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EDITORIAL MRT
Por que apoiar a paralisação internacional de entregadores de APP em 1 de julho?
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

Foram os entregadores do Brasil que saíram na frente, votando a paralisação nacional para o 1 de julho. Nós do Esquerda Diário, que viemos apoiando essa luta, colaboramos junto a outros coletivos para articular uma reunião com entregadores da Argentina, que já votou adesão em uma assembleia da categoria, além de entregadores de outros países como México, Chile, Costa Rica, Guatemala e Equador.

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Os entregadores no Brasil vêm de alguns anos começando a se organizar, com uma série de paralisações por empresa e por cidade, mas o cenário da pandemia, que mostrou o papel essencial destes trabalhadores e os colocou em exposição e exploração extrema, acirrou os ânimos na categoria, que resolveu articular pela base uma grande paralisação nacional. A paralisação é construída por centenas de entregadores independentes, pelo coletivo Treta no Trampo, pelos Entregadores Antifascistas, e apoiada e construída por diversos setores como nós do Esquerda Diário.

A partir da votação desta data, definida pelos entregadores em uma assembléia virtual, articulada pelas redes sociais e que vem ganhando maior adesão e apoio em todo o país, nos colocamos à disposição para articular uma reunião internacional com a ANTR (Assembleia Nacional dos Trabalhadores Entregadores, pela sigla em espanhol), que tem vários grupos de entregadores como La Red (impulsionada pelo PTS, Partido dos Trabalhadores Socialistas, organização irmâ do MRT na Argentina), ATR (impulsionada pelo PO, Partido Obrero) e outros setores. Se somaram também entregadores de outros países latinos e foi debatida a importância de fazer um chamado a uma paralisação internacional. A ANTR já votou em assembleia a paralisação e, nesse sentido, já temos Brasil e Argentina claramente articulados para uma paralisação comum e um chamado a expandir internacionalmente com representantes de diversos países.

A paralisação no Brasil se dá por reivindicações completamente legítimas como o aumento do valor pago por quilometro rodado, o aumento do valor minimo das corridas (que se tornaram ainda menores em meio a pandemia), o fim dos bloqueios indevidos feitos pelas empresas alem de medidas elementares como EPIs, auxilio doença (diante do risco de contaminação) seguro de vida, de acidente ou de roubos.

Na sua imensa maioria os entregadores fazem jornadas esgotantes e ganham um salário de miséria, enquanto as empresas lucram bilhões. Trata-se de um trabalho extremamente precarizado, em grande parte feito por negros e negras, que no Brasil sempre estão nos piores postos de trabalho. Depois do aumento do desemprego e da demanda por conta do isolamento social em meio a pandemia esse tipo de trabalho precarizado deu um salto imenso na quantidade cada vez maior de trabalhadores que são obrigados a trabalhar sem os mais minimos direitos trabalhistas e assumindo todos os custos de seus equipamentos de trabalho como as mochilas de entrega, manutenção das motos, bicicletas, celulares, maquininhas, capas de chuva, alcool gel, mascaras etc com jornadas de até 14 horas diárias.

Essa condição de trabalho extremamente precária, que concentra também a juventude trabalhadora e negra que sofre com a repressão policial, o racismo e a incerteza de seu futuro são um elemento potencialmente explosivo e o que começamos a ver aqui no Brasil também são os negros e os setores precarizados da classe trabalhadora sendo aqueles que estão se levantando, como em todo o mundo.

Nós do Esquerda Diário estamos impulsionando uma campanha de solidariedade à greve nacionalmente, em todas as categorias que alcançamos, com medidas como campanha de fotos e nos metroviários de SP sendo parte de uma articulação para um indicativo de greve da categoria para o dia 1 de julho contra os diversos ataques que vem sofrendo de Doria. Tentamos contribuir em distintas categorias para a classe trabalhadora atuar com um só punho. Somos uma só classe e uma só luta. Tanto no Brasil quanto internacionalmente.

Essa articulação com entregadores da Argentina pode trazer também para o Brasil importantes elementos avançados do movimento de entregadores de lá, como as experiências de auto-organização em base ao método de assembleias, onde debatem e votam as mobilizações, ações e o programa e métodos do movimento democraticamente.

A batalha pela unidade dos diferentes setores da classe trabalhadora contra a precarização

Doria e a direção do Metrô de SP anunciaram nesta segunda (22) uma lista de enormes ataques aos metroviários. Entre eles estão o plano de saúde, o adicional de risco de vida, auxílio e estabilidade em caso de doença, entre vários outros, com cortes de adicional noturno e de horas extras já no pagamento desse mês e descontos em adicionais como férias retroativos ao mês passado. Justamente durante uma crise sanitária, onde os metroviários estão na linha de frente, trabalhando sob risco durante toda a quarentena mal feita pelo governo de SP; justamente na semana em que morreu o primeiro metroviário que estava em serviço por covid-19 e são quase 300 afastamentos de metroviários por contaminação ou suspeita; justamente quando o país passou as terríveis marcas de 1 milhão de contaminados e 50 mil mortos; justamente quando o estado reduz a quarentena ao mesmo tempo em que bate o recorde de ocupação de leitos, deixando mais lotado o metrô que, com essa mesma justificativa, está convocando criminosamente de volta ao trabalho presencial os idosos afastados.

