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RETORNO INSEGURO DAS AULAS
Professoras da rede privada relatam o medo da contaminação e o assédio dos patrões
Redação

Desde o ano passado, empresários da educação, preocupados em manter seus lucros nas alturas, pressionam os governos estaduais, se apoiando no negacionismo e demagogia de Bolsonaro que defende que “o Brasil não pode parar”, para que as escolas possam funcionar normalmente. Com isso colocam em risco toda a comunidade escolar e ainda impactam diretamente no aumento da demanda dos hospitais.

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Foto: Pedro Teixeira/ Agência O Globo

"Quando os donos da escola que trabalho anunciaram que retornaríamos ao presencial, entrei em pânico. Parecia que o ar tinha sumido de mim e daí em diante o medo se faz constante. Por mais que eu já esperasse, receber a notícia sem sequer ser consultada enquanto professora foi de um desrespeito sem tamanho. Eles não sabem a realidade da sala de aula, não sabem o desespero que é ver a criança abaixando a máscara pra espirrar, limpando o nariz e depois vindo encostar na gente. As crianças não têm culpa, são crianças, esquecem que estamos na pandemia, são carinhosos, querem abraço. O vírus é invisível, e fica mais difícil pra criança se atentar aos detalhes. O problema é que os governantes e os donos das escolas acham que é possível seguir protocolo sanitário dentro da sala de aula, mas não é!" Este é um relato de uma professora de escola particular da cidade de Campinas, que preferiu manter o anonimato com medo de ser demitida.

Da segurança de suas casas, governadores, prefeitos e empresários da educação atuam de forma combinada para impor ao conjunto dos professores, tanto da rede pública quanto privada, o retorno inseguro das aulas presenciais no momento mais crítico da pandemia. Já no ano passado, diversas escolas particulares do estado de SP, ou mesmo a rede pública como no Rio de Janeiro, retornaram presencialmente. São inúmeros os relatos desesperados de professoras que contam sobre a dificuldade em cumprir os protocolos em sala de aula. Como se não bastasse a negligente e extremamente irresponsável gestão de Bolsonaro, que já ceifou a vida de quase 400 mil pessoas, os diversos setores do regime político do golpe institucional, como Congresso, STF, Judiciário e todos os partidos do dito “centrão” também atuam para acelerar a catástrofe no país.

No início do ano letivo, Doria e Rossieli impuseram o retorno presencial, gerando rechaço da comunidade escolar. Em resposta a este ato criminoso, professores fizeram greve sanitária em nome da segurança e da vida de toda a comunidade. Passando por cima da posição das educadoras, o governo manteve sua determinação e a consequência do retorno foi catastrófica, 2 mil casos de COVID nas escolas em SP após o retorno presencial forçado por Dória.

Leia mais: Aluna de 13 anos morre em Campinas por covid-19: Doria e Rossieli são responsáveis.

Doria, Eduardo Leite e tantos outros governadores defendem com unhas e dentes o retorno presencial em meio a pandemia de forma demagógica, dizendo que estão garantindo estrutura nas unidades escolares para que se faça valer os protocolos. Qualquer pessoa que já tenha pisado em um chão de escola sabe que isso é a mais pura mentira. Os problemas estruturais nas escolas públicas são denúncias antigas, que nunca foram resolvidas e não será agora que vão resolver. Verdades sejam ditas: não existe protocolo sanitário que garanta segurança em uma pandemia que mata mais de 2 mil pessoas por dia, quando colocam até dez crianças ou jovens dentro de uma sala de aula sob a responsabilidade de um adulto. O retorno presencial não é seguro neste momento, independente do protocolo que se prescreva.

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Ao invés de se colocarem a garantir o funcionamento do ensino remoto emergencial, distribuindo chips, computadores, e um Centro de Mídias que de fato funcione, atuam para precarizar ainda mais esta modalidade, que com certeza não substitui o presencial, para justificar a imposição do retorno. É escandaloso que a prefeitura de Bruno Covas (PSDB), em uma das capitais mais ricas do país, não tenha garantido a entrega dos tablets que anunciou às escolas há um ano. Eles não se importam com a educação dos nossos jovens, o que querem é manter seus lucros e as “boas” relações com os grandes empresários.

