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RECIFE
PSOL abre mão de ser uma alternativa independente contra Bolsonaro para apoiar o PT no Recife
Gabriel Girão

Como parte de uma orientação política que a direção do partido tem tido em outros lugares do país, PSOL se alinha com o PT também na capital pernambucana para apoiar Marília Arraes.

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No dia 7 do mês passado, a reunião do diretório municipal do PSOL no Recife decidiu sua linha eleitoral para as eleições do município: uma “frente ampla de esquerda para enfrentar a direita bolsonarista e o PSB”. Na prática, indicam o apoio à candidatura de Marília Arraes, do PT.

Não é o primeiro anúncio do PSOL ficando a reboque do PT em candidaturas. Pelo contrário, se trata de uma política levada em várias capitais e cidades importantes, como Campinas, no interior do estado de São Paulo e Belém.

Veja também: PSOL se prepara para estar junto com o PT em várias capitais na contramão de uma alternativa independente

Não há a menor dúvida que é necessário enfrentar a direita bolsonarista e o PSB. O partido que está no governo estadual há 18 anos e no municipal há 8, apoiou ativamente o golpe institucional e ainda teve parlamentares que votaram a favor da reforma da previdência federal. Em suas gestões no executivo, também aplicaram a reforma, assim como vários outros ataques neoliberais. Hoje, o estado amarga um dos maiores números de mortos pelo novo coronavírus, acumulam-se denúncias dos trabalhadores da saúde e do transporte, com vários trabalhadores desses setores morrendo, enquanto hospitais estaduais sofrem com princípios de incêndio ao mesmo tempo que o governo abre tudo para agradar os empresários.

No entanto, poderia Marília Arraes ser uma alternativa para os trabalhadores contra o PSB? Neta da figura mais famosa desse partido, Marília esteve sob suas fileiras até 2016. Portanto, ainda que possa discordar de suas posições mais à direita, como o apoio a Aécio no segundo turno e o golpe institucional, Marília esteve no partido e apoiando suas gestões em grande parte do tempo, chegando inclusive a ocupar cargos no governo de Eduardo Campos e inclusive do atual prefeito Geraldo Júlio.

O próprio PT já esteve à frente da prefeitura da cidade. Sua última gestão, de João da Costa, findada em 2012, foi marcada por um governo a serviço dos capitalistas e da especulação imobiliária. Caso emblemático foi a aprovação do Projeto Novo Recife que entregava o Cais Estelita para construtoras fazerem torres de luxo. Bem parecidas com a torre onde Mirtes trabalhava como doméstica, e cuja patroa matou seu filho, de apenas 5 anos. Esse projeto, levado à frente também pela gestão do PSB que sucedeu a gestão petista, enfrentou várias mobilizações como o Ocupa Estelita, importante mobilização contra a especulação imobiliária da história recente da cidade, que alcançou inclusive repercussão internacional.

Em todos os governos do Nordeste que o PT governa, milhares de pessoas morreram pelo coronavírus, com hospitais colapsando, sem testes nem condições para fazer o isolamento, impedindo que a maioria dos trabalhadores, inclusive não essenciais, seguissem trabalhando ou perdendo seus empregos e salários. Enquanto isso, garantiam isenções e recursos para os capitalistas não fecharem, deixando a maioria da população refém da tragédia, inclusive agora reabrem a economia para que salvem seus lucros. A sua conciliação de classe custou a vida de muita gente.

Além disso, também aplicaram duros ajustes aos trabalhadores, como vimos diversos governadores do PT aplicando reformas da previdência estaduais, usando inclusive a polícia para reprimir as mobilizações, como no caso de Rui Costa na Bahia. Aliás, isto já virou praxe para esse governador, que reprimiu e cortou os salários dos professores em greve. A PM da Bahia inclusive, é a segunda que mais mata em operações policiais. Camilo Santana, governador do Ceará, não fica muito atrás. Vem sistematicamente aumentando o investimento no aparato repressor e reprimiu as manifestações antifascistas de Fortaleza.

A política de fortalecimento do aparato repressor levada em frente vem na verdade aumentando o peso do bolsonarismo na região, como vimos no motim reacionário do Ceará, cujo o líder Capitão Vagner está se candidatando à prefeitura da capital. É apoiando esse tipo de política que fortaleceremos as alianças entre os movimentos sociais?

Mesmo na luta contra Bolsonaro, o PT não tem o objetivo de fazer um enfrentamento sério com o governo e os capitalistas que o apoiam, busca revigorar o partido nessas eleições para, apostando nas eleições de 2022, aparecer como mal menor para os latifundiários, banqueiros e patrões com os quais sempre governou, que deram um golpe e elegeram Bolsonaro no seu lugar.

