www.esquerdadiario.com.br / Veja online / Newsletter
Esquerda Diário
Esquerda Diário
http://issuu.com/vanessa.vlmre/docs/edimpresso_4a500e2d212a56
Twitter Faceboock
SAÚDE PUBLICA
Casos de dengue se multiplicam no Distrito Federal: problema histórico e não resolvido por interesse do Estado
Julio C
Comitê Esquerda Diário DF/GO

Assim como a infestação da COVID-19, a dengue tende a fazer mais vítimas onde impera a precariedade das condições de vida e no atual momento as duas enfermidades fazem concorrência em leitos e recursos de atendimento à saúde em vários pontos da região. Abordaremos também a dengue como doença social e, por fim, a necessidade do controle operário como solução. Nossas vidas valem mais que seus lucros!

Ver online

Atualidade da dengue no Distrito Federal

São pelo menos onze pessoas mortas pelo vírus da dengue no Distrito Federal nesses quatro meses de 2020, segundo a Secretaria de Saúde. A capital do país totaliza no mínimo 18.191 casos desde 29 de dezembro de 2019 até 04 de abril presente ano. No mesmo período do ano passado foram registrados 11.109 casos, o que significa um aumento de 63,75% de uma doença que deveria ser de fácil erradicação.

Desses mais de 18 mil infectados por dengue, 22 pessoas estão em estado grave e mais de 300 apresentam sinais de alarme. Os casos confirmados e as onze mortes se distribuem pelas cidades satélites com índices que confirmam as consequências da segregação espacial e escala de saneamento básico em voga no distrito. Ceilândia tem 2.276 casos e duas mortes, Gama apresenta 1.919 casos e duas mortes, Santa Maria 1.485 casos e uma morte. Outras regiões administrativas também afetadas por essa mazela de ordem social são Riacho Fundo II, Sobradinho I, Sobradinho II, Fercal e Guará.

A dengue como questão social

A dengue é um problema que se arrasta no Distrito Federal há mais de 20 anos e nenhum governo do distrito até agora se mobilizou para combater de fato. O descaso com uma doença que poderia ser facilmente erradicada é na verdade um sintoma daquilo que é mais doentio e penoso em nossa sociedade: os fundamentos de sua organização, ou seja, a lógica de suas relações em torno do acúmulo de capital. Essa lógica de relações é articulada pela conflitante divisão social do trabalho e, consequentemente, por classes sociais. Uma doença que acompanha décadas e gerações causando sofrimento, mortes e dívidas e, justamente por esses motivos, se mantém segundo os interesses do Estado e da classe burguesa dominante.

O Estado gasta milhões em campanha publicitária contra o Aedes aegypti, como se o mosquito em si fosse o problema e iniciativas de tratamentos superficiais e paliativos, mas são incompetentes para prover repelente natural atóxico ou telas mosquiteiras para a população de risco. A tática de prevenção oferecida é medíocre e parte do princípio de que é possível matar um mosquito de cada vez, cobrir um foco de cada vez, e esperar que um dia o problema seja superado. Logo o mosquito se reproduz e os focos se reabrem porque as condições materiais são cada vez mais precárias por conta da devastação ambiental e gentrificação (expulsão de populações de baixa renda para dar lugar à estabelecimentos ricos) que reina na capital do país.

A dengue é um fator da natureza comum ao ambiente tropical, mas sua disseminação caótica é, em todos os sentidos, de inteira responsabilidade do Estado e da gestão capitalista que detém de forma privada os recursos capazes de satisfazer as urgências da população. A forma de como Brasília foi planejada e construída é um grotesco exemplo de como a elite política e econômica que domina a hierarquia da sociedade brasileira executa a divisão social do trabalho com tradição escravocrata. Com esse princípio, Brasília foi construída por operários nordestinos que calejaram as mãos para edificar a poderosa arquitetura do centro e, em seguida, foram expulsos formando a periferia. Mitos de puro cinismo como a “cidade moderna e planejada” são enterrados pela realidade segregacionista da capital.

Dentro dessa lógica, a solução para a dengue nunca vai ser prioridade; na verdade se torna um vínculo de controle e manutenção social. Detendo tanto poder sobre a saúde, a vida e a espoliação do povo, os poderosos são capazes de ditar regras e comportamentos institucionais, o que lhes garante impor meios de alienação e submissão para manter a rotina do fluxo de exploração de Brasília; uma marcha de proletários que diariamente se deslocam em péssimo transporte público para abastecer os serviços do Plano Piloto e no fim da tarde retornam para suas casas nas “cidades-dormitórios”.

Gestão operária contra a crise hospitalar

Uma contradição tipicamente brasileira é o fato de tamanha calamidade e miséria se dar num país de vastos recursos e se posicionar entre as dez nações mais ricas do mundo. Isso mostra que a prioridade de quem governa é apenas garantia de acumulação de lucros para uma elite minoritária. A conjuntura capitalista de um país condenado à periferia do sistema é incapaz de oferecer soluções definitivas e que transformem pontos estruturais. No plano ideal medidas como reforma agraria e urbana deveriam ser pautas do próprio desenvolvimento burguês para lidar com várias doenças tão perigosas quanto banais. A lógica de acumulação da propriedade privada se mostra absolutamente incapaz para combater as más condições sanitárias que favorecem o nascimento do mosquito.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), entrou no ano de 2020 com um projeto que mutila ainda mais a rede de saúde; trata-se de implementar um regime de “escolha pública” (generalização da ética privada no sistema público) e meritocracia na administração do sistema sanitário, medidas que aprofundam o caráter mercadológico do serviço de saúde. Essas são as condições preexistentes em Brasília no momento em que passamos a lidar com o coronavírus. Diante de tamanha crise, o Esquerda Diário reivindica a urgência do controle operário para de fato encarar doenças virais como uma questão social a ser resolvida. Somente com a autonomia de organização dos trabalhadores da saúde é possível levar um combate às doenças sociais e à ordem social que as mantém.

Nossas vidas valem mais que seus lucros!

 
Izquierda Diario
Redes sociais
/ esquerdadiario
@EsquerdaDiario
[email protected]
www.esquerdadiario.com.br / Avisos e notícias em seu e-mail clique aqui