Nas escolas privadas, que atendem à elite da população, onde o ensino remoto emergencial responde às necessidades do momento, educadoras vêm enfrentando diversas formas de assédio moral por parte da patronal e até mesmo das famílias das crianças. Além de trabalhar com o medo constante de se contaminar pela COVID-19 e de levar o vírus para dentro de suas casas, colocando em risco suas famílias, ainda têm de lidar com o desrespeito, as pressões intermináveis, mensagens de cobrança fora de horário de trabalho e claro, a constante ameaça de demissão.

“As pessoas acham que a gente não trabalha porque não quer, porque somos preguiçosas. A verdade é que eu morro de medo de contaminar meu marido e meus filhos. Desde que a pandemia começou eu trabalho das 7 da manhã às 22h e ainda tenho que fazer almoço e cuidar da casa! Não recebi nenhum aumento de salário por isso, muito pelo contrário, tudo o que recebo é ameaça de demissão. O que eu mais quero é voltar a trabalhar na escola, sei que é o espaço certo para as crianças e professoras estarem, mas nesse momento não é seguro! Eu sou professora, digo isso não porque não quero trabalhar, mas porque tenho medo por mim e também pelas crianças!” Disse outra professora que também prefere não se identificar.

Tem empresas, não só da educação, sugerindo cursos de “inteligência emocional” para seus funcionários, o que na prática é dizer como eles devem aceitar o pavor e os desgastes emocionais e lidar com isso de forma a não prejudicar seu desempenho no trabalho. Um discurso de preocupação com a saúde mental para mascarar a preocupação com o rendimento da empresa.

O cenário de altíssimo desemprego e instabilidade deixa os trabalhadores do setor privado nas mãos de seus patrões. Cada vez mais vemos casos de professoras adoecendo pela quantidade de trabalho, pela pressão, pelo medo da pandemia ou de serem jogadas na rua. Os capitalistas se usam da crise sanitária, econômica para aprofundar a exploração e aumentar seus lucros. Quem sai prejudicada é a classe trabalhadora.

Não é possível que diante desse terrível cenário, setores da esquerda, como parlamentares do PSOL, além é claro, do próprio PT, adotem medidas reacionárias como a de tornar a educação um serviço essencial na pandemia, que concretamente não traz nenhum benefício aos estudantes ou professores, mas impõe que as escolas não possam fechar, independente da fase da pandemia que o estado se encontre, como fizeram no Rio Grande do Sul. O que deveriam fazer, ao invés de se alinhar a direita, é organizar sua base para lutar por vacina para toda a população, com a quebra das patentes, pelo fortalecimento de um SUS 100% estatal. Organizando a população contra esse governo reacionário para exigir um auxílio emergencial real, de ao menos um salário mínimo, sendo o dobro para as mulheres, para combater a fome que se alastra no país.

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É urgente que as centrais sindicais, como a CUT e a CTB, que estão nas mãos do PT e do PCdoB, rompam com sua paralisia criminosa e se coloquem ao lado dos trabalhadores. É nessa unidade que devem apostar, e não em Frentes Amplas que cabem do PSTU ao PSL. A APEOESP, principal sindicato da América Latina, dirigida pelo PT, junto do Sinpro e todos os sindicatos que representam os trabalhadores da educação precisam organizar um plano de lutas, construído de fato na base, contra as aulas presenciais no pico da pandemia, contra a lei que torna a educação um serviço essencial, se colocando a defender a categoria docente e seus direitos. Devemos impulsionar comitês de base, fortalecendo a auto-organização dos trabalhadores para que seja a comunidade escolar, junto aos trabalhadores da saúde que decidam quando e como as escolas devem reabrir!

 
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