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MANIFESTO DO MRT | PARTE 1
Qual partido é necessário e com qual estratégia e programa?
MRT - Movimento Revolucionário de Trabalhadores

Parte 1 de 3 do Manifesto "Propostas do Movimento Revolucionário de Trabalhadores diante da crise no Brasil e no mundo".

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Você está lendo a Parte 1 do Manifesto: Propostas do MRT diante da crise no Brasil e no mundo

Qual partido é necessário e com qual estratégia e programa

O capitalismo está mostrando seu caráter decadente de forma ainda mais aberta com a pandemia. Os diversos governos, desde os mais reacionários como Trump e Bolsonaro, até os que se apresentam como alternativas de “direita tradicional” ou “centro-esquerda”, não representam nenhuma alternativa frente à profundidade da crise histórica em curso.

Essa crise aprofundará os processos de luta de classes que vinham se dando em vários países antes da pandemia. Neste processo, a classe trabalhadora e os setores populares vão se enfrentar não somente com os grandes capitalistas e os governos reacionários, mas com as diversas burocracias sindicais e políticas - que são castas privilegiadas nos sindicatos e partidos que falam em nome dos trabalhadores, mas atuam no seio das nossas organizações desviando nossas lutas. Em tempos de crise econômica como agora, o reformismo ganha contornos ainda mais utópicos e reacionários, pois o capitalismo obriga a grandes enfrentamentos da luta de classes até mesmo para manter as atuais condições de vida miseráveis contra ataques ainda maiores, e não dá margem para reformas. Os reformistas se colocam do outro lado e se transformam em agentes diretos de ataques, porque querem se mostrar como capazes de administrar a crise do capitalismo “de forma humana” e evitar os inevitáveis choques de classe.

Por isso, chamamos a batalhar conosco por um partido revolucionário de trabalhadores, que supere pela esquerda a experiência do PT, a burocracia sindical e a esquerda institucional, para enfrentar consequentemente Bolsonaro, a extrema direita e a direita tradicional. O PT administrou o capitalismo por 13 anos nacionalmente, segue assim com seus governadores e prefeitos, abriu espaço para o golpe institucional, dirige os sindicatos como burocracias e negam qualquer combate que não seja eleitoral.

À esquerda do PT, vemos uma enorme camada de socialistas divididos em partidos minoritários. Nossa batalha central como MRT é para unir os socialistas na luta de classes, pela auto-organização de todos os explorados, e para que os capitalistas paguem pela crise econômica e social. No plano político, diante desse sistema político golpista e cada vez mais reacionário, lutamos para mudar as regras do jogo com uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana (sem cair na armadilha do impeachment), numa resposta à crise com independência de classe e numa perspectiva revolucionária.

Para levar essas lutas, precisamos da unidade de toda a classe trabalhadora, entre efetivos e terceirizados, empregados e desempregados, com seus sindicatos à frente, numa aliança com o conjunto dos movimentos populares e o povo pobre e negro, e não com golpistas e patrões. É o que chamamos de Frente Única dos Trabalhadores, uma unidade de fato muito maior e mais potente do que qualquer aliança eleitoral para barrar os ataques e a ofensiva da direita, dos capitalistas e do imperialismo. Trata-se de unificar, por objetivos práticos de ação, os trabalhadores e seus aliados oprimidos no terreno da luta de classes, contra o conjunto dos capitalistas e seu regime. Para isso, é preciso exigir de cada sindicato e das centrais, a começar da CUT e CTB, que rompam com sua política de conciliação e tomem medidas para a organização dos trabalhadores em cada local de trabalho.

Não se trata de sonhos sem base na realidade. Confiamos na força do movimento de massas e da classe trabalhadora, do povo negro e das mulheres. É isso que entrou em cena fortemente com o levante do povo negro nos EUA, que teve enorme impacto no Brasil e em todo o mundo. Aqui isso foi parte do que deu lugar a manifestações antifascistas e antirracistas, e é parte do que impactou para uma paralisação histórica de entregadores. A aposta da esquerda socialista deve estar em desenvolver, unir e coordenar, com um amplo trabalho em comum na base, estas mobilizações.

