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ATENTADOS NA FRANÇA
Hollande segue os passos de Bush
Juan Chingo
Paris | @JuanChingoFT

Diferentemente dos atentados de janeiro e da marcha de massas que se seguiu, que haviam dado oxigênio a Hollande e ao regime republicano, a onda sangrenta atual obriga Hollande a girar abertamente à direita e golpear forte, tanto a nível internacional como interno, como meio de preservar uma frágil unidade nacional.

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Apesar das diferenças com Hollande , o ex-presidente Sarkozy se prestou à unidade nacional reacionária, como havia feito em janeiro, mas não o fez gratuitamente. A verdade é que se encontra sob pressão da extrema-direita da Frente Nacional (FN), que a três semanas do primeiro turno das eleições regionais, desenvolve bem sua partitura. No sábado a tarde Marine Le Pen disse na sede de seu partido que “a França e os franceses não estão mais seguros,” exigindo “medidas de urgência” para “aniquilar o fundamentalismo islâmico”. Ao mesmo tempo, a líder da Frente Nacional reiterou seu discurso sobre o “regresso das fronteiras” e o “rearmamento do país”. Neste domingo, em sua entrevista de 50 minutos com Hollande no Eliseu (sede da presidência francesa) Marine Le Pen detalhou suas posições: expulsão dos imãs radicais, fechamento de algumas mesquitas, privação da nacionalidade para os terroristas binacionais, saída do acordo de Schengen e a restauração das fronteiras. Também falou da preocupação da Frente Nacional pela “infiltração terrorista através dos imigrantes”.

Nesse marco, Nicolás Sarkozy e os republicanos, ainda que participem do jogo da unidade nacional, não se privam de colocar suas críticas. Desde a madrugada do sábado reclamou uma “inflexão importante” em termos de segurança interna e da política externa. O ex-chefe de Estado repreendeu o atual presidente por não ter-se dado conta da “extrema gravidade da situação”. A nível interno, “o princípio de precaução deve aplicar-se”, assegurou o ex-chefe de Estado. “Há que se tirar as conseqüências das falhas e adaptar nossos dispositivos (...) Hoje em dia, os franceses não se sentem seguros, pelo que devemos trazer as mudanças que lhes permitam estar seguros”, acrescentou. Nicolás Sarkozy mencionou a proibição da consulta dos sites jihadistas, ao qual o governo de Hollande se negou até agora. Em termos de política externa, Sarkozy, que se reuniu há alguns dias com Vladimir Putin em Moscou, chamou uma “coalizão única” contra o Estado Islâmico. “Necessitamos de todo o mundo para extemrinar o Daesh [acrônimo do Estado Islâmico], em particular dos russos”, sublinhou. A nível europeu, Nicolás Sarkozy pediu uma “nova política de imigração”, pondo ênfase no reforço dos controles à entrada de migrantes.

Intensificação dos bombardeios na Síria e novas medidas “de segurança”: o curso neocon de Hollande

É nesse contexto que o Executivo francês se encaminha a um curso bonapartista forte. O ambiente no Eliseu e no Partido Socialista é abertamente militarista: “Devemos tomar medidas de guerra total. Devemos atacar o Daesh, de forma rápida, para reduzi-lo e vencê-lo”, diz uma personalidade socialista de alto escalão. “Os bombardeios não são suficientes, Temos de ir à guerra em solo para erradicar as más raízes. Em um momento dado, colocar herbicida não serve muito, temos que ir com a pá. Devemos fazer a guerra, ir ao solo, com tudo o que isso implica: tomar prisioneiros, destruir os lares”. Por ora, Matignon (sede do primeiro ministro) não decidiu ir tão longe, mas para acalmar as “feras” intensificou desde o domingo os bombardeios massivos sobre o Daesh em seu reduto na cidade síria de Raqqa.

Este endurecimento da política externa e a demonstração de que estamos em guerra servem para justificar novas medidas de segurança, incluindo a prorrogação de três meses do estado de emergência. Por sua vez, falando de um “ato de guerra” cometido por um “exército terrorista” que organiza desde a Síria operações na França, com apoio logístico na Europa e na França, e que “quer atacar todos os franceses, o que somos e o que estamos fazendo lutando contra o terrorismo e por nossa política externa,” Hollande retoma não só as medidas mas também o discurso de Bush e sua “guerra contra o terrorismo” frente aos atentados em solo norteamericano do 11/9/2001, que instituiu a fórmula de “inimigos combatentes ilegais” para justificar as medidas excepcionais da administração estadunidense.

Neste marco, o Eliseu deseja modificar a lei de 1955 sobre o estado de emergência, especialmente em relação com o “perímetro” e a “duração”, atualmente limitado a 12 dias sem votação do Parlamento. Por sua vez, a continuidade da intervenção na Síria se apresentará ao Parlamento: a Assembléia Nacional debaterá e votará no próximo 25 de novembro.

“Segurança total”: até onde?

Já está em preparação um novo giro no parafuso sobre a “lei de inteligência”, abertamente liberticida votada nos últimos meses. Os lobbies ligados a serviços de inteligência querem voltar a debater a regulamentação dos meios de escuta e espionagem que se concederam unicamente aos serviços da Direção Geral de Segurança Interna (DGSI), e estendê-los à polícia.

Outros começam a advogar a ampliação das medidas de segurança privada, citando o rigor e a austeridade orçamentária. Assim, o pessoal de segurança da SNCF (empresa ferroviária) e da RATP (transporte de ônibus e de metrô da região parisiense) que se encontra já armado, prontamente poderia estar autorizado a detectar o equipamento e as pessoas, ao mesmo tempo que propõem recrutar forças de segurança privadas armadas para garantir a segurança de certos locais no lugar da polícia. A idéia, já defendida por alguns sindicatos policiais, parece estar já em consideração por parte do Executivo.

Este curso “bushista” sem os meios e o poderio de uma superpotência como os EUA não somente se vão chocar com obstáculos e resistências maiores mas ao mesmo tempo pode ser mais perigosos e ter conseqüências mais onerosas para os trabalhadores e o povo da França que a política “neocon” nos EUA. É mais imperioso que nunca que as organizações operárias e populares detenhamos esta deriva autoritária.

Tradução: André Augusto

 
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