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GREVE
O que impede as direções sindicais de bancários e petroleiros de unificar sua luta com os trabalhadores dos Correios?
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

Três das maiores categorias nacionais da classe trabalhadora estão debaixo de fogo cerrado de Bolsonaro, Paulo Guedes e todos aqueles defensores de privatizações e ataques aos trabalhadores. Falamos dos trabalhadores dos Correios – que estão em greve – dos bancários e petroleiros. Somando as três categorias estamos falando de uma massa de centenas de milhares de trabalhadores. A maioria dos sindicatos das três categorias é dirigido pela CUT ou CTB, o que impede as três categorias de protagonizar uma luta unificada contra as privatizações e os ataques, começando pela solidariedade aos ecetistas?

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Os ataques às três estratégicas categorias da classe trabalhadora nacional não só tem uma origem comum como apresentam importantes semelhanças, a começar pelo tempo, já que as três coincidem na data de suas data-base. As estatais destes ramos da economia estão sob ameaça de privatização total, como no caso dos Correios, ou de uma brutal “amputação” como se vê com a entrega de toda a Petrobras na Bahia ou de subsidiárias estratégicas no BB e Caixa. Categorias essenciais, em meio a pandemia pagaram com mortes e adoecimento a necessidade do lucro capitalista se manter. Sem racionalidade alguma que não o lucro, foram à labuta em largos números, sem testes, só com a coragem e uma máscara de pano trazida de casa.

No acordo coletivo as empresas tentam retirar direitos daqueles em trabalho presencial, e garantir extensões da jornada de trabalho aos que foram colocados em home office, e tanto na Caixa como na Petrobras o ataque concentra um imenso aumento do valor de contribuição dos trabalhadores ao plano de saúde, ataque que vem sendo um eixo dos governos no Correios. No caso da Petrobras concentram aí o ataque ao acordo coletivo e comparativamente as outras categorias o governo Bolsonaro tenta fechar um acordo de trabalho válido por dois anos com a Federação Única dos Petroleiros (FUP-CUT) que retire o potencial de confluência com ecetistas e bancários e, mais o potencial de atenção e mobilização da categoria ao grande ataque em curso: as privatizações.

Essas três categorias, permanecem com forte peso estatal e com vários direitos adquiridos graças a sua mobilização e organização ao longo dos anos. Protagonizaram históricas greves, como a dos petroleiros em 1995, que dificultou a venda da empresa, mas não teve força suficiente para impedir a ofensiva neoliberal. As greves das categorias, frequentemente enfrentadas com suas direções burocráticas e conciliadores diversas vezes desenvolveram embrionários elementos de coordenação pela base ou difusamente anti-burocráticos. Graças a este papel destas categorias tem direitos que são negados a várias outras categorias em prol de ainda maiores lucros patronais.

O ataque a essas categorias unifica Bolsonaro, Guedes e tantos outros empresários e seus políticos independentemente de serem ou não oposição a Bolsonaro. A Globo e toda grande mídia tenta vender as categorias como “privilegiados, “marajás” para encobrir os vexaminosos salários dos generais que Bolsonaro colocou nos Correios, ou as fortunas que os banqueiros – e não bancários – arrancam de cada brasileiro, nem falar dos crimes contra as riquezas nacionais como as vendas de plataformas pela Petrobras ao custo de 1 dia (um dia!) de sua produção.

Atacar essas categorias tem um valor estratégico para todos capitalistas. Esses ataques atendem a duas necessidades do golpe institucional e sua continuidade: 1) aumentar os nichos da economia nacional entregues ao imperialismo e seus parceiros locais; 2) retirar direitos de categorias com maiores direitos para melhor reduzir os salários do conjunto da classe trabalhadora.

Enfrentar-se com esse projeto que visa enriquecer acionistas nacionais e estrangeiros e rebaixar toda a classe trabalhadora é uma necessidade para todos empresários e seus políticos. Ao contrário do que quer a burguesia, rebaixando todos à miséria e exploração sem limites, o interesse da classe trabalhadora é que ecetistas, petroleiros, bancários mantenham seus direitos e estendê-los a todos trabalhadores. A derrota de categorias tão centrais ao proletariado nacional abre melhor caminho para maiores ataques aos metalúrgicos, comerciários, químicos e tantos outros ramos.

Sendo assim é ainda mais incompreensível a situação de fragmentação destas 3 categorias. A fragmentação interna às categorias e entre si só favorece aos empresários e a Bolsonaro. Quanto mais divididos estivermos mais fácil é para vender os Correios, a Petrobras na Bahia, subsidiárias da Caixa e do BB. O contrário também é verdadeiro, uma luta unificada poderia colocar em pauta toda as privatizações e retirada de direitos. Independentemente dos acordos coletivos individuais é urgente a unificação em apoio aos Correios e contra o conjunto de privatizações.

