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IV CONGRESSO DO MRT
1º dia do IV Congresso do MRT: a crise mundial e as lições da luta de classes na França e na Argentina
Redação

O 1º dia do Congresso do MRT pautou a enorme crise econômica e pandêmica que vem assolando o mundo, bem como analisou alguns dos principais fenômenos da luta de classes do último período para refletirmos as perspectivas para a classe trabalhadora emergir como um sujeito político que possa infligir no capitalismo mundial um golpe de morte.

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André Barbieri, dirigente do MRT abriu o ponto internacional abrangendo todas as particularidades da crise internacional de conjunto e dos principais processos de luta. Daniela Cobet, da direção do NPA e do CCR/Révolution Permanente, apresentou profunda reflexão sobre os últimos anos de lutas operárias e de massas na França, ligando a fusão de uma nova geração de operárias e operários com o marxismo revolucionário e a necessidade de construção de um partido revolucionário no país. Daniel Matos abordou a enorme crise econômica na Argentina, pontuando os elementos pré-revolucionários que compõem a situação política no país e, a partir de analisar alguns dos principais processos de luta hoje, apresentou cenários estratégicos de construção de um partido revolucionário entre nossos vizinhos. Após os informes iniciais, inúmeros delegados e delegadas intervieram em um debate rico para refletir as lições mais profundas dos processos internacionais para pensar a construção do MRT e da FT. Destacamos aqui alguns trechos das intervenções a fim de que os leitores do Esquerda Diário possam absorver um pouco das reflexões que o 1º dia do IV Congresso do MRT pôde fazer.

André Barbieri, dirigente do MRT

A principal definição estratégica na situação mundial pra nós é que a pandemia agravou todos os fundamentos da crise econômica mundial, desde a sua eclosão em 2008. Esses fundamentos foram a base das múltiplas crises orgânicas que a gente viu ao redor do planeta, assim como dos últimos ciclos de lutas. Essa crise, que encerrou a longa hegemonia neoliberal imposta com a derrota do ascenso de massas de 1968-81, reforçada com a restauração capitalista nos antigos estados operários, pôs um ponto final na possibilidade de retornar ao mundo pré-pandêmico de 2019: ainda se fossem confirmados os prognósticos de recuperação mais favoráveis esse ano, o resultado da pandemia não vai ser “a volta à normalidade” anterior, e sim a entrada num mundo mais desigual, e com uma classe trabalhadora mais pobre e mais precária, com milhões de novos desempregados.

Se levamos em conta os choques maiores entre EUA e China, as tensões militares provocadas por potências intermediárias em meio à decadência da hegemonia norte-americana, o enorme crescimento do endividamento dos estados nacionais, a crise dos partidos tradicionais do consenso neoliberal, a desigualdade social e o retorno da luta de clases, fica claro que se reatualiza a época de crises, guerras e revoluções, caracterização que Lênin opunha às ideias reformistas sobre resoluções harmônicas das crises no imperialismo.

Se a subjetividade operária é ainda o elemento mais atrasado da situação, a importância de entender o agravamento em 2020 daquelas tendências da crise de 2008 serve para ver que eventuais desvios (como o que está acontecendo nos EUA com o Plano Biden, ou no Chile com processo constituinte) não possuem elementos internacionais para se sustentar por muito tempo. Isso é importante porque apesar da restauração capitalista nos Estados operários burocratizados e de várias décadas de ofensiva neoliberal contra as condições de vida da classe trabalhadora, o capitalismo não foi capaz de resolver suas contradições e tendências a crises, o que deixa clara a potência do marxismo revolucionário para encarar as tarefas preparatórias.

Isso diz respeito ao desenvolvimento da atividade dos revolucionários, e do trabalho dos distintos grupos da Fração Trotskista. Caracterizar um “equilíbrio capitalista em extrema tensão” – um equilíbrio capitalista que chegou a receber um golpe pós-2008 mas que não se rompeu, mesmo com a pandemia – e no qual não se vislumbra uma dinâmica econômica vigorosa (como foi o ciclo neoliberal que culminou na forte recuperação entre 2002-2008): caracterizar essa situação, dizia, serve para que cada grupo da FT pense de conjunto as perspectivas e nossos próprios planos de ação, em função de contribuir qualitativamente ao salto subjetivo que tem de dar a esquerda trotskista e a vanguarda da classe trabalhadora e da juventude para estar à altura da crise.

