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REUNIÃO MINISTERIAL
Diálogo de Teich e Braga Netto: Governo tem plano de abertura para atender empresários
Rafael Barros

Em parte da reunião ministerial, divulgada hoje pelo ministro Celso de Mello, um diálogo entre o ex-ministro Nelson Teich, e Braga Netto, fica exposto um plano de saída do isolamento, baseado em mentiras, para atender os empresários

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Em um dos trechos da reunião ministerial, liberada na tarde dessa sexta (22) pelo ministro do STF Celso de Mello, dentre as dezenas de absurdos ditos pelos ministros do governo Bolsonaro, um diálogo entre o ex-ministro da saúde Nelson Teich e Braga Netto deixou exposto qual o plano de Bolsonaro e dos militares sobre o isolamento social.

Os militares, como deixou claro o artigo de Mourão publicado a pouco mais de uma semana, e todas as declarações de Bolsonaro e seus aliados, foram contrariados com a decisão de tirar do governo federal o controle das decisões sobre o isolamento social. O suficiente para que os militares, liderados pro Braga Netto, buscassem um claro plano de abertura, de saída do isolamento, sem se importar em nada com as vidas que podem ser perdidas fruto disso.

No dialogo entre Braga Netto e Teich, eles falam sobre os desafios de diminuir o medo da população para poder falar mais publicamente de um plano de abertura. Mas não citam em nenhum momento os riscos que isso pode acarretar à vidas da população que sofre com a pandemia hoje, e que sofre com o colapso dos sistemas de saúde.

Alguns trechos deixam claro o como Teich se alinhou com a perspectiva colocada no diálogo por Braga Netto, de garantir um plano de saída do isolamento, mas sem preocupações com a saúde.

Ele diz que “(...) enquanto a gente não mostrar pra a sociedade que a gente tem o controle da doença, da saída dela, qualquer tentativa econômica vai ser ruim, porque o medo vai impedir que você trate a economia como uma prioridade”.

Teich expõe o desejo profundo de Braga Netto, Bolsonaro e do conjunto do governo de que a economia passe a ser uma prioridade, e isso falando de um momento (quando a reunião aconteceu) que a curva do vírus crescia mostrando que logo antigiramos um estado realmente grave, de colapsos nos sistemas de saúde de diversos estados.

Para Teich o principal a se controlar, aparentemente, não era o coronavírus, mas sim o medo da população que seria o grande impeditivo de avancar em recolocar a economia no centro da atuação do governo. “O medo impede que qualquer outra atividade tenha sucesso”, disse o ex- ministro.

No diálogo, Braga Netto coloca logo depois: “Porque se eu tiver os hospitais funcionando, eu vou ter os pacientes tratados, eu não tenho a sensação da crise, o medo melhora e o restante pode entrar. E a terceira coisa é a gente deixar claro um programa de saída do isolamento, do distanciamento”.

Um plano para evitar que exista uma “sensação de crise” e não de evitar que exista efetivamente uma crise, para assim, conseguir avançar nos planos de ataques economicos que são comuns aos ministros, descarregando as consequencias não só da crise sanitária mais também da economica nas costas da classe trabalhadora, e fazendo isso enquanto rifam milhares de vidas em nome dos lucros, para atender a enorme pressão empresarial pela abertura.
Na sequência do diálogo, Teich responde a pergunta sobre os prazos para o que foi chamado de um “plano de transição”, e mostra as intenções de acelerar o processo, mesmo com a curva do coronavírus num extremo ascendente.

Nelson Teich: A gente tá tra ... a gente tá trazendo um reforço .. .

Braga Netto: É ... A gente tá fazendo, isso aí.

Nelson Teich: ... para poder acelerar esse processo. Porque na verdade a gente tá … correndo contra o tempo. Enquanto a gente não conseguir controlar a percepção que a gente hoje tem condição de cuidar das pessoas, vai ser difícil, né?

Percebe-se facilmente no discurso de ambos que a resolução do problema para a condução de um plano de abertura depende mais da “percepção” do que da realidade enfrentada pelos trabalhadores e trabalhadoras da saúde que colocam seus corpos em risco no combate ao vírus. Um simples cálculo se fazer parecer mais preparado e equipado do realmente estamos para assim poder com mais tranquilidade avançar numa saída do isolamento que rifaria milhares de vida, mais do que agora já são rifadas com um isolamento que graças à politica ineficiente dos governadores, é um isolamento cego, sem testes e sem mapeamento do vírus, com altíssima subnotificação.

