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POLÊMICA
Mourão, entulho autoritário da ditadura, ameaça afogar em sangue as revoltas sociais
Lara Zaramella
Estudante | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

Em coluna de opinião do Estadão, o vice-presidente general Hamilton Mourão, deu um show de autoritarismo digno do defensor da ditadura militar que ele é.

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Imagem: Evaristo Só/AFP.

Sobre as manifestações antifascistas e antirracistas do último domingo, disse que os manifestantes teriam que ser conduzidos “às barras da lei”, que eram caso de polícia, que as manifestações que aconteceram em algumas das grandes cidades do país não tinham o direito de ocorrer e deveriam ser reprimidas por seu governo de generais e corruptos. Deixou mais uma vez claro o seu reacionarismo, autoritarismo e, como não podia faltar, seu apoio ao presidente Bolsonaro.

Na primeira linha da declaração, já coloca como vê que “a apresentação das últimas manifestações contrárias ao governo como democráticas constitui um abuso”, colocando os manifestantes como vândalos depredadores do patrimônio público e privado, reforçando que isto fere a democracia. Ora, nada como aprender os princípios básicos de democracia com o general de extrema direita, que saúda e invoca a ditadura militar iniciada em 1964. Quem depreda o patrimônio público de verdade é Mourão, Bolsonaro os filhos do presidente.

Para Mourão, os manifestantes, as milhares de pessoas que reprovam o governo Bolsonaro, que têm apoiado a fúria negra que percorre mais do que os Estados Unidos, chegando a outros países, como “baderneiros”, e para ele, isso seria “caso de polícia, não de política”, referendando a repressão, não só das manifestações do último domingo, mas toda repressão policial que tem sido denunciada. Com esta visão, podemos imaginar como está sendo a operação de Garantia da Lei e da Ordem na região amazônica liderada pelo vice-presidente.

Inclusive sobre a fúria negra despontada nos Estados Unidos, os gritos por justiça a George Floyd, assim como a João Pedro, João Vitor e tantos outros negros brasileiros assassinados desumanamente pela polícia racista, para o general do Exército, não tem sentido nenhum “trazer para o nosso país problemas e conflitos de outros povos e culturas”, declarando ainda que “é forçar demais a mão associar mais um episódio de violência e racismo nos Estados Unidos à realidade brasileira”.

É em uma de suas frases mais absurdas e reacionárias de seu artigo de opinião, que Mourão diz que “a formação da nossa sociedade (...) não nos legou o ódio racial nem o gosto pela autocracia” - negando mais uma vez a existência do racismo. O fato é que o Brasil é o país com mais assassinato de negros pelas mãos da polícia, inclusive comparando com os Estados Unidos, pesquisas recentes indicam como a letalidade policial no Brasil é cinco vezes maior que nos Estados Unidos, sendo que o estado do Rio de Janeiro sozinho supera o número de casos de todo o país norte-americano.

É absurdo e no mínimo cínico, que um general que reivindica a ditadura militar brasileira diga algo sobre não estar marcado na história política do país a presença de regimes autocráticos. Inclusive, não é de se estranhar que Mourão recuse a existência do racismo estrutural e institucional na sociedade e história brasileira.

Esta é mais uma declaração que mostra que quem acha que vale à pena levar adiante o impeachment de Bolsonaro para colocar Mourão no lugar está precisando acertar os ponteiros de sua bússola política. Negando o papel da atuação das massas de maneira independente do Congresso Nacional, tirar Bolsonaro para colocar Mourão é o mesmo que pedir chicote no lombo, ou ainda, ser conduzido “às barras da lei” como disse o vice-presidente.

A defesa do mito da democracia racial é proferida pelos políticos e burguesia nacional desde sempre. E assim foi feito pelos militares durante a própria ditadura militar, em que o ditador Costa e Silva, a partir das atribuições conferidas pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5), assinou o decreto-lei 510, artigo 33º, que proibia qualquer discussão pública que abordasse o tema da raça.Essa medida, na verdade, foi fundamental para a perseguição, criminalização, prisão e tortura de trabalhadores e militantes dos movimentos negros e da esquerda brasileira que denunciavam o racismo e a violência policial cometidos pelos militares.

“Desde quando, vigendo normalmente, ela [democracia] precisa ser defendida por faces mascaradas, roupas negras, palavras de ordem, barras de ferro e armas brancas?”

Em seu texto, não somente profere ofensas e reacionarismo aos manifestantes contrários ao governo, mas também às instituições políticas e da grande mídia que vêm assumindo um discurso “pró-democracia”. Se referindo a eles, Mourão questiona: “Aonde querem chegar? A incendiar as ruas do País, como em 2013? A ensanguentá-las, como aconteceu em outros países? Isso pode servir para muita coisa, jamais para defender a democracia. E o País já aprendeu quanto custa esse erro”.

Quando o vice-presidente deixa tão claro suas intenções de instaurar uma ditadura sob as máscaras de um sufrágio universal que foi raptado com o golpe de 2016 e com as eleições manipuladas por Sérgio Moro em 2018, cabe à esquerda refletir e fazer a autocrítica sobre a proposta do impeachment. Impeachment que leva a Mourão é a abertura para um regime ainda mais autoritário que o governo de Bolsonaro, significa tirar as botas do capitão do pescoço para colocar as do general no lugar. Ao contrário disso, nós do Esquerda Diário temos defendido a necessidade da esquerda levantar o Fora Bolsonaro e Mourão. Defendemos que somente um governo direto dos trabalhadores e do povo pobre, e sem alianças com os capitalistas como foi o governo do PT, é que será possível dar uma resposta para a crise que não seja o desemprego para milhões e a morte para milhares pela pandemia. Mas defendemos cada resquício de democracia que ainda resta hoje, dos escombros da Constituinte de 88 que foi tutelada pelos militares e ainda, se a maioria da classe trabalhadora e do povo pobre não é da opinião que os trabalhadores devam governar diretamente, propomos que dentro dos limites desta democracia capitalista a única forma que o povo pode se expressar é através de uma assembleia constituinte livre e soberana.

Leia também: Como encarar a luta antirracista e antifascista no Brasil?

 
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