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SUPERIMPEACHMENT
"Superimpeachment": o outro nome para a política "Lula 2022"
Ítalo Gimenes
Mestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

A chamada “Plenária Nacional do Impeachment” que ocorreu no final da última semana, estabeleceu a frente mais ampla de “opositores” ao governo Bolsonaro, para unificar pedidos de impeachment em um “superimpeachment”. Na reunião até ex-amigos do presidente foram recebidos. Joice Hasselmann, Alexandre Frota e Kim Kataguiri, lava-jatistas eleitos fazendo campanha pro Bolsonaro, são os novos aliados do PT, PSOL, PSTU e UP na “defesa da democracia”.

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Junto deles estavam a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e a líder da bancada do PSOL na Câmara, a deputada Taliria Petrone (RJ), Marcelo Freixo (PSOL-RJ), Fernanda Melchionna (PSOL-RS) e Zé Maria (PSTU). A decisão de convidá-los para o evento foi tomada no Fórum de Partidos de Oposição, liderada pelos presidentes do PSOL, PT, PCdoB, PDT, PSB, Rede, UP, PV, Cidadania.

Joice Hasselmann, uma das grandes figuras da direita lava-jatista que saiu às ruas em 2015 pelo impeachment de Dilma, foi reivindicada por cada uma dessas figuras ao dizer que “Cada um de nós tem que trabalhar com o seu nicho, mas acima de tudo, mostrar que o movimento é nacional, em defesa do Brasil e da democracia".

O impeachment de Bolsonaro daria lugar ao saudosista da ditadura General Mourão, que diz não existir racismo no Brasil, um inimigo público de qualquer resposta dos trabalhadores ao governo Bolsonaro. É natural que Joice Hasselmann diga que o objetivo do impeachment é a “democracia” frente a esse resultado. Por parte do PT é a sinalização do abismo que está disposto a levar o conjunto dos trabalhadores, setores oprimidos e suas organizações para fortalecer a possibilidade de reeleger Lula em 2022.

O que o superimpeachment tem a ver com as eleições de 2022?

Os parlamentares e figuras públicas do PT chegam a dizer que não é possível esperar 2022 e que é necessário agir agora, unindo as forças mais amplas possíveis contra Bolsonaro. Mas a verdade é que propõem nada mais que unidade parlamentar com a extrema-direita restringe a ação a pressão institucional contra o governo. Dessa vez não ficou restrita aos partidos de direita que apoiaram o golpe e suas reformas, como PSB, PDT, Cidadania, Rede, como sempre fizeram, mas esses ainda mais conservadores. Uma unidade assim é oposta à única que pode levar a luta contra Bolsonaro às últimas consequências, que seria a unidade de todos os explorados e oprimidos contra o conjunto do regime do golpe institucional.

Isso por que ainda que Bolsonaro seja o grande responsável pelas 400 mil mortes da pandemia, pela fome e o desemprego, tanto os militares quanto os juízes do STF, o Centrão e todos os capitalistas que eles representam contribuíram para a sua eleição e para seguir governando, condicionando seu governo a aprovação de ataques aos trabalhadores, portanto também são responsáveis pela tragédia que estamos assistindo.

O PT não tem interesse de se enfrentar com esses atores do golpismo pois se propõe a administrar o regime que eles criaram e sua obra econômica. Frente à reabilitação de Lula, quer convencê-los de pode administrar bem seus negócios mesmo em meio a uma profunda crise econômica. E para isso não irá reverter nenhuma medida aprovada por esse regime, como o teto de gastos, a reforma trabalhista, da previdência, cujos efeitos se fazem sentir tão cruelmente nessa pandemia. Lula deixou isso bem claro nos seus discursos e entrevistas depois de reabilitado. Prometeu ainda avançar em privatizações e reformas, inclusive a da Caixa, que hoje sai em greve contra a privatização fatiada.

