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DEBATE
Boulos quer derrotar o PSDB em diálogo com o Republicanos, mas isso fortalece Bolsonaro
Marcella Campos

Até mesmo a mídia burguesa estranhou – mas aprovou, o que deixa tudo pior - o jantar fraterno entre Guilherme Boulos, PSOL, com nada mais nada menos Marcos Pereira, o presidente do Republicanos, partido ligado a Igreja Universal do Reino de Deus e que abriga nomes desprezíveis como dois dos filhos de Bolsonaro, Flávio e Carlos, Celso Russomanno, Marcelo Crivella, Edir Macedo e Marcos Feliciano.

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O Republicanos é um partido fisiológico da fauna burguesa do Centrão, e parte não apenas da extrema direita, mas da base de apoio do governo Bolsonaro. Foi partícipe entusiasta do golpe institucional, depois de ter sido base dos governos Lula e Dilma do PT, que em nome de sua sustentação buscou conciliar-se com as lideranças do fanatismo evangélico, rifando em troca os direitos mais elementares das mulheres e dos LGBTs. Boulos segue, também aqui, a cartilha da conciliação de classes petista.

Aparentemente para Boulos e a ala majoritária do PSOL a “união das forças progressistas” para disputar a eleição de 2022 em SP inclui um dos partidos da extrema-direita evangélica, que possui funcionários no governo Bolsonaro, como no Ministério da Cidadania (João Roma). Com o objetivo de ampliar o que os partidos burgueses gostam de chamar de “arco de alianças” para derrotar o PSDB em SP, Boulos buscou desde já causar boa impressão aos conservadores e tentar provar que não oferece ameaça, como fez, durante as eleições municipais de 2020 (em que chegou ao segundo turno em SP, aliando-se com partidos burgueses como PDT e golpistas como Rede e PSB) com os magnatas da Associação Comercial de São Paulo – exímios apoiadores do golpe de 2016 e de Bolsonaro.

Tanto assim que o próprio Marcos Pereira relata, em artigo ao Poder360, que a conversa com Boulos lhe deu "certeza de que o caminho para um país mais justo e eficiente é a moderação". A moderação esteve do lado do PSOL, diante do extremismo direitista do inapresentável presidente do Republicanos.

Boulos sinaliza que pode cumprir o mesmo papel petista de se curvar às alianças com bancadas reacionárias e conservadoras que nada tem a ver com os interesses dos trabalhadores, povo pobre, movimentos sociais, mulheres, negros e LGBTs. Ao contrário, Edir Macedo e Marcos Feliciano, que representam muito bem o que é o Republicanos, são parte do que bradam ódio machista e homofóbicos, justamente contra os setores mais oprimidos da sociedade.

Grandes entusiastas desse jantar, como o advogado Walfrido Warde, o amigo pessoal de Boulos que abre o caminho das pedras para o PSOL e os empresários, celebraram a grande conclusão que chegaram juntos Boulos e Marcos Pereira de que movimentos sociais e as igrejas evangélicas neopentecostais são os únicos que realmente atuam pela população mais carente nas comunidades pobres. A Igreja Universal do Reino de Deus é um veículo de transmissão do que há de mais reacionário na ideologia burguesa, inserindo xenofobia, racismo e misoginia no interior das camadas mais empobrecidas da classe trabalhadora, explorando materialmente a fé de milhões de pessoas em nome do enriquecimento dos “pastores”, verdadeiros empresários milionários. A rede de controle ideológico e material administrado pela cúpula das Igrejas evangélicas atua como um componente do “Estado Integral” – para usar a categoria do marxista italiano Antônio Gramsci – para organizar a hegemonia capitalista no interior dos setores mais oprimidos, dividir a classe trabalhadora e estimular o avanço da corrente de extrema direita. Como não poderia deixar de ser, esses pastores da IURD, e os políticos do Republicanos, fazem campanha contra a legítima luta do MTST e de outros movimentos sociais que buscam terra e teto, e apoiam entusiasticamente as reformas ultraliberais, como a reforma da previdência e trabalhista, contra esses mesmos fiéis.

Essa é a atuação da extrema direita evangélica nas comunidades carentes. Que tipo de “combate ao PSDB” se pode fazer com a escória bolsonarista de Marcos Pereira? Nenhum.

