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LEILÃO DO 5G NO BRASIL
5G no Brasil é novo terreno de disputa pela primazia tecnológica entre EUA e China
Pedro Cheuiche

Disputas por leilão, que ocorrerá em 2021, estão em aberto e se colocam no marco da guerra comercial-tecnológica entre EUA e China que escalaram durante a pandemia. O Brasil é hoje terreno de disputa dos países que o subordinam econômica e politicamente, ainda que em termos desiguais.

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Imagem: CHINA STRINGER NETWORK / REUTERS

A semana passada começou com uma declaração que destila o veneno do imperialismo na qual o embaixador americano no Brasil afirmou que o país enfrentaria as “consequências”, caso não exclua a chinesa Huawei do leilão do 5G.

Na mesma entrevista, dada ao Jornal O Globo, Todd Chapman fez um discurso demagógico, dando a entender que a exportação de matérias primas que o Brasil faz aos chineses se contraporia a relação “madura” com os EUA, que não implicaria em submissão. Fala também que a China quer roubar informações, o que não é um argumento, pois a americana Facebook vazou informações de pelo menos 443.000 brasileiros no escândalo envolvendo a Cambridge Analytica, que ajudou a eleger Trump. O embaixador esteve no Equador até o fim do ano passado, período em que o país passou por uma grande batalha nas ruas contra o plano de submissão ao FMI pelo governo Lenin Moreno.

No entanto, nem o embaixador dos EUA e nem o da China, que também se pronunciou, querem querem o melhor para Brasil, como dão a entender, a disputa em torno do 5G é sobre quem avança em posições estratégicas no domínio do maior país da América do Sul, no caso americano, manter sua posição histórica e da China, aumentar sua influência decisivamente. As peças de xadrez começam a se mover e são parte de um marco mais amplo em que tanto democratas quanto republicanos querem mostrar para os eleitores quem é mais anti-China. A batalha pela primazia tecnológica entre Estados Unidos e China está em pleno curso. Ambos os países querem aprofundar o desenvolvimento desigual e combinado brasileiro, com a miséria latente da maioria do país que não tem saneamento básico, exposta pela pandemia, lado a lado com grandes avanços técnicos, que não servem para libertar, mas para aprofundar a exploração de uma classe sob outra.

O Governo Bolsonaro tem a contradição eminente de fazer escolhas econômicas que aprofundam a submissão à China, apesar de ser ideologicamente alinhado aos EUA. A agropecuária é o único setor da economia que se mantem positivo, com aumento de 18% na comparação de janeiro a maio de 2020 com os mesmo meses em 2019. Intelectuais tem chamado atenção para “Chinalização” das exportações do país, com os 10 principais produtos vendidos ao exterior em 2020 são de origem agrícola ou mineral. Se contar o que vai só para China, apenas 3 desses produtos dão uma dimensão de 26% do total (Marta Castilho, SECEX, Webinar IE, UNICAMP, 2020).

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Bolsonaro e Paulo Guedes não realizaram reestruturação produtiva para o combate a pandemia, as indústrias deixaram de produzir, muitas delas fecharam e as que se mantiveram abertas não garantiram medidas de proteção mínima para os trabalhadores. A recuperação ocorreu nos últimos dois meses, mas não a patamares anteriores a pandemia. A mais afetada foi a de transformação e mais de 700 mil pequenas e médias empresas, na sua maioria de serviços, que o governo não socorreu, fecharam as portas. O governo priorizou salvar as grandes empresas, os bancos e o agronegócio, escolhas que levam diretamente a uma submissão maior do país asiático.

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Os meses de forte pressão a Bolsonaro que culmina com o caso Queiroz, alinhado a um cenário externo que se colocou novamente a luta de classes, com o centro na luta negra nos EUA, fizeram o governo recuar em sua política de enfrentamento aberto com os outros poderes. A trégua parcial que se colocou no país entre militares e o STF esfriaram o alinhamento imediato do governo com Trump, que até mesmo criticou o presidente brasileiro, buscando se afastar do desgaste eleitoral. Já não há a mesma sinergia entre Bolsonaro e “Internacional Direitista”, pelo menos até a eleição americana ocorrer.

A pressão que chegou a altos decibéis em meados de abril e as denuncias de Sérgio Moro acabaram saindo pela culatra e o governo acabou fincando raízes no reacionarismo dos militares e nas negociatas com o centrão. Nessa toada, cederam posições estratégicas em relação à disputa entre EUA e China. A Secom, que será responsável por supervisionar o leilão do 5G no Brasil, acabou na mão de Fabio Faria, nome ligado a Rodrigo Maia, de longe não é um representante da área ideológica que defende a submissão incondicional aos EUA.

Essa contradição entre ideologia trumpista e prática econômica pró-China se dá no interior do próprio Palácio do Planalto. Ao comentar a ameaça do embaixador americano, Mourão afirmou que “Brasil não teme consequências” e ainda alfinetou os EUA: “Sabemos que esta empresa Huawei tem uma capacidade acima de algumas concorrentes”. A fala, até o momento não rebatida por Bolsonaro, reflete o momento em que os militares tem mais liberdade de ação no interior do governo para uma linha mais pragmática, que não vê com maus olhos aprofundar a submissão ao país asiático.

A China busca tornar mais sólida a submissão da América Latina a seu poderio econômico, sendo o Brasil um posto estratégico para o aumento da inserção do capital chinês. Se Austrália, Japão e Inglaterra já proibiram a Huawei de participar do leilão do 5G em seus países, Pequim não quer que o mesmo aconteça aqui, buscando poder estabelecer uma hegemonia própria em um local com largo histórico de submissão aos EUA. Os termos da disputa ainda são bastante desiguais para os chineses, que tem como opositores os articuladores do golpe institucional em 2016.

Essa disputa entre o imperialismo estadunidense e da China, buscando cavar seu espaço, em torno do Brasil nada tem a trazer de bom para os trabalhadores e o povo pobre brasileiros. A tecnologia do 5G que tem potenciais incríveis para a humanidade se tornou cabo de guerra para submeter os países oprimidos. Somente a classe trabalhadora brasileira é capaz de dar uma saída que possa aproveitar de fato o que um avanço desse tipo tem a oferecer, sem que sirva de instrumento para dominação de uma classe sob outra, como no caso dos aplicativos de entrega que exploram duramente em seus funcionários, aproveitando a pandemia para atacar ainda mais.

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Essas disputas se tornam ainda mais contraditórias no cenário internacional, no marco da maior crise econômica desde 1929. Essa semana, o Financial Times lançou uma matéria em que aponta que a disputa comercial tecnológica está desaguando em incompatibilidade de modelos. Por um lado há uma potência emergente e do outro o principal imperialismo em decadência, mas ainda muito forte. Se hoje uma guerra não está no horizonte, nada indica que esse conflito não possa se tornar mais abertamente violento no próximo período à medida que os EUA se sinta ainda mais ameaçado pela China na disputa pela hegemonia geopolítica global. Um período de crises, guerras e revoluções não está descartado e a esquerda revolucionária precisa se reorganizar urgentemente para estar à altura dos levantes de massa que já vem acontecendo nos EUA, inclusive, fruto das contradições inerentes que o capitalismo não pode resolver.

 
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