No momento anterior deste trecho, Jair Bolsonaro dialoga com a necessidade de se amenizar o sentimento do medo gerado pelos altíssimos números da COVID-19, e sugere que se oriente a adcionar nos obtuários mais causas para a morte além do coronavírus, contrariando a clareza atual que existe do vírus, de que certas condições de saúde são agravadas pela COVID-19, e não, como o presidente gostaria “outras causas de morte”

Jair Bolsonaro: “Ontem eu liguei pro Diretor-Geral da Polícia Rodoviária Federal. Chegou ao meu conhecimento, urna nota, que era dele, sobre o passamento de um patrulheiro. E ele enfatizou que era COVID-19. Eu liguei pra ele. "Por favor, o que mais? Ele era obeso, era isso, era" .. . bem, tinha ... como é que é? (dirigindo-se a Braga Netto)

Braga Netto: Como .. . comorbidades.

Jair Bolsonaro: Comorbidades. Mas ali na nota dele só saiu CODIV-19. Então vamos alertar a quem de direito, ao respectivo ministério, pode botar CODJV- 19, mas bota também tinha fibrose nu ... montão de coisa, eu não entendo desse negócio não. Tinha um montão de coisa lá, pra exatamente não levar o medo à população. Porque a gente olha, morreu um sargento do exército, por exemplo. A princípio é um cara que tá bem de saúde, né? Um policial federal, né? Seja lá o que for, e isso daí não pode acontecer. Então a gente pede esse cuidado com o colegas, tá? A quem de direito, ao respectivo ministério, que tem alguém encarregado disso, né? Pra tomar esse devido cuidado pra não levar mais medo ainda pra população.

Para Bolsonaro, vale até inflar os obituários já repletos de subnotificação com outras causas de morte para diminuir o medo da população e conseguir que a economia volte a girar, mesmo que seja às custas das vidas daqueles que farão essa roda funcionar. Uma proposição completamente absurda, mas que se encaixa totalmente no plano do governo de acelerar um processo de saída do isolamento para atender às demandas do empresariado brasileiro.

A troca exposta nesse diálogo mostra um alinhamento claro entre o ex-ministro Teich, que saiu do governo sem grandes declarações polêmicas e sem críticas, com Braga Netto e também com Bolsonaro, na condução da sua disputa contra o isolamento social. Uma mostra que este governo está com sua prioridade na economia, e principalmente, nos lucros dos grandes empresários, e não na vida da população e da classe trabalhadora, que morre sem leitos, que perde seus parentes sem sequer o direito a um teste, e que vê a pandemia destruir suas condições de vida.

Veja na integra o diálogo entre Nelson Teich, Braga Netto e Bolsonaro:

Nelson Teich: Alô. Bom, eu tô chegando aqui então é importante que eu .. . que eu coloque pra vocês como é que a gente vai trabalhar, né? É... a saúde ela é fundamental, porque enquanto a gente não mostrar pra a sociedade que a gente tem o controle da doença, da saída dela, qualquer tentativa econômica vai ser ruim, porque o medo vai impedir que você trate a economia como uma prioridade. Então controlar a doença hoje é fundamental. E controlar a doença não significa que a gente vai curar a doença em uma semana, mas que a gente não é um barco a deriva e que a gente tem uma estratégia pra trabalhar essa a doença, né? Então são três coisas que a gente vai trabalhar. Primeiro a informação, pra entender o que que é a doença, qual é a evolução dela, como é que tá infraestrutura pra cuidar da doença, porque u .. . u ... u ... um dos grandes problemas que a gente tem hoje, se a gente olhar o Brasil hoje, ele é um dos melhores países em número em relação a mortalidade. O que assusta é você ver que o hospital não consegue atender, é gente do frigorífico, é gente que tá abrindo cova em algum lugar pra enterrar, e isso traz medo. E o medo impede que qualquer outra atividade tenha sucesso. Porque enquanto isso não for sanado, o restante vai ter muito pouca chance de ser comprado pela sociedade. A segunda coisa é estruturar a operação de cuidado. Então a gente vai investir em logística, vai investir na parte de compra e tentar melhorar o processo.

Braga Netto: Por quê? Porque se eu tiver os hospitais funcionando, eu vou ter os pacientes tratados, eu não tenho a sensação da crise, o medo melhora e o restante pode entrar. E a terceira coisa é a gente deixar claro um programa de saída do isolamento, do distanciamento. Não é que vá sair amanhã, mas a gente tem que ter um planejamento. Porque aí a gente realmente mostra que a ... a situação tá na nossa mão. Pode ser que demore um pouco, mas a gente tá controlando esse processo, que a gente não tá sendo um barco a deriva. Então, basicamente eu queria fa ... falar para você essa que é a forma como a gente vai tratar e vou ... a gente vai tá interagindo com todos os ministérios que forem necessários para que isso aconteça da forma mais rápida possível, basicamente é isso e prazer tá aqui com vocês.