Dentro desse cenário, sem qualquer perspectiva autoproclamatória, é que a gente insere os avanços da FT internacionalmente: na Argentina, em que o PTS agora vem intervindo audazmente nos conflitos, na rebelião da Saúde que envolve um processo muito interessante de frente única operária em Neuquén, e na greve dos portuários em BsAs (reuniram 4000 trabalhadores no encontro da Madygraf). Isso é parte de reconhecer a responsabilidade do PTS em fazer que os setores avançados da classe operária, das mulheres e da juventude criem instâncias de autoorganização e coordenação, se reconheçam como classe e tomem para si a necessidade de construir partido, na medida em que se aprofunde a experiência com o governo peronista/kirchnerista. Na França, com a CCR, que veio atuando de maneira exemplar nos fenômenos de luta de classes de 2018-2021 e agora lança a pré-candidatura do Anasse, fortalecendo a fração de extrema esquerda que temos no interior do NPA, cuja direção foi inexistente nesses processos; nos EUA, com o impulso do BLM e da recomposição moral dos trabalhadores, não apenas contra Trump mas também contra os Democratas, o Left Voice batalha por ligar a luta do movimento negro com a hegemonia da classe trabalhadora. Além do Chile, em que os camaradas do PTR batalham por ampliar a voz de uma força de independência de classe no processo constituinte, instrumentalizado pelo governo Piñera para desviar as jornadas de 2019, e dentro do qual a gente atua com personalidade para alentar a ideia de que somente a luta de classes extraparlamentar pode por abaixo a herança pinochetista. Isso levando em consideração os avanços em todos os grupos da FT que tivemos, do ponto de vista político, a partir do lançamento da Rede Internacional La Izquierda Diario em 2014.

Ademais, nosso internacionalismo marxista nos permite não exagerar a força do inimigo: pudemos verificar que os governos populistas de extrema direita, como o de Trump e o de Bolsonaro, são uma tendência internacional com as crises orgânicas, mas esses governos têm se mostrado como fenômenos precários, instáveis, marcados por avanços, crises e retrocessos, porque a crise econômica mundial não permite o assentamento de novas hegemonias de direita como vimos durante a época do Consenso de Washington nos 90 (exemplo claro disso foi a derrota de Trump, mas também da extrema direita na Bolívia).

Não se sabe quando o problema pandêmico vai ser superado, já que os ritmos de vacinação são bastante desiguais entre os países, o que faz com que a recuperação econômica também seja. Martin Wolf, do Financial Times, reconhece uma divisão enorme na recuperação dos países mais poderosos e dos mais frágeis, por essa desigualdade. No terreno social a situação tem elementos dramáticos: são mais de 3 milhões de mortos pelo coronavírus, e 150 milhões de pessoas no mundo todo que podem cair na extrema pobreza em 2021. Na América Latina, 140 milhões de pessoas, 55% da população economicamente ativa, estão na economia informal, e 52 milhões de pessoas podem cair na pobreza. Enquanto os estados imperialistas acumulam vacinas, existem 130 países que sequer começaram a vacinar suas populações. Como explica o economista marxista Michel Husson, a própria recuperação econômica pode vir acompanhada de um aumento no desemprego, ao menos na Europa. O salto na precarização do trabalho, que vem junto com a evolução da economia de plataforma, com entregadores, trabalhadores de centros de distribuição e logística, etc., coloca em situação de vulnerabilidade milhões de novos jovens trabalhadores, especialmente mulheres, latinos, negros e asiáticos.

Do ponto de vista econômico, a recuperação da China (PIB trimestral cresceu 18%) e os planos de estímulo nos Estados Unidos costumam ser vistos como símbolos favoráveis nas projeções de recuperação mundial por alguns analistas. Em base a isso, no documento internacional está colocada a hipótese teórica, desenvolvida nos anos 30 pelo Trótski refletindo a situação da França, de que um reanimamento parcial da economia pudesse revigorar as lutas operárias por suas reivindicações. Mas essa hipótese não pode ser separada das tendências à queda econômica, também importantes. Por exemplo, o nível de endividamento dos estados e das empresas é qualitativamente maior que no período pós-2008, o que torna todo o sistema financeiro e as empresas muito dependentes de taxas de juros baixas. Como mostra o Michael Roberts, economista britânico, o crescimento descontrolado do capital fictício nas bolsas pode dar origem a crises financeiras. As economias dos países dependentes e semicoloniais chegam muito pior agora do que na crise de 2008 (naquele momento tinham melhores finanças pelo boom das matérias-primas na década de 2000), como explica o Kenneth Rogoff, economista norte-americano.

Essa desigualdade golpeia o quadro global da economia, o PIB contraiu 4,4% em 2020, e mesmo nos cenários mais otimistas, o PIB mundial só poderia atingir o crescimento previsto pra 2019 no ano que vem.

Já no terreno das disputas interestatais, a pandemia agravou a rivalidade entre as principais potências, especialmente com o “nacionalismo das vacinas” no campo sanitário, que é a continuidade das tendências nacionalistas e de maior concorrência interimperialista que vêm se desenvolvendo desde 2008. Há várias fontes de tensões geopolíticas no mundo, como o Oriente Médio, o Cáucaso com o recente conflito militar entre Azerbaijão e Armênia, as disputas territoriais no sudeste asiático e na esfera de influência da Rússia (crise da Ucrânia). Mas o que engloba as relações e conflitos interestatais é a relação entre os Estados Unidos e a China. Biden manteve a agressividade que caracterizou Trump contra a China, não no âmbito das trocas comerciais, mas na questão da tecnologia e da disputa de influência na Ásia. Embora existam diferenças táticas de como fazê-lo, o Partido Democrata não tem nenhum interesse em diminuir a necessidade de conter e atrasar a ascensão da China. No Guia Provisório de Segurança Nacional, do Pentágono, o governo Biden afirma que a “China é o único competidor potencialmente capaz de opor um desafio sustentado ao sistema internacional”. As acusações agressivas entre China e EUA na cúpula do Alaska foi outra amostra da crispação das relações. A chave é que a disputa com a China não é mais um problema de governo de turno, mas uma questão hierárquica de Estado para o imperialismo em decadência hegemônica, enquanto a China tem dificuldades para expandir sua influência na Ásia em função da desconfiança dos vizinhos e dos aliados históricos dos EUA. A UE e os EUA se encontram mais uma vez em atritos com a Rússia em função da Ucrânia, o que pode levar a incidentes militares.