Perdoou aqueles que, apesar de aparecerem como oposição em algumas medidas do governo, no essencial concordam que o mais importante é salvar os lucros capitalistas. O STF, por exemplo, a pedido dos governos estaduais – alguns deles do PT diga-se de passagem – proibiu a unificação de leitos públicos e privados, em um contexto de filas no SUS e hospitais de elite e militares com leitos vazios.

Por isso, o superimpeachment, apenas auxilia serve para lavar a cara de todos aqueles que contribuíram com a eleição de Bolsonaro e a sustentação da sua condução da pandemia, e que protagonizam a CPI da COVID com esse mesmo objetivo de condicionar o governo. E auxilia também a ofensiva de Joe Biden para "destrumpizar" ou "desideologizar" o governo Bolsonaro, que não tem nenhum interesse progressista, pelo contrário, de garantir maior subordinação do país ao seu governo imperialista.

Não é coincidência que a reabilitação eleitoral de Lula se deu no momento em que a pandemia chega a 4 mil pessoas mortas por dia, junto ao agravamento da fome, do desemprego. Os capitalistas e seus representantes do regime do golpe quiseram se prevenir contra explosões sociais, como no Paraguai e tantos outros países, que pudessem aprofundar esse rechaço, levar a maior instabilidade e quaisquer ameaças às reformas e tantos outros ataques que eles precisam para salvar seus lucros.

A reabilitação de Lula, feita por Fachin, um severo lava-jatista, teve como propósito adiantar a disputa eleitoral e deixar que o petista condicionasse a saída de Bolsonaro à via pacífica das eleições. Esses atores do bonapartismo institucional procuram estabilizar as conquistas econômicas e políticas do regime do golpe tentando retomar parcialmente a normalidade do sufrágio que foi quebrada em 2016.

No imediato, Lula contribuiu para a política do STF e de setores capitalistas de conter os excessos negacionistas para aumentar a compra de vacinas e amenizar as ameaças contra as medidas de lockdown dos governadores. O programa defendido pelo PT, junto ao conjunto da esquerda, de “Vacina, auxílio e impeachment” é um programa funcional aos atores que querem condicionar Bolsonaro, como o Centrão, o mesmo que liberou há algumas semanas a compra de vacina por empresas privadas.

O próprio presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), frente ao superimpeachment, declarou mais uma vez que dará prioridade à agenda de privatizações e reformas. Ou seja, esse super-pedido não faz mais que dar nas suas mãos mais um instrumento para disciplinar Bolsonaro, chamando-o para negociar a agenda de reformas, contra os trabalhadores. O “sinal amarelo” contra o governo mostrou isso, e por hora não dá qualquer sinal de que vai pautar o pedido.

No mais o PT se apoia nessas medidas de condicionamento para alçar a sua candidatura, junto com os mesmos atores responsáveis pela manipulação das eleições de 2018. Se propõe novamente a passar um verniz democrático para institucionais cada vez mais golpistas do Judiciário, inclusive em setores de militares, que passaram a disputar pela legitimidade do uso de uma herança da ditadura militar que é a Lei de Segurança Nacional para perseguir opositores.

A Gleisi Hoffman, presidente do PT, justificou o superimpeachment dizendo: “Precisamos deixar nossas diferenças ideológicas para a época da eleição e trabalhar para tirar o inimigo do país do poder. Ficou marcado de fazermos juntos um manifesto e também a convocação de um ato. Claro, cada um falando com seu público, mas unificando a ideia para mobilizar o país”. Um ato junto com o “público” de ultra-direita desses setores?

O PT dirige junto ao PCdoB as principais centrais sindicais do país através das burocracias da CUT e CTB que a todo tempo fizeram campanha de Fica em Casa contra que os trabalhadores respondessem com sua auto-organização. Mas com a direita é possível ir pra rua? Mostra que o papel que essas centrais cumprem na verdade é garantir que a política seja feita só pelos parlamentares garantindo a separação das lutas, entre efetivos e terceirizados, informais, etc.

