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TRIBUNA ABERTA - PALESTINA
A colonização israelense é a raiz da violência
llan pappe

Reproduzimos o artigo de Llan Pappe, historiador e diretor do Centro Europeu de Estudos Palestinos na Universidade de Exeter, publicado no Rebelion e originalmente em Al Jazeera sobre a raiz dos enfrentamentos entre palestinos e o Estado Sionista que tem ressurgido com violência nas últimas semanas.

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No meio do que se tornou conhecido em Israel como a “Intifada de esfaqueadores”, ocupou uma cena incomum em Ramat Gan, onde muitos moradores são judeus iraquianos. Uma mulher pequena estava protegendo um homem deitado no chão que estava sendo perseguido por uma multidão, incluindo alguns soldados, que queriam lincha-lo.

Como ele estava deitado no chão, jogaram spray de pimenta a queima roupa, em seus olhos. Ele conseguiu murmurar seu anjo da guarda, “Eu sou judeu.” Quando a multidão finalmente entendeu a mensagem o deixaram sozinho.

Eles o perseguiram porque quase todos os judeus iraquianos para os palestinos parecem; na verdade, a maioria de nós, se parecem com os palestinos. Os únicos judeus que estão “protegidos” os judeus ortodoxos são Mizrahi que se vestem com as mesmas roupas que seus antecessores Ashkenazi usavam na Europa do século XVII, deixando de lado sua tradicional roupa “árabe”.

Pessoas Invisíveis

Este ataque não foi isolado. Outros judeus árabes foram confundidos com os palestinos. Ser considerado árabe em Israel, até mesmo pela aparência, significa que você é um dos nativos invisíveis e descartáveis, sem direitos.

Tal atitude não é única na história. Muitas sociedades de assentamentos coloniais adotaram esta atitude para nativos: os nativos às sociedades de assentamentos coloniais, constituem um obstáculo a ser removido juntamente com as rochas nos campos, os mosquitos em pântanos e, no caso do sionismo, ao lado dos judeus menos fisica e culturalmente apropriados.

Depois do Holocausto, o sionismo já não podia se dar ao luxo de ser tão exigente.
Quando se analisa as origens da atual intifada, pode-se observar corretamente a ocupação e a expansão de assentamentos judaicos. Mas o desespero que produziu a crise atual não é um resultado direto da colonização de 1967, mas de 100 anos de invisibilidade, desumanização e destruição do potencial do povo palestino onde quer que se encontre.

Quão profundamente esta negação da humanidade dos nativos da Palestina está enraizada no discurso político israelense atual, poderia ser visto nos dois discursos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e no líder da oposição Yitzhak Herzog, pronunciado terça-feira no Knesset [Parlamento israelense].

Netanyahu explicou exatamente porque o desespero palestino produzirá mais e mais intifadas no futuro e por que a deslegitimação internacional de Israel vai aumentar exponencialmente.

Ele descreveu 100 anos de colonização como um projeto digno de que, sem motivo, fora da incitação islâmica, se opunha o povo nativo da Palestina.

A mensagem aos palestinos era clara. Aceite seu destino como prisioneiros invisíveis, sem estado, a maior prisão do mundo na Cisjordânia e Faixa de Gaza e como uma comunidade sob um rigoroso regime de apartheid, e, em seguida, todos nós podemos viver em paz. Qualquer tentativa de negar essa realidade é o terrorismo da pior espécie e tratado em conformidade.

Dentro desta narrativa, se o autor do discurso tentava acalmar as preocupações do mundo muçulmano sobre o destino de al-Haram al-Sharif (Santuário Nobre), conseguiu o oposto. Grande parte de seu discurso em al-Haram al-Sharif foi uma lição de história sobre por que o lugar pertence ao povo judeu.

E ainda terminou essa parte do discurso com a promessa de não alterar o status quo, ninguém pode dizer que a presença dos líderes de um partido que acredita firmemente na necessidade de construir um terceiro templo em qualquer lugar seja particularmente reconfortante.

"Nunca juntos"

Em seu discurso, Herzog, o líder da oposição liberal sionista, manifestou a desumanização dos palestinos de uma maneira diferente. Seu pesadelo, sublinhou repetidamente, é um país em que judeus e palestinos viveriam juntos.

Por esta separação, a criação de guetos e enclaves, é a melhor solução, mesmo que isso signifique reduzir ligeiramente a grande Israel. “Nós estamos aqui e eles estão lá”, repetiu o famoso slogan de Ehud Barak e Shimon Peres no final dos anos 90.

O sionista liberal de Haaretz, Barak Ravid, repetiu o horror dos sionistas liberais: Se há um Estado binacional, esfaqueamentos seriam diários, disse ele. A idéia de que uma Israel/Palestina liberada seja uma democracia para todos nunca foi algo no programa sionista liberal.

Este desejo de não compartilhar a vida com qualquer coisa que cheire a árabe é uma atitude que afeta diariamente todos os palestinos. Mais de um século de colonização e nada mudou em negação total da humanidade dos nativos palestinos ou o direito de seu país.

A atual onda de protestos e ataques individuais foi causado por políticas e ações israelenses contra a Mesquita Al-Aqsa. Mas a origem é uma atrocidade de um século de duração: o crescente "culturicídio" da Palestina.

O mundo ocidental estava chocado com a destruição de antigos tesouros culturais pelo Estado Islâmico (EI-ISIL-Daesh). A destruição e remoção por Israel do património islâmico palestino era muito mais ampla e significativa. Apenas uma mesquita permaneceu intacta após a Nakba e muitos das restantes foram convertidas em restaurantes, clubes e fazendas.

Qualquer tentativa por parte dos palestinos para reavivar sua herança teatral e literária é considerado por Israel como uma comemoração da Nakba e é proibido se for realizada por qualquer um que dependa de subsídios do governo.

O que vemos na Palestina – e vamos continuar vendo- é a luta existencial das pessoas nativas de um país que ainda está sob a ameaça de destruição.

Tradução: Matheus Correia

 
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