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EDITORIAL
As eleições em meio ao governo Bolsonaro e as tarefas da esquerda
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

As primeiras eleições no governo Bolsonaro que ocorrerão em novembro, apesar de serem eleições municipais, serão mais nacionais do que nunca. O MRT estará com candidaturas em algumas cidades do país buscando alertar o conjunto dos trabalhadores e da juventude que nossa estratégia deve ser a de organizar a nossa luta para enfrentar o conjunto do regime herdeiro do golpe institucional e para que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

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Estamos em uma conjuntura eleitoral, a primeira eleição no governo Bolsonaro, e apesar de serem eleições municipais, serão mais nacionais do que nunca e marcadas pela pandemia, pela crise econômica e política pela qual passa o país. O MRT estará com candidaturas em algumas cidades do país buscando alertar o conjunto dos trabalhadores e da juventude que nossa estratégia não deve ser a de conquistar cargos para administrar por dentro desse sistema, e sim organizar a nossa luta para enfrentar o conjunto do regime herdeiro do golpe institucional e para que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

Já sabemos que os mais atingidos pela crise sanitária pela qual passamos são os trabalhadores, especialmente os negros. Por isso é emblemático que no nosso país a primeira vítima da covid-19 tenha sido uma empregada doméstica: negra, mulher, explorada. Um símbolo da opressão e da exploração que vivemos no Brasil. No entanto, a pandemia também mostrou que a classe trabalhadora é essencial para fazer a sociedade funcionar. Deixou evidente que não são os patrões que movem o mundo, são os trabalhadores dos transportes, os entregadores, as operárias nas fábricas, os trabalhadores que produzem os alimentos, as trabalhadoras da saúde que estão na linha de frente colocando os seus corpos em risco para salvar vidas.

E em meio a essa crise sanitária, os diferentes atores do regime como Bolsonaro, Mourão e os militares, mas também todos que se dizem oposição ao governo e querem se colocar como “mais sensatos” como o STF, todo o poder judiciário, Rodrigo Maia com o Congresso Nacional e diversos governadores pelo país, por ora deixam de lado suas diferenças, para conformar um pacto e descarregar a crise econômica nas costas da classe trabalhadora. Se por um lado denunciamos fortemente este governo de extrema-direita é um erro muito importante fechar os olhos para o peso que o STF e o poder judiciário veio adquirindo na política brasileira e também de todos os partidos fisiológicos no Congresso Nacional, e também os militares. Todos eles atuam para se impor contra a vontade popular, atacando nossos direitos em patamares históricos. Eles, junto aos capitalistas, latifundiários e grileiros também são responsáveis pelas queimadas e pela destruição da Amazônia, do Pantanal e dos recursos naturais do país. Estamos vivendo um regime político extremamente anti-democrático, que está a serviço dos grandes grupos econômicos, do capital financeiro e completamente subordinado ao imperialismo. Todos esses foram parte do golpe institucional e da prisão arbitrária de Lula e assim retiraram das massas até mesmo o direito elementar de decidirem em quem queriam votar para governar o país, e permitiram justamente a ascensão de Bolsonaro.

Agora, Bolsonaro, os golpistas e capitalistas levaram a frente leis para facilitar demissões, suspensões de contrato e retirada de direitos para manter o lucro dos empresários e banqueiros. A estratégia é dividir os trabalhadores entre privilegiados e precarizados, para nos atacar de conjunto e avançar na precarização do trabalho. Com esse objetivo, estão realizando uma operação política e midiática para colocar em pauta a reforma administrativa. A proposta apresentada pelo governo deixa intactas as regalias dos verdadeiros privilegiados: o congresso, os militares e o judiciário. Enquanto propõe atacar o direito dos servidores públicos como trabalhadores da educação e da saúde. Além das retiradas de direitos, a alta dos preços de alimentos básicos como o arroz, o feijão, o óleo de soja, entre outros, vêm fazendo com que a classe trabalhadora e a população pobre paguem com a sua fome o lucro do agronegócio, que ganha mais exportando os alimentos do que vendendo internamente.