Diante desse panorama, a novidade é o governo Biden nos EUA. Ainda está em aberto se Biden pode atuar como uma contratendência à instabilidade crescente que nos últimos anos foi se apoderando do sistema internacional de Estados. Mas a decadência hegemônica dos EUA, ainda sendo a principal potência imperialista do mundo, gera muitas crises. Para frear preventivamente qualquer explosão social como o BLM, o Biden veio tomando medidas “keynesianas” limitadas para tentar reanimar a economia: US$1,9 trilhão com o “Plano de Resgate”, além de US$2 trilhões no “Plano de Emprego e Infraestrutura”, ainda que dividido em 8 anos. Esse “momento populista” do Biden é indicador das mudanças na correlação de forças. Um dos objetivos desse plano do Biden é localizar os Estados Unidos numa situação de maior competitividade com a China e já vem gerando choques entre os dois partidos e com setores do capital hegemônico por conta dos aumentos limitados de impostos e as concessões aos sindicatos. Mesmo entre os Democratas esse gasto fiscal gera atritos. Larry Summers, ex-secretário do Tesouro do Clinton, critica o plano por ser excessivo. Está sendo comparado com o programa conhecido como Great Society, lançado em 1961 pelo John Kennedy, uma versão degradada do New Deal do Roosevelt, e que funcionou como um Estado de Bem Estar Social, adaptado à realidade dos EUA. Não há hoje a Guerra Fria com a URSS, ou a proximidade com a revolução cubana, mas existe uma enorme crise capitalista, o aumento da pobreza e do desemprego, e servem de contenção pra isso. Esses planos de estímulo dão um certo prestígio político a Biden, mas sendo de curto prazo, estão muito aquém de resolver problemas crônicos como o colapso no sistema de saúde, o endividamento familiar e de estudantes, e a demanda de um salário mínimo de US$15/h, rechaçado por Biden (lembrando que o MES chamou voto nesse governo imperialista, e o Resistência à sua maneira também).

Para a América Latina, ainda que não estejam claras as implicações do novo governo Democrata, há elementos de continuidade e descontinuidade com Trump. Biden ainda reconhece o fantasma Juan Guaidó como presidente da Venezuela, e claro tá contra o avanço da China na região. Em relação a Cuba, com o salto da restauração capitalista dirigido pela burocracia castrista, é possível que Biden retome algumas políticas de Obama para reatar relações. Ao mesmo tempo, perdem base de apoio os governos de extrema direita como o de Bolsonaro, que está pressionado por uma política de destrumpização do regime, e a política imperialista sobre a Amazônia, como modo de desgaste e de preparação da transição pacífica para um próximo governo em 2022. Politicamente, as eleições no Equador e no Peru mostram que não há uma única tendência operando na AL. O pêndulo da política burguesa latinoamericana segue oscilando entre a direita neoliberal (como o triunfo eleitoral do banqueiro Guillermo Lasso no Equador), e algumas variantes pós-neoliberais (autodefinidas como “progressistas”, como Luis Arce na Bolívia, ou Pedro Castillo no Peru). Trata-se de uma expressão distorcida da profunda polarização social e política fruto da pandemia mas também da relação de forças não resolvida após as lutas no Equador, a rebelião no Chile ou a luta contra o golpe militar na Bolívia. Essa dinâmica regional dificulta a política do imperialismo norte-americano na América Latina, porque os EUA não encontra um interlocutor claro com quem conduzir o continente. Estrategicamente, a prioridade dos Estados Unidos é organizar a AL na competição com a China, o chefe do Comando Sul visitou Uruguai e Argentina pra garantir que a China não tenha uma base militar no Atlântico Sul. Mas a situação é complexa, com a enorme dependência de economias como Brasil, Argentina, Peru e Chile das relações comerciais com os chineses. Vai ser um tabuleiro importante de conflitos.

No longo prazo, não são claros os motores da acumulação nos quais o capitalismo estadunidense pode se apoiar. O que está claro é que a aposta da classe dominante e do governo imperialista do Biden é cooptar a classe operária e os chamados movimentos sociais se apoiando no papel das burocracias reformistas, e de fato existem expectativas agora que vão ter de passar à prova.

