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25J - DIA DA MULHER NEGRA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA
25J: Eua, América Latina e em todo mundo: as mulheres negras no combate ao racismo e capitalismo
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

O dia internacional das mulheres negras, latino-americanas e caribenha busca resgatar a nossa história, e como disse o revolucionário CRJ James “o único lugar onde os negros não se rebelaram é nos livros dos historiadores capitalistas". Mas dessa vez, esse dia tem uma marca especial pois as mulheres negras estão no centro da luta de classes mundial. Somos as grandes protagonistas da fúria negra que explodiu nos Estados Unidos e se alastrou por todo mundo, lutando contra o racismo e a violência policial. Assim como aquela garotinha tão jovem, que com tanta força expressava seu ódio contra esse sistema racista ao gritar “sem justiça, sem paz”, nós nos levantamos todos os dias e lutamos incansavelmente contra as mazelas do capitalismo que usa do racismo e da opressão de gênero para aprofundar a exploração sobre a classe trabalhadora e o conjunto da população.

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A luta das mulheres negras é a luta de classes

A pandemia da Covid-19 aprofundou as consequências da crise capitalista. Enquanto a doença mata mais o povo negro, o desemprego, a precarização do trabalho e a violência policial se aprofundaram em novos patamares. O racismo faz com que sejam nós, negras e negros, os que mais sofrem as consequências dessa crise. Foi assim que explodiu no coração do império uma revolta que unificou diversas etnias para gritar: Vidas Negras Importam. As mulheres negras são o rosto dessa mobilização, por George Floyd, por Breonna Taylor, por cada negra e negro assassinado pela polícia racista, nos levantamos e fomos às ruas. Contagiamos o mundo nos protestos contra a violência policial em diversos países, na luta justiça para Adama Traoré na França, pela derrubada das estátuas dos escravocratas racistas e colonialistas em toda Europa, nas manifestações antirracistas e antifascistas no Brasil, na luta das e dos trabalhadores que em todo mundo estão se levantando contra a crise sanitária e econômica. Nós estamos no centro da luta de classes, porque a ampla maioria das mulheres negras são parte da classe trabalhadora.

Nos EUA lutamos contra o racista e misógino Donald Trump, mas também contra os governos Democratas, porque não vai ser com o racista Joe Biden, assim como não foi com um presidente negro como Obama, que vamos mudar a realidade de que a polícia é o braço armado do Estado capitalista e seu único sentido de existência é reprimir aqueles que não são parte da classe dominante, especialmente se eles forem de cor. Essa luta contagiou a classe trabalhadora norte-americana, que passou a defender a expulsão da polícia dos seus sindicatos e da suas centrais sindicais, com paralisações e diversas ações de solidariedade dos trabalhadores da saúde, dos portuários e metalúrgicos, fez explodir o número de greves naquele país. As jovens negras que protagonizam as mobilizações de ruas são também aquelas cujo capitalismo reserva um futuro de trabalhos com jornadas intermitentes e sem direitos. Como sempre fizemos em toda nossa história, nos rebelamos contra essa perspectiva e lutamos.

No Brasil, as mulheres negras são um exército de milhares de trabalhadoras. Somos as que estão na linha de frente trabalhando nos serviços essenciais na saúde, nos transportes, na alimentação, as trabalhadoras terceirizadas da limpeza. Somos as mais de seis milhões de trabalhadoras domésticas, esse resquício da escravidão que segue para satisfação da elite racista do nosso país. Somos Mirtes, que foi obrigada a passear com o cachorro dos patrões e quando voltou encontrou o corpo do seu filho, morto pelo descaso e responsabilidade da patroa que foi incapaz de cuidar da criança por um momento que fosse. Somos as que gritam justiça por Miguel. Também somos as milhares de mulheres que perderam seus filhos pelo racismo, pela violência da polícia que mais mata em todo mundo, somos as mães de Juan, Gabriel, Guilherme, Ágatha, João Pedro. Nos obrigam a trabalhar para não morrer de fome, quando nos falam ficam em casa, não garantem o direito a quarentena e mandam sua polícia que dispara 70 tiros contra uma casa cheia de crianças. Somos Marielle, mulher negra, LGBT, da favela, somos a ferida aberta do golpe institucional, um crime cujo o estado é responsável. Sem justiça, sem paz!

Entre a pandemia, o desemprego e os ataques lutamos para que os capitalistas paguem pela crise

No Brasil de Bolsonaro, Mourão e os militares, somos as milhares que choram seus mortos enquanto o presidente diz “E daí?”. Somos as que estão na fila da Caixa para receber o insuficiente auxílio emergencial e as que se desesperam com a ameaça das demissões e do desemprego - que o governo não fez nada para evitar. Somos as que veem os governadores, os prefeitos, os ministros do STF e a grande mídia posando de defensores da ciência, preocupados com a saúde, enquanto nós sofremos com o fato de que eles não garantem as medidas elementares, como testagem massiva e leitos. Somos as que escutam eles dizendo “fique em casa”, enquanto nossos patrões nos obrigam a sair para trabalhar, senão irão tirar nossa única fonte de sustento. Somos as entregadoras que protagonizaram a maior paralisação dos trabalhadores de aplicativos de todos os tempos e que neste 25 de julho estaremos novamente nas ruas, protagonizando uma segunda paralisação nacional contras as empresas que nos exploram e buscam legalizar a precarização como nova regra no mundo do trabalho pós pandemia.