É em meio a esse cenário de precarização da vida dos trabalhadores e pressões dos empresários nacionais e internacionais que Bolsonaro expõe toda sua demagogia de que não iria tirar dos pobres para dar aos paupérrimos. Nas últimas semanas o governo federal anunciou que vai cortar o auxílio emergencial de 600 para 300 reais e que o projeto de Renda Brasil fica suspenso para os próximos anos. Nós estamos lado a lado aos mais de 65 milhões de trabalhadores que necessitam do auxílio emergencial e que vão sofrer com a sua diminuição. A redução pela metade desta renda nos mostra que precisamos enfrentar a desigualdade pela raiz e que Bolsonaro sacrifica tudo para manter o “bolsa banqueiro” com o pagamento da dívida pública ilegal, ilegítima e fraudulenta.

Isso porque a maioria da classe trabalhadora não tem quarentena, não tem teste massivo para a população, nem sequer para os trabalhadores que estão na linha de frente, não teve leitos, não teve contratação, não teve afastamento do grupo de risco. Ou seja, os governos foram incapazes de realizar medidas mínimas para enfrentar essa situação. Frente a alta dos alimentos nos dizem que nada pode ser feito, ironizam dizendo para trocar arroz por macarrão e para aguardar o ajuste passageiro do mercado, quando o mínimo a ser realizado seria congelar o preço dos alimentos ao valor anterior da pandemia e distribuir os estoques para enfrentar a situação de fome nesse momento.

É por tudo isso que fica evidente que estas não são eleições normais e que a luta da classe trabalhadora, dos oprimidos e explorados, vai para além das eleições, porque os mais mínimos direitos não serão alcançados sem a mobilização e luta. É necessário nos preparar para o que vem depois do período eleitoral, independente do seu resultado.

É necessário construir uma alternativa que supere pela esquerda o PT

É evidente que a unidade é fundamental para enfrentar todos estes ataques. Mas a unidade necessária é a da classe trabalhadora. Não é possível combater todos ataques com os diferentes setores que apoiaram o golpe institucional, a aprovação da reforma da previdência e seguem apoiando a retirada de direitos nos distintos estados. Isto porque não é um parlamentar, um vereador, um deputado eleito ou a junção de meia dúzia de parlamentares que vai mudar a situação que está colocada. Não é fazendo uma “frente ampla” com supostos “democratas” que aprovaram e apoiam as reformas e ataques que vamos dar uma solução e a experiência do PT deixa evidente isso. O problema aqui é que o PT atua completamente por dentro deste regime, como já mostrou administrando o capitalismo por 13 anos.

Sua política de alianças do PT com a direita foi o que abriu espaço para o golpe institucional e todos os ataques que estamos vivendo. Mas mais que isso, o PT apresentou um projeto de país que governava ao lado do agronegócio, da bancada evangélica e inclusive desse mesmo poder judiciário. Agora, no governo Bolsonaro, os governos estaduais petistas aplicaram a reforma de previdência em seus estados. E em meio a estas eleições, chegam a absurda política de apoiar um candidato bolsonarista em Belford Roxo no Rio de Janeiro. Outros partidos aliados, como é o PCdoB, por exemplo, está fazendo coligação com o PSL que é o ex-partido do Bolsonaro, além de ter votado com toda a sua bancada, e junto com vários deputados do PT a favor das isenções milionárias para as grandes igrejas. Não podemos seguir cometendo os mesmos erros, é necessário construir uma alternativa que supere o PT pela esquerda.

Por isso, por criticar o caminho de alianças por fora do programa, que inclusive viemos debatendo com o PSOL que o vale tudo eleitoral não deve ser reproduzido pela esquerda e que é um erro trilhar os mesmo caminhos que PT, mais ainda em meio a um governo reacionário como o do Bolsonaro. Criticamos o PSOL pelas coligações que vem fazendo com a Rede, que é um partido que votou pela reforma da previdência em São Paulo, que apoiou o golpe institucional, que esteve com o PSDB em Santo André. Também, em outras cidades, com outros partidos burgueses, como PDT e PSB. Mas também coligações com o PT e PCdoB, pois são partidos que cumprem o papel de conter a luta e a mobilização. Ou como no caso do Rio de Janeiro, onde no país com a polícia mais assassina do mundo, o PSOL colocou como candidato a vice-prefeito um coronel que chegou a ser comandante geral da polícia militar.

