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ESCOLAS OCUPADAS
As escolas ocupadas são mais que um exemplo de resistência e luta. Elas são um ensaio da escola do futuro.
Mauro Sala
Campinas
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As ocupações das escolas paulistas foram um enorme exemplo que enche de orgulho esse professor. Não apenas por terem defendido a escola pública dos ataques privatistas do governo; nem mesmo por terem gerado uma nova paixão pela escola pública. Não é pouco ver esses estudantes defenderem suas escolas, o que até pouco tempo atrás pensávamos impensável.

De tanto repetir o mantra de que os alunos não gostam da escola, acabamos por interiorizá-lo. Agora ele se provou falso. Eles defendem a escola e com orgulho gritaram não “mexa na NOSSA ESCOLA!”

Mas isso é mais que um movimento de resistência: ele é também um ensaio da escola do futuro, da escola que queremos construir.

A auto-organização estudantil, a divisão das tarefas, a escolha democrática das atividades e conteúdos são pequenos tijolos dessa escola do futuro.

E é interessante como esses jovens, no dia-a-dia da luta, acabaram por trazer à tona o melhor da nossa tradição pedagógica.

Talvez eles nunca tenham escutado falar em Pistrak, Shulgin, Makarenko e tantos outros pedagogos que ensaiaram uma escola nova para a nova sociedade: uma sociedade sob controle democrático dos trabalhadores e da juventude.

A auto-organização estudantil e seu controle do espaço educativo é algo que foi muito valorizado na experiência educacional durante a Revolução Russa.

Lá, um pedagogo como Pistrak, que escreveu um belíssimo livro chamado “Fundamentos da escola do trabalho”, defendia que a escola da nova sociedade que estava se construindo baseava-se em três grandes eixos: o trabalho, o ensino e a auto-organização dos alunos.

Quanto ao trabalho, ele valorizava tanto a relação do ensino com o trabalho produtivo fora da escola, quanto o próprio trabalho realizado no seu interior. Pistrak sabia da importância material e educativa do trabalho reprodutivo, ou seja, do trabalho de vigilância, manutenção, limpeza, arrumação, cozinha...

E isso se impunha na prática pela situação de penúria que se seguiu aos primeiros anos da revolução, mas não só. Valorizar esse trabalho e poder cumpri-lo de forma organizada e democrática tem um papel educativo fundamental. Ele ensina a importância social dos trabalhadores e, se cumprido de maneira coletiva e democrática, também nos ajuda na superação das velhas divisões de tarefas típicas das famílias tradicionais, onde sobra para as mulheres e crianças todas aquelas atividades.

As escolas ocupadas são um exemplo disso. Decidindo de forma democrática a divisão das tarefas, elas apontam, na prática, um caminho para a superação da opressão das mulheres. Meninos e meninas cumprindo juntos as tarefas de vigilância, manutenção, limpeza, arrumação, cozinha… é um belo ensaio do mundo melhor que queremos construir.

Quanto ao segundo ponto, o ensino, Pistrak defende a organização dos complexos. Assim, os conteúdos devem se relacionar com a compreensão da realidade atual. Assim, devemos dominar os conhecimentos mais profundos da ciência mais avançada, mas não de modo neutro, e sim sempre relacionado às necessidades históricas da classe trabalhadora.

É claro que nesse “breve ensaio” não pudemos avançar ainda para a construção um programa de ensino de ciências que pudesse instrumentalizar os trabalhadores para o domínio técnico e político da produção e do Estado. Mas sem dúvida, emergiram temáticas que apaixonaram esses jovens e os fizeram interpretes melhores da realidade social em que vivemos.

Não tenho dúvidas de que hoje eles são muito mais sabedores das relações de opressão e exploração da sociedade capitalista, do papel do governo e das “lideranças” pelegas e/ou traídoras. Eles conhecem muito mais sobre a dinâmica de nossa sociedade: a luta de classes.

E só puderam aprender isso num processo coletivo de construção de sua própria auto-organização. “Auto-educação dos iguais”, certa vez li por aí. Gosto muito dessa ideia. E vejo nessas ocupações um processo real dessa auto-educação baseada numa auto-organização.

Enfim, o processo de auto-organização é um fundamento poderoso no processo educativo. Esses jovens nos mostraram. E como dizia o velho Marx, “o educador também precisa ser educado”. Aprendamos com eles. Eles nos mostraram o caminho. Eles são mais que o futuro. Eles são o presente.

Viva a luta dos estudantes!

 
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