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DIREITO A SAÚDE
"FELIZ DIA MUNDIAL DA SAÚDE PARA QUEM": relato de uma trabalhadora terceirizada da saúde do RJ
Redação

Na última quarta foi o Dia Mundial da Saúde. Após um ano de pandemia, essa semana, o Brasil e o Estado do Rio de Janeiro, alcançaram mais um recorde de mortos. Não há nada que comemorar.

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Foto: Agência Brasil

Esse dia foi marcado por mobilizações descentralizadas onde os trabalhadores da saúde denunciavam a precarização da saúde pública e a falta de vacinas. Reproduzimos aqui o relato de uma trabalhadora terceirizada da saúde do Rio de Janeiro que está na linha de frente do combate a Covid-19.

"A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade". Assim começa a declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS). A mesma que instaurou, 70 anos atrás, o 07 de abril como Dia Mundial da Saúde, para mostrar certa “preocupação” em manter o bom estado de saúde das pessoas em todo o mundo. É no mínimo cabível, concordam?

Mas é impossível vivermos minimamente tal declaração, com um sistema que transforma a saúde em artigo de luxo da burguesia. Quando os donatários sucateiam ao máximo os serviços de saúde, para aumentarem a própria riqueza, o que temos é a negação do bem-estar da população. Onde alguns países do continente africano e asiático mal vacinaram sua população, ou mesmo para os milhões de negros e imigrantes nos Estados Unidos da América e Europa.

Acho que agora cabe me apresentar minimamente para os que estão prontos para ler meu relato. Sou uma jovem trabalhadora terceirizada da saúde. Trabalho em um hospital federal na cidade do Rio de Janeiro e ganho 1.100 mensalmente. Até aqui sem qualquer compensação pela insalubridade. Acho trágico o que acontece naqueles corredores. Por vezes, penso que estou em uma pegadinha tragicômica. Imagino que, de repente, vai aparecer um apresentador fajuto desmentindo o ato. Mas não surge ninguém. Então seguimos, sem chão e sempre com medo.

Trabalho na saúde, mas eu e minhas companheiras somos proibidas de usarmos a emergência. Trabalho na saúde e a água tem gosto de barro, os efetivos ganham garrafa mineral e nós assistimos. Trabalho na saúde e não tivemos direito aos testes para detectar o vírus da COVID-19.

"Ah, pelo menos você tomou a vacina?" Tomei. Fui uma das poucas que tomaram por conta de ocupar um setor que fica em constante “exposição” ao COVID-19. Mas, companheiras, que ocupam o mesmo cargo que o meu, continuam levando o vírus para as suas casas, continuam com pouca proteção, mesmo sendo do grupo do grupo de risco. Tiveram dois casos bem parecidos. Duas terceirizadas, infelizmente, contaminaram as respectivas mães que foram a óbito. E eu sempre me pergunto: como elas conseguem trabalhar em tamanha dor? Quando paro para refletir, vejo que não existe a simples possibilidade de parar. Se a gente para devido ao medo, acabamos encontrando o desemprego e a fome.

Voltando. Quando tomei a vacina, tomei uma dose extra de revolta ao saber que a maioria dos vigilantes que fazem a guarda da vacina não serão vacinados tão cedo.

Por ironia procurei na hora do almoço, no refeitório dos terceirizados, alguma declaração da Organização Mundial de Saúde que explicasse tamanha imoralidade. Ou, que minimamente, se responsabilizassem! Claro que não encontrei. Já que não encontrei nada, faço eu mesmo o meu relato.

No meu trabalho um paciente leva de 7 a 8 meses para realizar o exame de tomografia. Não preciso dizer o que acontece com muitos quando ligamos para dizer que a bendita hora do exame chegou. O SER (Sistema Estadual de Regulação) já era um sistema débil, agora com o completo colapso da saúde a fila duplica. O tempo custa vida em um hospital. Nnão precisa ser médico para ter tal conclusão.

Voltando do trabalho para casa, me ponho a refletir.

Será que a Organização Mundial da Saúde esqueceu das centenas de corpos abandonados nas ruas do Equador no começo da pandemia?

Se os integrantes da OMS, que escreveu a declaração que consta no começo do meu texto, visitassem o hospital em que trabalho não hesitariam em perguntar, em alto e bom tom, qual o motivo de alguns países da união europeia comprarem de 6 a 7 vezes mais da quantidade de vacina do que precisavam para imunizar sua população? Por que a Alemanha e a França seguraram, no início da pandemia, as vendas de respiradores para países que estavam mais necessitados? Qual o motivo de Israel ter retido em seus postos de controle 2 mil doses da vacina SputiniK V que pertenciam a Palestina?

Sinto muito colegas de trabalho e usuários do SUS. Sinto muito imigrantes e países da chamada periferia do capitalismo. Sinto muito pelo fracasso diário da superpotência mundial (EUA) que chegou a matar mais 555 mil pessoas pelo vírus, mostrando o quão incompetente é o sistema capitalista.

Mas hoje, 07 de abril de 2021, não tem o que comemorar. Hoje, precisa de ser dia de luta em toda parte do mundo! Diferente do que diz a cúpula do governo Bolsonaro, não carregamos caixões frios de madeira nas nossas costas. Carregamos o professor da UNB e sua esposa, carregamos vigilantes da saúde, carregamos pais frentistas de postos de gasolina, carregamos Maria do Carmo Vieira da UERJ, carregamos trabalhadores terceirizados da limpeza da USP.

Tem mais de um ano que boa parte das famílias dos 330 mil mortos pela COVID-19 sabem na pele, que a saúde não é uma promoção universal. Que os chamados “esforços para contenção do vírus”, não passa de uma propaganda infantil e mentirosa. Essa barbárie é sentida em cada parte do mundo por trabalhadores formais, informais, precarizados e desempregados.

Nós, trabalhadoras e trabalhadores da saúde, levantamos um forte chamado em favor de uma saúde pública e universal. Contra o GENOCÍDIO desse governo brasileiro pró morte que hoje tem o recurso da PEC dos 20 anos para contribuir com as mais brutais mortes. Contra todos os avanços do imperialismo que rifam a oportunidade de a classe trabalhadora mundial seguir vivendo com saúde e dignidade.

Concluo esse difícil relato me perguntando:

FELIZ DIA MUNDIAL DA SAÚDE PARA QUEM?"

 
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