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CORONAVÍRUS E LUTA DE CLASSES
Os trabalhadores migrantes radicalizam as manifestações no Líbano
Salvador Soler

Os migrantes são o setor mais precarizado do Líbano. O aprofundamento da crise no país fez com que milhares tomassem medidas mais radicalizadas.

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O Líbano atravessa uma das suas piores crises no terreno econômico e social, agudizada pela pandemia do COVID-19. Desde outubro passado ondas de manifestações contra o regime instaurado após a guerra civil que terminou em 1990 são vividas. Nas últimas semanas, os manifestantes tem rompido o confinamento obrigatório para inundas as ruas contra as políticas do Banco Central e do Governo de congelar a troca de dólares da lira libanesa, para evitar a escassez da moeda norteamericana, no marco da depreciação da moeda.

Estas manifestações atuais se transformaram em novas revoltas de fome, dando continuidade às começadas no outubro de 2019 que derrubaram o primeiro ministro Harari, e que se colocam contra o governo, apoiado em um regime sectario religioso, contra a austeridade, a corrupção política, a falta de responsabilidade, o desemprego, a recessão e os impostos planificados em produtos básicos como o combustível o tabaco e os serviços de comunicação como o Whatsapp.

A grande maioria da população depende do câmbio de dólares das remessas do exterior, ou do pagamento em dólares dentro do Líbano para enviá-lo para suas famílias em outros países.

É por isso que os trabalhadores recoletores de resíduos da empresa Ramco protestam, que exigem o salário em dólares ou seu equivalente na moeda local. Muitos deles são sírios, palestinos, nepalis, bengalis ou índianos. Durante toda a tarde desta terça-feira levantaram barricadas enfrentando a repressão da Polícia Militar em sintonia com a radicalização que tem alcançado as manifestações nas últimas semanas.

O desespero, a angústia e a raiva tem feito com que as manifestações do país sejam mais violentas. As agências bancárias tem sido bombardeadas e queimadas com molotovs, e um manifestante foi assassinado recentemente na cidade do norte Trípoli depois que as forças repressivas abriram fogo com balas de borracha e munição real.

A ex-colônia francesa abriga centenas de milhares de trabalhadores migrantes. O caso mais indignante é o de pelo menos 250.000 trabalhadores domésticas sob o sistema de contratação “kalafa”, provenientes das Filipinas, Etiópia e outros países africanos ou do sudeste asiático. Este regime de trabalho impõe condições semiescravas, utilizado em todo o Oriente Médio, implica a vinculação da residência legal dos trabalhadores migrantes com seus empregadores, sendo totalmente abusivo, aumentando o risco que sofram exploração trabalhista, trabalho forçado e tráfico de pessoas, já que muitas delas acabam na prostituição.

Além disso, no mês passado a Human Rights Watch advertiu que mais de um milhão de refugiados sírios corriam risco de passar fome durante o bloqueio do coronavírus se o Governo não os acudisse.

No começo de 2020, a pobreza já estava ao redor de 50% com uma taxa de desemprego de 46% segundo o presidente libanês, Michel Aoun. O confinamento obrigatório pelo vírus aumentou o desemprego e a pobreza, enquanto que a fome está se estendendo por todo o país provocando uma queda enorme no nível de vida da classe trabalhadora. O Ministro de Assuntos Sociais, Ramzi Mousharafieh, estima que 75% da populção precisa de ajuda em um país com ao redor de seis milhões de pessoas. A Human Rights Watch declarou que metade dos residentes do Líbano correm risco de passar fome já que o governo não garantiu assistência para aqueles que perderam seu sustento. Hoje, com a desvalorização, estão pagando 4000 liras libanesa por dólar.

As manifestações no Líbano vem combatendo o colapso da economia do país, que arrasta uma das dívidas públicas mais altas do mundo, 76 bilhões de euros, 150% do seu PIB, enquanto o atual Primeiro Ministro Hassan Diab negocia um novo resgate do FMI por 10 bilhões de dólares e outro plano de ajustes. A situação atual mostra a debilidade da economia libanesa baseada nas finanças, na lavagem de dinheiros e no turismo 30 anos depois da guerra civil que ainda guarda enormes tensões entre as diferentes facções do governo. No entanto, os manifestantes parecem superar as diferenças étnicas e religiosas no momento, e inclusive nacionais para evitar morrer de fome.

A pandemia havia colocado os processos de luta de classes em todo o mundo em stand by, mas as revoltas pelo pão no Líbano, as lutas dos trabalhadores da Amazon e dos trabalhadores da saúde nos EUA, as manifestações pela fome na Bolívia, ou as greves operárias na França, Itália ou Espanha estão.

Publicado originalmente no La Izquierda Diario Argentina

 
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