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PANORAMA
América Latina: com ritmos diversos, uma região em crise
Esteban Mercatante

Perto de concluir 2015, a região se aproxima de terminar o ano com a primeira contração regional registrada desde a crise de 2009. Sinais de um fim de ciclo que não faz distinções.

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No começo deste mês, o documento difundido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para a reunião em Lima de comércios deste mês, volta a corrigir para baixo as projeções para a região. Segundo os prognósticos nele difundidos, América Latina e o Caribe concluirão este ano com uma contração de 0,3%. Trata-se da primeira queda no produto da região desde 2009, quando a
bancarrota do comércio mundial gerado pelo crash de Wall Street de setembro de 2008 a golpeou em cheio.

O Brasil se encontra entre os países mais atingidos. Para ele é esperada uma contração de 3% para este ano e de 1% para 2016. Ainda piores são as previsões da Venezuela: 10% de contração em 2015 e 6% em 2016. No caso argentino, está previsto para esse ano um tímido crescimento de 0,4%, e em 2016 uma queda de 0,7%.

Essa situação não atinge de forma similar a todos os países. Na América do Sul, vários países possuem previsão de crescimento acima de 2 % para este ano e o próximo: Chile, Colômbia, Peru, Bolívia, Uruguai e Paraguai. O mesmo ocorre com o México, enquanto que para a América Central e o Caribe estão previstas taxas médias de 3,5% de crescimento.

Nos casos do México e da América Central, a maior vinculação com o que ocorre na economia dos EUA os é favorável, sendo que essa economia crescerá este ano 2,6 % e em 2016 2,8 %, segundo o FMI. Além disso, o México está recebendo consideráveis investimentos de multinacionais no setor automotriz, que o vêm transformando em plataforma para abastecer a os EUA.

Os diferentes ritmos se vinculam às distintas maneiras em o novo momento da crise mundial, marcado pela desaceleração do crescimento econômico da China e à queda dos preços das commodities, está atingindo a América Latina. Como observa Eduardo Molina em sua contribuição para a revista Ideas de Izquierda nº 24 de octubre, “a crise econômica mundial está sendo transmitida à região através de três canais principais: a instabilidade da débil recuperação norte-americana que, por conseguinte, exerce fraca tração sobre América Latina; a desaceleração que sofre a China e, com isso, a menor demanda e a baixa de preços das matérias-primas que a região exporta (de modo que estes bens se tornam também menos interessantes para especulação financeira nos ‘mercados futuros’)”. A isso se soma “a valorização do dólar frente a outras fronteiras, que encarece, em termos relativos, as exportações regionais”.

A agência Stratfor observa que, em comparação com outros momentos de deterioração, como as crises da dívida dos anos ‘80, “os países da América Latina estão em uma posição muito melhor para controlar a queda. Simplesmente não são tão vulneráveis aos altos e baixos cíclicos dos mercados de commodities”. O informe diz ainda que “a maioria dos países da região, com exceção da Argentina, têm índices muito menores de dívida externa e mais reservas internacionais. Isso os concebe maior flexibilidade na política monetária e maior acesso aos mercados de capital privados, ao invés de forçá-los a depender de empréstimos condicionados à aplicação de medidas de austeridade”. É de assinalar que também na Argentina o nível da dívida com credores privados em dólares está em níveis relativamente baixos, de 10 % do PIB. No entanto, a situação não é tão favorável como indicaria a análise de Statfor. Os menores índices da dívida são um dado favorável novo, mas tem-se alcançado forças para uma formidável transferência de recursos desde a região aos credores internacionais. Boa parte dos dólares recebidos pela via comercial graças ao auge dos preços das commodities exportadas tiveram como destino este custoso “desendividamento”. Os países que têm inchado a disponibilidade de dólares em seus bancos centrais, o tem feito apoiados em um forte ingresso de capitais de curto prazo, o que tem aprofundado a sua vulnerabilidade perante qualquer mudança nos fluxos de capitais, como os que vêm tendo lugar ao longo deste ano.

Esta nova situação se encontra com os regimes da região frente à evidência de que a suposta “oportunidade histórica” que trazia o superciclo das commodities tem sido outra promessa não cumprida, tanto para os autodenominados “governos progressistas”, que evidenciam em quase todos os casos sinais de um irreversível fim de ciclo, como para os que mantiveram políticas mais amigáveis ao capital estrangeiro, assim como para os países que se associaram ao Acordo de Associação Transpacífico. Voltando a Molina: “O importante crescimento da década anterior, que permitiu um aumento de 80 % do PBI latino americano, diminuição da pobreza e miséria extremas e do desemprego, além de ampliar o acesso ao consumo para camadas amplas da população trabalhadora, não significou um verdadeiro ‘desenvolvimento’, nem ‘decolagem’. Com a crise, fica exposta a persistência do atraso e dependência histórica do capitalismo na América Latina. […] não se transformou a localização regional subordinada no mercado mundial, ratificando-se a sua condição básica como provedora de matérias-primas, mercado secundário e fonte de rendas monopólicas e valorização financeira. Ao invés disso, se aprofundou o viés primário-exportador e extrativista, o atraso industrial e a dependência do capital estrangeiro, sem que haja possibilidade de reverter isso, apesar da perda do peso relativo que sustentava a América Latina no comércio mundial”.

Nesse novo panorama, mesmo com maiores margens de manobra devido ao fato dos preços das commodities em alguns casos estarem acima de seus mínimos históricos, e pelo endividamento, a implementação de políticas de austeridade, o retorno da discussão sobre “reformas estruturais”, e a busca por aprofundar a integração comercial participando dos planos impulsionados pelo imperialismo, são parte do consenso que a burguesía dos países latinoamericanos querem impôr para superar a crise, plano esse que golpeia em cheio contra as condições dos trabalhadores e dos setores populares.

 
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