A governadora Fátima Bezerra do PT, no Rio Grande do Norte, chegou a declarar que Bolsonaro tem compromisso com a população. Está tentando aprovar uma Reforma da previdência em meio a uma pandemia, homenageou a PM nos seus 186 de herança escravista, a mesma que matou Geovane Gabriel em Natal.

Através dos sindicatos que dirigem, fortalecem a passividade, não propondo nenhuma mobilização em torno de medidas de combate à pandemia, nem contra os ataques aos trabalhadores, se resumindo ao papel de serem meros negociadores da redução e suspensão dos contratos dos trabalhadores.

Atualmente também assistimos o movimento do Bolsoarismo – através do auxílio emergencial - se fortalecer no interior do Nordeste, região onde nas últimas eleições votava massivamente no PT. Isso só deixa evidente como a política de conciliação só faz pavimentar o caminho para a direita.

São só alguns exemplos de que, com essa aliança, o PSOL fortalece a estratégia de PT de ser uma alternativa aos capitalistas, prometendo não rever nenhuma das heranças malditas do golpe institucional, pelo contrário, se preparando para aprofundá-las onde governar.

Portanto, ao invés de fortalecer qualquer tipo de mobilização social, o PSOL, ao apoiar a candidatura de Marília Arraes, se abstém de apresentar uma alternativa de independência de classe e pavimenta um caminho que só pode levar à derrotas e à desmoralização.

Além disso, para garantirem sua capitulação, a direção do PSOL local atropelou a democracia interna do partido, tomando a decisão a partir de uma reunião do diretório e não através de prévias, como deveria ter ocorrido.

Frente a tudo isso, é totalmente adaptada a esse curso pró-petista da direção do PSOL a posição de algumas correntes que se revindicam trotskistas, como a Resistência, que apoia a posição da direção do PSOL. Mesmo reconhecendo o papel das antigas gestões petistas no Projeto Novo Recife, defendem o apoio à candidatura de Marília Arraes com base a argumentos totalmente eleitoreiros, pois ela estaria em primeiro nas pesquisas e que isso seria bom para o PSOL eleger vereadores. Para encobrir sua total deriva estratégica, colocam que “Hoje por hoje, sairá maior do debate aquele pré-candidato que submeter seu ego narcísico em prol de um projeto maior que seguramente terá repercussão em todo o Estado de Pernambuco, reoxigenando as novas gerações da esquerda social desta cidades”. Argumentos tão rasos que buscam apresentar a disputa de projetos políticos a disputas de ego mostram como a bússola dessa corrente está longe de se guiar pela independência de classe, afirmando que oxigenação virá de alianças com setores burgueses. Com essa política, a Resistência se abstém de disputar setores descontentes com o governo do PSB para uma estratégia de independência de classe e os entrega de bandeja na mão da conciliação petista.

Com o curso cada vez mais à direita da direção majoritária do PSOL e das correntes que se associam a mesma, é necessário que a esquerda socialista ponha de pé um polo de independência de classe, onde se batalhe pela unidade na luta de classes. Fazemos esse chamado especialmente ao Bloco de Esquerda Radical do PSOL. Algumas dessas correntes desse bloco, como a CST e a Alternativa Socialista, compõe - através de suas organizações irmãs na Argentina - a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade, junto com o PTS, organização irmã do MRT.

A Frente de Esquerda - Unidade é uma experiência que deveria servir de exemplo para a esquerda brasileira, já que levanta um programa de para que os capitalistas paguem pela crise e tem seus principais parlamentares, como Myriam Bregman e Nicolás Del Caño colocando seus mandatos integralmente à serviço da luta de classes, presentes em todas as lutas da classe trabalhadora, da juventude, mulheres, negras e negros, povos originários e LGBTs. A Frente de Esquerda - Unidade convocou a Conferência Latino Americana e dos Estados Unidos nos dia 30/7, 31/7 e 01/8, que contou com a adesão de dezenas de organização em diversos países, com o objetivo de gerar uma profunda discussão entre as organizações da esquerda revolucionária para avançar nos debates de divergências e convergências e aprofundar as experiências de atuação conjunta, na batalha para que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

No Brasil, nos colocamos integralmente à disposição de combater a fragmentação entre as socialistas para unificar na luta de classes, na batalha pela construção de uma organização revolucionária que supere o PT pela esquerda e atue na contramão das burocracias sindicais e estudantis para poder impulsionar a auto organização. Convidamos todos os leitores recifenses, pernambucanos e nordestinos a se somarem conosco nestas batalhas.

 
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