto aqui) com o objetivo de seguir avançando no desafio internacionalista de construção de organizações revolucionárias para encarar a reatualização da época imperialista de crises, guerras e revoluções, tendência que apontamos desde 2008, mas que se aprofunda com a pandemia e ganha contornos catastróficos, com tendências a se ampliar o retorno da luta de classes em diversos países do mundo.

Fotomontagem da luta dos trabalhadores da saúde de Neuquen, Argentina / La Izquierda Diario

Um debate sobre a situação nacional centrado em como responder à crise a partir de uma perspectiva revolucionária

No decorrer do pré-congresso foram se desenvolvendo reflexões de caracterização da situação objetiva que foram reafirmadas unanimemente no Congresso e desde o informe de abertura nacional. Dessa forma, desenvolvemos a definição de uma situação reacionária no país, especialmente desde 2017, e que a pandemia agravou profundamente a crise econômica, social e política, com o componente catastrófico da crise sanitária que tem no Brasil um dos seus polos mais graves do mundo, por responsabilidade do governo negacionista de Bolsonaro e também de todos os governadores e demais instituições do regime golpista que fazem demagogia “pela vida”, mas não representam nenhuma alternativa real.

Debatemos que apesar de estar aberta a possibilidade de seguir persistindo os elementos reacionários da situação nacional, não se pode descartar mudanças bruscas, típicas de uma situação de “crise orgânica” e que para isso devemos nos preparar nos apoiando nos exemplos internacionais e intervindo nos processos de luta iniciais que já ocorrem. Nosso programa frente à crise sanitária, social e econômica se orienta pela estratégia de impulsionar a ação da classe operária como sujeito independente, unificando os setores organizados com os precarizados e desempregados e batalhando pela auto-organização, em exigência às burocracias sindicais e estudantis a que rompam com sua paralisia. E pela aliança operária e popular, levantando as demandas dos setores oprimidos e pauperizados da cidade e do campo, especialmente frente ao aumento das mortes por Covid e da fome no país.

Bolsonaro ao lado dos comandantes das forças armadas em 2020

O Congresso reafirmou a importância de lutarmos pelo Fora Bolsonaro, Mourão e os militares, enfrentando também os governadores e todas as instituições do regime golpista, como o STF e o parlamento, incluindo o combate para tirar os militares da política, o que só é possível em base à luta de classes que imponha que voltem para os quartéis e não com novos pactos como o PT se dispõe a fazer.

Analisamos que a política que setores do regime tiveram de enfim recuar no absurdamente arbitrário processo contra Lula e declarar a suspeição do Moro expressam a tensão de setores do regime com a possibilidade de explosões sociais. Que setores do regime golpista e da burguesia o reabilitam eleitoralmente é porque precisam de Lula como fator de contenção, começando por tentar canalizar as insatisfações para as eleições de 2022, estimulando a que o PT siga com seu papel de controle como direção do movimento de massas impondo uma paralisia das centrais sindicais e outros movimentos e entidades que dirige. Para isso, contam com a política de Lula de “perdoar” os golpistas, de retomar o mesmo projeto de conciliação de classes que abriu espaço para o golpe institucional e a ascensão da extrema direita e sabendo que vai preservar a obra econômica que veio com o golpe institucional e arruinou os direitos dos trabalhadores. Foi o que se expressou nas declarações recentes de Lula que se nega a revogar as reformas reacionárias que passaram e se declarou disposto até a abrir o capital de empresas estatais estratégicas como a Caixa Econômica Federal, o que nem Guedes foi capaz de fazer.

Lula em discurso logo após decisão de Fachin que lhe restituiu os direitos políticos. Nesse discurso Lula defende vender parte da Caixa

Considerando que o regime brasileiro do golpe institucional continua marcado pelo aprofundamento do bonapartismo, com as disputas entre Bolsonaro e a extrema direita, os militares, e o conjunto do bonapartismo institucional, e que com a reabilitação política de Lula pelo STF se fortalecem muito as ilusões de que isso possa ser revertido pelo voto em Lula em 2022; e que tanto o PT quanto o PSOL e as organizações de esquerda em geral fortalecem essas ilusões; nos orientamos pela batalha por uma política anti-imperialista e de independência de classe que enfrente as diferentes alas do regime e combata essas ilusões.

