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Você imagina a tortura que é andar com fome carregando comida nas costas?
Clara Gomez
Estudante | Faculdade de Educação da USP

Em relatos, entregadores de aplicativos escancaram a dura realidade que vivem diariamente em função da precarização do trabalho. Sem direitos e qualquer forma de amparo, esses trabalhadores cumprem longas de jornada de trabalho para receberem baixos salários, ao passo que são expostos à pandemia com a falta de EPIs. Frente a isso, eles chamam uma greve para o dia 1º de julho e participam dos processos de luta que se iniciam no país.

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A chegada do novo coronavírus no Brasil tem gerado uma série de efeitos sociais que estão diretamente relacionados com a desigualdade social do país. Com isso, os trabalhadores têm sido os mais afetados, sobretudo pelas precárias condições de trabalho, moradia e falta de acesso à saúde. Tomando o caso do entregadores de aplicativo, isso fica ainda mais claro.

Em sua maioria negros, sem qualquer direito ou amparo por parte das empresas (Ifood, Rappi e Uber eats), esse setor da classe trabalhadora - que tem aumentado cada vez mais em função do desemprego, um dos efeitos sociais da crise atual - é submetido a exaustivas jornadas de trabalho, variando de 12 a 14 horas por dia, para receber um salário de miséria.

Conforme o depoimento de Valdir Camargo, entregador de 29 anos, após cumprir uma longa jornada de 12 horas por dia durante duas semanas, o trabalhador recebeu somente 300 reais. Ainda com base em depoimento, fica evidente que não há qualquer preocupação por parte dessas empresas de aplicativo com a saúde dos entregadores em meio à pandemia, uma vez que Valdir segue sem ter acesso ao equipamento de proteção individual.

Casos como o relato acima são frequentes. Em outro depoimento, este de Paulo Roberto, de 31 anos, fica evidente quão absurda é a situação desses trabalhadores, que não têm os direitos mais básicos garantidos, enquanto, ao mesmo tempo, correm risco , recebem um salário incompatível com a realidade brasileira, incapaz de suprir as necessidades mais básicas:

"Não recebi álcool em gel de nenhuma das empresas para as quais trabalho, nem mesmo mensagens dizendo que eu poderia retirar o produto em algum lugar. A gente passa fome. Você imagina a tortura que é andar com fome carregando comida nas costas?", disse Paulo.

Paulo fez um vídeo recentemente, denunciando as condições de trabalho que os aplicativos submetem seus trabalhadores. Como resultado, foi bloqueado pelas companhias, perdendo parte de sua renda que, em função disso, agora só provêm do auxílio emergencial, também insuficiente para a realidade dos trabalhadores. Além dele, outros entregadores foram bloqueados pelos aplicativos, foi o caso de Júnior Silva, que atuava fortemente nos atos dos entregadores.

Diante dessa situação, que exibe o futuro que os grandes capitalistas, o governo Bolsonaro e o resto da direita querem reservar à classe trabalhadora, com o aprofundamento dos ataques, como as MPs, os entregadores de aplicativo têm se organizado e participado ativamente dos recentes processos de luta.

Em um ato na Avenida Paulista, transmitido e noticiado em tempo real pelo Esquerda Diário, os entregadores fecharam uma das pistas, mostrando sua força contra todos os ataques e as precárias condições de trabalho. Com a chegada dos processos de luta antirracista no Brasil, fortemente influenciados pelas manifestações nos Estados Unidos, coração do imperialismo, esses trabalhadores também têm atuado fortemente neles, como pode se ver nos atos do último domingo.

Paulo, trabalhador mencionado anteriormente, fez parte da fundação, junto a outros trabalhadores de aplicativo, da associação “Entregadores Antifascistas”, a fim de conseguir construir um processo de resistência e luta contra a uberização do trabalho.

Em função das precárias condições de trabalho, que se caracterizam pela ausência de direitos e um trabalho exaustivo, esses trabalhadores vêm correndo risco de vida tanto pela pandemia, quanto pelo acidentes de trabalho, que aumentaram muito nos últimos tempos. Nesse marco, as mobilizações organizadas por eles são fundamentais para combater todos os ataques que estão sendo promovidos pelo governo e demais setores da direita (Maia, STF e governadores).

É fundamental que, nesse marco, as grandes centrais sindicais, sobretudo a CUT e a CTB, dirijam atenção a esse setor da classe trabalhadora e parem de negociar a suspensão de salários e a MP de Bolsonaro, de modo que se construa uma forte luta contra todos os ataques. É preciso que essas centrais deixem de lado a paralisia e organizem a unificação de seus sindicatos e um amplo chamado para a greve, convocada pelos entregadores, no dia 1º de julho.

Combinado a isso, é preciso reforçar a necessidade de construção de organismos de auto-organização da classe trabalhadora, concomitante a luta contra as demissões promovidas pelos empresários durante a pandemia e também, pela exigência de um programa de auxílio e de renda mínima de 2.000 reais aos trabalhadores. Tudo isso, sem confiança em setores da direita, tendo como perspectiva a construção de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, para que a população discuta os principais assuntos atuais e decida os rumos do país.

Nós do Esquerda Diário e Quilombo Vermelho nos solidarizamos com toda a luta dos trabalhadores, e deixamos nosso canal disponível para eles denunciarem as precárias condições de trabalho que as empresas os submetem. Temos lutado por meio do Nossa Classe, outra agrupação nossa, para mais categorias de trabalhadores se solidarizarem com essa luta, tal como conseguimos no Metrô de São Paulo, onde aprovamos o apoio a essa paralisação.

Leia mais sobre a greve dos entregadores de aplicativo, convocada para o dia 1º de julho aqui

 
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