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PORTO ALEGRE
Marchezan defende lucro dos empresários e rodoviários seguem na mira da fome e do coronavírus
Railin G
Coordenadora do Centro Acadêmico Dionísio do Teatro/UFRGS

Com aval da prefeitura os empresários do transporte de Porto Alegre reduziram drasticamente os horários e as linhas de ônibus, gerando mais demissões de trabalhadores e cortes salários dos que seguem em serviço. Enquanto isso a Câmara de Vereadores vota um projeto que flexibiliza a quarentena, gerando mais lotação no transporte e mais exposição dos rodoviários e da população ao coronavírus.

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Desde o início da crise do novo coronavírus os trabalhadores rodoviários de Porto Alegre, que antes já sofriam com condições precárias de trabalho, vêm sofrendo ataques brutais que os colocam entre o vírus e a fome. Em março rodoviários começaram a ser demitidos, suspensos e ter suas jornadas de trabalho reduzidas, colocados à mercê da negociação com a patronal. Nem ao menos um fundo que garanta renda a essas famílias, na mira do desemprego, foi criado pelo sindicato.

A Medida Provisória 936, de 01/04/2020 permite a suspensão e redução de jornada de trabalho desses funcionários sem direito a defesa alguma, é apresentada pelo governo de extrema direita de Bolsonaro como um acordo entre empregador e empregado por pura formalidade e cinismo. Essa MP significa a situação desesperadora de estar entre a exposição ao vírus e a precarização em nível absurdo da vida de milhares de famílias desses trabalhadores, enquanto os bolsos dos empresários transbordam com o dinheiro suado de quem segue trabalhando por tão pouco em meio a pandemia.

Sem luvas, álcool gel, EPI’s e testes para os trabalhadores, as empresas finalmente começam a distribuir máscaras para a categoria. Enquanto isso os governadores, além de dar aval aos empresários para reduzir a circulação dos ônibus, estão liberando gradativamente a quarentena e reabrindo comércios, inclusive não essenciais. A desculpa é supostamente estar pensando na melhoria da vida da população, quando na verdade estão cedendo aos empresários e pensando em seus lucros que não podem parar para salvar vidas.

Inúmeros serviços sem nenhum critério verdadeiro que os caracterizam como essenciais voltam a funcionar e colocam os trabalhadores expostos à crise sanitária e assim podemos prever um massacre, sem o mínimo de segurança à vida. O ônibus é um dos principais meios de transporte da classe trabalhadora, aglomerações e situações absurdas de superlotação sempre foram características fortes do transporte público em Porto Alegre. Agora com o coronavírus isso não se torna diferente, e sim pior, se agrava a certeza de que além de passageiros, ele transporta o vírus, expondo a categoria e a população de conjunto que paga com a sua vida por essa crise capitalista.

Com a redução de circulação do transporte e o aumento de comércios abertos, a superlotação dos ônibus é inevitável mesmo na pandemia. O prefeito então exige obrigatoriedade no uso de máscara para todos os passageiros, o que é um grande deboche na cara do trabalhador que está enfrentando a pandemia cara a cara, diariamente, sem o essencial para enfrentar a mesma, como a urgente necessidade de testes massivos.

É um absurdo que Eduardo Leite e Marchezan sigam fazendo demagogia com a vida de milhares de trabalhadores. Colocam-se a favor da vida e do bem estar da população enquanto seguem com uma política que custa vidas da classe trabalhadora, sem direito ao mínimo. Inclusive, mesmo em home office a Câmara de Vereadores segue aprovando pacotes de maldades a pedido de Marchezan, como as medidas que permitem demissão de servidores não estáveis e abertura de comércios. Tais ataques contam com o voto favorável de políticos como Mônica Leal (PP), que se dizia tão “leal” aos rodoviários, chegando a ser chamada pelo sindicato de “rainha dos rodoviários” e assim mostra que não está de fato ao lado dos trabalhadores.

No projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal de Porto Alegre sobre a flexibilização da quarentena, diz:

“Entretanto, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, na sua função de interlocução direta com a população, não pode omitir-se de ajudar a coordenar os esforços empenhados pelo Paço Municipal em um sentido que favoreça o cidadão de Porto Alegre, compreendendo seus anseios e a sua realidade. Nesse sentido, o parlamento municipal, imbuído da pluralidade que é típica do Poder Legislativo, buscou escutar os desafios que vem se apresentando às diferentes realidades que coexistem nessa capital”.

O anseio e a realidade da população de Porto Alegre é o morrer à espera de ajuda médica de um sistema colapsando ou trancados em sua casa sem nem ter o que comer; é os rodoviários e muitos outros trabalhadores seguirem trabalhando mesmo com sintomas por medo da miséria; é viver com a dúvida se está contaminado ou não pela falta de testes massivos; é não ter o mínimo de proteção nem mesmo para trabalhadores da saúde que são linha de frente no combate à pandemia; é viver à própria sorte na luta contra o vírus com um único escudo: suas vidas.

Após os funcionários da área da saúde, a categoria dos trabalhadores rodoviários é certamente a mais exposta ao vírus, em especial os cobradores que tem contato direto com dinheiro e os passageiros. Além de transportar profissionais da saúde, trabalhadores de farmácia, caixas de supermercados, idosos indo se vacinar, varredores e garis, trabalhadores do telemarketing e agora com a flexibilização da quarentena são maiores os setores a se transportar no dia a dia.

Reduzir os horários de operação para 6h às 19h é um ato que pensa unicamente em favorecer os empresários das empresas privadas, que alegam não ser possível continuar operando com prejuízo, colocando em primeiro lugar os seus lucros e resultando em ônibus lotados, população em maior risco de contaminação e milhares de desempregados. Enquanto as empresas privadas param, a empresa pública continua operando e cobrindo linhas abandonadas pelas empresas privadas, cumprindo os horários das 5h da manhã até a 1h da madrugada e arcando com o prejuízo.

A verdade é que esses capitalistas asquerosos que lucram com a precarização da nossa vida têm a obrigação e condições de operar numa situação de pandemia, depois de acumularem capital por mais de 70 anos explorando passageiros e funcionários. É o famoso privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Já que alegam prejuízo, é preciso exigir a abertura de contas de todas as empresas privadas de transporte, como parte da luta pela estatização de todo o sistema. Também é importante ir além da estatização no controle da prefeitura, a estatização deve ser conduzida pelos trabalhadores e todo o transporte controlado pelos rodoviários e usuários.

Por isso, nesse momento caótico, onde as mortes por coronavírus só aumentam no RS, nos deparamos com uma luta não somente contra o vírus, mas também contra um sistema que nos massacra e explora diariamente, podemos enxergar com olhos mais abertos que uma saída possível nunca vai ser dada por esse sistema decadente produtor das próprias crises. Para os capitalistas a única saída é nos deixar morrer, somente a luta e a organização dos trabalhadores pode cavar a cova dessa burguesia assassina. Para isso a união da classe trabalhadora é urgente. Em cada local de trabalho é preciso se organizar e votar comissões de saúde e prevenção, que fiscalizem as condições sanitárias e organizem as demandas dos trabalhadores, exigindo das empresas condições de prevenção e pressionando os sindicatos. É preciso exigir a proibição de todas as demissões, além de testes massivos já, e também a abertura de mais leitos hospitalares e contratação imediata de profissionais de saúde, além da liberação remunerada a todos os trabalhadores que são grupos de risco ou apresentam sintomas em todas as categorias que seguem trabalhando. Essa luta tem que ser anticapitalista e revolucionária, apontando para que os trabalhadores tomem o controle e decidam os rumos de suas vidas, podendo assim girar a produção para o que realmente anseia a população.

"Se o capitalismo é incapaz de satisfazer as reivindicações que surgem infalivelmente dos males que ele mesmo engendrou, então que morra!" - Leon Trotsky

 
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