Assim como a UNE, também dirigida pelo PT, se recusa a ligar os estudantes com suas lutas. São os aparatos que garantem nos locais de trabalho e estudo que sigamos presos à estratégia eleitoral e de desgaste de Bolsonaro, tendo que aguentar o aumento da barbárie para que Lula volte em 2022.

Trata-se de um erro ainda mais grave vindo das organizações da esquerda que se reivindica socialista cumprir um papel auxiliar ao PT na conformação dessa frente ampla com grandes inimigos dos trabalhadores e dos setores oprimidos. Deveriam em primeiro lugar as parlamentares do PSOL, como Talíria Petrone, abandonar imediatamente essa frente e exigir das grandes centrais que rompam a paralisia para construir a unidade nas lutas que estão ocorrendo hoje.

Os funcionários da Caixa entraram em greve nessa terça-feira, os metroviários de São Paulo, lutam contra a precarização e a maior privatização dos serviços da população, as trabalhadoras terceirizadas de três fábricas da LG, além dos efetivos. Com os dirigentes burocratas de bancários da CUT escondem da categoria a proposta de Lula de aumentar a privatização da Caixa, a esquerda deveria questionar os sindicatos o que estão esperando para propor a unificação dessas lutas, defendendo o Fora Bolsonaro Mourão e todos os golpistas. Assim como um programa de quebra das patentes sem indenização para produção de vacinas para todos, como parte da batalha contra a compra e outros privilégios de vacinação para os empresários, e de unificar os garis, rodoviários e outras categorias que lutam por vacina.

O conjunto desses partidos como PSTU e os stalinistas da UP contribuem para salvar o regime do golpe institucional junto com o PT, aceitando a política de "Mourão presidente" ou esperar passivamente até 2022. Até mesmo a pressão do imperialismo de Joe Biden, que Lula reivindica abertamente, passa impune pela esquerda brasileira, com grupos do PSOL como o MES e Resistência chegando a defender voto em Biden nas eleições do ano passado. Favorecem que essa estratégia de conciliação até com a extrema-direita seja vista como de fato como uma saída para setores de massas, quando é o completo oposto.

Por que essas "saídas" preservam as regras do jogo golpista, naturalizando inclusive que o STF se utilize da Lei de Segurança Nacional em nome do “combate ao bolsonarismo”. Essa frente com a extrema-direita mostra até onde chega o ceticismo com a força dos trabalhadores, onde o máximo possível de se chegar é que Mourão assuma a presidência.

Em síntese, o superimpechment se resume a duas saídas que não correspondem a nenhuma necessidade da ampla maioria de trabalhadores e pobres do país: "Mourão na presidência" ou "Lula 2022", legitimando pelo voto todas as transformações do golpe, com a esquerda sendo funcional à política do bonapartismo institucional. Ao contrário da Frente Ampla onde cabe até ex-bolsonaristas, é urgente batalhar para unificar as verdadeiras lutas em curso, e por uma saída independente onde os trabalhadores, não juízes, nem militares ou políticos herdeiros do Arena, é que definam os rumos do país.

Para nós do Esquerda Diário se trata hoje de batalhar por uma política independente dos trabalhadores para derrotar não só Bolsonaro, mas também o STF, os militares e o Centrão, pela força da auto-organização. Uma Assembleia Constituinte que seja imposta pela luta e que seja livre e soberana, é a única política hoje que dá ampla maioria da população decidir sobre os rumos do país, mudar não só alguns jogadores, mas todas as regras do jogo, por exemplo, propor revogar cada reforma aprovada no golpe, assim como a autoritária LSN. Os capitalistas e atores golpistas desse regime não vão ficar passivos diante disso e usarão de todas as medidas bonapartistas adquiridas com a Lava-Jato, uso de GLOs, etc, contra nossa auto-organização. Nesse sentido que uma verdadeira transformação da situação de profunda barbárie no país passa pelas mãos dos trabalhadores, em um governo de ruptura com o capitalismo.

 
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