Os movimentos preventivos do Biden ocorrem porque já está em curso, não só nos EUA, mas no panorama internacional, um retorno da luta de classes, como assinalamos no Manifesto da FT. Para dar uma perspectiva dos fenômenos que surgiram desde que a crise de 2008 pôs em questão a hegemonia neoliberal, vale lembrar que houve um primeiro ciclo de luta de classes entre 2010 e 2014, com rebeliões e inclusive processos revolucionários como no Egito e na Tunísia, durante a Primavera Árabe, passando pelo Ocuppy Wall Street nos EUA, os Indignados no Estado espanhol e as greves operárias na Grécia, processos que foram derrotados ou desviados, abrindo tendências às crises dos partidos tradicionais em numerosos países, cuja principal expressão foi o triunfo de Trump, além do Brexit. Nesse período, vimos o fracasso dos principais neorreformismos: o do Syriza, que depois de prometer uma política antiausteridade aplicou todos os ajustes exigidos pela Alemanha sobre o povo grego, abrindo o caminho para a direita; e também do Podemos, que esteve junto à monarquia espanhola contra a rebelião na Catalunha pelo direito à autodeterminação, e agora dirige o imperialismo espanhol como sócio menor do PSOE. A esquerda brasileira, como várias correntes do PSOL, reverenciava essas formações como a “nova esquerda”, e não tirou nenhum balanço público da catástrofe deles.

Já no final de 2018, com o fenômeno dos Coletes Amarelos na França, se iniciou um segundo ciclo de mobilizações e rebeliões populares, cuja radicalização inspirou a greve contra a reforma da previdência do Macron, estendendo-se internacionalmente em 2019 com a rebelião em Hong Kong e os levantes na Argélia e Sudão, Iraque e Líbano, e na América Latina com a luta no Equador e as jornadas revolucionárias no Chile.

Bom, isso tudo foi interrompido pela pandemia, durante alguns meses com a aplicação de quarentenas e medidas de isolamento na maior parte do mundo parou a intensidade do ascenso de lutas que vinha aumentando. Mas a partir de maio de 2020, com o maior movimento de massas na história dos EUA que foi o BLM, a luta de classes voltou a figurar com protagonismo na situação mundial, vinculado ao agravamento da miséria, fome e desigualdade nas condições da pandemia. Mesmo com a ascensão do Biden, houve processos incipientes de combate em segmentos do proletariado norte-americano em defesa do direito de sindicalização (como vimos com os trabalhadores da Amazon em Bessemer) e em defesa de melhores acordos coletivos (greve dos mineiros do Alabama).

Posteriormente surgiram massivas greves operárias e camponesas na Índia, seguida pela resistência firme do movimento de massas ao golpe militar em Myanmar. Em Myanmar, que compartilha com todo o sudeste asiático o status de centro da luta de classes mundial, existe um enorme levante operário, que renuncia a suas moradias estatais pra seguir em greves duras, com o objetivo de derrubar a assassina junta militar apoiado pela China (que os stalinistas do PCB e da UP apoiam, se colocando nos fatos contra os grevistas). Ao mesmo tempo, processos mais moleculares, mas significativos, como a emblemática greve dos trabalhadores petroleiros na França, e múltiplos processos de luta e organização em diversos países, como na Itália e na Argentina. Poderia citar ainda processos na Bielorrússia, Tailândia, Hong Kong; greves massivas na Indonésia, a rebelião que derrubou o governo no Peru e as manifestações contra o governo do Paraguai e a péssima condução da crise pandêmica.

O retorno da luta de classes é importante como sintoma do que pode acontecer no decorrer do aprofundamento da crise econômica e pandêmica, em que está colocado superar o obstáculo representado pelas burocracias sindicais e partidos reformistas que desviaram a força e ação das massas no ciclo 2018-2019, fazendo com que aquelas importantes respostas frente aos ataques de governos capitalistas não superassem o estado de pressão extrema sobre os regimes.

No Manifesto da Fração Trotskista levantamos algumas lições chave para esse próximo período, que busca contribuir para resgatar o melhor do trotskismo e batalhar na luta de classes pela reconstrução de partidos revolucionários a nível nacional, e pela reconstrução da IV Internacional.

Uma dessas lições é a autoorganização e a frente única, como estamos buscando dar na rebelião da Saúde em Neuquén, os trabalhadores dos hospitais rechaçaram a burocracia sindical, e se autoorganizaram numa coordenação inter-hospitalar pra lutar pelos seus direitos, algo que tem grande apoio entre os trabalhadores, e o povo mapuche, passando a ter bloqueios de “posições estratégicas” como a rota do petróleo (um aspecto fundamental para que o conflito ultrapasse o permitido pelo regime burguês, ou como define Trótski, “fatores elementares de guerra civil”). Como PTS, estamos dando eixo aí, e o exemplo que demos em Antofagasta, no Chile, durante as jornadas revolucionárias de 2019, serviu de lição chave para nossa batalha de Neuquén, já que no Chile conseguimos pelo PTR ser parte e impulsionar o Comitê de Emergência e Resguardo, organismo que articulou em frente única os sindicatos da indústria metalúrgica e portuária, professores, jovens precários e comitês em bairros populares que assumiram a liderança na luta contra Piñera.

