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GOLPE MILITAR DE 64
A celebração da ditadura de 64: Um elo inquebrantável entre Bolsonaro e os Militares
João Salles
Estudante de História da Universidade de São Paulo - USP

As recentes movimentações políticas em torno da reforma ministerial do Governo Bolsonaro perpassaram também as Forças Armadas com a troca na pasta do Ministério da Defesa entre os generais Azevedo e Braga Netto, junto a renúncia conjunta inédita dos comandantes militares. Ao mesmo tempo, a primeira medida de Braga Netto na pasta da Defesa foi, no aniversário da sanguinária ditadura militar no Brasil, emitir ordem do dia para comemoração. Esse alinhamento no discurso é expressivo: apesar das trocas, os militares seguem sendo fator de sustentação de Bolsonaro no poder.

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@ picture-alliance/AP/B. Prado

Um discurso recente que tem sido expresso pelas mais diversas mídias é o de que se abriu uma crise militar no governo Bolsonaro. A renúncia coletiva dos três comandantes das Forças Armadas foi o acontecimento mais recente e impressiona, como fato inédito na história do país. Mas é possível falar sobre uma ruptura entre a caserna e o Governo?

As recentes movimentações de delimitação das Forças Armadas visam tentar “lavar a cara” dessa instituição frente à catástrofe sanitária e econômica encabeçada por Bolsonaro, apesar de seguirem como sustentáculo firme do governo como analisamos melhor neste artigo.

Veja também: As tensões nas Forças Armadas para além do jogo de cena

Aqui queremos nos deter ao elo inquebrantável entre militares e Bolsonaro, seja para a ala que fica com Braga Netto, seja para a ala que sai com Fernando Azevedo e Silva, tratemos aqui então na confluência, com diversas declarações ao longo dos últimos anos, desses setores em torno de uma ferida aberta e purulenta na história do país: a comemoração da ditadura militar brasileira (1964-1985).

Não é novidade pra ninguém que Bolsonaro é um nojento que exalta tortura, mortes, perseguições e a política dos militares duarante a ditadura. Inclusive sustentando um discurso de intervenção militar hoje e insuflando sua base social reacionária nesse sentido. O ex-Capitão e toda sua família são filhotes da ditadura e revivem esse tema sempre que podem e como esquecer da exaltação ao torturador impune Coronel Ustra na consumação do golpe institucional com a votação do impeachment de Dilma?

Mas o buraco é mais embaixo e mais profundo ainda. O recém empossado Braga Netto, após a liberação da celebração pelo TRF-5, emitiu em nota pelo Ministério da Defesa tratando o golpe militar em 64 como um “movimento” que deve “ser compreendido e celebrado” em seu contexto histórico. Afirmando que houve uma transição pacífica e que as garantias democráticas de hoje foram conquistadas pela ditadura. Uma declaração nefasta e criminosa com a história do país.

Mas é interessante vermos como a declaração do ano passado do Ministério da Defesa, com Azevedo à frente, tem o conteúdo central quase idêntico. Reafirma o golpe militar enquanto um “movimento”, reivindica a Lei de Anistia de 1979 como um “pacto nacional de pacificação” e que a ditadura foi “um marco para a democracia brasileira”. Nojento em todos os sentidos possíveis.

Isso sem falar no Vice-Presidente Mourão que tanto no ano passado como esse ano postou em seu twitter publicações em comemoração à ditadura militar nesse mesmo sentido de mascarar a verdade histórica pintando como um movimento democrático que “garantiu a democracia” contra a ameaça comunista. Um revisionismo histórico sem tamanho.

Acrescentemos na conta uma nota contendo “reflexões” do Clube Militar em torno da prisão do Deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) em que questionam a decisão do STF saindo em defesa aberta da reivindicação da ditadura militar e tendo a cara de pau de afirmar que “grande parcela da população” tem saudades desse período no país.

Alguns apontamentos gerais de conclusão que podemos tirar desse alinhamento em reabilitar a ditadura militar entre Bolsonaro e setores expressivos dos militares é de que para além desse saudosismo macabro e nojento existem ainda pontos de convergência importantes entre as Forças Armadas e o atual governo.

Longe de pintar a iminência de um auto-golpe como fazem setores da mídia devemos ver com atenção que aspirações golpistas não faltam entre esses setores. E o que isso representa? Ora, mostra que apesar do movimento de delimitação para preservar a imagem da instituição esse processo se dá de forma combinada. O revisionismo histórico operado por Bolsonaro e esses militares no tocante à ditadura também expressa um sentido de conservar a imagem das Forças Armadas perante a população e evitar maiores questionamentos sobre sua participação política autoritária nos rumos do país.

Acende também um “alerta estratégico” de que esse setor não votado pretende se preservar como força política no regime e disputar seu espaço cada vez maior, se aproveitando da correlação de forças para manter seus privilégios e regalias que foram garantidos pela Lei de Anistia, pela Constituição de 88 completamente pactuada com os militares, mantida durante os anos de governo do PT e que tiveram seu momento de “auge” recente com Bolsonaro que privilegiou as altas patentes inclusive em detrimento dos praças. Podem operar um movimento de “sair de cena” agora, mas estão lá e seguem sustentando a política assassina do atual Presidente.

Por um lado os militares tem sido um fator determinante na política do país, combinado com a escala de medidas autoritárias que vemos sendo adotadas desde 2016 para garantir a obra econômica do golpe de ataques aos trabalhadores e a população pobre. Recentemente, estamos vendo o uso indiscriminado da LSN e outras leis autoritárias, também é verdade que estamos frente a um momento de muitas divisões entre os de cima, como vem mostrando os noticiários nas últimas semanas, enquanto os trabalhadores sofrem e pagam com suas vidas, literalmente, os custos da crise econômica e sanitária.

O problema é que o máximo oferecido hoje por Lula, pelo PT, PCdoB e pelo PSOL é de que aguardemos pacientemente o ano de 2022 enquanto morrem quase 4 mil pessoas por dia no país! As centrais sindicais da CUT e CTB e esses partidos estão em trégua sem organizar os trabalhadores para resistir aos ataques e para impor uma saída desse beco entre a miséria econômica e o vírus, isso porque estão completamente adaptados a essa lógica e ao invés de se chocarem com o autoritarismo buscam conciliar com eles seu espaço político.

Contra essa lógica é preciso impor que as direções dos movimentos de massas rompam com a trégua ao regime e coloquem de pé um movimento pelo Fora Bolsonaro, Mourão e todos os Golpistas.

Uma luta que deve estar combinada à uma saída independente dos trabalhadores às crises em curso, atacando o lucro dos capitalistas e garantindo a participação da maioria da população. O impeachment de Bolsonaro faria assumir Mourão, saudosista da ditadura. É preciso impor um novo processo Constituinte através de nossa luta, na perspectiva de um governo de trabalhadores em ruptura com o capitalismo.

 
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