Dando essas batalhas ombro a ombro na luta de classes em resposta à crise em curso, precisamos avançar nos debates que permitam unir a esquerda socialista em um grande partido revolucionário que organize os setores mais avançados dos trabalhadores que movem o país. Um partido dos que estão na linha de frente do combate à pandemia, os trabalhadores essenciais e estratégicos, dos hospitais, transportes, petroleiros, das grandes indústrias e da limpeza urbana, por exemplo. Que organize os setores mais avançados dos trabalhadores precarizados, como telemarketing e os entregadores de aplicativos que estão em luta no Brasil e em outros países. Um partido para a juventude e desempregados que estão vendo que vão precisar arrancar o seu futuro a partir da luta socialista. Para os lutadores que reivindiquem a perspectiva socialista e revolucionária e que hoje não estão organizados. Um partido de vanguarda que não veja as massas como mero instrumento eleitoral ou de políticas assistenciais, mas sim como sujeitos da sua própria emancipação, promovendo a auto-organização. Um partido de “tribunos do povo”, como dizia Lênin.

Chamamos as mais de 1000 pessoas que estão organizadas conosco do MRT em diversos estados nos Comitês do Esquerda Diário, nos Grupos de Discussão sobre Marx, Lênin, Trótski, Rosa Luxemburgo, resgatando o melhor da tradição revolucionária a partir dos cursos do Campus Virtual, ou construindo conosco o Quilombo Vermelho, o grupo internacional de mulheres Pão e Rosas no Brasil, a Faísca – Juventude Revolucionária e anticapitalista, e o grupo de trabalhadores Nossa Classe, a nos unirmos neste objetivo de contribuir para a construção de um partido revolucionário nacional e internacionalmente. Mais que nunca também é totalmente impotente para responder a situação qualquer perspectiva autonomista ou anarquista que negue a necessidade de organização em partido político. Estamos convictos que nossas ideias marxistas revolucionárias e nossa tradição na luta de classes podem fazer a diferença neste processo com mais de mil companheiras e companheiros atuando em comum, em diálogo com as demais correntes socialistas porque sabemos que a força de cada corrente separadamente é insuficiente.

Lançamos este Manifesto em meio a uma conjuntura eleitoral, que tende a canalizar as energias de amplos setores das massas para buscar uma solução por esta via aos profundos problemas que estamos vivendo. Nós do MRT alertamos que os trabalhadores e o povo pobre não vão poder encontrar uma resolução efetiva para a crise em curso pela via eleitoral e institucional, diferentemente do que promete o PT e inclusive setores do PSOL. Uma resolução pela esquerda para a crise só poderá se dar na luta de classes, nos processos de luta que inevitavelmente vão se dar no Brasil e no mundo, com um programa e estratégia de independência de classe e revolucionária. Mas isso não está em contradição com lutar também no terreno eleitoral, como tática a serviço das batalhas programáticas e estratégicas que apresentamos neste Manifesto. As eleições são momentos onde as massas buscam alternativas políticas e os revolucionários devem aproveitar estas oportunidades para apresentar uma alternativa de independência de classe para os setores de massa o mais amplamente possível, agitando um programa e estratégia revolucionárias.

É nesse sentido que nós do MRT apresentaremos candidaturas democráticas pelo PSOL nas eleições. Diante do antidemocrático sistema eleitoral brasileiro, que não permite candidaturas independentes e dificulta enormemente a legalização de partidos, nos apoiamos na tradição dos socialistas para utilizar a legenda cedida democraticamente pela direção do PSOL, para apresentar de maneira independente nossas ideias revolucionárias nas eleições. Sem assumir qualquer compromisso político com as posições do PSOL, partido do qual não fazemos parte e em cujos debates internos não participamos. Chamamos a apoiar as candidaturas do MRT pelo PSOL nas eleições, onde daremos uma grande batalha pela independência de classe, o que iniciamos desde as próprias pré-candidaturas, lutando inclusive contra a política de alianças do PSOL com partidos da burguesia e de conciliação de classes como o PT.

Nossa batalha internacionalista contra o imperialismo e o capitalismo

O MRT é parte da Fração Trotskista (FT-QI), uma das principais correntes internacionais que reivindicam o trotskismo, através da qual damos uma batalha internacionalista, junto ao PTS na Argentina, a CCR no interior do NPA na França, o PTR no Chile, MTS do México, Left Voice nos EUA, e outras seções na Bolívia, Venezuela, Uruguai, Peru, Costa Rica, Estado Espanhol, Alemanha e Itália.