Outra lição foi a de batalha pela hegemonia operária sobre os setores oprimidos, que pudemos expressar em nossa atuação no fenômeno dos Coletes Amarelos na França, contra todo ceticismo da esquerda, que tinha como papel lutar contra a minoria de extrema direita no movimento, tanto política quanto ideologicamente, e não virar as costas ao movimento de conjunto. Por isso, a partir da CCR lutamos pela auto-organização democrática do movimento, e pudemos criar o Polo Saint-Lazare, que reunia trabalhadores dos transportes, estudantes, ativistas do movimento antirracista em defesa das demandas dos Coletes Amarelos, com a estratégia da hegemonia operária em ação. Na greve dos petroleiros da Total também buscamos mostrar que a única classe capaz de dirigir a luta em defesa do meio ambiente contra a produção capitalista é a classe trabalhadora, aliada com ativistas ambientais e jovens.

Auto-organização, frente única e hegemonia operária são fundamentais na luta contra as burocracias reformistas, uma batalha estratégica. O papel da burocracia sindical como representante do Estado na classe trabalhadora se manteve firme para além das oscilações de situação nas últimas décadas. Dividem os trabalhadores entre si, e separa a classe dos setores oprimidos, inclusive opondo-os entre si. Como elaboramos no ESAM, em base aos conceitos de “estatização dos sindicatos” de Trótski, e de “Estado integral” de Gramsci, o Estado burguês organiza ativamente sua hegemonia no interior do movimento operário e popular, mediante burocracias sindicais e dos movimentos sociais (mulheres, negros, ambientalistas etc.). Politicamente, essas burocracias contam com o apoio dos neorreformistas (as burocracias Democratas nos EUA contam com a indulgência do DSA; no Chile, com o apoio da Frente Ampla, assim como vimos na Espanha e na Grécia com o Podemos e o Syriza). Quebrar a hegemonia burguesa no movimento de massas exige o combate estratégico a essas burocracias, assim como suas representações políticas, quer sejam neorreformistas, ou aqui na América Latina os “nacionalismos burgueses” pós-neoliberais como o PT, o MAS boliviano, o kirchnerismo argentino, o chavismo na Venezuela. Sem o combate às burocracias operárias reformistas, não se pode pensar na tarefa de construção de partidos revolucionários.

Isso é muito importante, e para dar esse combate às burocracias reformistas é chave desenvolver instâncias de auto-organização de base que permitam agrupar a classe trabalhadora para além de sua minoria sindicalizada, das divisões entre efetivos e terceirizados, nativos e imigrantes, etc.; que fortaleça as tendências de vanguarda.

Nunca podemos esquecer que essa estratégia soviética é inseparável da construção de uma direção revolucionária (partido), para que nestas instâncias de autoorganização não se imponham as tendências conciliadoras (reformistas e centristas). É um ponto chave nas elaborações recentes da FT, como a do Emilio e Matías, numa releitura da tática dos “comitês de ação” que Trótski defendia para a França entre 1935-36, a fim de romper o isolamento dos trotskistas franceses, esmagados pelo peso do PS e do PC e sua aliança com a burguesia radical na Frente Popular. Visto do ângulo da autoorganização e da frente única, essa ideia dos “comitês de ação” excede em muito uma tática para aquele momento, donde se pode derivar uma teoria política sobre como os pequenos grupos podem abrir caminho à vanguarda e em perspectiva às massas, enfrentando as burocracias reformistas.

Os novos setores de jovens, de mulheres e da classe trabalhadora, que hoje partem para a luta por um conjunto de demandas (cuja resolução integral e definitiva, como mostra a TRP, não é possível nos marcos do capitalismo), podem ser o ponto de apoio para uma nova recomposição da esquerda revolucionária internacionalmente. As disjuntivas apresentadas pelos neorreformismos de que só é possível fazer uma política nos marcos permitidos pelo sistema (como o Podemos no governo do PSOE, projetos como a Frente Ampla levantada no Chile e no Peru) implica o abandono de qualquer luta séria contra o capitalismo. Também a política de construção de partidos amplos não delimitados estrategicamente se mostrou um fracasso, como ocorre agora com a provável implosão do NPA (que é ligado ao SU, onde está o MES). Na contramão deste tipo de política, lutamos para desenvolver partidos revolucionários enraizados na classe trabalhadora, com uma política de hegemonia para todos os setores oprimidos, buscando estabelecer frações revolucionárias e socialistas nos sindicatos, na juventude, no movimento negro e migrante, no movimento de mulheres, no movimento ambiental e do povo pobre, que sejam capazes de convergir com as experiências mais avançadas da luta de classes, promovendo ao mesmo tempo uma política de massas para preparar a destruição revolucionária do capitalismo.

