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8 de Março
8M: Com a força das trabalhadoras da saúde, enfrentar Bolsonaro, Mourão e os golpistas
Pão e Rosas
@Pao_e_Rosas

Leia a declaração do Grupo Internacional de Mulheres Pão e Rosas sobre o 8 de Março - Dia Internacional das Mulheres.

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Há quase um ano, uma maioria de mulheres trabalhadoras da saúde pelo mundo inteiro está na linha de frente do combate à pandemia do coronavírus, se enfrentando também com a precariedade imposta pelos capitalistas e seus governos. A covid-19 aprofunda os efeitos de uma crise que desde 2008 está sendo paga pela classe trabalhadora, particularmente as mulheres, os negros e os setores mais oprimidos. No Brasil de Bolsonaro e Damares é a força dessas mulheres que pode enfrentar a catástrofe social e sanitária imposta pelo negacionismo do presidente, contra todas as instituições do regime político do golpe e seus ataques. O 8 de março precisa estar a serviço desses combates.

Nos últimos anos o grito de milhões de mulheres ecoou pelo mundo contra a opressão machista, que é parte estrutural do sistema capitalista para impor uma maior exploração e controle sobre nossos corpos. Durante a pandemia da covid-19 tal fenômeno continua se expressando e é incrementado pela luta antirracista, que se ergueu nas maiores manifestações da história dos EUA, unindo negros, latinos, imigrantes e brancos para dizer que as vidas negras importam. Na Argentina uma luta histórica das mulheres, que teve com ponto alto a Maré Verde em 2018, culminou neste ano com a legalização do aborto. Também na Tailândia e na Coréia do Sul houve avanços neste direito, enquanto a Polônia é palco de grandes manifestações contra os retrocessos neste tema. Em todo o mundo as mulheres mostram sua força e precisamos nos apoiar nestes exemplos para erguer nossas vozes, como o exemplo das operárias têxteis de Mianmar em luta contra o golpe militar ou a comissão de mulheres da greve da refinaria Total na França contra a demissão de 700 trabalhadores.

Porém enquanto as mulheres arrancam seus direitos e cerram fileiras com negros e imigrantes contra o racismo e a xenofobia, o aprofundamento da crise capitalista faz com que os governos e os patrões pelo mundo todo sigam impondo planos de ajustes e jogando nas costas da classe trabalhadora os efeitos dessa crise. Também nas consequências da pandemia quem mais sofre são as camadas mais pobres e exploradas da sociedade, uma massa composta majoritariamente por mulheres e negros. A pandemia e a irracionalidade capitalista já custou mais de 2 milhões de vidas no mundo todo e no Brasil o negacionismo de Bolsonaro resulta em mais de 243 mil mortos.

A extrema direita que comanda o país combina a retirada de direitos e a precarização do trabalho com uma verdadeira cruzada conservadora que tem como principal alvo as mulheres e os LGBTs. Porém os setores ditos "democráticos" como os governadores, liderados por Doria (PSDB), ou o Congresso, dirigido pelo Centrão e também o STF golpista, estiveram todos juntos para implementar reformas e MPs que garantem mais precarização e exploração. É no autoritarismo deste regime político degradado que se assenta o reacionarismo da extrema direita, em campanha permanente contra os direitos das mulheres, particularmente o direito ao aborto. Todos os atores deste regime golpista são responsáveis pela grave situação em que estamos. As demissões impostas pelas patronais também pesam ainda mais sobre as mulheres, que compõem uma importante parcela entre os mais de 14 milhões de desempregados do país. Com o fim do auxílio emergencial, milhões foram jogadas na miséria.

A violência doméstica, da qual o Estado capitalista e patriarcal é responsável, sempre registrou números escandalosos no Brasil. Com a pandemia e também com o peso da extrema direita machista estes números dispararam. No primeiro semestre do ano passado, em 12 estados os feminicídios aumentaram 22%. Também a LGBTfobia encontra terreno fértil no reacionarismo da extrema direita, mantendo o Brasil como o país que mais mata pessoas trans no mundo. Também foi durante a pandemia que o caso de Mari Ferrer foi julgado e seu estuprador foi inocentado, depois de uma sessão de humilhação que foi promovida por esse judiciário misógino que garante a impunidade para a violência de gênero. As ruas foram tomadas por Mari Ferrer em 2020 e seguimos a batalha por justiça.