Impulsionamos a Rede Internacional do Esquerda Diário em 14 países e 8 idiomas, uma novidade na esquerda mundial, que em meio à pandemia chegou ao recorde de 13 milhões de acessos em 1 mês e realizou atos internacionalistas no 1º de maio, e em 11 de julho um ato antirracista e contra a violência policial, com dezenas de milhares de visualizações em vários continentes. O peso que damos para o papel de um jornal diário em distintas plataformas na construção do partido é um resgate da tradição leninista para o século XXI, buscando utilizar a tecnologia para disputar setores de massas para as ideias revolucionárias, saindo dos pequenos círculos da esquerda. Nossos jornais diários também se transformam em instrumentos de combate de amplos setores de vanguarda em meio a processos de luta de classes, como se deu recentemente na França e no Chile. No Brasil, o Esquerda Diário se transformou numa referência na luta contra o golpe e em uma série de categorias de trabalhadores quando se colocaram em luta, como foi recentemente com petroleiros, telemarketing ou entregadores.

Junto a aliados da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores – Unidade da Argentina (FIT-U, na sigla em espanhol) com o Partido Operário, Esquerda Socialista e o Movimento Socialista dos Trabalhadores, que junto à nossa organização irmã, o Partido de Trabalhadores Socialistas, organizamos uma Conferência da América Latina e dos EUA para dar passos no sentido dos debates necessários para avançar na construção de um partido mundial da revolução, a IV Internacional, o que foi um marco importante de discussões entre socialistas. Nesta Conferência se expressaram os diversos pontos unitários que temos, mas também as divergências como: a) a participação dos companheiros da UIT (CST-PSOL) na Frente Ampla do Peru; b) a posição adaptada à polícia por parte da esquerda, o que afeta também o PSTU e o MES-PSOL; c) a contradição dos que defendem Constituinte no Chile, mas inexplicavelmente não no Brasil; d) o problema da adaptação ao golpismo na América Latina que se expressou no Brasil, Venezuela e Cuba no caso de organizações como o PSTU e a CST-PSOL.

São debates importantes para a esquerda socialista brasileira, pois avançar em uma visão comum das tarefas colocadas internacionalmente, colaborará nos debates da esquerda socialista no Brasil. Para nós, os diálogos e busca por atuações em comum na esquerda socialista são inspirados na flexibilidade tática que Trotski estimulava nos anos 30 para que grupos pequenos pudessem avançar para ser grandes partidos revolucionários. Acreditamos que para o reagrupamento da vanguarda o melhor método passa por compartilhar um programa e tirar as lições estratégicas dos principais fenômenos da luta de classes à nível internacional, que a nosso entender é o caminho pelo qual Trótski foi dando passos para a construção da IV Internacional.

Para além dos resultados imediatos dessa Conferência, consideramos um grande ponto de apoio a experiência de anos da FIT argentina, que surgiu primeiramente no terreno eleitoral e se consolidou como um polo de independência de classe à escala internacional. No Brasil, falta uma alternativa como essa, que não existe nem mesmo no terreno eleitoral. Para dar passos no sentido de termos uma experiência como a FIT no Brasil, seria necessário o PSOL e o PSTU mudarem suas políticas para apresentarem essa proposta, inclusive nas eleições.

Nossa história de luta pela independência de classe e por um partido revolucionário no Brasil

Nosso grupo fundacional surge de companheiros e companheiras expulsos do PSTU, justamente por nossa luta pela independência de classe. Naquele momento, em outubro de 1999, nos expulsaram porque nos opusemos à adaptação da direção do PSTU, que tratava como aliados naturais as direções burguesas que buscavam desvirtuar o movimento de luta contra o governo FHC. Mas encaramos aquele momento como o início de uma nova etapa, da paciente tarefa de construir uma organização revolucionária consequente, que seria parte da construção de um partido revolucionário que surgiria do processo de experiência com o PT pela esquerda. Desde o começo, nosso grupo fundacional partiu da necessidade de lutar por um partido revolucionário internacionalmente, e depois de debates importantes, nos vinculamos à Fração Trotskista, na batalha por resgatar a tradição marxista revolucionária.

No começo do governo Lula, em 2003-4, o ataque da reforma da previdência gera rupturas no âmbito político (PT) e sindical (CUT). Fizemos parte de todas essas lutas e processos de reorganização, lutando para que se abrisse um debate programático e estratégico em comum entre o PSTU e todos os setores que rompiam com o PT pela esquerda, para tentarmos fundar um grande partido revolucionário de trabalhadores. Isso foi negado, de um lado pelo PSTU, que depois de em toda sua história ter como projeto a construção de um partido com a esquerda do PT, frente ao processo real que se deu de rupturas, quis impor suas concepções a toda a vanguarda burocraticamente; por outro lado, os parlamentares que rompiam com o PT também se negaram porque queriam fundar um “partido amplo” que unisse reformistas e revolucionários: um projeto que um setor do trotskismo impulsionou em vários países e que fracassou amplamente, com os reformistas ganhando a maioria e as correntes trotskistas se diluindo. Ou seja, os que depois fundaram o PSOL não se propunham a um partido de independência de classe. Apesar dessa recusa a um debate sério que pudesse evitar essa divisão que enfraqueceu a possibilidade de construção de um grande partido revolucionário, nós sempre mantivemos um diálogo permanente com o PSOL e o PSTU em função das necessidades impostas pela realidade em cada momento, apesar das nossas diferenças.