Aliás, nunca demais ressaltar que foi levando para dentro do governo e da sua base aliada Edir Macedo, Feliciano, setores do agronegócio e militares que o PT abriu o caminho do golpe institucional de 2016 e que deixou o terreno fértil para bolsonaristas e a herança maldita da ditadura militar que hoje compõem o governo federal.

Enquanto Juliano Medeiros e a direção majoritária do PSOL justificam a reunião na grande imprensa, algumas correntes do PSOL, como o MES, que corretamente criticam o jantar de Boulos com o presidente do Republicanos, esquecem do que escreveram até há pouco. Não há qualquer autocrítica do MES sobre sua intenção de apoiar Baleia Rossi (candidato de Rodrigo Maia) para a eleição da Câmara dos Deputados, peças fundamentais do golpe institucional de 2016, junto à pró-imperialista Lava Jato, que antes de definhar teve suas iniciativas autoritárias e arbitrárias festejadas em inúmeros textos e postagens de figuras políticas do MES, como Luciana Genro. São esses setores, que legislam em nome de grandes empresas como Gerdau, Odebrecht ou a Taurus, que aliás fizeram doações para campanhas de Luciana Genro. Abandonar a independência de classe em nome de “combater a extrema direita” já é música sonante nas elaborações do MES, como a de Roberto Robaina, um embaraçoso tumulto deconfusões teóricas que nos convida a alianças com a burguesia liberal contra governos como Bolsonaro.

A ilusão de que é possível um governo do PSOL em SP, se aliando a golpistas e reacionários, é a mostra perfeita de que o PSOL não fez qualquer balanço dos resultados da conciliação de classes petista. Mais do que isso, se mostra totalmente impotente para combater os intentos e avanços reacionários e repressivos desse regime político do golpe institucional, como o uso cada vez mais constante da Lei de Segurança Nacional, herança da Ditadura Militar, contra os opositores ao governo Bolsonaro e atores do regime. A arbitrariedade dessa lei – avalizada pelo STF – chegou agora em Boulos, poucos dias depois de seu jantar com o chefe da IURD. Rechaçamos novamente essa absurda perseguição e estaremos na primeira fila de combate até que essa lei reacionária da Ditadura seja derrubada.

Marx dizia que a história se repete, a primeira vez como tragédia e depois como farsa. Com jantares com extremistas evangélicos, empresários e golpistas o PSOL só pode chegar a ser a “nova farsa”. Complementares a gestos dessa natureza, o PSOL participa de frentes amplas com o PT, PCdoB, PSB, PDT, PV e até mesmo os direitistas do Cidadania, em nome do impeachment, que colocaria um general como Mourão na presidência, preservando toda a herança do bolsonarismo e do regime político do golpe institucional.

O papel da esquerda deve está em combater essa extrema direita, com uma política de independência de classes, preparando alas revolucionárias no movimento de massas que saibam combater a influência de correntes reacionárias, algo que a política do PSOL mostra ignorar. Longe da conciliação petista, a esquerda deve defender um programa operário de emergência para enfrentar a pandemia, a fome e o desemprego assim como todo o autoritarismo judiciário, exigindo a anulação integral das das reformas ultraliberais (que partidos como o Republicanos defendem). Isso passa por superar a adaptação completa do PSOL à burocracia sindical, que ao invés de fazer denúncias e exigências para desmascarar a atuação das burocracias e defender a auto-organização para lutar contra os ataques, em defesa da unidade entre empregados, desempregados, precarizados, informais e setores populares, embeleza a atuação das Centrais, contribuindo para o isolamento dos focos de resistência, com parlamentares que passam longe de cumprir este papel e esta deveria ser uma das correntes vão na contramão disso como na diretoria do metrô de São Paulo. Contra todo o regime do golpe institucional, responsável por essa calamidade socioeconômica e sanitária no país, devemos lutar por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, imposta pela força da mobilização que dê à população o direito de decidir sobre os rumos do país, enfrentando os capitalistas que querem arrancar nosso sangue e enfrentando todas as instituições do regime que aprovam reforma atrás de reforma pra que trabalhemos até morrer.

 
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