Neste contexto, também a perseguição e violência política vêm aumentando, particularmente contra parlamentares negras e trans. No dia 14 de março completaremos 3 anos de luta por justiça para Marielle, e seguiremos batalhando até que se responda a pergunta de quem mandou matá-la, exigindo uma investigação independente, pois sabemos que o Estado é responsável. Repudiamos todas as ameaças sofridas por parlamentares do PSOL no último período e nos somamos ao grito de que não nos calarão.

Somente a força das mulheres, em primeiro lugar as trabalhadoras da saúde e dos serviços essenciais, unidas ao conjunto da classe trabalhadora e dos setores oprimidos, pode responder a toda essa crise e enfrentar todos os ataques que vêm sendo impostos. É por isso que neste 8 de março nós do Grupo de Mulheres Pão e Rosas nos inspiramos na força daquelas que estão na linha de frente para apontar um caminho que possa fazer com que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

As tarefas da esquerda e do movimento de mulheres na luta contra os ataques e o reacionarismo e negacionismo de Bolsonaro, e os atores do regime golpista:

O contexto de crise, aumento da miséria e retirada direitos também vem sendo marcado por novas disputas e embates entre os setores do regime político golpista. Essas disputas reafirmam a necessidade de combater não somente Bolsonaro, mas todas as instituições deste regime cada vez mais autoritário. A divisão entre os de cima pode abrir espaço também para a intervenção organizada dos explorados no cenário político, com as mulheres e negros à frente.

Contra essa perspectiva está a política das grandes organizações de massas como sindicatos e centrais sindicais. Enquanto o 8 de março sequer é pautado nas diversas categorias que são parte da CUT e da CTB, dirigidas pelo PT e pelo PCdoB, estes partidos seguem sua política de alianças parlamentares com a direita, como vimos na eleição da Câmara e do Senado. Ao longo de todo ano passado as centrais sindicais e sindicatos mantiveram uma quarentena absoluta, assistindo a retirada de direitos impostas por Bolsonaro, pelos patrões e pelos golpistas. Pior ainda, cumpriram o papel nefasto de negociar ataques e demissões, como no caso da Ford. Agora, nas reuniões para organização do 8 de março pelo país, defendem o impeachment como única resposta possível à atual situação, o que significa colocar o reacionário general Mourão no poder, pelas mãos do Congresso reacionário. Utilizam a pandemia como justificativa de sua paralisia e defendem que as mulheres não saiam às ruas no 8 de março para expressar sua indignação.

As organizações à esquerda do PT, como PSOL, com seus mandatos parlamentares e suas figuras, tampouco apresentam uma política alternativa. Deveriam colocar todas essas posições, assim como também sua influência sindical, a serviço de exigir das grandes centrais sindicais que rompam com essa paralisia e organizem desde as bases um grande 8 de março, com a força das mulheres trabalhadoras nas ruas. Também o PSTU, a partir da CSP-Conlutas, deveria se somar nesta exigência. Nós do Pão e Rosas convocamos a esquerda e todas as mulheres que se indignam com a situação que nos vem sendo imposta a construir fortes manifestações em todo o país neste 8 de março. Para isso serão necessárias todas as medidas de segurança sanitária, medidas que boa parte das mulheres trabalhadoras não tiveram acesso ao longo de toda a pandemia, pois a maioria foi obrigada a trabalhar e se expor inclusive não sendo parte dos serviços essenciais.

Ao invés disso, o PSOL se dilui na Frente Ampla com golpistas e burgueses e aposta na pressão institucional e parlamentar, colocando o impeachment como única via de enfrentar Bolsonaro. Além de ter como resultado a chegada de Mourão na presidência, essa política preserva todas as demais instituições autoritárias deste regime político golpista. Por isso é necessário desenvolver a organização da classe trabalhadora e do povo, com mulheres e negros na primeira linha deste combate, para impor através da nossa mobilização não só a derrubada de Bolsonaro, mas também de Mourão e de todo o regime, lutando por uma assembleia constituinte livre e soberana, que coloque nas mãos da maioria da população as principais decisões sobre os rumos do país.