Daniela Cobet, da CCR/Révolution Permanente

Os Coletes Amarelos abriram a segunda onda da luta de classes. Teve uma etapa preparatória para isso que começou em 2016, quando o governo socialista da França (Hollande), de direita, onde teve uma luta que durou quatro meses (com processo de greves da classe operária e atuação da juventude) contra a reforma trabalhista. Houve essa primavera que abriu um período em que não teve um ano na França em que não houve mobilização da classe trabalhadora, com seus métodos, com amplitude nacional. Em 2017 houve eleição que elegeu Macron (luta das terceirizadas). Em 2018 ocorreu a luta dos ferroviários contra a privatização e os coletes amarelos surgiram no fim de 2018, que continuou ao longo de 2019. Os coletes amarelos representaram uma ampla insubordinação dos setores mais precarizados da classe trabalhadora, contra a degradação de suas condições de vida. Atuaram de forma subversiva, mas sem os métodos da classe operária.

No início era meio confuso, com setores pequeno burgueses, o que ajudou a confundir setores da esquerda (que inclusive chegaram a chamar o movimento de fascista). Pouco a pouco se desenvolveram em um movimento que reivindicava demandas populares. A classe operária vinha de derrotas grandes por conta da política das direções sindicais. Nesse sentido, os Coletes Amarelos foram uma expressão de ruptura com as burocracias sindicais, com setores não modelados na tradição sindicalista do partido socialista. Teve processos de greves selvagens, como dos ferroviários. Trabalhadores do transporte de Paris passaram por um processo muito profundo, com greve muito forte. Acabou sendo grande motor da luta contra a reforma da previdência, com a burocracia sindical tentando conter essa luta.

Essa sequência muito intensa da luta de classes é extremamente importante. Ao passo em que vemos a potencialidade da classe operária entrando em cena todos os anos, ela entra também de forma dispersa. Há uma grande variedade e intensidade da luta de classes, mas também uma sucessão de derrotas por não haver nem um programa nem uma política para poder unificar esses diferentes setores da classe operária.

A CCR, grupo ligado à FT, obteve um crescimento que foi um produto da intervenção nesses processos. Em 2016, a partir do movimento estudantil, fazemos algumas captações no movimento operário, como Anasse.

Anasse é um potencial dirigente de massas, mas produto da crise orgânica. Nenhum projeto de centro poderia ganhar ele, pois era um operário radical. Nos demos a tarefa de ganhar esse operário com tantas qualidades para o marxismo revolucionário. Vimos que estava surgindo uma nova geração de operários que tinha uma desvantagem porque tinha poucas referências, pouca tradição, mas tinha vantagens pois era virgem de derrotas e buscava saídas radicais. Demos uma luta política no NPA dizendo que se um setor dessa geração não vira marxista, não há futuro para a classe operária no país. Nosso crescimento, portanto, está ligada a essa fusão com essa nova geração com o marxismo revolucionário. Hoje ele é um dos principais referentes da vanguarda do país, passou a aparecer na televisão e falar com setores de massas.

Enquanto o NPA se dissolve no movimentismo, negando a classe operária, o Lutte Ouvriàre nega os movimentos sociais e não dá importância para os fenômenos de luta dos imigrantes, dos movimento ecológicos, feministas, etc. A nossa concepção é a de de que a classe operária deve lutar não só pelos seus interesses econômicos, mas ela pode resolver os problemas do conjunto da população. Ganhamos um setor da classe operária que é mobilizada fortemente na luta contra o racismo. Que não se identifica com setores da extrema-esquerda que é predominantemente branca, e que não funde os trabalhadores com as opressões e movimentos.

É apostando nessa confluência entre uma geração jovens de operários que despontam para a política agora e o marxismo revolucionário que enxergamos as hipóteses de construção de um Partido Revolucionário de Trabalhadores. Apostamos no PRT, pois esses dirigentes operários podem ganhar muitos outros operários. Estamos batalhando neste momento dentro do NPA em defesa da pré-candidatura à presidência de Anasse, o que seria uma revolução copernicana no país, pois nunca houve um candidato a presidência que fosse árabe. Anasse Kazib vem de origem marroquina e ao mesmo tempo um operário dessa geração combativa.

Há uma espécie de geração “black lives matter” na França e Anasse dialoga com essa geração, bem como a de operários que despertaram nesse último período, com setores de coletes amarelos e com setores do antifascismo. A direção do NPA está muito pressionada a apoiar Melanchon, do Front de Gauche, um partido reformista. Nossos avanços enquanto organização estão ligados a essas perspectivas, baseando a construção do partido na luta de classes e não numa estratégia eleitoralista.

Daniel Matos, do PTS da Argentina

"Na argentina o que primou nos últimos anos foi a passividade, com o peronismo conseguindo canalizar a insatisfação com a direita neoliberal macrista para o terreno eleitoral. Os últimos processos importantes da luta de classes foram a revolta contra a reforma da previdência em dezembro de 2017, a luta contra o fechamento da Pepsico, além da enorme mobilização em defesa da legalização do aborto (maré verde) que terminou sendo aprovado no ano passado.

