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A PEC e a onda de ocupações
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG
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Em 2016, enquanto os golpistas se articulavam para votar no congresso a PEC que congelava por 20 anos o orçamento na saúde e educação para manter o pagamento da dívida pública, estudantes de todos os cantos do país protagonizaram um dos mais importantes processos de luta recente da juventude.

Embalados pelos secundaristas que haviam derrotado Geraldo Alckmin e o todo poderoso PSDB de São Paulo, milhares de jovens protagonizaram a maior onda de ocupações estudantis do Brasil. Foram mais de mil faculdades, institutos federais e escolas ocupadas. Era a juventude dando o recado que não ia aceitar passivamente o golpe institucional e os ataques que os capitalistas queriam nos impor.

Nas ruas, com meus camaradas, amigos e colegas cantávamos com muito ódio de classe:

"O golpe veio quente, nois já tá fervendo
Quer desafiar? Não tá entendendo
Mexeu com o estudante você vai sair perdendo"

Esse canto sempre se espalhava pelos atos. Mesmo que de forma inconsciente pra alguns, todos nós sabíamos que naquela votação pela família, pela propriedade privada, com discursos de ódio contra mulheres, negros, indígenas e LGBTs, e em homenagem a ditadores, também se continha uma luta entre duas classes antagônicas, e o que estava em jogo era o nosso futuro.

Essa onda de ocupações foi uma pequena demonstração da enorme disposição que existia entre a juventude. Mas o papel nefasto das burocracias sindicais e estudantis impediu que essa disposição pudesse ser conduzida a vitória. O PT tinha deixado de ser governo por causa do impeachment e da Lava Jato articulada pelo departamento de estado norte-americano. Hoje as disputas entre o STF e as forças armadas mostram que aquilo que sempre defendemos nesse portal: para responder a crise capitalista o imperialismo norte-americano organizou um golpe institucional, que incluia o STF, militares e todas as forças da direita com o objetivo de fazer ataques ainda mais duros do que o PT já vinham fazendo.

No entanto, nos sindicatos e nas entidades estudantis dirigidas pelo PT e seus aliados como o PCdoB, a política das burocracias temia muito mais o potencial da aliança entre trabalhadores e estudantes, do que a maior submissão ao imperialismo.

Foi assim que ao invés de coordenar e articular a mobilização impulsionando um comando nacional, organizando a disposição dos estudantes em assembleias e reuniões para que os rumos das ocupações fossem decididos desde a base, a direção da União Nacional dos Estudantes apostou todas as suas fichas na pressão institucional e organizou uma mobilização em Brasília que reuniu a vanguarda da juventude, mas sem preparação prévia para o combate sendo brutalmente reprimida, enquanto no congresso votava esse grande ataque.

Mas porque voltar a essa história se fomos derrotados?

Porque as lições delas são fundamentais. Hoje não é só derrota da PEC que pesa contra nossa classe. É a reforma trabalhista, a reforma da previdência, o ensino remoto, a pandemia que fez 250 mil mortos, o desemprego, a fome. Mas se não bastasse tudo isso, eles ainda querem mais. Querem uma nova PEC Emergencial para impedir que se tenha um investimento mínimo em educação e saúde. Querem a reforma administrativa, a reforma tributaria. Para os capitalistas a sede de lucro é incansável.

Se estamos isolados, fragmentados em nossas casas ou sendo obrigados a trabalhar de forma ultraprecária e quase sem direitos é por conta da obra do regime do golpe, da qual Bolsonaro é parte. Mas também é pela impotência da política reformista do PT, que de recuo tático, em recuo tático, abriu caminho para essa extrema direita e agora busca se habilitar novamente como o partido que pode controlar o movimentos sociais e a classe trabalhadora diante das previsões de revoltas frente a crise capitalista. É porque precisamos superar essa burocracia que formalmente aprovam um calendário de lutas, sem falar com a base, mas sentam com o presidente do senado pra ele prometer que "vai tentar" adiar a votação.

Mas apesar de tudo isso, eu acredito na força que podemos ter para nos reorganizarmos, para superar essas direções burocráticas e retomar nossas entidades como ferramentas de organizar. Se aliando com os trabalhadores que também dão mostras de resistência, como a greve dos professores de SP, a luta dos petroleiros ou as greves e mobilizações das trabalhadoras da saúde que estão na linha de frente do combate a pandemia.

É se aliando com a classe trabalhadora que podemos dar uma resposta contra cada um dos ataques. Ainda mais agora que nossos inimigos estão divididos e disputando entre eles qual a forma de nos atacar. Aproveitemos isso para reorganizar nossas forças, apostando em nossa mobilização para dar uma resposta de fundo. A juventude em luta no estado espanhol, os jovens trabalhadores da Amazon no Alabama, as mulheres e as LGBTs na linha de frente da luta contra o golpe em Mianmar são um respiro pra gente relembrar que nossa classe é internacional e se nos organizamos somos muito mais fortes que eles.

 
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