A busca de uma saída contra o racismo e a crise se liga à luta pelo Fora Bolsonaro e Mourão, e também precisa se colocar contra esse judiciário racista e contra todo o regime herdeiro da escravidão e do golpe institucional. Nós mulheres negras precisamos estar na linha de frente da luta por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana para mudar as regras desse jogo, para que sejamos nós e a nossa classe aqueles que definam quais são as leis que vão reger a nossa sociedade. E neste processo, defenderemos a necessidade de se avançar para lutar por um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo. Precisamos unificar nossa classe na luta de classes para superar a estratégia do PT, com sua divisão de tarefas entre os seus governadores que implementam ataques, como a reforma da previdência, e seus dirigentes nas centrais sindicais como CUT e CTB que continuam “em quarentena” mantendo a classe trabalhadora, especialmente as mulheres negras, desorganizada e fora do combate, enquanto os ajustes “passam como boiada”. O que também passa longe das “frentes amplas” em aliança com nossos inimigos de classe, das quais infelizmente parte da esquerda, como o PSOL, vem participando.

A luta contra o racismo é internacional e também precisa se colocar contra esse sistema capitalista

Somos as protagonistas do maior movimento da história dos EUA, somos as que estão na linha de frente de diversos processos da luta de classes em todo mundo. E nesse momento vemos várias tentativas dos governos e patrões para domesticar nossa luta e tirar toda potência que a fúria negra pode significar para apresentar outra perspectiva de futuro. Querem transformar nossa imagem em produtos, em símbolos vazios que podem ser assimilados pela burguesia desde que estejam desligados de uma estratégia de combate e enfrentamento contra esse sistema. Como se nossos sonhos se limitassem aos filmes de princesas e super-heróis, como se nossa luta fosse para que as mesmas marcas que vivem do nosso trabalho, do nosso sangue e suor, agora passem a usar nossos rostos para fazer propagandas dos seus produtos. Nossa luta é muito mais do essa representatividade vazia dos capitalistas, não queremos mais Michelles Obama, Condoleezzas Rice ou Ninas Silva. Nosso feminismo não é o mesmo que o de Djamila Ribeiro, que com toda sua referência e prestígio em torno da discussão racial faz propaganda para uma das empresas que mais explora os negros, a 99 táxi e com o Bradesco Woman defende um dos brancos que mais lucram com o roubo do nosso trabalho.

Nosso feminismo é internacional e socialista, lutando contra o imperialismo nos EUA, na América Latina, na Palestina e em todo o mundo. Chamamos a todas as mulheres negras, latino americanas e caribenhas para acompanhar vivamente os debates da Conferência Latino-Americana e dos Estados Unidos convocada pela convocada pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores da Argentina, para os dias 30, 31 de julho e 1 de agosto. Um evento que terá no centro o debate sobre a luta de classes internacional, da qual nós mulheres negras somos parte da linha de frente. Uma importante iniciativa que busca debater com outras correntes da tradição trotskista a necessidade de estabelecer, além das nossas diferenças, uma atuação em comum nesse período para fazer com que sejam os capitalistas e não os trabalhadores, os que paguem por essa crise. Buscando tirar as lições fundamentais do momento, debatendo a necessidade de constituir em cada país uma Frente Única dos Trabalhadores contra as burocracias sindicais, para golpear com um só punho os ataques dos capitalistas contra os negros e os trabalhadores. Na perspectiva de dar passos para organizar uma Conferência Internacional, que abranja as correntes da esquerda dos quatro cantos do mundo, para discutir os marcos programáticos e estratégicos da reconstrução da IV Internacional, o partido mundial da revolução, com toda a atualidade das ideias do Leon Trótski, às vésperas do 80º aniversário de seu assassinato pela contrarrevolução stalinista.

Conforme declarou Letícia Parks, no ato internacional contra o racismo e a violência policial da Fração Trotskista: “Como dizia Leon Trotski, para ser um revolucionário é preciso enxergar a vida com os olhos das mulheres. Nesse momento de fúria negra e da brutal violência racista e patriarcal, eu faço uma chamado a todos vocês, a olhar a vida com o potente olhar das mulheres negras, que em todo mundo não tem nada a perder a não ser os seus grilhões”. A cada dia fica claro como o reformismo se torna uma saída ainda mais utópica com a profundidade da crise capitalista, que está fazendo retornar a luta de classes de forma cada vez mais profunda. O MRT chama a que nos preparemos para isso lutando por um partido revolucionário dos trabalhadores que movem o país, com sua maioria de mulheres e negros, para superar pela esquerda o PT e as burocracias, lutando por um partido mundial da revolução, superando a fragmentação dos socialistas e unificando a classe trabalhadora na luta de classes. Esse é o chamado que fazemos para todas as mulheres negras nesse 25 de julho.

 
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