Discutimos no Congresso que se reatualiza nossa crítica ao conjunto dos partidos que se apresentam como alternativas à esquerda do PT (PSOL, PSTU, PCB, UP e PCO) por centrarem sua política ao redor do impeachment de Bolsonaro, pois se trata de uma política que iria dar lugar ao governo Mourão, ou seja, diretamente militar e sem sequer passar por uma eleição. Em meio ao Congresso surgiu a mesa que reuniu o PSOL, PSTU, partidos de centro e, o que é chocante, o PSL com Joice Hasselman, além de DEM e PSDB e uma tropa de reacionários golpistas em uma “unidade pelo impeachment”. Os que participaram da reunião alimentam a ilusão de uma resposta à crise do país com essa unidade parlamentar com a direita pelo impeachment, ao invés de terem uma política de unidade da classe trabalhadora na luta de classes, que é a única forma de dar uma resposta à grave crise que vivemos no Brasil.

Debatemos que é importante defender, no terreno da propaganda e contraposto à política de adaptação da esquerda ao regime político golpista, a política de Assembleia Constituinte Livre e Soberana, imposta pela mobilização, que debata os grandes problemas do país e que, nessa luta, nossa batalha deve ser pela auto-organização e por avançar para um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

Debatemos que para fortalecer na vanguarda uma batalha pela independência de classe e uma estratégia baseada na luta de classes, que é a única que pode combater a extrema direita e o conjunto do regime do golpe institucional, é necessário aprofundar a luta de tendências com organizações que se dizem revolucionárias, mas que repetem essencialmente a política do PT. Como é o caso em especial da Resistência do PSOL, que não tem diferenciações com a política de Guilherme Boulos, sendo que este até já se aliou nas eleições com partidos burgueses e golpistas em 2020, e agora já busca pactos com setores evangélicos conservadores para disputar as eleições de 2022, como o Republicanos da Igreja Universal, o que é também a mesma política de Marcelo Freixo.

À esta política de Guilherme Boulos e Marcelo Freixo, a Resistência do PSOL se adapta acriticamente. Expressão disso são as posições defendidas por Valério Arcary que considera que a reabilitação de Lula é a “maior vitória política democrática dos últimos cinco anos”, definição que esconde o enorme número de militares no regime atual, o “papel moderador” (bonapartista) do STF, a enorme força das igrejas evangélicas, as milícias no RJ e outros estados e toda a podridão do regime do golpe que se mantem de pé, sendo a reabilitação de Lula expressão não de uma luta dos trabalhadores, mas de um rearranjo dos próprios atores golpistas do regime político. Mostra como é uma corrente que rompeu com o PSTU, mas saiu da adaptação ao golpismo para uma adaptação acrítica ao petismo e mantendo as concepções teóricas de Nahuel Moreno, segundo as quais não importa se o sujeito que impõe a demanda é a classe trabalhadora em suas lutas ou um “opositor burguês”. Claro que não é o mesmo que seja o golpista Fachin e o STF reabilitando eleitoralmente o Lula do que se fossem as massas impondo a reversão das medidas golpistas da Lava-Jato. Mas essa política serve para justificar sua adaptação acrítica em relação a Lula, se dedicando a exercer um papel de conselheiros e implorando para que Lula se alie ao PSOL e não à direita.

Também é necessário debater com outra corrente do PSOL que se diz revolucionária, mas também defende uma política de conciliação de classes, que é o MES. Eles defendem aliança com PDT, PSB e Ciro Gomes, apoiaram (ainda que criticamente) Biden nos EUA e Baleia Rossi para eleição na câmara dos deputados. Discutimos a importância de seguir batalhando por nossa política de independência de classe em alternativa à política do PSOL, PSTU, PCB, UP e PCO, lutando por romper qualquer tipo de adaptação ao PT e às burocracias sindicais, mas também aos golpistas e a burguesia, e avançar na unidade na luta de classes.

Debatemos que a nossa tarefa como MRT é seguir batalhando por um programa de transição que seja de fato capaz de responder à crise, combinando as demandas mínimas, as democráticas, as de organização e transicionais, numa perspectiva de independência de classe e anti-imperialista. O Congresso votou com hierarquia de agitação e buscando a unidade com setores da esquerda ao redor das seguintes campanhas: a) Campanha nacional pela revogação da Lei de Segurança Nacional, e pela anulação imediata de todos os inquéritos; b) Campanha nacional por vacina para toda a população, com centro na defesa da quebra das patentes sem indenização, batalhando para que os sindicatos assumam essa demanda, ligando com o combate à compra de vacina por empresários e outros privilégios relacionados à vacinação; c) Contra a fome e os ataques aos trabalhadores, votamos fazer uma forte agitação pela anulação das reformas, proibição das demissões e que os capitalistas paguem pela crise.

