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COLUNA
Direito à infância e barbárie capitalista: interesses inconciliáveis
Úrsula Noronha

Quem acompanhou o caso do menino negro de 11 anos que foi encontrado desnutrido, desidratado e acorrentado em um barril em Campinas pôde sentir pulsar o ódio mais profundo desse sistema miserável. É com esse ódio que batalharemos por um futuro de infância e vida plenas.

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“Dizem que a infância é a época mais feliz de uma vida. Sempre é assim? Não. São poucos os que têm uma infância feliz. Essa idealização da infância tem sua origem na literatura tradicional dos privilegiados.” (Leon Trotski, Minha Vida)

O menino tinha 11 anos, era obrigado a ficar de pé no local onde também fazia necessidades fisiológicas, seu banho era um balde de água fria com água sanitária e muitas vezes, quando não era alimentado com restos de comida, ele se via obrigado a comer suas próprias fezes. As suas mãos e pés eram mantidos acorrentados dentro de um barril de ferro em uma casa em Campinas, como foi divulgado pela mídia na última semana. Esse fato escancarou que diferente da ideia de relações de amor sincero, a família na nossa sociedade é uma instituição que pode nos aprisionar. Essa é a imagem mais fiel do que o capitalismo reserva às crianças, quando não tiram suas vidas pelas balas da polícia racista.

Na mesma semana, Ana Clara, de 5 anos, morreu com uma bala na cabeça na comunidade Monan Pequeno, em Pendotiba. Na viatura, ela olhou para a mãe e se despediu: “Tchau mãe, estou indo. Não vou aguentar”. A dor dilacerante que Cristiane deve ter sentido não dá para ser escrita.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2016, mesmo proibido, o trabalho infantil no Brasil atinge mais de 2 milhões de meninos e meninas entre 5 e 17 anos. Somente em 2019, das mais de 159 mil denúncias de violações a direitos humanos recebidas pelo Disque 100, cerca de 86 mil tinham como vítimas crianças e adolescentes.

São inúmeros os casos da barbárie cotidiana que arrancam das crianças seu direito à infância. Mas quem as trata como estatística é o Estado. Para nós elas têm histórias, famílias e um futuro pelo qual batalharemos para não ser tirado de mais ninguém.

A infância é um momento fundamental para o aprendizado da criança na constituição da sua subjetividade e identidade. É nesse momento que ocorre o amadurecimento dos seus processos cognitivos-afetivos, entendendo-se como sujeito ativo de um mundo em constante transformação. E é assim que devemos enxergá-las. Como sujeitos capazes, que desde pequenos estabelecem relações com outras pessoas, com o meio, com os objetos e com o próprio conhecimento, apropriando-se dele.

Como Freinet, educador francês, afirmou: "À criança, sobretudo, era preciso dar o direito de viver plenamente como criança, sob todos os aspectos. Era necessário respeitá-la para que pudesse desenvolver suas capacidades e sua personalidade, sem afastar-se de uma finalidade social e humana mais ampla".

A grande questão é que no capitalismo não existe o direito à vida plena. Portanto, também não existe o direito à infância: infelizmente, ele se torna uma mera idealização dos privilegiados.

Defender o direito à infância é defender o futuro de toda humanidade. Para isso precisamos ter a ambição e firmeza incansáveis de erguer nossas bandeiras contra Bolsonaro, os golpistas e todo esse sistema falido. Por um mundo no qual os velhos não tenham que enterrar seus jovens, para que no lugar das mortes, exista a vida plena, e ninguém tenha que viver com o trauma de ter sido acorrentado e torturado em um barril.

 
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