Desde a explosão da ocupação de Guernica no ano passado como fenômeno pela esquerda, e o motim policial na província de Buenos Aires como fenômeno de direita, começaram a se abrir elementos pré-revolucionários na situação, um etapa com elementos pré-revolucionários na Argentina. A situação de crise econômica profunda e de um acordo com o FMI, crise com a dívida externa, coloca uma perspectiva catastrófica e de experiência das massas com o peronismo pela esquerda, a principal direção dos sindicatos e movimentos sociais, abrindo possibilidades de rupturas pela esquerda. Está se constituindo uma experiência de massas com um governo ajustadorperonista, o de Alberto Fernandez. Esse é o principal definidor dos elementos pré-revolucionários. Mas além deles, há também alguns processos de luta onde se expressam novos e importantes elementos de auto-organização, que na Argentina se chamam "autoconvocados", que permitem uma busca de hegemonia da classe operária em torno de setores golpeados pela crise econômica.

Por exemplo, em Neuquén há uma enorme rebelião entre os trabalhadores da Saúde. Ganhou enorme apoio popular a partir dos atos a partir da enorme legitimidade desde os que estão na linha de frente. Tentaram cortar a luz de Zanon, fábrica ocupada sobre controle operário, para bloquear a confluência entre fábricas ocupadas e o processo de luta na Saúde, mas os trabalhadores reverteram em base à mobilização. Houve a aliança tammbém entre trabalhadores da Saúde e o povo mapuche. Essa aliança cortou as rodovias e estradas que chegam a Vaca Muerta (centro energético mais importante da Argentina). Foram 23 cortes que bloquearam filas e filas de caminhões. Ao todo, são mais de 20 dias de bloqueio, com apoio massivo da população, saindo na capa do Clarín, um dos principais jornais da burguesia argentina. Se triunfa esse conflito teria um efeito poderoso sobre a província e sobre o resto do país. Na província de Mendoza se localiza o 5º maior exportador de vinho do mundo. São cerca de 40 mil trabalhadores nas adegas e cerca de 90% delas pararam. Nunca tiveram um processo de auto-organização e coordenação como esse. Começaram a se coordenar e instalaram piquetes nas adegas. A patronal teve que oferecer aumento 70% na data-base, entre salários diretos e indiretos tendo em vista a força do movimento, o dobro da média dos outros acordos salariais do país. É incerto se isso será capaz de conter a raiva de um setor extremamente radicalizado e com fortes aspirações. Já a província de Tucumán, que é responsável por 65% da produção de industrializados de limão do mundo, com 44 mil operários e operárias rurais, há outro importante processo de luta. Este ano começou um grau novo de expansão, radicalidade e aspiração à dignidade muito alto. Vem ocorrendo um processo de auto-organizado muito forte, apesar da burocracia sindical mafiosa.

Na tradição argentina, existe uma “vanguardização” entre o interior e o centro do país, na região metropolitana de Buenos Aires. Essa disparidade entre o interior e a capital aconteceu também no ascenso operário de 1968-1975, e foi similar no período prévio às jornadas revolucionárias de 2001. Por isso existe uma tradição de que os processos mais radicalizados no interior antecipam a radicalização da luta de classes no centro político e econômico do país. A questão chave a se refletir é que no interior do país existe uma burocracia sindical e mediações centro-esquerdistas mais frágeis, além de um peronismo mais de direita, que abre espaço para maiores explosões de espontaneidade (em outras palavras, tentáculos menos potentes do "Estado Integral").

O mais importante nesse aspecto, hoje, é a extensão temporal dos conflitos, e a multiplicidade dos mesmos. E não são conflitos apenas operários. Há ocupações de terra pelo direito à moradia (como houve em 2020 o conflito no terreno de Guernica). Há o conflito em defesa do meio ambiente nas províncias de Chubut e Catamarca, contra a mineração predatória a céu aberto. Há as manifestações do movimento de mulheres contra o feminicídio, assim como movimentos democráticos contra os constantes assassinatos perpetrados pela polícia. Na região metropolitana de Buenos Aires, há o conflito dos professores contra o reinício das aulas presenciais sem as mínimas garantias de segurança sanitária para toda a comunidade escolar.

Não se trata ainda, apesar disso, de uma situação abertamente pré-revolucionária. Há elementos pré-revolucionários, como dissemos. Isso é assim porque a luta de classes é o elemento mais atrasado da situação, a despeito dessa multiplicidade de conflitos parciais. Por ora, não atingimos o ponto de ações independentes de massas, já que o governo de Fernández ainda é capaz de contê-las, através da passividade das burocracias sindicais peronistas, conferindo muitos planos assistencialistas ao movimento piqueteiro (desempregados), e aparecendo diariamente como "vítima" da pandemia. O elemento mais dinâmico segue sendo a crise econômica e as disputas interburguesas.

Como o PTS busca se preparar nesse cenário? Como André antecipou na abertura, estamos refletindo teoricamente o problema dos "comitês de ação" que Trótski apresentava na França, entre 1935-36, a fim de romper o isolamento dos trotskistas franceses, esmagados pelo peso do PS e do PC e sua aliança com a burguesia radical na Frente Popular. Poderão ver essa reflexão no artigo de Emilio Albamonte e Matías Maiello. Trótski vê nos comitês de ação uma forma de romper a subordinação à burguesia que stalinistas e socialdemocratas impunham ao proletariado francês, potencializando o peso da vanguarda através do desenvolvimento dos comitês ligados diretamente à luta de classes, o que facilitaria enormemente a expulsão dos “negociadores burgueses” do Partido Radical e a derrota da política de conciliação de classes ditada “a partir de Moscou”.