Apoiar e coordenar as lutas, batalhando para que a esquerda se una na luta de classes e por uma frente única operária

O Congresso expressou uma organização que tem companheiras e companheiros na linha de frente, na saúde, metroviários, rodoviários, bancários, telemarketing, terceirizadas da limpeza e outros setores, batalhando em cada local de trabalho por uma estratégia e um programa de resposta dos trabalhadores para a crise. Bem como um grupo que está intervindo fortemente nas poucas oportunidades que têm surgido na luta de classes. Já na pandemia viemos atuando no Hospital Universitário da USP, fomos parte de impedir as demissões de terceirizadas da Faculdade de Odonto na USP, travamos no metrô uma grande batalha pela defesa de vacinas para todos e contra os ataques aos direitos da categoria, como minoria da diretoria do Sindicato dos Metroviários de SP, em professores estamos batalhando contra o retorno inseguro às aulas e por Comissões de Segurança e Higiene em cada escola e para que a comunidade escolar seja quem decida sobre o retorno.

Trabalhadoras do Hospital Universitário da USP em luta

Interviemos ativamente em solidariedade à cada pequena mobilização de trabalhadores da saúde e dos transportes em vários estados, assim como em petroleiros, nos Correios e no Telemarketing. Bem como nas lutas do movimento popular, como na ocupação do CCBB de Brasília, na ocupação Buracanã na São Remo em SP ou contra o racismo no RS, onde ao final do Congresso já participamos de um ato.

  •  Veja também: Congresso do MRT debate balanços e perspectivas para a classe trabalhadora no país

    O Congresso expressou como viemos entrando através do Esquerda Diário e nossos podcasts (5 minutos e Peão 4.0) em várias categorias ou pequenas mobilizações onde não temos trabalho como MRT, transformando essas ferramentas em fontes de denúncias permanentes da situação da classe trabalhadora e por essa via abrindo novas relações no movimento operário nacionalmente.

    Debatemos em especial a importância de seguirmos aprofundando a solidariedade à luta contra o fechamento da LG e suas 3 fábricas terceirizadas fornecedoras (Sun tech, Blue Tech e 3C), e de fazer um chamado a toda a esquerda para cercar de solidariedade essa luta e batalhar pela coordenação desta com outras pequenas lutas que estejam em curso para impedir que fiquem isoladas, pois só a unidade fortalece a classe trabalhadora. Demos essa batalha pela unidade já nas assembleias logo depois do Congresso em metroviários de São Paulo e debatendo com os bancários da Caixa Econômica Federal essa questão em meio à paralisação que fizeram dia 27 de abril contra a privatização. Assim como continuamos na luta contra a privatização da CEDAE no RJ, onde intervimos também pela unidade das lutas.

    Trabalhadores da LG em Assembleia / Guto Rezende/Sindmetau

    Essa política de unir e coordenar cada foco de resistência debatemos que precisa ser uma política permanente, como parte da nossa estratégia de auto-organização e de que a esquerda deve se unir à classe trabalhadora na luta de classes e não nas vias institucionais com os partidos da burguesia e golpistas. Para nós, tudo isso é parte da lógica de atuar em busca da Frente Única dos trabalhadores, que é uma grande unidade de toda a nossa classe, efetivos e terceirizados, empregados e desempregados, de todos os sindicatos, na luta contra todos os ataques. É fundamental organizar setores de vanguarda da classe trabalhadora com uma forte política de exigência às burocracias para que saiam da paralisia e convoquem um plano de luta e a esquerda precisa colocar todas as suas forças nesse sentido, como um polo antiburocrático.

    Orientações que são tarefas preparatórias na luta por um partido revolucionário no Brasil

    O Congresso debateu a importância de fortalecer o Esquerda Diário como unificador da orientação, tanto no seu aspecto de fazer política cotidiana, como organizador coletivo e agitador político; batalhando para que seja a voz dos setores mais golpeados pela crise, da luta pela sua auto organização e unidade contra as burocracias, com peso na questão negra, na luta contra Bolsonaro, Mourão, os militares e todo o regime golpista, apresentando para isso uma perspectiva de superação da estratégia de conciliação de classes do PT, que o PSOL se propõe a repetir, evitando uma relação passiva com nossa periferia de somente enviar nossos materiais, dando grande importância à difusão e aos retornos sobre nossos conteúdos, em especial nos locais de trabalho e estudo onde atuamos e sobre nossos posicionamentos políticos de conjunto.