Assim, o combate à cruzada conservadora encabeçada por Bolsonaro e Damares precisa ser parte de uma mesma luta pela revogação das reformas anti-operárias dos últimos anos, assim como da terceirização irrestrita e de todas as medidas que precarizam ainda mais o trabalho e aumentam a exploração. Lutamos por um plano de emergência contra a violência doméstica, pela legalização do aborto e por todos os direitos das mulheres e dos LGBTs.

Contra o negacionismo do governo e a demagogia de Doria, dos governadores, do STF e dos golpistas, estivemos junto às trabalhadoras e trabalhadores do Hospital Universitário da USP na paralisação que conseguiu garantir vacinação inclusive das terceirizadas e terceirizados, sendo um forte exemplo para a classe trabalhadora de todo o país. Sabemos que a vacinação para todos só pode ser garantida com a anulação das patentes e a mais ampla liberdade de pesquisa e desenvolvimento científico para que as universidades possam estar a serviço dessa demanda. É preciso enfrentar a indústria farmacêutica, que lucra com a doença e a morte da população, pois somente a sua estatização sob controle dos trabalhadores e pesquisadores pode garantir que o conhecimento científico seja um bem social e não privado.

São também as trabalhadoras da linha de frente que vêm sofrendo com os efeitos de anos de precarização e privatização do SUS e dos demais serviços públicos. É com nossa força organizada que podemos defender a saúde pública e lutar por um sistema de saúde 100% SUS sob controle dos trabalhadores, retirando a saúde da população das mãos das grandes empresas. Na educação é também uma maioria de mulheres trabalhadoras que estão sendo colocadas em risco com a reabertura irracional das escolas que os governos vêm impondo. Em SP, no estado e no município, a categoria de professores chegou a entrar em greve sanitária contra o retorno imposto por Doria. É preciso seguir batalhando pela organização das comunidades escolares, exigindo que sejam as próprias professoras, junto a funcionários, alunos, pais e profissionais da saúde, quem decida sobre os protocolos de retorno, exigindo que sejam garantidas todas as condições de segurança sanitária para não colocar mais vidas em risco.

Contra a miséria crescente da qual as mulheres e a população negra são as principais vítimas, lutamos pelo retorno do auxílio emergencial e para que seja no valor de R$2 mil. Para enfrentar o desemprego e as demissões é necessário estatizar todas as fábricas que fechem, como ocorre com a Ford, colocando-as para funcionar sob controle dos trabalhadores e reconvertendo sua capacidade produtiva para a garantia de insumos de combate à pandemia, garantindo que a barbárie que se passou em Manaus e em outras cidades, com a população morrendo sem oxigênio nos hospitais, não se repita.

O racismo estrutural do Brasil também vitimiza as mulheres negras, que são quem mais sofre os efeitos desta crise. É simbólico que a primeira vítima fatal do coronavírus tenha sido uma empregada doméstica de 63 anos que pegou a doença de seus patrões pois seguia sendo obrigada a trabalhar. Também o caso de Mirtes, que perdeu seu filho pois sua patroa não quis cuidar da criança durante sua ausência. O Estado capitalista e racista é responsável por essas e por outras mortes, como a de Beto, assassinado por um policial à paisana e por um segurança do Carrefour.

Toda a revolta gerada em cada novo caso de machismo e de racismo que toma as ruas ou as redes precisa ser organizada em aliança com o conjunto da classe trabalhadora. É esse o caminho para enfrentar a opressão e a exploração, assim como também para responder a todos os ataques impostos por Bolsonaro e os golpistas. É com a perspectiva de organizar nossa revolta que convocamos para o próximo dia 06 de março uma plenária aberta do grupo de mulheres Pão e Rosas. É também como parte de afiar nossas ferramentas teóricas que lançaremos neste mês de março o livro "Mulheres Negras e Marxismo".

Convocamos cada trabalhadora, cada jovem, cada LGBT a participarem dessas iniciativas e serem parte desses combates conosco. Por um 8 de março com a força das trabalhadoras da saúde, contra Bolsonaro, Mourão e os golpistas! Que os capitalistas paguem pela crise: anulação de todas as reformas! Contra Damares e a cruzada reacionária: legalização do aborto já!

 
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