Qual o sentido dessa reflexão teórica? Para nós, da reflexão de Trótski sobre os comitês de ação se pode extrair toda uma teoria política sobre como antecipar, previamente aos momentos de ascenso operário e popular, exercícios de autoorganização e frente única de setores da vanguarda, em combate às burocracias reformistas e centristas do movimento de massas. Trata-se de um combate consciente à tendência de "esperar passivamente", de braços cruzados, pelo desenvolvimento dos elementos de autoorganização de tipo soviético nas massas. Ademais, como Trótski apresentava, esse é um método que fortalece a influência dos revolucionários, mesmo com pouca acumulação de força material, no seio da vanguarda, em detrimento das burocracias.

O desenvolvimento desses "comitês" obviamente depende do desenvolvimento de setores de massas da luta de classes. Nos processos de Neuquén, Mendoza e Tucumán, que mencionei, vemos os processos mais desenvolvidos em que haveria espaço para ampliar o alcance da atividade de autoorganização no sentido dos comitês de ação.

Dentro disso, estamos discutindo de que o PTS, com suas forças militantes, pode ser um fator decisivo para que os distintos processos de vanguarda, de baixa e média intensidade, não se dispersem nem resistam de maneira isolada. Queremos ajudar a que, no espírito da reflexão sobre os comitês de ação, surjam instituições de coordenação e unificação de setores da vanguarda - potencialmente de massas - que sejam semipermanentes, e que tomem os conflitos nas suas mãos, em detrimento das burocracias reformistas e centristas. Que estes setores de vanguarda se mantenham organizados, que alentem a autoorganização de outros setores, e que se coordenem entre si para lutar contra os capitalistas e acelerar a experiência com o governo peronista/kirchnerista. É para isso que estamos atuando em Neuquén, Mendoza, Tucumán, na greve dos portuários de Buenos Aires, nas distiintas ocupações de terras, no movimento estudantil (como nas Faculdades de Filosofia e Letras, além de Psicologia, da Universidade de Buenos Aires, e outras pelo país).

Em primeiro lugar, então, queremos que o PTS seja ativo na construção de instituições semipermanentes de vanguarda que seja decisivo na construção de volumes de força capazes de impulsionar a autoorganização e impor uma política de frente única contra os interesses derrotistas das burocracias. Em segundo lugar, queremos expandir o exemplo que viemos dando de unificação e coordenação entre os trabalhadores empregados e desempregados, contra a tradição do centrismo trotskista argentino (por exemplo, do Partido Obrero e o MST) e demais movimentos piqueteiros que sempre buscaram dividir as lutas, numa relação clientelar com as bases criando "feudos" isolados em que cada uma dessas correntes controlam determinados segmentos desse movimento de desempregados em função dos seus interesses, um verdadeiro obstáculo à autoorganização e coordenação das lutas. No PTS, somos absolutamente contrários a essa conduta, porque implica que essas organizações servem de funcionários do Estado na administração das necessidades dos desempregados através dos benefícios concedidos pelo governo. Com essa política de unidade dos empregados e desempregados opomos uma alternativa estratégica ao clientelismo do movimento piqueteiro.

Para criar essas instituições semipermanentes de vanguarda (autoorganização), não vamos apenas como partido, e sim junto a 6 mil colaboradores que participam de múltiplas atividades do PTS. O principal desafio é conseguir mudar o vínculo que o partido tem com essa periferia, em função da luta de classes, e que sejam dirigentes dessas instituições de vanguarda. Ou seja, transformando-se de um vínculo eleitoral para um vínculo que que torne esses colaboradores em sujeitos independentes da luta de classes. No movimento de desempregados, batalhar para que suas assembleias criem um movimento de luta por trabalho genuíno e moradia, autoorganizado e independente dos governos, onde tudo se decide em assembleia, sob o princípio da unidade com todos os oprimidos (se atacam um, atacam todos).

É uma etapa entusiasmante para o desenvolvimento do PTS, que chega mais forte e com maior experiência política, construção material e influência partidária nessa nova crise nacional, em comparação com as jornadas revolucionárias de 2001, desviadas pelo kirchnerismo."


Outros temas também perpassaram o debate do primeiro dia do Congresso do MRT, com intervenções, por exemplo, sobre a questão negra e o fenômeno mundial do #Black Lives Matter, a questão ambiental, a localização da China no mundo e o combate ao imperialismo.

Após as várias intervenções, foi ressaltada a importância do manifesto publicado pela Fração Trotskista, que pode ser lido aqui, e que busca compreender a situação internacional hoje e apresentar as tarefas dos revolucionários para o próximo período. Além disso, a necessidade de um 1º de Maio classista, mas também internacionalista, em que a Fração Trotskista atuaram com seus dirigentes operários de diversos países.

 
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