O processo de experiência com o PT foi contido pelo ciclo de crescimento econômico internacional que gerou ilusões reformistas nas massas. Este processo terá um novo impacto a partir de junho de 2013, com o levantamento da juventude que depois deu lugar a entrada em cena do movimento operário (liderado pela greve dos garis, além do destaque da construção civil e rodoviários) e dos movimentos sociais, dando lugar a um amplo processo de luta que questionava a qualidade dos transportes, da educação, da saúde e a questão dos oprimidos, as mesmas questões que agora em meio à pandemia estão mostrando que são problemas estruturais não resolvidos. Este processo de lutas de 2013-14 foi derrotado, com o PT abrindo espaço para a direita golpista ao aplicar o programa neoliberal e reprimindo as lutas. Agora a experiência com o PT se materializava principalmente na ofensiva golpista de 2015-17 e o fortalecimento da direita, mas o PSOL capitaliza um processo minoritário porém qualitativo pela esquerda, com uma maioria do partido se posicionando contra o golpe institucional.

Como MRT estivemos na linha de frente da luta contra o golpe institucional, a Lava Jato, a prisão arbitrária do Lula, mas sempre de forma independente do PT. Fizemos uma importante luta política na esquerda contra os que como o PSTU e setores do PSOL como o MES e a CST, que de distintas formas se adaptaram ao golpismo, o que levou a crises importantes nessas organizações, e rupturas no caso do PSTU e CST. Mas também lutamos contra o seguidismo acrítico ao PT que fazia a maioria do PSOL. Para fortalecer a luta contra a ofensiva golpista e imperialista desde um ponto de vista de independência de classe, que passava pela luta por construir uma referência de vanguarda à esquerda do PT, solicitamos nossa entrada no PSOL. Mas a direção do PSOL negou a entrada do MRT, o que nunca havia ocorrido com nenhuma corrente. A verdade é que não nos deixaram entrar devido à nossa luta implacável pela independência de classe (mesmo motivo da nossa expulsão do PSTU) e por uma perspectiva revolucionária, em cada local onde atuamos e pelo Esquerda Diário que é uma referência de mídia que supera em acessos todos os sites partidários da esquerda, inclusive do PT e PCdoB.

A luta contra o golpismo foi mais um importante divisor de águas na esquerda. É um dos debates que seguimos fazendo com os companheiros do Bloco de Esquerda Radical do PSOL e com o PSTU. Consideramos que com o passar do tempo, especialmente os componentes do Bloco de Esquerda Radical avançaram em avaliações sobre a ofensiva golpista que se aproximam mais de nossas posições, mas será importante debater essas questões em marcos teóricos mais profundos para avançarmos em conclusões superadoras.

Os debates para construirmos um partido revolucionário de trabalhadores devem se dar entre as correntes que reivindicam uma tradição de independência de classe. Este manifesto não se propõe a desenvolver o conteúdo de cada debate, mas apontar elementos que consideramos importantes, assim como fizemos no debate online que organizamos pelo Esquerda Diário em maio com Diana Assunção do MRT, Plínio de Arruda Sampaio Júnior do Contrapoder (PSOL), Danilo Bianchi (CST-PSOL), Roberto Robaina (MES-PSOL) e Zé Maria do PSTU, que consideramos um passo significativo no sentido de debates fraternais sobre nossos acordos e diferenças.

Para estes setores do PSOL e do PSTU, viemos propondo uma Coordenação dos que lutam pelo "Fora Bolsonaro e Mourão", que pudesse funcionar como um polo de referência na luta na base das grandes centrais sindicais, por um programa para que os capitalistas paguem pela crise e para derrubar este sistema político golpista. Ou seja, um polo de independência de classe. Mas os companheiros do PSOL e o PSTU, seguem sem aceitar essa proposta e estão junto aos outros partidos da esquerda apoiando o impeachment, que abre espaço para Mourão e para a manutenção desse sistema político golpista.

