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BREQUE DOA APPS
Por que é nossa tarefa como Movimento Negro e de Mulheres apoiar o Breque dos Apps no 25J?
Cristina Santos
Recife | @crisantosss
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No dia 1º de Julho, vimos o que já pode ser considerada a maior manifestação dos trabalhadores entregadores de APPs. A paralisação aconteceu ao mesmo tempo em países como Argentina, Chile, Costa Rica e México, mostrando seu potencial como um ponto de apoio para a resistência contra a chamada “uberização” das relações de trabalho. Desde a rede internacional de diários e dos locais de trabalho e estudo onde atuamos, nós do Esquerda Diário e do Quilombo Vermelho fomos ativos em apoiar e ajudar a construir esta batalha, que já é um marco na luta dos trabalhadores contra a superexploração do trabalho das plataformas digitais como IFood, Rappi, Uber, 99Taxi, GetNinjas, Diarissima, Blumpa etc.

No próximo 25 de julho, os entregadores estão chamando uma nova manifestação, onde seguirão exigindo suas demandas por melhores condições de trabalho, melhor remuneração e equipamentos de proteção. São demandas elementares as que levantam os entregadores e em um momento onde sua atividade vem se mostrando mais do que essencial. Em suma, são os que permitem que alguns setores de fato possam se isolar e, dessa forma, frear minimamente o contágio da COVID-19, que já ceifou a vida de mais de 80.000 pessoas no Brasil e tivemos, até o momento, mais de 2 milhões de contaminados segundo os dados oficiais – sabemos que são subnotificados pela incapacidade de testagem fruto da irresponsabilidade dos governos tanto Federal quando Estaduais.

Esta também é a data em que comemoramos o dia internacional da mulher negra latino-americana e caribenha, dia destas que estão nos piores postos de trabalho, que chegam a receber até 40% a menos do salário de um homem branco, que perdem seus filhos, filhas, irmãos e irmãs nas mãos da polícia racista e que são as maiores vítimas da ilegalidade do aborto. Assim como os entregadores, as mulheres negras também são alvo desse novo modelo de exploração digital através de aplicativos de serviços de limpeza. Achamos que não podemos encarar este 25J como uma mera coincidência rotineira de calendário, e sim buscar confluir essas datas como lutas da nossa classe.

Na sua investigação de estréia, o Observatório da Precarização do Trabalho e da Reestruturação Produtiva, impulsionado pelo Esquerda Diário, pôde nos apresentar um verdadeiro Raio-X de quem são estes entregadores em luta: uma grande maioria de jovens negros, que precisam cumprir jornadas larguíssimas para chegar a menos de 2 salários mínimos no final do mês. Além disso, mais da metade já sofreram acidentes durante o trabalho, o que inclusive dá base ao alarmante dado do aumento de mortes e acidentes de motociclistas e ciclistas durante a pandemia, ao mesmo tempo em que houve queda considerável no número global de acidentes de trânsito.

Como já desenvolvemos profundamente nesse artigo, essa nova era de servidão digital é um reflexo da crise de 2008 nas relações trabalhistas. Crise essa que gestou a necessidade de a classe burguesa reduzir o custo do trabalho para manter seus lucros, o que resultou, para os formais, ataques às suas conquistas históricas. Ao mesmo tempo, criou um marco legal para a superexploração de setores que já se encontravam na informalidade, como era o caso de muitos entregadores e diaristas, setores majoritariamente composto por negros e negras.

No entanto, a uberização buscou ir ainda mais fundo, tentando tirar destes trabalhadores até mesmo a sua própria identidade de classe, tentando vender a ideia de que seriam “empreendedores”. “Empreendedores” que chegam a ganhar menos de R$ 1,00 por quilometro rodado, que sentem fome enquanto carregam comida nas costas, a quem é negado o acesso ao banheiro no próprio estabelecimento de que faz entregas por causa da cor da sua pele. Estes são empreendedores para a IFood, Rappi, Uber Eats entre outros. Por isso, também é tão importante a mobilização destes setores a partir dos métodos de luta da classe trabalhadora; pois, ao tempo que coloca a luta de classes na ordem do dia no marco do governo de extrema direita e anti-operário de Bolsonaro e Mourão, apresentam também uma derrota ideológica para a Burguesia da superexploração do século XXI, a partir do momento em que esses trabalhadores se reconhecem no lado da trincheira do inimigo histórico dos capitalistas, a Classe Trabalhadora.

Foi neste contexto também que buscamos dialogar com o que expressou a filósofa Djamilla Ribeiro em um post na sua página do Instagram, no qual fazia propaganda para a 99Taxi, uma das maiores “uberizadoras” de força de trabalho no Brasil, concorrente direta da gigante Uber. Em seu vídeo, sem falar uma única palavra da greve marcada para o 25J dos entregadores ou da realidade das mulheres negras também exploradas via aplicativos e muito menos da necessidade do movimento negro de conjunto apoiar estas mobilizações, Djamilla vende para seus seguidores os serviços de uma empresa que utiliza os mesmos moldes de exploração que os trabalhadores estarão denunciando neste 25J.

Para alguns, pode ter parecido uma enorme incoerência, já que a filósofa é uma respeitada lutadora contra o racismo, e empresas como essas utilizam do racismo para maximizar seus lucros. Mas o que se aparenta como incoerência é, na verdade, a demonstração da total bancarrota estratégica de levar uma luta antirracista desconectada da luta da classe trabalhadora, esta que é, em sua grande maioria, feminina e negra. Ao contrário dos entregadores quando se identificam como parte da classe operária e se colocam no lugar que lhes pertence da história, Djamilla escolhe se localizar na margem oposta, junto à burguesia que diz que somos “empreendedores”. Infelizmente, mesmo depois de vários de seus seguidores questionarem o anúncio, nem uma palavra foi colocada, o que também nos mostra para onde leva o caminho do empoderamento individual por fora de qualquer conteúdo de classe.

Nós, desde o Quilombo Vermelho, consideramos que a luta dos entregadores, assim como a das mulheres negras, precisa ser tomada como uma luta de todos os negros e negras deste país e chamamos a todas e todos para que estejam junto conosco na nova paralisação de entregadores chamada para o próximo 25J.

Sabemos que projetos como o apresentado por Tabata Amaral, que busca normalizar a precarização imposta pelas empresas de app com o PL 3748/2020, ao mesmo tempo que busca ensaiar uma resposta que desmobilize os trabalhadores em luta, representaria uma grande derrota, pois geraria as bases legais para nivelar por baixo a nossa classe em seu conjunto. Nossa perspectiva precisa ser a de fortalecer e apoiar o movimento dos entregadores, levantando também as demandas das mulheres negras neste 25J, como parte da nossa luta negra contra a precarização que atinge principalmente os nossos corpos.

Todo apoio à greve dos entregadores! Vamos juntos rumo ao 25J!

 
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