    Em relação à nossa orientação no movimento estudantil, debatemos que era importante avançar ainda mais em nosso trabalho ideológico e batalhar para ligar a vanguarda e a base em cada lugar onde atuamos, e por uma perspectiva de se ligar à juventude precarizada de dentro e de fora da universidade e ao conjunto da classe trabalhadora e seus processos de luta.

    Votamos avançar na iniciativa do Campus Virtual, impulsionando grupos de estudos como espaços de formação de quadros a partir do debate teórico e político, agora também com formatos minicurso e expandindo os temas abordados. Ampliar formas de difusão do semanário Ideias de Esquerda, avançando em entrevistas e debates com a intelectualidade e a esquerda. Aprofundar o trabalho com as Edições Iskra, que vem cumprindo um papel qualitativo como editora de difusão e atualização do pensamento marxista para os problemas de nossa época, bem como resgatar as elaborações que chamamos de “teses fundacionais” que são elaborações de balanços, programa e estratégia refletindo a história do Brasil e de cada estado onde estamos.

    Discutimos a importância de manter e potencializar a ofensiva com o livro Mulheres Negras e Marxismo, o curso e os grupos de estudos em torno desse tema, bom como com o Podcast Feminismo e Marxismo que se tornou conhecido com quase 100 mil reproduções de 50 episódios, buscando organizar independentes no Pão e Rosas e no Quilombo Vermelho, e tendo o Esquerda Diário como organizador coletivo também para essas agrupações, buscando construir alas revolucionárias nos movimentos de mulheres e negros com uma estratégia classista e proletária.

    Livro Mulheres Negras e Marxismo

    O Congresso também votou construir um encontro do Esquerda Diário com todos os setores que militamos conjuntamente no movimento operário, bem como os trabalhadores que estão conhecendo o ED para debater como fortalecer os instrumentos operários como o ED 5 min, o Peão 4.0 e o site Esquerda Diário, como parte de fortalecer a construção de frações revolucionárias no movimento operário.

    Um debate com uma Tendência interna que se dissolveu ao fim do Congresso confluindo nas orientações

    Tivemos um grupo de companheirxs que representaram 2,5% dos delegados que, no marco de um acordo em todos os aspectos fundamentais que desenvolvemos acima, fizeram críticas de como o MRT em alguns momentos fez agitação com peso excessivo para demandas transicionais e com pouco peso para demandas mínimas, que consideravam mais fortes em setores de massas, o que acabaria reduzindo o alcance que as ideias revolucionárias poderiam ter. Nesse sentido, a Tendência criticou como o MRT trabalhou o seu programa durante a pandemia, considerando fundamentalmente que deveríamos ter trabalhado mais algumas consignas que são parte do nosso programa que se referem à questão do isolamento social, bem como entrado antes no debate sobre a vacina com nosso programa revolucionário.

    No marco de um acordo de que não deveríamos agitar a defesa do “lockdown” (entendido no sentido de uma política repressiva imposta pelo Estado, ainda que tampouco seria nossa tarefa agitar contra, justamente porque se confundia com a demanda bolsonarista que era contra toda forma de isolamento social), a Tendência criticou que deveríamos ter dialogado mais com a consigna do lockdown, combatendo aspectos autoritários e de divisão da classe trabalhadora desta política, ao mesmo tempo que colocássemos que uma saída dos trabalhadores para a pandemia deve se dar com uma quarentena racional com auxílio emergencial de no mínimo um salário mínimo, liberação dos serviços não essenciais sem cortes no salário e sem demissões, liberação dos trabalhadores do grupo de risco, expropriação dos hotéis para moradia adequada para os mais pobres, contratação de mais trabalhadores e aumento das frotas no transporte público, etc. Consideravam que trabalhamos pouco com essas consignas mínimas e mais com as consignas transicionais de resposta à crise, o que consideravam que para alguns setores da classe trabalhadora que dão peso para a questão do isolamento social, seria sectário.

