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FOME
Relato do retorno da fome no Brasil: “dava para ver todos os ossos do corpo do bebê”
Redação

Casos graves de subnutrição, que eram mais comuns como legado da ditadura nos anos 1980, voltam a assombrar. Relatos vem de áreas atendidas pela Pastoral da Criança.

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Imagem: BBC

Casos graves de subnutrição, que eram mais comuns como legado da ditadura nos anos 1980, voltam a assombrar. Relatos vem de áreas atendidas pela Pastoral da Criança. Maria José da Pastoral da Criança conta que se assustou com a cena da desnutrição em sua frente:

"O que me impactou, ao abrir aquela rede, foi ver ele gemendo, com o olhar parado, sem nenhuma lágrima", relembra ela. "E a gente podia contar todos os ossos do corpo dele. Não tive reação."

A cena se deu em maio de 2019, na zona rural de Rio Branco, capital do Acre, onde ela é coordenadora estadual da Pastoral da Criança. Desde então, durante o governo Bolsonaro vê um empobrecimento ainda maior: "Temos famílias aqui que não têm nenhum salário, que me ligam à noite dizendo que não comeram nada o dia inteiro. Famílias em que o pai volta do dia de trabalho sem dinheiro para alimentar todos os filhos. Na pandemia, recebemos muitos pedidos de ajuda, de gente passando fome e vivendo do mínimo, sem casa para morar. Quem era pobre ficou miserável. A situação está se agravando, e muitos se perguntam: ’como vai ser quando acabar o auxílio emergencial?”

O médico Nelson Arns Neumann, coordenador da Pastoral da Criança, deu relato parecido a BBC:

"Já no ano passado, mesmo antes da pandemia, a gente vem percebendo que o pessoal (equipes nas esferas estaduais) está voltando a relatar casos graves de subnutridos". (...) "No começo da Pastoral era muito frequente ver crianças de apenas pele e osso, e depois a gente não tinha mais visto isso. Tanto que esses casos (novos) escalaram rápido para a coordenação nacional, porque as equipes tinham perdido a habilidade de lidar com eles."

Segundo o UOL, embora o caso do menino Lucas (nome fictício) relatado acima, longe de ser a situação nutricional geral, especialistas salientam que reflete-se uma piora no nível de vida dos mais pobres. Maria José concorda: "Esse foi um caso de uma família muito desestruturada, mas, no contexto de pobreza, não acho que seja um caso isolado", disse ela à BBC.

"Desde a fome holandesa (episódio de 1944, durante a Segunda Guerra), vimos que, quando vivida na gestação, a fome tem efeitos para o resto da vida: os holandeses que nasceram naquela época viviam 10% a menos, tinham mais esquizofrenia e doenças metabólicas", afirmou Arns Neumann. "No Brasil, a criança que nasceu com baixo peso tem o dobro de chance de ser diabética e ter pressão alta, (justamente comorbidades associadas a) quem morre mais de covid-19. As crianças de 40 anos atrás (que tiveram má alimentação) estão morrendo mais por covid hoje", concluiu.

Maria Paula de Albuquerque, gerente médica do Centro de Recuperação Educação Nutricional (Cren) falou ao UOL: "Tem havido um consumo de mais alimentos processados (como salgadinhos e doces), porque muitas mães têm dificuldade em cozinhar", afirma a médica. Esses alimentos, além de serem pobres em nutrientes, têm sal, açúcar e gordura em excesso. "As nossas crianças com excesso de peso pioraram muito." E essa nem é a questão mais urgente, diz Albuquerque. "Embora não tenhamos os dados estatísticos, percebemos claramente duas coisas durante a pandemia: 1) as famílias estão bem mais desorganizadas quanto à oferta, frequência e quantidade de alimentos em casa. 2) Todos estão com a saúde mental muito prejudicada, principalmente as mães e os adolescentes”

Segundo levantamento do UOL: “Metade das crianças com menos de cinco anos (6,5 milhões) do Brasil vivia em lares com algum grau de segurança alimentar, segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar 2017-2018, divulgada no último mês de setembro pelo IBGE. No total, 10,3 milhões de brasileiros moram em casas onde houve privação severa de alimentos em pelo menos alguns momentos de 2017 e 2018. Em julho, o Unicef (braço da ONU para infância) e o Ibope perguntaram a 1,5 mil famílias sobre como seus hábitos alimentares haviam mudado na pandemia. E a resposta é que um em cada cinco brasileiros com 18 anos ou mais passou por algum momento em que não tinha dinheiro para comida quando os alimentos da casa acabaram.”

Esses relatos do retorno da fome extrema do Brasil são fruto de um sistema capitalista que reserva a miséria para os trabalhadores. Para os setores mais precários da classe, comer se torna uma exceção. Os governos do PT contribuíram para isso ao não realizar uma saída sustentada de massas da miséria, depois o golpe e agora Bolsonaro, aprofundam a fome no país. Uma situação revoltante para um país que tem fartura na produção de comida, mas que serve ao lucro e não a vida. É preciso lutar pela reversão de todas as reformas para que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

 
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