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Desigualdade e exclusão: pais temem o abandono escolar dos filhos
Lina Hamdan
Mestranda em Artes Visuais na UFMG

Em tempos de pandemia, crise capitalista e governo Bolsonaro, pais temem que seus filhos desistam de estudar tamanha precariedade e risco. Temos saída para a educação de nossa juventude?

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Foto: Getty Images

Bolsonaro e Guedes sofreram uma derrota ontem com a aprovação, na câmara dos deputados, da renovação do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), que não queriam renovar para o ano que vem esse que é o principal fundo da educação básica no país. Porém isso não significa de forma alguma que os milhões de jovens estudantes da educação pública terão condições de se manter estudando.

A situação é dramática. As condições estruturais nas escolas públicas para receber presencialmente os estudantes de maneira adequada frente à pandemia estão sendo fortemente questionadas. Ao mesmo tempo, os governos, nacional, estaduais e municipais, coordenam o retorno inseguro às aulas em muitas regiões de país, num cenário em que os próprios pais se sentem pressionados pelos seus patrões e pelo bolso a aceitarem que sua família se exponha ao risco de contaminação.

Mas não só as condições insalubres das escolas públicas impõem um desafio à educação infantil e fundamental. Toda a educação no Brasil está ameaçada pelo Ensino Remoto que está sendo imposto para os estudantes e professores sem nenhum preparo ou condição de que esse método de ensino seja minimamente qualitativo, quem dirá quanto à desigualdade e a exclusão que ele gera.

Os dados indicam que um terço dos pais brasileiros estão claramente receosos que seus filhos larguem a escola pública. Não por menos. O ensino à distância escancara as desigualdades no país, tanto pelas condições de assistir aulas e estudar, que varia enormemente entre os estudantes e que provoca enorme desmotivação para continuar os estudos, quanto pelo fato de que a corrosão econômica desatada com a atual crise capitalista obriga um número cada vez maior de estudantes a trabalharem para conseguirem contribuir com o sustento de suas famílias.

A grave situação coloca desde muito cedo aos jovens a necessidade de colocar na balança o valor da educação, sobretudo quando ela claramente não será qualitativa. Os estudantes começam a duvidar da necessidade de estudar de maneira tão precária em uma situação de tanto desemprego e aumento da fome.

O futuro das crianças e dos jovens, sobretudo negros e pobres, está se formando cada vez mais claramente como muito pior do que era o futuro dos seus pais. Cada vez mais vai se construindo um cenário de enorme evasão escolar, que só caminha para aumentar as desigualdades ao limite, na medida em que o próprio mercado trabalhista acentua cada vez mais o trabalho sem direitos, precário como o dos entregadores.

Assim, os pais temem que, enquanto alguns poucos poderão conseguir continuar aprendendo a ler e escrever, a evasão escolar de seus filhos seja inevitável. Está na balança saber ler ou poder comer.

É nesse cenário de crise sem precedentes que o governo Bolsonaro e mourão, recheado de militares que não deixam de ter dinheiro no bolso nem em tamanha crise, quis emplacar um verdadeiro "apagão" na educação. Sendo que a cada ano, para pagar a dívida pública (que não é dos trabalhadores, das crianças, dos jovens, que mal sabemos de onde vem tanta dívida) cerca de um trilhão de reais se esvaem dos cofres públicos direto para o bolso de um punhadinho de banqueiros super-poderosos.

Isso porque o interesse dos Executivos, em todas as suas esferas, mas sobretudo os governos ultra reacionários, querem que a educação esteja a serviço do lucro de alguns empresários que podem tirar mais dinheiro da educação de má qualidade à distância, da saúde ameaçada ou do trabalho e do suor de milhões de famílias inteiras.

Vendo isso, só consigo pensar como as direções de sindicatos de trabalhadores da Educação (mas também de todos os ramos, afinal o trabalho dos pais das crianças também está ligado à pressão pela educação insegura e excludente) e as grandes centrais sindicais, as organizações de esquerda que movimentam e organizam enormes massas de trabalhadores e jovens, todas essas estruturas que servem à representação e à organização trabalhista e estudantil não poderiam estar à frente de uma enorme mobilização por educação digna? Tenho certeza que apoiariam os pais, os estudantes, cada professor, cada pessoa desse país que sempre quis que o mínimo que toda criança tivesse fosse comida, trabalho seguro para seus pais e educação igualitária.

Todas essas castas que dirigem estas organizações populares e de trabalhadores deveriam sair de suas quarentenas de sono e deveriam se colocar em movimento pela Educação. E lutar pela educação necessariamente passaria por todas essas centrais sindicais, partidos e movimentos exigirem primeiramente a estatização sem indenização dos ricos empresários do ensino de todo o sistema privado de ensino, para que não falte escola para nenhuma criança ou jovem. A educação tem que estar a serviço das famílias trabalhadoras, não do luxo dos que especulam em cima de nossa desgraça.

Como disse anteriormente, frente ao rombo causado pelo pagamento da dívida pública, os partidos de esquerda deveriam batalhar dentro de cada sindicato pelo não pagamento desta, para que possamos destinar os recursos produzidos no nosso país para a educação. E, com certeza, toda essa luta e mobilização devem estar completamente ligadas a um combate efetivo para retirar o governo Bolsonaro e Mourão por meio da mobilização por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana e não pelo Impeachment ou cassação de chapa. Porque não podemos perder um segundo sequer confiando no Congresso Nacional, na medida em que, mesmo não tendo aprovado o ataque do Fundeb ontem, a gigantesca maioria dos partidos que estão na Câmara e no Senado e que aprovaram a renovação do Fundeb há muito tempo não medem esforços para sucatear a vida, a saúde, o trabalho e a educação da população brasileira.

A Assembleia Constituinte seria uma forma de impor uma saída para as inúmeras faces da atual crise através da decisão direta dos trabalhadores, de maneira completamente independente de todos os partidos ligados ao empresariado, aos banqueiros, ao capital estrangeiro, que não estão nem aí para a educação da juventude brasileira.

 
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