Braga Netto: Sim senhor (dirigindo-se a Jair Bolsonaro).

Jair Bolsonaro: Ontem eu liguei pro Diretor-Geral da Polícia Rodoviária Federal. Chegou ao meu conhecimento, urna nota, que era dele, sobre o passamento de um patrulheiro. E ele enfatizou que era COVID-19. Eu liguei pra ele. "Por favor, o que mais? Ele era obeso, era isso, era" .. . bem, tinha ... como é que é? (dirigindo-se a Braga Netto)

Braga Netto: Como .. . comorbidades.

Jair Bolsonaro: Comorbidades. Mas ali na nota dele só saiu CODIV-19. Então vamos alertar a quem de direito, ao respectivo ministério, pode botar CODIV- 19, mas bota também tinha fibrose nu ... montão de coisa, eu não entendo desse negócio não. Tinha um montão de coisa lá, pra exatamente não levar o medo à população. Porque a gente olha, morreu um sargento do exército, por exemplo. A princípio é um cara que tá bem de saúde, né? Um policial federal, né? Seja lá o que for, e isso daí não pode acontecer. Então a gente pede esse cuidado com o colegas, tá? A quem de direito, ao respectivo ministério, que tem alguém encarregado disso, né? Pra tomar esse devido cuidado pra não levar mais medo ainda pra população.

Nelson Teich: É que cê perguntou, em relação ... ele perguntou quanto tempo levaria para mostrar um plano, alguma coisa.

Rogério Marinho: (Ininteligível) apresentar um plano, se tem alguma perspectiva (ininteligível).

Nelson Teich: Eu acredito que ...

Braga Netto: O que?

Rogério Marinho: Um plano para (ininteligível).

M?: Um plano de transição.

Braga Netto: Não, não ... já ... já ... nós já conversamos hoje.

Rogério Marinho: Mas se ele tem essa ideia de tempo.

Braga Netto: Não, nós já conversamos hoje sobre isso (dirigindo-se a Nélson), (ininteligível) junto com a saúde, tá? Eu não posso dizer, tá?

Nelson Teich: A gente tá tra ... a gente tá trazendo um reforço .. .

Braga Netto: É ... A gente tá fazendo, isso aí.

Nelson Teich: ... para poder acelerar esse processo. Porque na verdade a gente tá … correndo contra o tempo. Enquanto a gente não conseguir controlar a percepção que a gente hoje tem condição de cuidar das pessoas, vai ser difícil, né? E o problema da doença é que cê pega um sistema que se você falar em eficiência, os hospitais tem que ser eficientes. Então quando você fala em eficiência, voe ... você vai quase no limite do cuidado. Cê não tem ... cê não tem sobra, cê não tem gordura. Quando você pega uma doença que chega, que é muita gente ao mesmo tempo, você não consegue ter agilidade pra preparar o sistema para cuidar dela. E a gente tem um problema adicional que a gente tem que tomar cuidado, que é o seguinte, como você tem os hospitais com pouca ... você tem muita gente falando de COVID, mas os hospitais estão diminuindo muito o atendimento. O que significa que eles vão ter problema financeiro. Se isso prorroga, esses hospitais vão ter cada vez mais dificuldades, você vai poder ter um hospital mais sucateado ou um hospital fechado. O que que tá acontecendo hoje? Vamos botar em números hoje, que a gente tenha quatro milhões de pessoas hoje com a COVID. Brasil hoje tem duzentos e doze milhões de pessoas. Tem duzentos e oito milhões que tão, que não estão ... não tão tendo atenção necessária. Proce ... é câncer, cardiovascular. Isso tudo tá represado, é demanda reprimida. Quando você controlar a COVTD, o não COVTD vai chegar com tudo, e você pode pegar uma estrutura sucateada. Aí vai ser. ..

Braga Netto: Vai ser o caos.

Nelson Teich: ... ai você só vai transferir o problema de medo. Que vai ser o medo da COVID pro medo da não COVID. Então a gente tem que tá preparado pra isso tudo. Então não é só trabalhar o ... o curtíssimo prazo. A gente tem que preparar pra essa segunda fase que vai chegar também Isso tudo a gente tá fazendo, só pra vocês saberem que a gente tá pensando nisso tudo. Só pra vocês saberem que tá tudo trabalhado.

 
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