Dentro do PSOL há também correntes que reivindicam a tradição trotskista de alguma maneira e se opõe em determinados aspectos à política da direção majoritária. Nos referimos ao MES, à Resistência, à Insurgência, ao Subverta, à Comuna, LSR, entre outros. O PCO também reivindica a tradição trotskista mas atua como um satélite do PT e se nega a dialogar com a esquerda socialista. Consideramos que temos diferenças em aspectos muito importantes, mas também temos interesse em debater, para vermos as aproximações possíveis, inclusive porque com algumas destas correntes temos mais acordos em relação a como nos posicionamos frente ao golpe institucional, por exemplo.

O combate necessário contra a tradição stalinista

As debilidades que as correntes de origem trotskista tiveram para responder à ofensiva golpista, se adaptando ao golpismo ou ao petismo, gerou um novo fenômeno na esquerda brasileira que é o fortalecimento de correntes que vem da tradição stalinista, como o PCR, que recentemente legalizou a UP, e o PCB. Lamentavelmente, o que vemos em particular em alguns setores da juventude, é que enxergam essas organizações como “comunistas” mais consequentes frente ao PSOL repetir os erros do PT e aparecer como esquerda institucional.

Sem nos negarmos a fazer frentes únicas na luta de classes com a UP e PCB, é tarefa da esquerda trotskista batalhar para superar definitivamente essa tradição stalinista nefasta que até hoje é utilizada pelas burguesias para retirar do imaginário das massas a ideia de revolução.

A UP é um partido novo cujo núcleo, o PCR, representa dogmaticamente a tradição stalinista albanesa, ou seja, tentam criar formas de resgatar e dar continuidade a todos os retrocessos que significaram o stalinismo, que historicamente perseguiu as oposições revolucionárias de esquerda, enquanto negociou com os imperialismos e partidos burgueses nacionalistas. Defendem uma ideologia do “Estado Forte”, com uma burocracia separada das massas, que pode ser não somente um Estado Operário Deformado por uma burocracia (como no caso dos velhos países dominados pelo stalinismo), mas inclusive qualquer tipo de nacionalismo burguês pintado de “esquerda”. Por isso apoiam não só Nicolás Maduro, um governo burguês que se pinta de “socialista", e até mesmo o governo burguês “normal" de Alberto Fernandez na Argentina. Por isso, quando falam de estatizações, nunca defendem que estas sejam sob controle dos trabalhadores. Por isso defendem auditoria da dívida pública e não a ruptura consequente com o imperialismo com seu não pagamento. Falam de socialismo, mas têm uma prática assistencialista e sindicalista. Fazem um discurso combativo mas se adaptam às burocracias e são contra a auto-organização.

O PCB é um partido heterogêneo e eclético, inclusive com espaço limitado para críticas ao stalinismo, mas que no último período vem retrocedendo e deixando espaço para alas mas próximas de um stalinismo reciclado e pró-China atual, ou seja, defendem um Estado diretamente capitalista, além de diversos nacionalismos burgueses, o que mostra que não levaram à frente a proposta de romper com o passado stalinista e seu longo histórico de conciliação de classes.

Nossas batalhas na luta de classes e por uma nova tradição combativa e antiburocrática

É para essa batalha pela construção de um partido revolucionário nacional e internacionalmente que chamamos todos os trabalhadores e jovens que nos acompanham em cada processo da luta de classes, como em meio à pandemia fizemos com entregadores e trabalhadores da saúde. Somos um grupo que desde a nossa origem busca construir uma nova tradição na esquerda, de dar exemplos na luta de classes, seja nos lugares onde atuamos ou apoiando ativamente as lutas que surgem. Essas lutas são parte de um objetivo de unir os socialistas na construção de uma vanguarda antiburocrática e combativa, o que consideramos que nenhum dos partidos à esquerda do PT faz de maneira consequente.

O que vemos na esquerda são poucos exemplos na luta de classes, pouca denúncia das traições das burocracias, um embelezamento de ações que servem somente para encobrir o imobilismo, e quase nenhuma iniciativa para unir a esquerda socialista por um plano de luta combativo com os métodos da classe trabalhadora. É o que batalhamos com independentes no Movimento Nossa Classe e na base das categorias, na CSP-Conlutas, e em diálogo com a Intersindical (Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora), o PSOL e o PSTU.