Governadores como Doria querem se cacifar ǹa disputa com Bolsonaro pelo apoio da burguesia mostrando que são capazes de arrancar os direitos conquistados pelas setores mais organizados dos trabalhadores, contrapondo-os aos setores mais precarizados e que mais estão sofrendo na pandemia, para dividir nossa classe, e nivelar por baixo as condições de trabalho de todos. Devemos combater isso defendendo o contrário, batalhando pela unidade da classe, dizendo, como na declaração de apoio aos entregadores aprovada há algumas semanas pelo Sindicato dos Metroviários de SP: Somos todos trabalhadores essenciais dos transportes, e os entregadores de aplicativos devem ter todos os mesmos direitos que os metroviários. Os metroviários votarão nos próximos dois dias uma proposta de indicativo de greve, e nós do MRT, que integramos uma minoria da diretoria do sindicato junto aos companheiros do Nossa Classe, viemos defendendo esse indicativo de greve para o dia 1/7, para unir forças com os entregadores.

Colocamos todas as nossas energias em apoio à este movimento dos entregadores e cada luta da classe trabalhadora nacionalmente, batalhando para que também aqui no Brasil chegue os ares de luta de classes que está cada vez mais presente internacionalmente, especialmente depois do levante negro nos EUA que sacudiu o mundo e gerou protestos em todos os continentes, com os setores precarizados na linha de frente. Que entre em cena o movimento de massas com seus métodos de greves e manifestações, é crucial, para que sejam os capitalistas e os governos que paguem pela crise e não os trabalhadores com maior exploração e opressão. Nessa crise, somos nós ou eles. É nessa perspectiva que apoiamos a luta dos entregadores por todas as suas reivindicações mais elementares, mas entendendo que todas as lutas devem avançar pra questionar o conjunto dos lucros capitalistas e os governos como Bolsonaro, os governadores como Dória e as instituições capitalistas que são os responsáveis tanto pelas dezenas de milhares de mortes pela pandemia quanto pelo avanço do desemprego, da precarização do trabalho e das privações sofridas pelo povo trabalhador.

Consideramos que num país onde Bolsonaro lidera um governo com Mourão, Guedes e outros militares que são capachos do Trump e expuseram os países com seu negacionismo às maiores quantidades de infectados e mortos na pandemia, e onde a “oposição” são também algozes dos trabalhadores e golpistas como João Doria, Witzel, Rodrigo Maia e o STF, é muito importante que estejam entrando em cena as manifestações de rua como parte do fenômeno anti-fascista e anti-racista (ainda que contidas em seu tamanho devido ao auge da crise sanitária) e agora setores de trabalhadores precários assumindo a linha de frente da luta pelos seus direitos.

Por tudo isso, a partir do Esquerda Diário não separamos a luta para fortalecer e impulsionar todas as medidas de resistência dos trabalhadores por suas reivindicações da necessária batalha pelo Fora Bolsonaro e Mourão e por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana imposta pela luta entendendo mais do que nunca que não nos basta uma mudança de fachada ou a troca de um governo por outro, mas que é necessário destruir todo esse regime do golpe institucional que vem impondo os planos de ajustes para atacar a classe trabalhadora.

Lamentavelmente os entregadores saem em sua luta convocada para o dia 01/07 sem poder contar com as mais minimas medidas de organização da classe trabalhadora pelas centrais sindicais como a CUT e a CTB que deveriam estar organizando os trabalhadores para construir uma forte Frente Única Opérária a partir dos locais de trabalho para impor as reivindicações do conjunto dos trabalhadores. Se outros setores de trabalhadores nesse momento não estão saindo às ruas e se aliando a paralisação convocada pelos entregadores certamente tem a ver com a paralisia imposta pela direção das grandes centrais sindicais e por direções politicas como o PT e PC do B que fazem demagogia enquanto controlam e impedem a luta dos trabalhadores e aprovam ataques como a reforma da previdência nos estados do nordeste.

Somente desenvolvendo a mobilização da classe trabalhadora com seus métodos de luta como as greves e paralisações, poderemos dar uma resposta contra os ataques em cada categoria e nacionalmente, avançando numa luta que possa barrar todos os ataques enormes em curso e construir uma saída dos trabalhadores e do povo pobre e negro para essa crise. Somente a classe trabalhadora aliada ao povo negro podem fazer valer o lema “Vidas Negras Importam” em toda sua dimensão, pois não podemos mais aceitar que os negros percam suas vidas pelas balas da polícia, pelo covid 19 ou pelo trabalho precário. Os trabalhadores da linha de frente que estão morrendo na pandemia, são em sua maioria negras e negros. Se avançamos na massificação e articulação entre as lutas, podemos aumentar nossas forças para garantir direitos plenos a todos os trabalhadores, sem aceitar a precarização do trabalho e o falso discurso do “empreendedorismo”.

Chamamos toda a esquerda a girar todos seus esforços para que o “breque dos APP” tenha um grande apoio da população, apoiando também o boicote aos app no dia 1 de julho, para fazer a Ifood, Rappi, Uber Eats e demais empresas sentirem no bolso a força dos trabalhadores mobilizados e do rechaço da população à essa super-exploração exploração e a batalharmos juntos por uma alternativa politica de independencia dos trabalhadores que passa nesse momento por coordenar a luta pelo Fora Bolsonaro e Mourão nos delimitando claramente dos governadores, do STF, do PT e das centrais sindicais.

 
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