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ELEIÇÕES BOLÍVIA
Bolívia: Arce arrasa nas principais regiões e seu triunfo é reconhecido pelos golpistas
Redação La Izquierda Diario - Bolívia

Ainda que os resultados não sejam oficiais, os dados contundentes de boca de urna mostram que o candidato do MAS arrasou em várias regiões e obteve porcentagens acima dos 30% onde perdeu. Desde a presidenta de fato Jeanine Añez até o arquiteto do golpe Luis Almagro felicitaram a Arce.

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Desde a presidenta de fato Jeanine Añez, até o arquiteto do golpe na secretaria geral da OEA, Luis Almagro, felicitaram ao candidato do MAS, Luis Arce, nesta segunda-feira.

Ainda que não haja dados oficiais (estão previstos para terça ou quarta-feira), os resultados das empresas que fizeram boca de urna e que ontem os meios atrasaram em quatro horas são contundentes. O binômio Arce-Choquehuanca do MAS ganha em primeiro turno por 52,4% de votos arrasando em várias das regiões onde o MAS já tinha maioria e tendo resultados acima de 30% naquelas onde o bloco de direita e o golpismo se mostra hegemônico.

Como se vê na contagem rápida da empresa CiesMori, que fez boca de urna para a TV Unitel, Arce ganha em La Paz, Cochabamba, Oruro, Pando e Potosí. Em La Paz, Oruro e Cochabamba ganha por mais de 60% dos votos, enquanto que em Pando o faz com mais de 45%.

Mesa por sua vez ganha em Tarija e Chuquisaca com mais de 50% e em Beni apenas mais de 40%. O candidato da ultradireita cívica Luis Fernando Camacho ganha só em seu feudo Santa Cruz por 45%. Mas inclusive ali, Arce tem acima de 35% dos votos.

A primeira a reconhecer o triunfo ainda quando os dados oficiais não chegavam sequer aos 10% foi a própria presidente de fato Jeanine Añez, e o fez assim que passou da meia noite.

Esta manhã, foi o turno de Luis Almagro, o rançoso secretário geral da OEA, que foi um dos artífices do golpe ao liderar uma auditoria contra as eleições de 2019, que se comprovou absolutamente fraudulenta, o que deu legitimidade ao golpe cívico, militar, policial e clerical, que perpetrou os massacres de Sacaba e Senkata contra os milhares que se manifestaram e que resistiram ao golpe.

O reconhecimento de Almagro é a imagem viva do cinismo mas também da derrota estrondosa de um golpe que foi negociado com a direita racista boliviana nos salões do Itamarati no Brasil pelas mãos de Bolsonaro, e com a bênção dos Estados Unidos.

A derrota eleitoral dos golpistas em menos de um ano são um duro golpe para a direita local, Bolsonaro, a “diplomacia” estadunidense e o bloco da direita regional encabeçado pelo grupo de Lima, Por sua vez também é uma chamada de atenção para a crescente gravitação que tem os militares sobre os governos de muitos países da região, produto das cada vez mais profundas e recorrentes crises de regimes políticos.

O principal candidato opositor ao MAS, Carlos Mesa, só emitiu um comunicado que não reconhece o triunfo de Arce, mas admite sua própria derrota.

Quem sim falou cedo pela manhã foi a burguesia concentrada de Santa Cruz mediante seu jornal, o El Deber, cujo editorial reflete a derrota do plano golpista da direita e o triunfo de Arce, que busca aproximar-se para sintonizar com um novo governo que espera seja dialoguista, e que Arce a princípio não decepcionou.

Em seu editorial, chamado “Uma clara e acachapante vitória”, declaram que “muito se terá que analisar depois deste dia histórico, entre outras coisas, o papel e a decisão dos partidos oponentes ao MAS de concorrer as eleições em forma fragmentada, mas por hoje a notícia é o fenômeno de que o país da região falará bastante: o retorno do MAS ao poder por via das urnas e por uma porcentagem superior aos 50 por cento”. A mensagem foi dirigida em parte a direita, e em particular a Camacho que não retirou sua candidatura em favor de Mesa (como fizeram Arce e Tuto Quiroga), ainda que como mostram os números nem a soma de Camacho com Mesa poderiam superar Arce.

Por outro lado busca dialogar com Arce, que também teve uma primeira conferência de imprensa conciliadora onde sinalizou que “governará para todos os bolivianos e que construirá um governo de unidade nacional”. Por mais que El Deber se incomoda que Arce insinue que o que todos apoiaram durante estes meses (e inclusive o próprio MAS colaborou em sustentar e legitimar) foi um golpe de Estado, reivindica essa faceta dialoguista do candidato do MAS, porque “não era a de Evo Morales”.

Esse flerte expressa um fenômeno objetivo, que é o fato de que Arce arrasou de maneira tão inesperada porque o fracasso absoluto em todas as áreas de parte dos golpistas (a gestão da pandemia, a economia, a repressão militarizada, etc.) impulsionou a um setor da classe média das cidades que a princípio apoiaram ao candidato do MAS para terminar com o decadente ciclo golpista.

Também o fizeram milhões de trabalhadores e camponeses, que acumularam muitas expectativas de que um governo de Arce possa melhorar sua situação econômica e social. Com essa ilusão proveniente de vários setores deverá lidar Luis Arce, e também com o peso que Evo Morales mantém em sua base camponesa e indígena que, diferente da deriva abertamente neoliberal e a perseguição ao correísmo de Lenin Moreno no Equador, põe um limite que vai gerar tensões permanentes.

É que Luis Arce não é Evo Morales, nem poderá sê-lo. Era um candidato eleito especialmente para garantir um perfil conciliador contra a polarização (e deixou isso claro em seu primeiro discurso de “unidade nacional”), e agora será um presidente governando em meio à crise econômica e social, muito longe da bonança do passado. A ilusão da volta desse antigo ministro da Economia de Evo, que teve sob sua tutela o “milagre” econômico da década que foi de 2006 a 2017, tem data de vencimento. As ilusões sociais e a tensão com todos estes atores, no marco da crise atual, serão elementos de instabilidade, ao que há que somar a experiência de um setor amplo, incluindo a base massista, que resistiu ao golpe durante o último ano, inclusive quando isso significou a morte ou a perseguição e ainda quando a fazia contra a própria direção do MAS que negociou tanto a legalidade de Añez, como o adiamento das eleições boicotando a greve geral em curso e as mobilizações que pediam a queda dos golpistas.

 
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