    Debatemos que essas consignas relacionadas ao isolamento social foram inclusive parte de batalhas nossas em diversos trabalhos no movimento operário onde atuamos, no marco da batalha por unificar a classe trabalhadora que tem distintas condições em meio à pandemia, não aceitando a divisão imposta entre os que ficam em casa e os que tem que ir trabalhar, e identificar as pressões de classe que especialmente a política do #FicaEmCasa expressa quando grande parte da nossa classe está sendo obrigada a trabalhar sem nenhuma condição sanitária. Queremos que o Esquerda Diário seja porta-voz do conjunto da classe trabalhadora.

    A Tendência argumentou que uma situação reacionária não necessariamente reduz o espaço de construção para um grupo revolucionário, já que durante uma crise orgânica se abrem novos espaços à esquerda e à direita dos partidos e organizações tradicionais, ainda que esse espaço à esquerda seja mais restrito quando há baixa luta de classes. Também propôs uma série de medidas de profissionalização do nosso trabalho como MRT no Esquerda Diário, das nossas figuras e nas redes sociais, fundamentando que era necessário termos maior audácia em tempos de baixa luta de classes para alcançar setores de massas mais amplamente e avançar na nossa construção. Diversos delegados debateram essas questões, defendendo que nas situações reacionárias e de baixa luta de classes o espaço de construção se reduz, sim, para as organizações revolucionárias, muito mais do que para as organizações reformistas ou que se adaptem às ilusões em saídas por dentro do regime. E que por isso se colocam tarefas preparatórias frente à possibilidade de mudanças bruscas e de maior luta de classes.

    Nesse marco, sim houve acordo com o sentido de sermos audazes e cada vez mais profissionais nessas tarefas preparatórias buscando alcançar os mais amplos setores que seja possível com uma política revolucionária, seguindo a defesa intransigente de nosso conteúdo programático e a luta de tendências teórico-política com a esquerda que se adapta ao reformismo e ao eleitoralismo, batalhando pela construção de uma organização revolucionária apoiada em frações revolucionárias no movimento operário e de massas. Debatemos também que o sentido que queremos dar para as nossas figuras públicas deve ser o de verdadeiros “tribunos do povo”, como parte de uma construção orgânica no movimento operário e na juventude, que consigam generalizar os grandes sofrimentos das massas apresentando uma política revolucionária.

    A Tendência considera que foram dadas todas as garantias de condições democráticas para o debate, que inclusive extrapolou bastante os termos do estatuto partidário, sendo ratificadas pelo Congresso unanimemente, para permitir que o debate de conteúdo fosse privilegiado e que a Tendência pudesse defender suas posições plenamente. Foram consideradas pela militância de conjunto todas as posições, num amplo debate por escrito e em organismos, buscando ver o que era possível avançar em acordos e confluir nas orientações.

    Xs companherxs da Tendência se manifestaram contemplados pelas resoluções do Congresso (que podem ser vistas aqui), que também tiveram contribuições por parte da Tendência em sua elaboração, e ao final todxs xs militantes da Tendência e do MRT de conjunto ressaltaram a importância de que o MRT tenha saído unificado para levar à frente essas resoluções e nossa intervenção na luta de classes, seguindo os debates frente à difícil situação no país. Isso se expressou nas votações das resoluções, com amplo acordo, e depois disso a Tendência declarou sua dissolução. E todos saíram fortalecidos para seguir dando nossas batalhas pela construção de um partido revolucionário no Brasil.

    Somos um grupo que se prepara para mudanças bruscas na luta de classes e processos de rupturas e fusões na esquerda

    O MRT debateu no Congresso a situação objetiva nacional e internacional e nossas tarefas no contexto de que as consideramos como preparatórias para quando surjam processos de luta de classes no Brasil, que podem ser inclusive a partir de mudanças bruscas na situação.

    Temos clareza de que o partido revolucionário no Brasil não vai se construir por um desenvolvimento evolutivo do MRT, mas a partir de um profundo processo de luta de classes, que vai dar lugar a processos de rupturas e fusões na esquerda, que podem também se combinar com o impacto do refortalecimento de Lula e do PT que pressiona os partidos à esquerda do PT a seguirem esse partido em sua adaptação ao regime do golpe.

    Buscamos a partir do conjunto de orientações que debatemos aqui ir fortalecendo um sólido grupo de dirigentes e quadros marxistas que vão atuar em futuros processos de luta de classes e de reorganização da esquerda, que vai dar lugar a novos partidos e organismos de auto-organização no terreno da luta de classes.

    Chamamos a todxs que se identificam com o que o MRT e a FT defendem a se juntar conosco nesse desafio revolucionário.

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