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ELEIÇÕES 2020
Honrando seu histórico, PCB se alia com burgueses e golpistas em capitais
Vitória Camargo
Gabriel Girão

Em capitais como Belém e Manaus, o PCB, junto ao PSOL, caminha para selar alianças com partidos burgueses como a Rede da golpista Marina Silva e o PDT de Ciro Gomes e Tábata Amaral nessas eleições municipais, revelando mais uma vez seu DNA de conciliação de classes.

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Estamos diante das primeiras eleições no governo Bolsonaro, após quase dois anos de um governo da extrema direita, viabilizado pelo golpismo e pela sanha por ataques ainda mais duros contra a classe trabalhadora. São eleições municipais perpassadas mais do que nunca pela política nacional, nas quais distintos atores se preparam para 2022 e debatem sua localização diante de Bolsonaro.

Ao mesmo tempo, a via meramente institucional, que busca se apoiar nesse regime político do golpe para um suposto combate à extrema direita, revela enfaticamente sua impotência. Ao contrário do que se poderia esperar, pelo nível de crise e sofrimento imposto às massas na pandemia, o cenário atual é de maior aprovação de Bolsonaro sustentada na cúpula militar, em alianças com o Centrão e no apoio das camadas precárias por meio do auxílio emergencial. Assim, setores que apareciam no campo da oposição burguesa a Bolsonaro, como o STF, o Congresso e governadores, agora engendram um pacto, ainda que temporário, com o governo, para aprofundar os ajustes, as privatizações e reformas contra o povo trabalhador.

Enquanto isso, a saída apresentada por partidos da esquerda em várias cidades importantes do país tem sido alimentar a ilusão de que é com alianças eleitorais com partidos golpistas que são parte desse regime podre, como Rede e PSB, e de conciliadores como o PT e PcdoB, que enfrentarão a extrema direita e seus ataques.

Assim, o PSOL vem encabeçando, em cidades como Belém, Manaus, Florianópolis, Santo André e outras, uma política de coligações com os partidos mencionado acima. No entanto, em várias dessas cidades não o fazem sozinho: PCB também é parte dessa política de conciliação.

Diante do projeto do PT, que pavimentou o caminho para a direita, e de uma esquerda marcadamente institucional, o velho "partidão" busca se reabilitar construindo nas aparências uma "aura vermelha" comunista. Entretanto, nessas coligações o PCB escancara que sua política real, tratada muitas vezes em termos abstratos, quase escondidos, em suas páginas e publicações, está na contramão de qualquer combate à extrema direita e ainda mais do marxismo. No conteúdo, repete a fórmula stalinista de conciliação.

Belém e Manaus: casos emblemáticos

Em suas redes sociais, o youtuber Jones Manoel, do PCB, tratando daquela que apoiou o golpe de 2016 e comemorou a prisão arbitrária de Lula, define que Marina Silva "é de direita" e cita também sua parceria com o Banco Itaú. Já sobre a entusiasta da Reforma da Previdência, Tábata Amaral, Jones Manoel afirma que ela defende uma posição "liberal, pró-imperialista e golpista". No entanto, Jones não explica por que seu próprio partido está fazendo alianças com a Rede de Marina Silva e com o PDT de Tábata Amaral em capitais como Belém e Manaus.

Em Belém, o PCB apoiará a chapa composta pelo PSOL, PT, PCdoB e também com a Rede e o PDT, além da UP. Por meio dessa coligação, que o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, afirma que tem como objetivo eleger Edmilson Rodrigues já no primeiro turno, o pré-candidato à prefeitura do PSOL busca sinalizar por "governabilidade" desde já e declarou querer "escutar todos os segmentos da sociedade, sem distinção", dando destaque aos empresários e ao "empresariado". Ou seja, o PCB é parte de uma aliança que se prepara para administrar uma cidade junto a partidos que atacam os trabalhadores em vários lugares do país, sinalizando aos empresários, no país do Bolsonaro.

Além disso, Manaus é outro exemplo claro. Foi confirmada coligação entre PT, PSOL, Rede e o PCB, e a chapa vai ser encabeçada por José Ricardo, deputado federal do PT. Para justificar, dizem que o petista tem "integridade de valores demonstrada pela longa vida pública, sempre lutando a favor dos interesses dos trabalhadores do Amazonas", enquanto, por exemplo, ele é parte dos deputados que acabaram de votar a favor do perdão da dívida das Igrejas. Não bastasse isso, nesse que é um dos estados mais afetados pela pandemia, a Rede foi base de apoio do governador Wilson Lima, do PSC, que foi por sua vez aliado de Bolsonaro, rompendo com Lima somente em Julho deste ano. É com aliados do bolsonarismo que se combate a extrema direita?

Ainda em Florianópolis, vale ressaltar que o PCB está dando apoio crítico a chapa encabeçada por Elson Pereira, do PSOL, que está em aliança com PT, PCdoB, PDT, PSB, REDE e UP!

Pode te interessar: De Macapá a Belém: um debate com a política do PSOL

Uma frente ampla com liberais e conciliadores?

Já em um recente artigo em 27 de Agosto, Milton Pinheiro, membro do Comitê Central do PCB, chega a defender como conclusão que, na atual conjuntura em que identifica um "recuo tático" de Bolsonaro em seu intento golpista, deve-se buscar a "construção da frente única da esquerda socialista em articulação estratégica com o bloco proletário para operar na luta contra a destruição do Estado e as contrarreformas administrativas" e, ao mesmo tempo, "agir e somar-se, com vigor popular, na organização da frente ampla (liberais, sociais-democratas, desamparados do bloco no poder, militares descontentes, etc.) na frente ampla para construir a queda de Bolsonaro-Mourão e Paulo Guedes".