Nós viemos dando essa batalha com nossas pré-candidaturas do MRT por filiação democrática no PSOL e através do Esquerda Diário. Isto porque para nós, se trata de batalharmos por outra unidade, a unidade da classe trabalhadora que se dá em base a luta de classes, e a atuação de um vereador revolucionário deve estar em função disso. Ou seja, o mandato revolucionário deve estar a serviço de potencializar cada uma das lutas nas fábricas, locais de trabalho, hospitais, bairros, universidades e para enfrentar o conjunto do regime político, para mudar as regras do jogo e apontar uma perspectiva de luta de classes e revolucionária para enfrentar a grave crise que vive o país. Nesse sentido, as pré-candidaturas revolucionárias do MRT também são uma voz para fortalecer os focos de resistência operária que se expressam no país, como a greve nacional dos Correios e as lutas de rodoviários, da saúde e da educação em Porto Alegre.

Esta lógica é a oposta de partidos como o PT e PCdoB que levam a frente as suas políticas de alianças nos governos e eleições, enquanto nos sindicatos pela via das suas centrais como CUT e CTB atuam para separar a demanda de cada categoria e dizem que o sindicato não é lugar de política. Para nós é o oposto, a luta do parlamento só faz sentido se for para potencializar a nossa luta nas ruas, greves, em cada local de trabalho e para isso vamos ter que nos enfrentar com a burocracia sindical para retomar os sindicatos - que é a nossa ferramenta de luta- para a mão dos trabalhadores. Não vamos derrotar a extrema direita, direita, com vale tudo eleitoral e coligações de todo tipo. Por isso, queremos trilhar um outro caminho.

As intenções de votos que o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, tem na cidade de São Paulo, figurando em segundo lugar nas pesquisas realizadas, é uma expressão de que existem setores sociais que rechaçam a extrema-direita em São Paulo. Mas pra enfrentar a extrema-direita é necessário um programa anticapitalista e um programa que questione esse regime de conjunto, porque não será possível ter uma política realmente de esquerda em uma prefeitura, que responda às necessidades dos trabalhadores e do povo pobre, sem um enorme enfrentamento na luta de classes contra todos os ataques em curso, enfrentando todos os mecanismos que descarregam a crise nas nossas costas para garantir o pagamento da dívida e proteger os lucros dos capitalistas. Por isso, ao contrário de alimentar ilusões eleitorais reformistas, a tarefa da esquerda deve ser dizer aos trabalhadores e a juventude que sua principal tarefa agora é derrotar o governo e o conjunto desse regime do golpe institucional.

Uma saída de fundo para os problemas do país

Como podemos ver se a estratégia é atuar por dentro desse regime a busca é sempre por alianças com gente que seja "menos pior" que Bolsonaro. Nós não temos essa perspectiva. Lutamos por um governo de trabalhadores, de ruptura com o capitalismo, mas dizemos a todos os trabalhadores, mulheres, jovens que ainda não compartilham essa estratégia, que defendamos juntos os direitos democráticos, que seja o conjunto do povo trabalhador o que decida e não as instituições golpistas. Uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana significa que serão eleitos deputados em todo o país, onde possam se apresentar todas as organizações políticas, abrindo um grande debate nacional e onde nenhuma instituição esteja por cima dessa Assembleia. Aí poderíamos revogar todas as reformas ultra-reacionárias que impôs Bolsonaro e votar todas as medidas que respondam as necessidades dos trabalhadores, das mulheres, dos negros e da juventude. Nossa grande diferença com a direção do PSOL é que eles tem a estratégia de conquistar cargos e administrar por dentro desse regime podre, a mesma estratégia que teve o Podemos na Espanha que está governando junto com os "socialistas imperialistas" do PSOE ou como fez o Syriza na Grécia que terminou aplicando ajustes, como também já vimos com Dilma quando governou.

Nossas pré-candidaturas do MRT e a Bancada Revolucionária dos Trabalhadores em São Paulo são as únicas que dizem a verdade: para conquistar as demandas municipais é preciso unificá-las à luta por um programa nacional contra os ataques de Bolsonaro, Guedes e os grandes empresários, e potencializar as lutas em curso como a greve dos trabalhadores dos Correios que se avança será o principal ponto de apoio contra todos os ataques.

 
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