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MASSACRE GUARANI-KAIOWÁ
Nova tentativa de massacre contra o povo Guarani-Kaiowá no MS
Anaís Goedert, estudante da Letras USP

Na manhã de terça-feira, 20 de outubro, uma equipe do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Campo Grande se dirigia ao município de Antônio João para realizar o pedido de reintegração de posse das fazendas ocupadas pelos Guarani-Kaiowá. A ação foi ordenada pelo presidente do TRF3, Fábio Pietro de Souza, levava cerca de quatro caminhões e 100 homens armados, era comandada pela Polícia Federal e tinha apoio do Exército, da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Estadual.

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Helicópteros sobrevoavam a região ocupada no momento em que a liderança ameaçada de morte, Valdelice Veron enviava pedidos de socorro em sua página no facebook pedindo para que alguém intervisse no despejo que as comunidades iriam sofrer mais uma vez. No dia 18 de setembro, Valdelice esteve presente com seu companheiro Natanael Caceres na Marcha Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras, denunciando o massacre que os Guarani-Kaiowá vinham sofrendo no Mato Grosso do Sul.

Por volta de 22 de Agosto, cerca de 500 indígenas ocuparam cinco fazendas reivindicadas como parte de seu território tradicional, Nhanderu Marangatu, que abrange uma área de aproximadamente 9.300 hectare. Hoje são mais de 1000 indígenas vivendo em uma área de apenas 330 hectare, cercados por plantações de soja, cana e milho e em constante conflito com os fazendeiros da região. Em 2005 a terra indígena já teria sido homologada e demarcada pelo então presidente Lula, mas a pedido dos fazendeiros, o presidente do STF, à época Nelson Jobim, suspendeu a demarcação e ordenou o despejo dos indígenas.

Desde então os Guarani-Kaiowá vêm ocupando constantemente os territórios não demarcados. Em consequência disso, uma onda de massacre se volta contra a comunidade e os indígenas são perseguidos diariamente. Passam noites acordados, sob disparos de grupos de extermínio contratados por fazendeiros para matar lideranças, tem seus barracos e pertences incendiados e não podem ir até a cidade comprar mantimentos, com medo de sofrerem ataques da população que é extremamente racista.

No dia 29 de agosto, a liderança indígena Semião Vilhalva, 24, foi assassinada com um tiro no rosto enquanto tentava socorrer seu filho em meio a um conflito com pistoleiros. O caso não foi apurado até hoje e é mais um, dentre os 390 casos de homicídio contra indígenas Guarani-Kaiowá registrados desde 2003 e que permanecem impunes.

Na madrugada desta quarta-feira, a ministra do STF Carmem Lúcia suspendeu temporariamente a reintegração de posse a pedido da FUNAI. Contudo, a comunidade de Nhanderu Marangatu ainda se encontra em tensão, com medo de sofrer novos ataques de pistoleiros ou o despejo que os levaria novamente para a beira da estrada. Decididos a resistir, publicaram recentemente uma nota em sua página oficial no facebook, afirmando que permaneceriam em sua terra tradicional, mesmo que para isso tivessem que morrer:

"Informativo urgente! nesta madrugada, mais de 1.000 Guarani e Kaiowa do tekoha Ñanderu Marangatu, Guaiviry resistentes participam do ritual de morte forçados ou ritual de despedida dos parentes e familiares, centenas de famílias Guarani e Kaiowa estão se despedindo nesta madrugada dos familiares, pois vão resistir, lutar e morrer pela terra, deixando a sua mensagem e declaração. "Vamos morrer lutando pela nossa terra", " seremos massacrados pelos karai armados " brancos" por causa de nossa terra", quem viver e sobreviver continuem lutando, é para não desistir de nossa terra Nunca. É decisão de povo Guarani e Kaiowa para lutar e morrer lutando pela terra, é muito triste neste momento, mas decidimos em lutar e morrer pela terra."

Essa mensagem relembra a carta aberta enviada também pelos Guarani-Kaiowá, em 2012, durante o conflito de Belo Monte. Nela, os indígenas afirmavam uma “morte coletiva”. Não pretendiam cometer um suicídio em massa, mas ali declaravam o genocídio por parte do Estado, que não se preocupava em preservar a cultura e vida dos povos originários, brutalmente dizimados durante toda a história do Brasil. Assumiam sua resistência, e que ali permaneceriam, mesmo que tivessem que morrer, pois a sua luta pela terra e preservação de sua cultura, diretamente ligada ao solo em que nasceram e foram criados era mais forte que tudo. Coincidentemente, este mesmo ano fora registrado o maior número de suicídios entre os Guarani-Kaiowá. Dentre os 73 suicídios indígenas registrados no país, 72 pertenciam a esta etnia.

Embora os relatórios não considerem, fica obvio que este índice tão alto de suicídio entre os indígenas tem como principal causa o descaso do governo em relação à demarcação de terras e cumprimento dos direitos indígenas assegurados nos Artigos 231 e 232 da Constituição Federal. A depressão e a violência crescente nas aldeias, que decorre principalmente do uso de entorpecentes é um reflexo do que a sociedade ocidental fez ao massacrar e depois ignorar os povos originários e apagar sua cultura.
É urgente a necessidade da homologação e devida demarcação de todos os territórios indígenas, de forma a assegurar todos os seus direitos originários. Só com seu território assegurado, estas comunidades poderão se integrar em meios majoritariamente não-indígenas, e reverter seu aprendizado para o bem da sociedade indígena, que há tanto tempo passa despercebida por nós.

 
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