Buscando confundir a realidade de sua política com fraseologia sobre esquerda socialista, o que Pinheiro defende, na prática, é se aliar com qualquer oposição burguesa “descontente” com Bolsonaro. Mesmo que essa oposição tenha apoiado inúmeros ataques à classe trabalhadora, como o golpe institucional de 2016 e a Reforma da Previdência, além de ter feito parte de governos de extrema direita. Cabe dizer que essa oposição burguesa na verdade não quer nem mesmo retirar Bolsonaro, como Cid Gomes do PDT declarou abertamente. Portanto, longe de fortalecer qualquer luta contra Bolsonaro, essas frente amplas significam submeter a luta da classe trabalhadora e dos setores populares a esses setores burgueses, que na verdade buscam mais se reabilitar eleitoralmente pra disputar seu espacinho nesse regime carcomido do que fazer qualquer oposição de fato ao governo.

Além disso, o que neste momento Pinheiro chama de "recuo tático" de Bolsonaro é na realidade um pacto no regime, mesmo que temporário, com o objetivo de garantir a estabilidade para passar os ataques. Nesse sentido, não é possível ser consequente contra a extrema direita sem enfrentar, além de Bolsonaro, esse regime golpista de conjunto. Sugere inclusive que nos aliemos a supostos "militares descontentes" com Bolsonaro. A esmagadora maioria desses militares a que se refere o PCB foram pilares do golpe institucional, como Santos Cruz, Framklimberg de Freitas e outros.

Essa afinidade com o aparato repressivo do Estado diz muito sobre a estratégia desse partido. Fazendo jus à sua longa tradição nacionalista, opróprio Jones afirma que deveríamos "conquistar aliados" na polícia racista e assassina, mesmo em meio à rebelião histórica do povo negro dos EUA contra a polícia, que lá como aqui no Brasil é responsável pelo extermínio sistemático da juventude negra. Uma vergonha.

Ver também: As eleições em meio ao governo Bolsonaro e as tarefas da esquerda

Uma história de conciliação

Apesar de ser um partido que passou grande parte de sua história na ilegalidade, sem participar de eleições, a política de conciliação de classes e alianças com setores burgueses são uma marca praticamente constante do PCB. Essa política tem origem na tese stalinista de revolução por etapas, segundo a qual em países atrasados como o Brasil seria necessária uma aliança com a burguesia “progressista” para desenvolver o capitalismo. Essa política levou o PCB a estar a reboque de governos como Vargas, JK e Jango e a não preparar nenhuma resistência ao golpe de 64, chamando os trabalhadores a confiar que o golpe seria barrado por setores “progressistas” da burguesia.

Depois de 64, essa política se aprofunda, com o PCB apoiando diretamente o MDB e tendo como política sindical apoiar os interventores da ditadura nos sindicatos, como Joaquinzão. Mesmo com a redemocratização, essa política segue. Em 1986, é marcante o PCB ter sido parte da Aliança Popular e Democrática, com 12 partidos que incluíam o PFL, herdeiro da Arena, para a eleição de Moreira Franco como governador do RJ. Franco, que dizia estar certo de que seu programa contaria com o apoio do então presidente Sarney, derrotou inclusive o pedetista Darcy Ribeiro contando com a ajuda do PCB, que compôs o governo mesmo após ele ter reprimido greves. Também vale lembrar que até 2005 o PCB esteve no governo de Lula.

Com quase 100 anos de atraso, o PCB afirma em seus últimos congressos ter “revisto” essa posição etapista de aliança com a burguesia. No entanto, suas posições recentes mostram o contrário. Esse é o DNA reformista, da frente popular stalinista, que perpassa a história dessa tradição, que foi coveira de revoluções no mundo todo, antes e depois de 1964. Seu "ecletismo" teórico, entendido por alguns como uma qualidade de um partido amplo em posições, serve na realidade para pintar essa tradição à esquerda, encobrindo todo tipo de política conciliatória a partir da linha da direção do partido.

Mais do que nunca, a unidade da qual precisamos, em um momento em que os de cima tentam aprofundar a divisão da classe trabalhadora, já fragmentada, é dos de baixo, dos trabalhadores, das mulheres, dos negros e LGBTs contra a extrema direita e seus ataques, na luta de classes, superando também a política das burocracias. Não se trata de misturar bandeiras programáticas com inimigos burgueses e conciliadores, ainda mais em eleições, que deveriam servir para preparar os trabalhadores para as batalhas da nossa classe que estão por vir contra a extrema direita.

Na crise histórica em que estamos imersos, com Bolsonaro recuperando sua popularidade a partir de bases economicamente frágeis, como o auxílio emergencial, a esquerda deveria lutar de forma intransigente pela independência política da classe trabalhadora e pela superação da estratégia de conciliação de classes do PT, varrendo a tradição que Jones Manoel e o PCB querem ressuscitar para servir como "médico de cabeceira" da podridão burguesa. O que vemos mais uma vez é o PCB, honrando sua estratégia de frente popular, e, assim como o PSOL, no caminho oposto das tarefas da esquerda hoje.

 
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