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COLUNISTA
Enfim, a hipocrisia
Vitória Camargo
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Diante do negacionismo grotesco de Bolsonaro, em São Paulo Doria e Rossieli, do alto de sua demagogia, estão impondo de maneira autoritária o retorno inseguro das escolas em meio ao pico pandêmico. É o futuro das nossas gerações que está em jogo, dizem, como se fossem os mais preocupados com a educação, após anos de ataques do tucanato; como se fossem mais preocupados do que os próprios professores que seguiram se desdobrando no ensino remoto, enquanto o estado permitia que nem metade dos alunos tivesse acesso às aulas online; como se estivessem mais comprometidos com um plano efetivo de funcionamento da escola do que os profissionais da organização escolar que seguiram trabalhando mesmo na pandemia; como se fossem eles os responsáveis pelos mais sérios protocolos de higiene e limpeza, depois de demitirem terceirizadas em meio à crise. Enfim, a hipocrisia.

Entretanto, enquanto se dizem preocupados com o futuro, é necessário questionar: para qual Ensino Médio Doria quer que a juventude retorne nas escolas, à revelia de qualquer decisão e condução da comunidade escolar? Para a escola, que, fruto da Reforma do Ensino Médio e da nova BNCC, é obrigada a “coletar sonhos” para desenvolver “projeto de vida”, aos moldes da idealização do Instituto Ayrton Senna e da Fundação Lemann (do mesmo Leman que não escondeu que viu na pandemia uma oportunidade de lucrar ainda mais com a educação).

Enquanto isso, a juventude foi dos setores mais atingidos pela crise sanitária, evadindo das escolas e universidades, e com 80% em trabalhos precários. Segundo levantamento do Conselho Nacional de Juventude, quatro a cada dez jovens perderam total ou parcialmente sua renda até Junho de 2020. De acordo com a PNAD, a renda de jovens de 15 a 19 anos caiu de R$ 139, 94 a menos de R$ 100 reais mensais. Na faixa de 20 a 24 anos, de R$ 643, 51 a R$ 476, 19. Em todas as faixas etárias da juventude trabalhadora, trata-se de uma perda maior do que a da média nacional. Ademais, 24% consideram não voltar à escola.

Por outro lado, segundo pesquisa do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) realizada com os recém-formados entre 2014 e 2018, quase metade (45%) dos graduados está desempregada e somente 25% conseguiu trabalho em sua área de formação.

Ou seja, ao mesmo tempo em que os dados acima descritos levam à juventude a aceitar as jornadas intermitentes, a uberização do trabalho, com a bag nas costas, os salários de fome e a maior dependência da família (ou mesmo bancando a família com tão pouco), tudo aprofundado pela crise sanitária e econômica que vivemos, os professores devem seguir trabalhando “competências” como “aspiração, priorização, planejamento, organização e tomada de decisão no nível pessoal, acadêmico e social” para que essa juventude alcance seus “sonhos” em disciplinas de “Projeto de Vida”.

Vejam: o Ensino Médio da Reforma trata de sonhos da mesma forma que as empresas tratam de metas, isto é, do seu esforço depende seu sucesso ou fracasso, o quão bem-sucedido você é, embora muitas vezes sejam metas impossíveis. Isso, nada mais é, do que educar a juventude para justificar e assumir responsabilidade individualmente por seu provável fracasso no mundo trabalho (como mostram as estatísticas de desemprego e precarização), em acordo com a ideologia e lógica “empreendedora” que quer justificar que a classe trabalhadora e seus filhos paguem pela crise. Não à toa, fazem isso em resposta ao distante Junho de 2013, às ocupações de escola e ao potencial explosivo, por ora adormecido, do movimento estudantil, que mostrou que a juventude pode, sim, ser caixa de ressonância e que suas aspirações são muitas.

Então não, seja quando expõe professores, pais, estudantes, funcionários das escolas à Covid de maneira insegura e autoritária, seja quando avança com as reformas, Doria não está preocupado com o futuro das próximas gerações.Doria não somente foi entusiasta e implementador de inúmeras reformas que visam à reestruturação do mundo do trabalho que, em parte desemprega e em parte superexplora a juventude como, ainda hoje, pedia por mais em editorial do Estadão, como bom empresário que é.

O óbvio: com Bolsonaro e demais golpistas, estão destruindo nosso futuro, e cabe a nós fazer dos sonhos mais do que marketing fajuto, apostando em um sujeito coletivo e social, que é a classe trabalhadora.

 
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