O que explica essa fragmentação, essa paralisia que em nada é rompida por uma notinha de apoio a Correios nos sites dos sindicatos? Diante de inauditos ataques a velha lógica petista de fragmentação e que cada categoria faz sua greve separada e com algumas semanas de separação só pode facilitar o caminho para derrotas. Às direções burocráticas, que são majoritárias na FINDECT e na FENTECT dos Correios, CONTRAF de bancários e FUP de petroleiros pouco interessa armar os trabalhadores para uma grande batalha, preferem os acordos das mesas de negociações e confiança no judiciário, aquele mesmo que acabou de aplicar um golpe nos ecetistas fazendo um acordo judicial de 2 anos virar um acordo de 1 ano para abrir caminho para os generais rasgarem 70 clausulas do acordo coletivo vigente, ou muito enrolar e ameaçar para depois fechar uma fábrica e demitir milhares, como fez o TST diante da greve em defesa da FAFEN-PR neste ano.

Essas lutas não dadas ou dadas de forma isolada por estas direções sindicais servem de complemento a uma ou outra declaração “combativa” de algum parlamentar ou de Lula, e sem luta de classes, mas somente uma ou outra declaração, nota de repúdio, muito se esforçam para ser aceitos de volta no regime político do país, que Maia, STF e tantos outros queiram Lula como alternativa política sem mudar uma vírgula dos ataques que já passaram. Essa atuação, de costas à necessidade de luta contra as privatizações, inclui fazer de tudo para ser aceitos pelos golpistas com os quais buscam alianças contra Bolsonaro, inclui até mesmo a relatoria de MPs como a 936 a que coube ao PCdoB (que dirige a CTB) fazer. Nessa MP os empresários ganham o direito de cortar salários e jornada dos trabalhadores, impondo a miséria a milhões. Essa confiança e busca ativa de acordos com o status quo, um status quo que há vários anos não aceita mais a conciliação, e quer é a privatização e suas “reformas”, só pode nos levar a derrotas.

Essa política de separação dos sindicatos, oferecendo uma verdadeira trégua a Bolsonaro vai levando mais e mais setores a desmoralização e a não ver nenhuma alternativa fora esconder-se e rezar para que cheguemos vivos em 2022, que é justamente pelo que trabalham aqueles que estão apostando em Lula ou Dino: fazer nada na luta de classes e ganhar apoio de “centro” para sua reabilitação política. Assistir cada dia um novo ataque nas categorias, nas privatizações e não ver uma força para opor-se aos mesmos gera essa passividade, espera, desmoralização. Cabe um papel decisivo aqueles setores mais atacados para organizar sua resistência as privatizações e assim contribuir para unificar setores de vanguarda nas categorias, começando por apoiar quem está em greve no momento: os trabalhadores dos Correios.

Os parlamentares e candidatos de partidos à esquerda do PT, como aqueles do PSOL deveriam colocar toda sua influência a serviço de apoiar ativamente os trabalhadores dos Correios em greve e a exigir a ruptura dessa separação por parte das burocracias sindicais. As candidaturas do MRT em filiação democrática pelo PSOL, de editores deste Esquerda Diário, já colocam e seguirão colocando toda sua energia para ajudar a cercar de solidariedade os ecetistas em greve e a fortalecer cada resposta dos trabalhadores aos ataques patronais e dos governos.

Essas três categorias com grandes tradições combativas, com sindicatos e forças de oposição, mesmo que minoritárias, que são críticas à conciliação do PT e PCdoB que dirigem a CUT e CTB, respectivamente, podem e devem abrir caminho para uma grande causa nacional contra as privatizações e os ataques ao conjunto da classe trabalhadores. A batalha em defesa dos acordos coletivos – para não rebaixar ainda mais as condições de todos trabalhadores do país – e contra a entrega de riquezas nacionais ao imperialismo passa por derrotar as privatizações em curso, no Correio, na Petrobras, etc.

Cabe em petroleiros, bancários e cada uma destas categorias exigir verdadeiras assembleias, assembleias não somente para votar sim ou não, presenciais ou virtuais conforme as condições da pandemia, mas que permitam um debate democrático dos rumos da luta nessas categorias e pautar o que pode ser feito em solidariedade aos ecetistas. A partir da solidariedade ativa aos ecetistas pode-se desenvolver melhores condições para a defesa em cada uma das categorias. A vitória dos carteiros é o que interessa a bancários e a petroleiros e a todos trabalhadores, pois como dissemos, o ataque a essas categorias visa reduzir os direitos e condições de trabalho e vida de todos trabalhadores. Em assembleias verdadeiras, a partir dos locais de trabalho, poderíamos batalhar para unificar-se com os ecetistas, construindo mobilizações que apontem para uma necessária greve unificada, superando as direções do PT e PCdoB, e não deixando os ecetistas isolados.

A unificação de categorias tão centrais da classe trabalhadora brasileira interessa a toda população que não quer que as riquezas nacionais sirvam para enriquecimento de generais, do Itaú, do Bradesco ou da Shell.

 
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