Temos orgulho de ter como parte da nossa trajetória de construção, a atuação junto às lutas dos trabalhadores da USP e do SINTUSP, desde a nossa fundação até os dias de hoje. Somos parte da tradição combativa deste Sindicato e desta categoria, para a qual contribuímos no fortalecimento da organização de base e da auto-organização, na relação com a intelectualidade e estudantes, em que demonstramos na prática a unidade das fileiras operárias dos trabalhadores efetivos junto aos trabalhadores terceirizados atuando fortemente em suas greves. Construímos e fortalecemos as Secretarias de Mulheres, de Negras, Negros e Combate ao Racismo, e LGBT e de Diversidade Sexual. Em meio à pandemia, fomos parte da construção de um exemplo de luta que foi reconhecido pela vanguarda nacionalmente no Hospital Universitário da USP.

No movimento estudantil, somos reconhecidos pela atuação apaixonada em defesa dos trabalhadores e da aliança operário-estudantil. Quando estamos na direção de entidades junto a independentes, como é o caso atualmente no CAELL (Letras) e no CAPPF (pedagogia) da USP, lutamos para transformá-las em entidades militantes, impulsionando a auto-organização dos estudantes e o combate ao caráter elitista das universidades públicas. No CACH da Unicamp fizemos lutas emblemáticas como os cortes de rodovia em defesa dos metalúrgicos em greve da MABE, assim como várias outras ocasiões, seja com os operários do ABC, os rodoviários em Porto Alegre, e onde mais nossas forças alcancem. Em lugares onde estamos mais recentemente, de Norte a Sul do país, é o mesmo espírito que nos anima, desde o Rio Grande do Norte até a UFRGS, onde também estamos na direção de entidades estudantis.

Estamos inseridos em diversas categorias e buscamos aprofundar raízes em todos os setores chave do movimento operário, usando a visibilidade de posições estratégicas como forma de expressar nossa contribuição para criar uma tradição revolucionária distinta da prática rotineira e sindicalista da maioria da esquerda. É o caso do Metrô de São Paulo, onde somos uma minoria dentro da direção do sindicato, batalhando sempre pela democracia operária, pela auto-organização, impulsionando as lutas das trabalhadoras terceirizadas contra cada ataque e batalhando pela sua efetivação com iguais direitos. Com a mesma lógica construímos uma ala revolucionária na base dos sindicatos de professores, especialmente na APEOESP mas também em diversos outros estados como MG e RJ.

No Rio de Janeiro, estivemos sempre na linha de frente no apoio às principais lutas operárias da cidade, desde a histórica greve dos garis de 2014, ombro a ombro com os trabalhadores da CEDAE em 2017. Estamos há vários anos no CA do Serviço Social da UERJ, construindo uma tradição combativa, que mais recentemente se expressou que, em conjunto com o CA de Geografia, construímos uma paralisação para mostrar que não esqueceremos o assassinato da Marielle, quando se completou um ano desse crime bárbaro.

Em Porto Alegre nossa corrente se construiu a partir de se fundir com o que de melhor deram as lutas dos trabalhadores na cidade, como a histórica greve dos rodoviários de 2014, que parou toda a cidade "atropelando" a direção pelega do sindicato. Ali também estivemos lado a lado na paralisação das garagens em 2017 e 2019, contra as reformas de Temer e de Bolsonaro.

Em Minas Gerais, nas greves da educação em Contagem, nas ocupações estudantis de 2016 na UFMG, no apoio a greves metalúrgicas como a da Accument em 2015, ou da Urbtopo em 2016, terceirizada da construção civil da Vallourec.

Essa perspectiva é a mesma com a qual nos inserimos e damos as batalhas mais cinzentas em diversas outras categorias em que o despotismo patronal impõe condições menos favoráveis, especialmente na grande indústria em ramos como a alimentação, metalúrgicos, químicos, gráficos, assim como categorias em que já participamos de pequenas lutas exemplares e podem ser decisivas num próximo ascenso operário como petroleiros e bancários.

Essas mesmas batalhas que damos no seio da classe trabalhadora e da juventude, também se combinam com um trabalho incansável para recuperar e recriar o marxismo revolucionário, respondendo aos desafios do mundo atual, que fazemos a partir de todas as iniciativas ligadas ao portal Esquerda Diário, com podcasts como Feminismo e Marxismo, os cursos no Campus Virtual, e o trabalho das Edições Iskra, que lançou recentemente A Revolução e o Negro, Estratégia socialista e arte militar, entre outros.

Continue lendo: Parte 2 – A situação objetiva internacional e nacional e as respostas à crise

 
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